Até 2011, muito pouca gente em Portugal tinha ouvido falar da TSU e dos seus critérios. Foi nos debates televisivos Sócrates-Passos que o tema surgiu, ainda um tanto críptico, para os não iniciados. Só um ano e tal depois, quando as principais malfeitorias governativas deixaram de ter como (cómodo) alvo de estimação a Função Pública e ameaçaram os assalariados privados, o país se deu ao trabalho de vir para a rua protestar (e travar) um certo modelo de TSU, que os seus "criadores" confessaram mais tarde ter surgido numa converseta numa viagem Lisboa-Bruxelas - o que permite hoje avaliar o sentido de responsabilidade de quem andava então pelo Campo das Cebolas. Nem mesmo as entidades patronais se aventuraram a abençoar essa "trouvaille". A descida da TSU para o patronato, paga pelos assalariados, acabou por cair e isso foi também o princípio da queda de Vitor Gaspar.
A TSU volta agora à baila. O governo PS quis agora introduzir um alívio à carga patronal, como compensação da aceitação da subida do salário mínimo. No Rato, sabia-se de ginjeira que a doutrina anti-empresarial endémica do PC e do Bloco nunca permitiriam o seu apoio à primeira medida, empochada que ficava a segunda. Assim, só com o apoio da direita ela poderia passar.
Perante o acordo obtido em concertação social, o PSD esteve inicialmente silencioso, tendo mesmo mandado uma figura de segunda linha dizer, publicamente, que concordava com este alívio ao patronato, onde reside o seu "fond de commerce" histórico. Mas, depois, não resistiu e mudou de ideias. Entre a lógica de um partido com sentido de Estado - apoiar aquilo com que está programaticamente de acordo e rejeitar aquilo que contraria os seus princípios - há (neste) PSD uma terceira via, que é fazer tudo quanto possa prejudicar o governo, seja essa atitude coerente ou não com aquilo que sempre pensou e disse. Mesmo que isso aliene quem tradicionalmente o apoia.
Ao PS, nesta corda-bamba em que anda, era tempo de fazer um gesto positivo para o setor empresarial, Ou conhecia mal (este) PSD ou resolveu correr o risco de confrontar politicamente a oposição com a respetiva incoerência. Convenhamos que foi uma tentativa um tanto "ligeira", numa questão desta importância. Passos Coelho sai pessimamente disto, mas António Costa também vai pagar um preço.
Resta Marcelo Rebelo de Sousa, que revelou o seu contentamento com o anterior acordo e a quem, ao que se sabe, Passos Coelho não alertou desta sua atitude obstrucionista no almoço da passada semana em Belém. Fica provado que, às vezes, "não há almoços grátis" para quem os oferece.