Participei, no passado sábado, na (minha) primeira reunião do Conselho geral da Fundação cidade de Guimarães, que prepara Guimarães 2012 - capital europeia da Cultura. Foi, para mim, um momento importante, porque me permitiu perceber o trabalho sério que, desde há muito, está a ser feito naquela cidade para pôr de pé um programa, não apenas de eventos culturais, mas igualmente de valorização e reabilitação de equipamentos públicos. Pena é que, por ora, o país tenha tido uma imagem do evento baseada em caricaturas distorsoras, feitas de "fait-divers".
Não creio estar a cometer uma indiscrição se disser aqui que, na intervenção que fiz, alertei para o facto desta iniciativa, ao ir ter lugar ao longo do difícil ano que 2012 vai ser para Portugal, se colocar como que em "contra-ciclo" com um certo ambiente que então se vai viver. E como a tudo isso, num país como o nosso, se somam sempre más-vontades, invejas e sectarismos, agora adubados num caldo de miserabilismo populista, de que alguns media se fazem zelosos polícias, devemos estar preparados para um tempo que exigirá, da parte da organização, grande rigor e um sentido de medida excecional.
Guimarães 2012 é um projeto magnífico, servido por gente dedicada e competente, que prolonga uma vontade que tem na Câmara municipal da cidade um sólido apoio. Não se trata apenas um projeto local, paroquial ou de capelinha. É uma iniciativa de dimensão nacional, da qual pode e deve resultar um prestígio acrescido para Portugal no exterior. Porque não tenho receio de brincar com as palavras, direi que Guimarães deve conseguir provar ao mundo, com orgulho, que, em 2012, há mais vida em Portugal para além da "troika".
11 comentários:
Palavras corajosas, Embaixador.
Gosta de nadar contra a corrente mas a elegância com que o faz talvez leve a que o ouçam.
Tomara.
Senhor Embaixador,
Espero que os montantes dos ordenados de alguns dos Administradores possam chocar não apenas alguns jornalistas, mas também os Administradores que, como parece ser o seu caso, trabalham por amor à camisola.
Bom Dia,
Sr. Embaixador,
Não poderia estar mais de acordo com as suas corajosas palavras: "...num país como o nosso, se somam sempre más-vontades, invejas e sectarismos, agora adubados num caldo de miserabilismo populista...".
Lamentavelmente ainda assim continuamos hoje, em pleno século XXI. Como se diz por aí, Portugal não parece um País, mas um sítio mal frequentado...
Um Abraço!
Caro Anónimo das 10:21: se eu não estivesse em total acordo com as remunerações praticadas não participava neste projeto.
Senhor Embaixador
Admiro a frontalidade com que responde ao Anónimo das 10:21. Mas, de facto, a mim chocam-me certas prestações aceites por quem sabe o que é serviço público e por ele já é amplamente recompensado.
Todavia, como o respeito muito - e, por algum motivo, a sua prestação é pro bono -, fico-me por aqui, a desejar-lhe o maior sucesso!
Em tempos de austeridade um dinheiro extra dá sempre jeito!
O que se passa em Guimarães é apenas um pequeno exemplo do que levou o país ao estado em que ele se encontra.
Oxalá resulte. Precisamos todos de um sucesso.
O nome de João Serra dá garantias. Digo eu, que fui seu aluno.
Durante a minha carreira profissional aplicava, para mim e para os meus subordinados, uma convenção coletiva que determinava a relação salarial e outras remunerações ligadas a uma qualquer prestação de serviço. Isto é muito reconfortante para todos: para o dirigente que economiza aquelas negociações salariais onde a subjectividade é que vai “apreciar” o valor do interveniente; para o assalariado que está protegido por aquela convenção e conhece a sua evolução de carreira.
O que para mim é incompreensível é, num estado de direito, não haver regras estabelecidas e muitas vezes ser permitido aos que têm o queijo e a faca na mão poderem cortar por onde querem... Só isto.
Oups! O anónimo das 10:21 tem nome. Detesto anonimatos, nem reparei que não tinha assinado.
Senhor Embaixador,
Se as somas que circulam pela imprensa se confirmam, choca-me sim.
Sobretudo num país no estado que está, com um salário mínimo no nível que está e com cada vez mais gente a ter de emigrar, como nos anos 60, à procura de melhores condições de vida, porque em Portugal nem conseguem sobreviver!
Aliás, admira-me que o Senhor Embaixador não se choque com este tipo de práticas.
Carlos Pereira
Caro Carlos Pereira: eu não sei, e pouco me interessa, confesso, o que circula pela imprensa. O que sei não me choca nada.
Também acho que a vitalidade dos projetos amortece a inércia da falta de iniciativas que imobilizam a cultura.Guimarães tem imensas potencialidades.
E claro que é de revalorizar quem por carolice dá o seu contributo num saber sustentado.
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