O discurso presidencial de 25 de abril trouxe este ano um estilo novo, mais pedagógico, acessível e descrispado. Terá mesmo contribuído para atenuar o “vício” parlamentar para converter um evento que deveria ser de festa num terreno de polémica confrontacional, marcado pela conjuntura.
O novo presidente sabe que vive um estado de graça que tem muito a ver com o contraste pouco subliminar que projeta sobre a imagem do seu antecessor. Com o tempo, veremos se algum frenesim que marca estes primeiros dias é, em absoluto, compatível com o seu estatuto e, em especial, com alguma distância mais formal que o futuro pode vir a requerer face a alguns temas. Porém, e por ora, os portugueses parece apreciarem o novo estilo.
Daquilo que o chefe do Estado tem dito, fica a certeza de que é sua intenção dar uma oportunidade ao atual governo para levar à prática o seu projeto, evitando que este encontre razões para poder vir a acusá-lo de contribuir para os eventuais azares que lhe possam vir a suceder. Acho mesmo que o presidente corre alguns riscos nessa sua atípica solidariedade interinstitucional.
A “acalmação” que o presidente se esforça por levar a cabo não tem a ver com qualquer sintonia ideológica de fundo com a agenda de um PS apoiado pela extrema-esquerda. Porém, conhecendo muito bem o país, Rebelo de Sousa já entendeu que o “mood” público maioritário é, por ora, simpático a um executivo que está a tentar uma “quadratura do círculo” em matéria financeira.
Ao proceder desta forma, o presidente sabe que está a causar engulhos numa antiga maioria que, muito simplesmente, gostaria de ter em Belém uma pessoa que, de uma qualquer forma, ajudasse ao seu rápido regresso ao poder. O discurso de Paula Teixeira da Cruz não engana e, de forma evidente, revela a hipocrisia da falsa resignação de Passos Coelho, na sua reentronização em congresso. A raiva e a amargura estão por ali ainda muito evidentes e, cada vez mais fica claro que o voto esforçado do PSD em Rebelo de Sousa foi apenas a opção por um mal menor, que agora lhes parece estar a sair “pior do que a encomenda”.
Deste 25 de abril ficou também a insistência nos consensos, visível no discurso do presidente. Ela revela muito bem o país político “ideal” de Marcelo Rebelo de Sousa: dois partidos alternantes no poder, muito “à europeia”, com diferenças entre si menores do que as similitudes do modelo de sociedade que partilham. Uma coisa me parece clara: este projeto não é compatível com Passos Coelho, com o PCP e com o Bloco. A grande questão é saber se, a prazo, o será com António Costa.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")