terça-feira, julho 22, 2014

Os inúteis

Foi necessário que, na passada semana, Bagão Felix tivesse utilizado o seu "megafone" mediático para que as Finanças cuidassem de vir pressurosamente a terreiro, por fonte ainda assim anónima, a clarificar o que não era claro: que os funcionários públicos na reforma não estão impedidos de dar contributos que lhe sejam solicitados por entidades públicas, desde que pro bono, a título gracioso.

Sou consultor de duas universidades públicas e faço parte de um grupo de trabalho criado por um diploma interministerial. Não recebo um cêntimo por estas tarefas, mas é com grande prazer que presto esse meu contributo. Faço-o pelo que considero ser meu dever tentar ser útil ao Estado, mesmo na condição de reformado, depois de 42 anos de orgulhoso servidor ativo da "coisa pública".

Como muitas outras pessoas nas mesmas circunstâncias, interroguei-me quando vi publicada a Lei 11/14, de 6 de março. Contrariamente ao anónimo oráculo do Terreiro do Paço, não tomei o "wording" do texto legal à conta de um pretenso "excesso de zelo" (ficando por clarificar o que entendem por "zelo"). Tomei-o pelo que ele era, de facto, e que, agora e sob pressão do escândalo, o poder político teve atabalhoadamente de retificar, ainda assim com um mero "parecer": o interesse em afastar do convívio com o Estado, tão rapidamente quanto possível, os antigos servidores públicos, uns "inúteis" tidos por potenciais desafetos à nova cultura político-administrativa dominante, por forma a evitar que eles venham a "poluir" esse arejado ambiente, com as suas ideias de outrora e com a sua opinião datada.

O escriba de serviço foi longe demais? Talvez, mas não cometeu nenhum lapso, era para ser mesmo assim! Eles fazem asneiras mas não fazem erros. De quem freudianamente "matou o pai" e agora parece querer "privatizar a mãe", tudo é de esperar. Quem os não conhecer que os compre...

O xadrez angolano


Aquele telefone, num móvel situado atrás da minha mesa de trabalho na embaixada em Luanda, raramente tocava. Era uma linha direta que eu ia distribuindo aos novos conhecimentos que fazia  pela capital angolana, esse posto que o MNE me destinara no ano da graça de 1982, depois de três anos na Noruega, onde "aterrara" poucas semanas antes.

Naquele dia, o telefone tocou:

- Bom dia! Daqui Sande Lemos. Estás bom? Nunca mais nos vimos, desde o jantar em casa da Luthgarda. Temos de fazer um almoço, um destes dias, no "grill" do Trópico, para pôr a conversa em dia.

Para não parecer indelicado, não retorqui que não estava a identificar a pessoa com quem falava. O nome "Sande Lemos" dizia-me alguma coisa: era uma família conhecida de Lisboa, mas não me recordava ter-me cruzado em Luanda com alguém com esse apelido, no escasso tempo que levava da cidade. Mas podia ter acontecido! De facto, eu estivera num jantar em casa de uma amiga chamada Luthgarda e almoçava, com frequência, no "grill" do hotel Trópico, onde aliás estava provisoriamente instalado. Por isso, a minha resposta, dada na passada, foi prudente, evitando mesmo o "tu" que me era proposto:

- Bom dia! Vai-se andando, com muito trabalho. Tudo bem?

- Meu caro. Queria pedir-te se me poderias despachar dois vistos para Portugal, em "passaportes de serviço", que já estão aí pela embaixada há já uns dias. É gente aqui da secretaria de Estado dos Desportos e conseguiram-se dois "OK" na TAP para esta noite. Achas que podes "desenrascar" isso?

Como era eu que assinava esses preciosos vistos, não tive dificuldade em assegurar que os passaportes estariam disponíveis dentro de meia-hora. E assim pude fazer um favor ao meu "amigo" Sande Lemos, o qual, pelos vistos, trabalhava na secretaria de Estado dos Desportos. E logo preenchi uma pequena ficha desse novo contacto, para o que desse e viesse.

