A avaliação feita por grande parte da comunicação social sobre os resultados da recente cimeira ibero-latinoamericana, realizada em Portugal, tendeu a sublinhar as supostas ineficiências desta comunidade de países, relegando para um notório segundo plano as virtualidades do trabalho conjunto, que vem sendo desenvolvido ao longo dos anos que a mesma leva de actividade.
Julgo que teria sido importante que a opinião pública pudesse ter elementos mais concretos sobre este exercício, sem dele esperar aquilo que ele não pode dar, mas igualmente tendo em atenção os progressos por ele alcançados.
Esta relação da América Latina com Portugal e Espanha tem vindo a aculturar uma atitude comum face a um conjunto muito diverso de sectores, com uma cooperação cujo aprofundamento sofre, naturalmente, da circunstância de estarmos perante Estados muito diversos, marcados por realidades nacionais muito distintas, algumas das quais conflituais entre si.
É sabido que o processo político na América Latina tem tido uma progressão não linear, com avanços e recuos, em especial em países cuja estabilização económico-social está longe de concluída. Nenhuma força exterior, muito menos uma estrutura de enquadramento oriunda de vectores de proximidade cultural, como é o caso da comunidade ibero-latinoamericana, tem condições de forçar essa realidade e de "apressar" decisivamente o futuro de todos e de cada um.
Não será, porém, por acaso que o conjunto de Estados agregados nesta comunidade continua interessado em mantê-la. É por detectar muitos pontos positivos no prosseguimento desse trabalho que todo aquele vasto número de países se mantém empenhado no exercício - cuja actividade, convém lembrar, se desenvolve numa multiplicidade de modelos de cooperação que estão diariamente no terreno e de que as cimeiras são apenas um momento pontual de avaliação e de reorientação programática e política.
Não será, porém, por acaso que o conjunto de Estados agregados nesta comunidade continua interessado em mantê-la. É por detectar muitos pontos positivos no prosseguimento desse trabalho que todo aquele vasto número de países se mantém empenhado no exercício - cuja actividade, convém lembrar, se desenvolve numa multiplicidade de modelos de cooperação que estão diariamente no terreno e de que as cimeiras são apenas um momento pontual de avaliação e de reorientação programática e política.
A conflitualidade interna em certos Estados latino-americanos, bem como a ocorrência de dissídios entre outros, fazem parte integrante da vida internacional e têm de ser compreendidos como factos que não é possível evitar. O que a comunidade deve fazer, e fá-lo com regularidade, é colocar à disposição desses mesmos Estados, sob a óptica de um património de valores e princípios que todos subscreveram, a possibilidade de gizar plataformas de diálogo. Umas vezes isso é possível, outras vezes não.
Além disso, julgo que a nossa opinião pública também não se dá conta da valia que esta vertente de relação geográfica tem para a relevância da acção de Portugal e Espanha no seio da definição da política exterior da União Europeia - onde ambos os países se assumem hoje, com enorme e inigualado destaque, em todo o quadro de definição da relação Europa-América Latina.
Esta cimeira em Portugal, realizada num contexto difícil para alguns Estados latino-americanos, constituiu-se como um esforço colectivo muito meritório para o prosseguimento da comunidade ibero-latinoamericana.
Alguns aspectos haverá, porventura, que analisar mais aprofundadamente no futuro, com vista a dar a esta comunidade um carácter cada vez mais satisfatório para todos os seus integrantes. Penso, por exemplo, no interesse que haverá em fazer prevalecer, naquele contexto, um maior equilíbrio entre os dois grupos linguísticos que a compõem, gizando atempadamente um agenda comum entre Portugal e o Brasil, que possa ir em paralelo com aquela que hoje é assumida pelos países de língua espanhola e que tem já importante expressão em muita da estrutura e actividade da comunidade. Esse é, aliás, um dos caminhos para vir a conferir ao Brasil o relevo que tem direito a usufruir no seio da comunidade, pelo facto de ser o maior e mais importante país desta estrutura bi-regional. O tempo ensinou-me que uma condição sine qua non para o progresso da comunidade ibero-latinoamericana assenta na possibilidade de potenciar do entusiasmo do Brasil neste exercício. Com isso, por variadas razões, Portugal só terá a ganhar.
Em tempo: chamo a atenção para os oportunos comentários sobre este post inseridos no Blogue Notas.
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2 comentários:
O entusiasmo do Brasil é refreado pelo predomínio hispânico na Comunidade, que nos cabe a nós lusófonos (e com grande responsabilidade para o Brasil) contrabalançar e equilibrar. O Brasil quer liderar claramente a região e vê na influência espanhola mais um factor de reforço dos seus vizinhos hispânicos. A Espanha lida com inegável delicadeza com esta situação, mas às vezes puxa-lhe também o pé para a "hispanidad"... e isso não se pode admitir numa Comunidade Iberoamericana com duas línguas! Concordo plenamente que a Portugal interessa e muito que esta Comunidade se afirme!
Dois excelentes post´s. O do nosso Embaixador e o de Alcipe.
É pena que nem todos os políticos tenham em devida conta o papel de Portugal neste equilíbrio de forças!
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