terça-feira, novembro 01, 2011

Referendo grego

Não estou no segredo dos deuses, mas imagino que os líderes europeus, ao aprovarem, na passada semana, as importantes decisões financeiras que se projetam sobre a Grécia, não faziam a mais leve ideia de que o respetivo governo podia vir a ter a intenção de levar a cabo um referendo para legitimar internamente a respetiva aceitação. A reação dos mercados a esta decisão grega foi a que seria de esperar.

Há um "drama" com que a Europa tem de viver, por muito que lhe custe ou que até lhe possa vir a custar o futuro: a democracia interna dos seus Estados. Já aqui falei disso há semanas. Os equilíbrios de cada sistema político, as diferentes realidades nacionais e a sua difícil compatibilidade (em especial, temporal) com a dinâmica global dos mecanismos da União Europeia tornam o dia-a-dia do projeto integrador numa caixa de surpresas. Às vezes, não as melhores, como é, flagrantemente, o caso.

12 comentários:

Unknown disse...

Curioso, muito curioso. Publica o JN que «De acordo com a agência de notícias francesa AFP, com base nos serviços de informação do primeiro-ministro, Angela Merkel, [em chamada telefónica que lhe foi feita por Georges Papandreou], "exprimiu a sua compreensão e sublinhou que compreende os desenvolvimentos na Grécia"»..

E esta, hein?, como diria o saudoso Fernando Pessa.

Fada do bosque disse...

Segundo o"Voz Da Rússia"
«A Europa ficou chocada pelo fato de a difícil decisão acordada na cimeira da UE de ajudar a Grécia ter sido posta em causa. Entretanto, o voto de confiança a Atenas não é garantido. Os referendos sobre os problemas financeiros e econômicos são proibidos pela constituição grega. Então a questão é: será que o primeiro-ministro Papandreou que o propôs não sabia disso? O tema é comentado pelo observador Sergei Guk e pelo diretor do Instituto de Economia russo, Ruslan Grinberg.

Se o primeiro-ministro pensa que o governo deve manter o seu povo num estado de espanto permanente, ele alcançou o seu objetivo. Mas, neste caso, conseguir o apoio da população é uma esperança vã. Uma pesquisa de opinião realizada no último domingo, mostrou que 60 por cento de gregos rejeitam o pacote de ajuda de Bruxelas. O nosso especialista Ruslan Grinberg acha este passo do premiê estranho.

Acho que é um passo correto do ponto de vista político. Tal permitirá a Papandreou reforçar as suas fracas posições internas . O povo não tem opções, tem de aprovar tudo. Este é apenas um passo político. O primeiro-ministro não tem nada a perder aqui.
No entanto, nem todos na Europa consideram positivo o efeito econômico da caridade. Segundo a opinhão do diretor do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas, professor Hans-Werner Sinn, assim os políticos simplesmente gastam o tempo. Hans-Werner Sinn manifestou essa idéia na entrevista ao jornal Welt-online. O problema principal da Grécia é a sua falta de competitividade. Os seus produtos são duas vezes mais caros do que deveriam. O país, que é incapaz de pagar as suas dívidas, não deve permanecer na zona do euro - é este o veredicto do economista.

Os meios de comunicação europeus lembram que a alteração nos impostos na Grécia se deve aos novos e mais rigorosos requisitos de corte das despesas orçamentais. Aliás, a população já considerava os anteriores sacrifícios financeiros impossíveis. A economia está se afundando cada vez mais na recessão.
http://portuguese.ruvr.ru/2011/11/01/59729184.html

Anónimo disse...

Nesta situação dramática que já dura desde 2010, só temos visto a Alemanha e os seus estados satélites a aproveitar-se da crise para ganhar vantagem sobre a Grécia e os países do Sul. A Alemanha não fez tudo o que podia para salvar a moeda única, contrariamente ao que diz a chancelerina. Com a ideia da austeridade custe o que custar, a Alemanha está a acabar com a Europa e a destruir em pouco tempo todo o capital esperança e de confiança mútua que levaram décadas a criar. Tudo isto enquanto beneficia da emigração forçada de engenheiros e outros diplomados que saem dos países do Sul que a Sra Merkel está a ajudar a destruir.

