Por mais que, com alguma frequência, dela discorde, não deixo de ser leitor fiel de Clara Ferreira Alves, que tem uma escrita limpa, inteligente e em bom português, que já começa a rarear na nossa imprensa - a par com poucos, como Ferreira Fernandes, Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso e José Manuel dos Santos, este último até que a "Atual", do hebdomadário balsemónico, lhe tirou misteriosamente o espaço (*).
Na "Revista" do "Expresso" de ontem, Clara Ferreira Alves analisava a pobreza cultural dos nossos meios políticos e de imprensa. E, definitiva e tremendista como é do seu estilo, acabava o texto dizendo: "Como bem disse Vargas Llosa, em vez de discutirmos ideias discutimos comida. A gastronomia é uma nova filosofia. Ferran Adriá é o sucessor de Cervantes e Ortega y Gasset" (o "Expresso" colocou o Y em maiúscula, porque o revisor deve ter pensado que era a inicial de um outro apelido...).
Reconheço que, por vezes, as nossa imprensa exagera um pouco na exploração do tema gastronómico. Mas faço notar que ele não é, de forma alguma, incompatível com a cultura, como o António Mega Ferreira e eu tentámos provar, há uns tempos, numa divertida conversa com a Paula Moura Pinheiro, na "Câmara clara".
Nestas curtas férias, aliás, vou entreter-me a tratar um pouco de ambas. Da comida, no meu blogue "Ponto Come", onde tenciono ir dando despretensiosa conta de algumas experiências de "restauração" feitas pelo país. Da cultura, mano-a-mano com Isabel Pires de Lima, no final desta semana, charlando sobre a cultura portuguesa e da Europa, numa iniciativa integrada na Feira do Livro de Viana do Castelo.
(*) Em tempo: como bem lembra um comentador encartado, há também o Manuel António Pina
(*) Em tempo: como bem lembra um comentador encartado, há também o Manuel António Pina
10 comentários:
Pois é o texto da Clara é demolidor para este regime, mas belíssimo. Mas eu n sei....
Senhor Embaixador: partilho da observação que faz relativamente a Clara Ferreira Alves,as suas opiniões e textos.
E partilho, igualmente, a perplexidade quanto ao desaparecimento do "Actual" das admiraveis crónicas de António Manuel dos Santos.
Em contrapartida é possível continuar a ler,após semana, após semana, não só nesse suplemento,mas também no jornal, crónicas reflectoras do pensamento dominante, bem como de alguns especialistas em verter ódios de estimação e notória mediania.
Decididamente Senhor Embaixador que, como creio que V. Exa já uma vez comentou, o "Expresso" já não é
o que era.
Peço desculpa pelo atrevimento mas é despretenSiosa.
Cumprimentos
manuel antónio pina é, para mim e para o júri do prémio camões, quem produz a melhor escrita nos jornais portugueses da atualidade.
não perco as suas crónicas no jn, de segunda a sexta-feira, porque acho que não são de perder, tanto pela forma como pelo conteúdo. esta é a minha humilde opinião, mas vexa decidirá...
a) franquelino da motta
"Português" - nome do idoma com maiúscula
"mano a mano" - AO
Vossa Excelência há-de me explicar um dia o que é o "bom Português". Também alguém me há-de explicar por que cargas de água é que Clara Ferreira Alves e Vasco Pulido Valente "escrevem bem"...
a) Feliciano da Mata, leitor
Sem comida não há cultura. Oxalá a nossa preocupação crescente com os mínimos de subsistência, não nos atalhem as possibilidades de usufruirmos de outras "Guimarães, capitais...".
caro Feliciano da Mata
e não é que concordo mesmo consigo!
o m.a.p. nem diria que escreve 'em bom português'. escreve é melhor a meu ver (tudo é relativo) que os outros citados.
a) franquelino da motta
Sou mais um a concordar com o comentador Feliciano da Mata, leitor.
Clara Ferreira Alves tem dias (poucos). E Vasco Pulido Valente, nem isso. Actualmente vive à custa de louros antigos.
Esta análise é de um ignorante em matéria literária, mas digo que se razão existe para continuar a comprar e a ler o jornal Expresso, prende-se mesmo com os artigos de várias personagens, em que destaco a Clara, o Miguel e o Nicolau.
Eu assino por baixo, todos ou quase todos os artigos desta gente.
Também gosto daqueles que falam de comida e de vinhos, pois falam daquilo que também nos distingue.
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