Ontem, numa conversa, veio à baila o nome de Álvaro Salema. Muitos dos leitores deste blogue não o conhecerão bem, alguns nem sequer terão ouvido falar deste ensaísta e jornalista que desapareceu, com 77 anos, em 1991, e que, com Álvaro Cunhal, chegou a dar aulas a Mário Soares, no Colégio Moderno.
Devo começar por dizer que, de há muito, considero que Álvaro Salema é uma das importantes figuras portuguesas a que o 25 de abril, por que tanto lutou, não fez a justiça que lhe era devida. A culpa é de todos nós, a começar pelo próprio Álvaro Salema. Já explico porquê.
Salema foi uma figura da maior importância na vida intelectual portuguesa, a partir dos anos 40. Professor e crítico literário, foi um escrupuloso cultivador de uma ética pública de grande rigor, que o levava a um auto-apagamento que acabou por afetar a visibilidade do lugar que lhe é devido na história cultural de Portugal. A política era, para ele, um espaço de exercício de serviço à comunidade, pelo que alimentava uma exigência que o tornava quase intolerante perante os que entendia que dela apenas se serviam. Com um intocável currículo na luta pela democracia, ao tempo em que era arriscado assumi-la como objetivo, foi preso e perseguido. Nunca procurou cargos ou prebendas, alimentando mesmo um cáustico desprezo por quantos viviam nessa obsessão.
Durante muitos anos, Álvaro Salema foi redator principal do "Jornal do Comércio", um dos mais antigos diários económicos portugueses. Dirigiu os suplementos literários do "Diário de Lisboa" e de "A Capital" - ao tempo em que esses espaços tinham um papel fundamental na vida intelectual do país. Colaborou em inúmeras publicações, como a "Seara Nova", o "Sol Nascente" ou o "Colóquio Letras", tendo obtido distinções internacionais pelos seus trabalhos de crítica literária, distribuídos por vários livros.
Por razões que não vêm para o caso, tive o ensejo de privar com Álvaro Salema. Dele recolhi exemplos de postura ética que me levam a manter uma grande admiração pela sua memória. Achei importante dizê-lo aqui.
12 comentários:
Confirmo. Trabalhei ao lado de Álvaro Salema no Jornal do Comércio, e confirmo. É justa a evocação.
Gostei muitíssimo de ler estas palavras de homenagem ao (meu tio) Álvaro Salema. Palavras justas, rigorosas e alicerçadas numa sincera admiração recíproca.
A este respeito, para quem o quiser, não resisto a sugerir a leitura de um pequeno texto do Jorge Amado, incluído no seu livro “Navegação de Cabotagem”. Trata-se de umas breves linhas, passadas para o papel quando Jorge Amado tomou conhecimento da morte do seu amigo Álvaro Salema, o Salema. Correspondem a um extravasar de emoções, que nos são transmitidas de forma esmagadoramente tocante, passe o quase paradoxo.
Grande abraço
RPL
Não tive o privilégio de conhecer pessoalmente Alvaro Salema, mas sabia que era respeitado e admirado. Lembro-me do seu nome no suplemento literário do "Diário de Lisboa", jornal que lia vorazmente!
"Dele recolhi exemplos de postura ética que me levam a manter uma grande admiração pela sua memória."
Se hoje sou quem sou, devo-o a homens e mulheres cuja postura ética alicerçaram as bases da minha vida.
Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,
O nome de Álvaro Salema não me era desconhecido, embora, na verdade, não o tenha conseguido situar.
Merece referência, como nos diz, o exemplo de Álvaro Salema como "cultivador de uma ética pública" e de serviço à comunidade, porque como nos têm lembrado com muita pertinência os Professores e Pensadores Adriano Moreira e António Barreto é cada vez mais importante que surjam Homens que se distingam pela sua exemplaridade. Na medida em que o afastamento entre os cidadãos e os políticos será cada vez maior quanto mais dúvidas houver sobre o perfil ético dos dirigentes públicos. Esta tendência nociva levará cada vez mais as nossas democracias a um maior descrédito. Não nos esqueçamos que isso foi, historicamente, fatal nos anos 20 do século passado...
A solução tem de passar por arrepiar caminho e suscitar o ambiente político salubre para que surjam novos "Álvaros Salemas" no sentido de que as democracias se purifiquem dos ambientes pestilentos que as andam a contaminar, tal como nos tem ensinado o Dr. Mário Soares.
Pela importância deste texto, de homenagem a Álvaro Salema, vou republicá-lo no blogue do Movimento Internacional Lusófono.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
No site
www.leitura.gulbenkian.pt ,magnífico site,na rúbrica "rol de livros", se seleccionar como recenceador Álvaro Salema aparecem-lhe 1505 fichas da autoria dele.
João Vieira
Ver que, apesar de tudo, a memória se não perdeu, é sempre para mim uma enorme alegria. Pena que homens como ele sejam cada vez mais uma quimera.
Trabalhei com o Dr. Carlos Salema no "JORNAL DO COMÉRCIO" nos anos 50/60 do século passado.
Sempre o considerei uma pessoa cordial e amigo de ajudar o seu semelhante.
Tenho muito boas recordações deste grande homem!
APS
Foi sempre um Tio carinhoso e atento
nunca me esqueci dele.
Tenho pena que a vida não tenha termitido que que soubesse que existe uma sobrinha e um sobrinho que o respeitam e não o esquescem
Fátima Rio
Querido Tio
Tenho pena de não ter tido oportunidade de não ter contacto contigo.
Mas estas sempre na minha memoria pelas coisas que o Pai me contou
Miguel Rio
Muito obrigada pela memória simpática do meu avô, Francisco.
Inês Meneses
Cara Inês
Guardo uma memória muito positiva do seu Avô, com quem tinha uma relação pessoal que muito prezo. Lamento que o país não lhe tenha ainda prestado a homenagem que devia. Temos a obrigação de pensar nisso, até porque está a desaparecer a geração que o conheceu melhor. A edição de um livro que combinasse alguns textos dele com testemunhos, lançado de forma condigna, seria uma coisa em que se poderia pensar.
Um abraço
Boa tarde.
Pretendia encontrar e ser contacto por familiares de Álvaro Salema. Estou a escrever uma biografia do Visconde de Taíde, que casou com Dona Augusta Salema Garção Ribeiro de Araújo, viscondessa de Taíde pelo casamento. Lendo um texto de Couto Viana, fiquei a saber que o Dr. Álvaro Salema era seu sobrinho, e bastante próximo. O meu interesse era colher alguma informção sobre a viscondessa e, se possível, obter uma fotografia.
Pereira Coelho
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