DL

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Por motivos pessoais resolvi não ouvir hoje notícias e depois de estar com os meus mortos ir ao cinema. Estava portanto a leste do que se passava na Grécia.
Porque a sua análise me parece muito correcta, permiti-me reproduzir o seu texto no meu blogue com a devida menção de lugar e autoria.
Estou, francamente, cada vez mais preocupada com o rumo desta Europa!

Anónimo disse...

Será que é desta que toda a gente admite que a Grécia é um país de gente irresponsável ou vamos continuar a ouvir desculpas esfarrapadas do tipo "eles inventaram a democracia" ou "eles foram o berço da civilização" (como se isso contasse alguma coisa para esta situação)?

Julia Macias-Valet disse...

Il joue à quoi Georges Papandreou ?

Julia Macias-Valet disse...

Helena SC diz-se "Eurocéptica" no seu "Fio de Prumo" e tem todo o direito. Mas o mais grave é que isto encaminha-se a passos largos para uma "Eurosepticémia" : ((

Anónimo disse...

A velha senhora, que é de velhos rancores, acaba de me ditar e mandar que mande esta versalhice. Vexa melhor julgará da oportunidade da sua publicação:

diz-te esta velha
que não esquece nem perdoa
a esse aselha
com quem não cheira bem lisboa
pra quem a grécia é 'irresponsável'
e a democracia
em demasia
facécia condenável.

Fada do bosque disse...

Não sei porquê, ainda tive a esperança depois de ler o GEAB 2011, que os líderes políticos europeus resolvessem, ou pelo menos tentassem, a crise da dívida soberana, mas pelos vistos as numerosas cimeiras apenas serviram para festejar(?!) a desgraça dos outros, sim porque eles estão bem, à luz de caviar, lagosta e champagne... pagos pelos contribuintes. Agora que se façam ao caminho...

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Julia
Tirou-me as palavras da boca. Mas, de facto, qual é o jogo do Senhor Papandreou?!
Depois de tudo o que li e ouvi na imprensa estrangeira fiquei pior que ontem, no esclarecimento da oportunidade de todo este processo...

Anónimo disse...

Passaram-se três meses...

"(...)
Tenho vindo a verificar, nos últimos tempos, que alguns comentários que são enviados para posts deste blogue (alguns dos quais não foram publicados, outros que publiquei) tendem a resvalar para o terreno de uma polémica menos salutar, com o aparecimento de picardias pessoais entre os comentadores, algumas vezes sob a capa de confrontação de estilos ou personalidades, outras em polarizações ideológicas, às vezes em poses doutorais, noutras com "criatividades" inadequadas.

Sei que essa é a cultura de certa blogosfera portuguesa mas, como dizia Régio, eu "não vou por aí". Este blogue quer-se uma ilha de serenidade, onde se pretende que a atualidade, as ideias ou a memória sejam tratadas sempre de uma forma bem disposta, positiva e otimista, tentando fazê-lo com bom senso e procurando sempre o bom gosto, com humor e ironia qb, sem ofender nem magoar ninguém, igualmente sem objetivos proselitistas ou agendas escondidas. Quem por aqui quiser continuar a passar, respeitando esse registo, será sempre muito bem vindo.

Por isso, e em particular a partir de agora, os que entenderem ir por esses outros caminhos não se devem admirar de não verem publicados os seus comentários.
(...)"

patricio branco disse...

é posivel que o p m grego não visse, em consciencia, outra saida senão consultar o povo. A alternativa seria continuar a sacrificar, atá à exaustão e morte lenta,os gregos. Numa situação tão grave e desesperada, o cidadão que se pronuncie.
a saida da grecia da eurozona tambem não a vejo como uma tragedia para o euro. Vários membros da u e não adoptaram o €, outros adoptaram-no mais recentemente. O grupo do € ficaria com menos 1 membro e continuaria, assim como os mecanismos de ajuda à grecia, que tambem teria ferramentas financeiras proprias (devalorização,oscilação cambial do dracma).
Vamos a ver o que sucede num proximo futuro no nosso país...

Os EUA, a ONU e Gaza

Ver aqui .