Com a agitada vida social de diplomata (episodicamente) sem familia, nunca mais me lembrei do Sande Lemos, dando apenas por adquirido que fora uma das caras que cruzara num jantar em casa da Luthgarda, que acabara com um tardio "muzungué". Com o recolher obrigatório então em vigor, entre a meia-noite e as cinco da manhã, nos fins de semana ficava-se frequentemente na conversa até à alvorada, inaugurando o novo dia com essa sopa de peixe que substituía o pequeno almoço.

Até um dia. Novo telefonema do Sande Lemos, novos vistos a apressar, abraços e promessa da tal "almoçarada". Eu, encavacado pelo facto de ainda não ter colocado uma cara naquele nome, lá me despachava das conversas como podia, resolvendo o problema àquele cada vez mais grato "amigo".

Passaram talvez dois anos. Realizou-se em Luanda um torneio de xadrez, ao qual Portugal enviou o mestre Joaquim Durão. No seu termo, havia uma cerimónia de entrega de medalhas e o embaixador pediu para ser eu a representá-lo. Chegado ao local, fui apresentado aos membros da mesa pelo meu título, "primeiro secretário da embaixada portuguesa" (por um mistério que nunca resolvi, em Luanda não se dizia "embaixada de Portugal" mas sempre "embaixada portuguesa"...). Ao cumprimentar um dos presentes, representante da secretaria de Estado dos Desportos, ouvi:

- Sande Lemos...

Olhei-o de frente. Nunca o tinha visto. Era o meu "amigo" e interlocutor telefónico. Ficámos bloqueados, sem "lata" para nos rirmos do imbróglio. A explicação para o que acontecera, como vim a concluir, era simples. O meu "amigo" Sande Lemos devia ter conhecido, num dos frequentes jantares em casa da Luthgarda, o meu antecessor, que saíra de Luanda escassos dias antes da minha chegada. Tinha o número de telefone do "primeiro secretário da embaixada", não cuidou em referir o nome dele na conversa comigo e estivera de total boa fé ao longo de todo esse tempo. A minha timidez fez o resto.

Passaram mais de 30 anos. Que será feito do meu "amigo" Sande Lemos, o meu "contacto" na estrutura oficial do Desporto em Angola?

Israel

Na minha vida diplomática, dei-me conta de que criticar a ação internacional de Israel obrigava sempre a um "disclaimer", implícito ou explícito, sem o que se erguia o risco de cair, de imediato, na jurisdição dos atentos polícias do espírito: cuidar em não poder ser acusado de anti-semitismo e nunca deixar de referir que o povo judeu foi vítima da violência nazi. 

A ajudar a este temor reverencial soma-se, desde o primeiro momento, um racismo anti-árabe, que condicionou o discurso popular. Tutelados por regimes retrógrados, embrulhados em panejamentos que os indiciavam noutro patamar da civilização, os árabes são-nos mostrados como uma espécie de bárbaros, apenas desejosos de "deitar os judeus ao mar". Por isso, e porque não eram aceitáveis os métodos extremistas da Fatah ou o não são os das várias seitas em que a revolta palestiniana se balcaniza, aos olhos de muito mundo passou a "valer tudo" por parte de Israel, desde os assassinatos da Mossad ("extra-judicial killings", na linguagem eufemista das Nações Unidas) às incursões sem limite pelas terras vizinhas. Ninguém ousa lembrar que Israel se recusa a cumprir as resoluções que a ONU (já agora, sem oposição dos EUA) aprovou, muito embora se levante um escarcéu se outros países procederem de forma similar (desde logo, o Iraque).

