Chama-se Manuel da Cruz, tem 45 anos, foi ontem condenado em França a prisão perpétua por um assassinato, antecedido de violação, ocorrido em 2009. Já antes tinha cumprido uma pena de prisão de 11 anos, por outra violação. Manuel nasceu em Portugal, veio para França aos 7 anos, com uma irmã, juntar-se aos pais que, ao que agora se sabe, os sujeitaram a uma adolescência de violência doméstica. É casado há 23 anos com Maria, teve dois dos seus quatro filhos e, não obstante um registo constante de violência e alcoolismo, seria um excelente pai.
Manuel da Cruz, hoje francês, é um compatriota nosso, um homem que por aqui escolheu o lado errado da vida. Nas notícias que referem este caso, a origem portuguesa de Manuel da Cruz aparece sempre como lateral. É que Manuel da Cruz está, não apenas muito distante da imagem que a França conserva da comunidade portuguesa, mas é exatamente o seu oposto. E é também por essa razão que o embaixador de Portugal, com toda a serenidade, aqui refere hoje esta história singular. E triste.
10 comentários:
"não obstante um registo constante de violência e alcoolismo, seria um excelente pai."
Aqui não existe hipótese: com tal registo e tais comportamentos, NUNCA poderia ter sido um 'excelente pai'.
Onde ficam os verdadeiramente excelentes, a par de semelhante cidadão?!
A questão da imagem das comunidades migrantes é essencial para uma boa integração de quem demanda um país estrangeiro.
Continuar a insistir em políticas de olhos fechados perante a proveniência dos imigrantes (como se as pessoas se pudessem desligar das suas culturas - e de tudo o que elas trazem -, ao passar a alfândega) e negar aos países a hipótese de preferirem ativamente certas origens está na origem de muitos problemas que poderiam ser evitados à nascença (para além de serem uma brecha na soberania).
As "boas imagens" são uma consequência do comportamento das comunidades e também devem ser uma razão para preferência.
Certamente, como modelo, deficilmente se poderia considerar "um excelente pai". Mas acredito que o possa ter sido pelo amor. Qualquer homem tem uma multitude de dimensões, por vezes contraditórias.
Caro Embaixador,
Ao ler a notícia na imprensa portuguesa, e porque – felizmente – o conheço, disse para comigo antes de ler o seu blog: “De certeza que o assunto vai estar no 2 ou 3 coisas.”
Tive razão.
Mas incomparavelmente muito mais importante do que o facto da minha previsão se ter confirmado, é a forma elevada e serena como o Embaixador de Portugal em Paris aborda o assunto. Objectiva, anti-preconceito e sem tabus ou populismos. Como de outra forma não seria de esperar, nem correcto.
Também por isso, obrigado.
JR
Senhor Embaixador
Também eu, como a Margarida, tenho algumas dúvidas sobre que pai seria Manuel Cruz.
A violência doméstica, mesmo que exercida apenas sobre a mulher e mãe dos filhos, dificilmente permitirá fazer dele um excelente pai.
Julgo entender que seria alguém que se "preocupava" com os filhos. Mas isso é muito pouco. Quem bate na mãe deles, não é um bom pai. Aliás, se esteve preso 11 anos, só foi pai presente durante 11, e isto em relação ao mais velho dos quatro. Em relação aos outros a presença paterna terá sido seguramente menor.
Excelente mãe deverá ter sido Maria!
Senhor embaixador. Lembro-me de outro caso terrivel, parecido, no norte da França, hà pouco tempo com outro português. Também ai nunca vi referida, ou raramente vi referida, a nacionalidade dele. Penso que é uma atitude saudàvel da França. Se o individuo fosse magrebino talvez o tratamento fosse diferente.
Mas, se um caso identico ocorresse em Portugal com um francês, serà que a nacionalidade dele seria tratada da mesma forma, marginal? Duvido, tendo em atençao casos passados no nosso pais.
Quanto a ele ser bom pai - duvido e concordo com a Margarida: o tribunal confirmou - e ele também - que tinha diversas amantes, os filhos sao de diferentes mulheres e ele confessou que mentia a toda a gente. ... Cumprimentos. daniel Ribeiro
Caros comentadores: eu nunca disse que Manuel da Cruz "era" um excelente pai. Apenas notei, baseado no que veio a público, que "seria". Os tempos dos verbos fazem toda a diferença.
" (...) eu nunca disse que Manuel da Cruz "era" um excelente pai. Apenas notei, baseado no que veio a público, que "seria". Os tempos dos verbos fazem toda a diferença."
Por mim respondo que obviamente (sublinhado) que entendi que se limitou a reproduzir algo, bem como o 'seria', muito parecido com a expressividade do usadíssimo 'alegadamente'.
O desvio e a boçalidade nem têm nacionalidade, são inatos ao ser humano, infelizmente.
Mas lamenta-se sempre que falar de portugueses não possa ser só muito bem.
E que estas situações não sejam apenas 'filme'...
"História singular. E triste."
In FSC
Subscrevo.
A barbaridade nao tem nação...
Enviar um comentário