quarta-feira, julho 18, 2012

Viana

Viana do Castelo é uma terra à qual o nome de Pedro Homem de Melo ficará para sempre ligado, quanto mais não seja pelo poema que Amália cantou e que a imagem mostra.

O poeta tinha uma casa em Cabanas, perto de Afife, a poucos quilómetros da cidade. Hoje, ao passar na praça da República, lembrei-me de uma história que o meu pai, testemunha presencial, sempre contava.

Pedro Homem de Melo passeava-se com amigos. Do outro lado da praça surgiu José "Rancheiro", uma figura conhecida da cidade, senhor de palavra fácil e de uma voz forte. E que, alto e bom som, fez ecoar pela praça o seguinte poema (cito de cor), que está num azulejo em Cabanas, junto à casa de Homem de Melo:

"O rio passa em Cabanas
por entre fragas
tão lindo
que mesmo que vá descendo
parece que vai subindo".

Acabada a curta declamação, José "Rancheiro" acrescentou, também bem alto: "Belo poema!". Ao que Pedro Homem de Melo, visivelmente lisonjeado, reagiu, com aquela voz rouca que tinha: "... dito por Vossa Excelência!".

Não deixava de ser bonito um certo cavalheirismo de um outro Portugal. 

12 comentários:

Anónimo disse...

Na próxima "revolução" o slogan será - liberté, égalité, fraternité, la chevalerie

patricio branco disse...

bonita história, grande poeta

Fernando Correia de Oliveira disse...

http://estacaochronographica.blogspot.pt/2012/06/meditacoes-eternidade-por-vinte-anos.html

Teófilo M. disse...

Felizmente, sou um dos privilegiados que frequentou o ensino secundário num tempo em que as atividades extra-curriculares compreendiam aulas de ginástica aplicada, esgrima, hipismo, vela, canto coral, iniciação à pintura, natação, folclore e muitas mais. Foi esta última - folclore - que me permitiu contactar com o personagem que foi Pedro Homem de Melo.
De uma educação esmerada, afável, exigente e um terrível romântico, após a Abrilada foi tratado com desdém pelos "revolucionários" de ocasião.
Já próximo do fim, sentado à mesa da Brasileira, no Porto, oferecia os seus livros a troco de uma esmola!
Este desgraçado país, ainda não o honrou como devia, talvez porque alguém entenda que é um poeta menor, ou porque ele se manteve fiel ao povo que talhou as tábuas do seu caixão.
Felizmente ainda não desapareceu da memória de alguns, mas vai-se perdendo essa memória...

Helena Sacadura Cabral disse...

Tem razão Senhor Embaixador. Mas hoje parece haver uma certa vergonha de se ser cavalheiro!

Felipa Monteverde disse...

Boa estadia, saudações vianenses!

Sei que vai estar na feira do livro no dia 28, pena eu já ter um compromisso.

patricio branco disse...

pedro h de mello tinha um irmão, o diplomata manuel h de mello. serviu em berlim durante a guerra sendo testemunha portanto do fim do nazismo.
mais tarde, anos 50 ou 60, voltou à alemanha, foi embaixador na rfa, bona.

pedro homem de mello, aí está um escritor que merecia ser reeditado, toda a sua obra poetica e etnografica, tambem a correspondencia.

Isabel Seixas disse...

Bem, passando o cavalheirismo, que soa a cumprimento metafórico, de facto já vi poemas assassinados por declamadores homicidas e poemas elevados a extase por declamadores com mérito.

A palavra tem de ser devidamente saboreada na declamação não é para todos...

Anónimo disse...

Está a ver Sr Embaixador, no que deu o seu 'post' revisionista? por causa dele temos que gramar o comentário de "Teófilo M" que enquanto estudante teve actividades extra-curriculares como: "ginástica aplicada, esgrima, hipismo, vela, canto coral, iniciação à pintura, natação, folclore e muitas mais".
Como seu devoto leitor, peço-lhe encarecidamente que não inicie, já, a silly season bloguista.
JCM

Carlos Fonseca disse...

Se não estou enganado acerca do carácter de Pedro Homem de Mello, estou certo de que, independentemente, das agruras da vida, ele não era homem para apoiar qualquer espécie de "revanchismo", incluindo o dos oportunistas que não deixam escapar uma ocasião para expelir o fel que os atormenta..

zamot disse...

E bonita é também a casa do poeta!
E Afife!
E para lá vou também amanhâ!
E vai estar um tempo fabuloso como está sempre nesta altura do ano. Antes da nortada e das enchentes de Agosto!
Vai estar mesmo a gosto em Julho!

Anónimo disse...

Não se perderá a memória de Pedro Homem de Melo. Ele será cantado por gerações e gerações. Pobres são os responsáveis pelo património cultural do país, que por "politiquices bajuladoras" não conseguem com imparcialidade zelar por uma "tença" digna para todos os "Homens de Melo". Não sei se vem a propósito, mas tenho andado a dar voltas à cabeça para ver se consigo que o "16ème de Paris" cuide dos jardins (que estão secos) no logradouro que ladeia a escadaria que na parte de baixo tem uma representação do poeta Camões. Tanto quanto sei, no passado houve uma estátua em que Camões não estaria tão bem representado que merecesse a aprovação da vizinhança. Também temos por cá estátuas das quais não gostamos. Deve ter havido também descuido e falta de zelo por alguns dos portugueses que por ali viveram. Acho que sim. Se me for dado conseguir que a relva seja por ali aparada como está nos outros espaços vizinhos ficarei melhor comigo. Vou tentar.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...