Durante a "guerra fria", Israel estava do lado "de cá" e os árabes do "outro lado", embora se soubesse que as coisas não eram bem assim. Os judeus eram o povo perseguido, rodeado de "facínoras" que aproveitariam o seu menor descuido para o esmagar. Por isso, para o ocidente, era de regra apoiar, sem limites, tudo o que pudesse ser apresentado em favor desse "enclave" não árabe, que "dava jeito" quando era necessário (sem que ninguém tivesse de "sujar as mãos"), por exemplo, para dar uma lição às ambições nucleares iranianas ou ver-se livre de alguns terroristas, esquecendo leis. É que, neste "racismo nuclear" que por aí anda, o Irão não pode ter a arma atómica, mas Israel está aparentemente "isento" da observância do Tratado de não-proliferação.

Os EUA, mobilizados pelo lóbi judaico, neutralizam toda a atitude que possa limitar a liberdade do Estado israelita. A Europa, com o ferrete da guerra a marcar-lhe a memória, vive entre piedosos protestos perante os "exageros" de Telavive e os negócios com a constelação dos governos árabes. Estes, com os conflitos entre si a prevalecerem hoje sobre a sua acrimónia face a Israel, vivem mais preocupados em fazer sobreviver os seus heteróclitos regimes do que se sentem mobilizados para a causa palestiniana. 

O absurdo de tudo isto é que, se alguém se atrever a afirmar que Israel tem o indeclinável direito de ver respeitadas as fronteiras que lhe foram consagradas pelas resoluções da ONU, é imediatamente acusado de ser inimigo jurado do Estado judaico. E se ousar dizer que, em troca da segurança desse território, garantida, por exemplo, pela colocação de forças internacionais de paz, protetoras dessas mesmas fronteiras, Israel deve prescindir de quaisquer ambições territoriais e recuar na construção de colonatos em territórios que ninguém reconhece como seus, de imediato fica crismado de anti-israelita, provavelmente de anti-semita e, ainda com alguma probabilidade, sei lá!, de simpatizante nazi. Dei-me conta que não falei de Gaza. Para quê?

Artigo que hoje publico no "Diário Económico"

segunda-feira, julho 21, 2014

Nívea

Estava ali, à mão de semear, junto ao balcão da farmácia das Pedras Salgadas onde me fui abastecer de cremes para o sol e para depois dele. Era o creme Nívea. Comprei-o, claro. Depois da fragorosa vitória de ontem do Sporting sobre um clube que joga (quando joga...) perto do Colombo, nós, os sportinguistas, temos imediatamente de nos precaver das doenças de pele, neste período do ano desportivo em que esfregamos cada vez mais as mãos, pensando para nós mesmos: "Este ano é que é!". 

domingo, julho 20, 2014

Coincidências

Este blogue dispõe de um identificador de países visitantes, que qualquer pessoa pode consultar na coluna do lado direito.

Se acaso, num destes textos, insiro palavras como "Israel", "Bin Laden" ou "Al Qeda", é certo e sabido que, poucos minutos depois, tenho um visitante dos Estados Unidos.

Não há coincidências, não é?

Gaza

Vai para duas décadas, dormi uma noite na Faixa de Gaza. Embora fosse novembro, a noite estava quente e abafada. A insónia fez com que eu me sentasse, por algum tempo, na varanda da espartana "guest house" que o governo de Arafat me tinha destinado. Recordo-me de ter dado por mim a notar o pesado silêncio da noite daquela que era, e ainda hoje é, uma das zonas mais densamente povoadas do mundo. Só ao fim de uns minutos realizei que, tendo sido assassinado horas antes o primeiro-ministro de Israel, Itzak Rabin, aquela não era para Gaza uma noite normal, numa terra que se habituou a conviver com a insegurança. O silêncio significava então algo mais: o medo.

Os últimos dias e noites não têm sido fáceis em Gaza e as muitas centenas de mortos árabes, para punir a mão-cheia de vítimas israelitas, repetem um "script" que todos conhecemos de cor.

