quarta-feira, agosto 05, 2009

Portugueses


Fui ontem a Limoges transmitir um abraço de solidariedade aos nossos compatriotas que aí estão hospitalizados, na decorrência do terrível acidente de viação que, no sábado, matou cinco pessoas, entre os quais um cidadão holandês, e deixou um grande número de feridos, alguns deles ainda em situação delicada. Antes de partir de Paris, fui avisado de outro acidente, poucas horas antes, com mais um morto e muitos feridos, desta vez na zona de Bordéus.

Este tipo de ocorrências tornou-se quase como uma sina anual dos nossos emigrantes, no seu regresso sazonal ao país. Ao longo de décadas, um imenso número de portugueses deixou o seu sonho de vida, e o dos seus familiares, pelas estradas de França, Espanha e Portugal, por razões diversas, e às vezes cumulativas, que vão desde a velocidade, a imperícia, o cansaço e outros estados físicos impróprios para a condução, bem como deficiências nas viaturas.

Campanhas de advertência têm sido levadas a cabo por entidades francesas ou da comunidade portuguesa - como foi o caso da "Cap Magellan" -, mas os seus efeitos são sempre limitados. É que alguns pensam que estas coisas acontecem apenas aos outros.

À noite, no meu regresso de Limoges, desembarquei na Gare de Austerlitz. E não pude deixar de lembrar-me que estava a chegar a Paris pela mesma estação ferroviária onde, há algumas décadas, muito provavelmente, haviam desaguado, pela primeira vez, alguns daqueles que agora desapareceram. Ironias deste destino português em França.

4 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Belo texto, Senhor Embaixador.
Que nunca uma alteração partidária neste burgo que é o nosso, esqueça o trabalho que tem desenvolvido em prol do país!

Anónimo disse...

Acredito também, sinceramente, que a presença é um analgésico de ampla duração em situações como esta...
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Parabéns.É raro ver os diplomatas a dar um abraço ao sofrimento dos portugueses.

Artur Relvas

Anónimo disse...

Forte densidade humana !

Carlos Falcão

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?