Não faço a menor ideia de como vai acabar, se é que algum dia vai acabar, o triste conflito israelo-palestiniano. Uma coisa tenho por certo: as humilhações e os padecimentos, somados à pobreza e à raiva que vêm com eles, são o irreversível caldo de cultura em que foram criadas várias gerações de palestinianos. Nunca uma paz sustentável de construiu sobre a persistência do ódio e Israel sabe bem que, com esta sua postura, afasta, dia após dia, as hipóteses de uma paz negociada, numa guerra que nunca vai poder ganhar em absoluto. Pelo contrário, com a sua política de permanente desprestígio da Autoridade Palestiniana e desprezo notório pelas vidas dos seus vizinhos, Israel dá adubo ao terreno onde prosperarão sempre o Hamas e outros grupos radicais. O governo de Telavive recorre, ano após ano, às ações militares que só geram novos e eternos inimigos nas populações civis árabes, fartas de ver nascer, como cogumelos, sucessivos colonatos judaicos - sob a cínica complacência internacional - que afastam, a cada hora, a sua esperança de retornar à terra que as resoluções da ONU lhes atribuiu, mas que ninguém obriga Israel a cumprir.

Perante o mundo, desde os "taken for granted" EUA até à pusilanimidade europeia, os palestinianos parece só terem o dever à sua ritual humilhação. Israel, na assunção eterna do direito histórico à "terra prometida", potenciado pelo usufruto da memória da barbárie nazi e, mais recentemente, da onda anti-muçulmana depois do 11 de setembro, tem sempre mão livre para tudo quanto entenda fazer, não se lhe aplicando a condenação que atitudes idênticas provocariam, se acaso tivessem sido outros Estados a praticá-las. Por muito que alguns atos palestinianos sejam condenáveis, o saldo da violência israelita é incomensuravelmente maior, é uma insuportável bofetada no Direito Internacional, assumida com arrogância e com uma cegueira histórica que um dia acabará por se voltar, em definitivo, contra o Estado judeu.

Termino com uma pergunta: por que razão Israel não aceita que as Nações Unidas coloquem observadores internacionais com a responsabilidade de vigiarem as linhas de separação entre o seu território e as áreas atribuídas às autoridades palestinianas, que, por exemplo, facilmente poderiam denunciar os ataques feitos destes últimos para o seu território? É na resposta nunca abertamente dada a esta questão que reside a chave da verdadeira atitude de Israel perante todo este problema.

sábado, julho 19, 2014

Golpe de Misericórdia?

Há pouco mais de uma semana, escrevi no "Twitter": "O CDS "lançou" Marcelo. Rio fez "prova de vida". Querem apostar em como Santana vai surgir nos mídia nos próximos tempos?"

Hoje, no "Expresso", são duas páginas completas, recheadas de fotografias, com chamada de primeira página e título sonante, a desvalorizar Barroso,  ... Marcelo e Rio"

Por que será que a política portuguesa é tão previsível?

Honoris causa

Durão Barroso recebeu um doutoramento "honoris causa" pela Universidade de Brasília. Quem cuidou em mandar a notícia aos jornais lembrou que De Gaulle, Alfonsin e Mandela tiveram uma honra idêntica por parte da escola de Darcy Ribeiro. 

Pena foi que não tivessem lembrado que, no passado, já a quatro outros portugueses foi atribuída a mesma honraria: José Saramago, Boaventura Sousa Santos, Adriano Moreira e Adriano de Carvalho.

"Adriano de Carvalho?", perguntarão muitos leitores. Quem é? É um distinto diplomata português que, durante cerca de oito anos, chefiou a nossa embaixada no Brasil. A sua marca naquele país foi de tal ordem que, ainda hoje, o seu nome é por lá lembrado com imenso respeito. 

Lusofonias

- 'C'um caraças! Habíeis de ber o camandro da chuba, há bocado, no alto de Espinho! Só amainou na Campeã!"

- "Na Campeã, o caraças! Inda pingava, que Deus a dava, em Parada de Cunhos!"

A Gomes, a pastelaria icónica de Vila Real, era o palco desta conversa, no meio de um covilhete e umas fatias de bola (leia-se "bôla") de carne, há meia hora.

Dei comigo a matutar quantos anos vai demorar até que o diálogo venha a ser entendido em Malabo, na Guiné Equatorial, esse novo recruta voluntarista que a CPLP vai entronizar daqui a dias. Ah! E, já agora!, em muitas cidades do Brasil.

Diálogo interesseiro

Conversa ao final da tarde de ontem, no Porto:

- Quem me mandou a mim meter por esta zona de obras na avenida da Boavista!? Só máquinas a trabalhar, poeirada e um piso sinistro! E o caminho só leva ao hotel Porto Palácio! Depois, vamos ter que fazer marcha atrás. 

- Mas, olha! Também dá acesso ao "Pingo Doce". E já viste quem está a fazer a obra? É a "Mota-Engil".

- Ai é?! Pensando melhor, este acesso não é assim tão mau...

sexta-feira, julho 18, 2014

"Por outro lado"

 
Há uns tempos, perguntei por aqui "o que era feito" de Ana Sousa Dias, a jornalista serena que desapareceu dos nossos écrans. Acabo de ter notícias através do seu novo site: www.anasousadias.com.
 
E estou com imensa curiosidade de rever a conversa que ambos tivemos, há mais de 13 anos, no seu excelente programa de entrevistas "Por outro lado". A RTP Memória anunciou que voltará a pôr essa entrevista no ar. Mas há uma grande confusão nos sites da RTP: ou será pelas 22.30 horas do dia 31 de julho (que o site da RTP refere ser 6ª feira, mas que é 5ª...) ou no dia 1 de agosto, sexta, à 1.00 hora da manhã. Logo veremos... como ambos estamos depois de mais de uma dúzia de anos passados. 

quinta-feira, julho 17, 2014

Parabéns, Angela

Cara Angela

Não nos conhecemos, nem nos viremos a conhecer. Isso torna mais fácil este postal cibernético que aqui lhe envio, no dia em que comemora as 60 primaveras da vida.

Escrevo-lhe de um país onde o seu nome anda em todas as bocas, embora deva saber que, a maioria das vezes, é adjetivado de forma menos elegante. Um país que, sabia?, esteve sempre ao lado da luta dos alemães pela sua reunificação. Graças a Gorbachev e à teimosia dos povos das duas Alemanhas, esse sonho pôde concretizar-se. Pelo caminho, perdemos a excitação do "checkpoint Charlie", os beijos obscenos de Honecker e Brejnev, mas, felizmente, a Alemanha ultrapassou mais uma etapa importante da sua conturbada História. Saberá que, por muito tempo, também nós pagámos isso nas taxas de juro (já então!), mas você, Angela, pôde assim saltar alegremente o seu muro em ruínas, ao ponto de vir substituir, anos mais tarde, esse homem de bem e nosso amigo, que por aqui deixou muitas saudades, que se chama Helmut Kohl.

Como bem sabe, os últimos anos não têm sido fáceis por cá, mas eu não pretendo dizer, como Chico Buarque, que "a coisa aqui está preta". Mas, que está bem feia, está, é bom de ver. Claro que já não andamos como no tempo dos vossos Trabant, mas quero que saiba que hoje subsiste por aqui muita gente bem pior do que se vivia na sua pouco saudosa Alemanha de Leste. Por cá, há pessoas atulhadas de liberdade, mas muito pobres. Por isso se assiste aqui a uma imensa insatisfação quanto ao rigor extremo das receitas que, sob a sua tutela - não seja modesta, é assim mesmo! -, Portugal teve de sofrer nestes últimos tempos.

E não me venha com histórias de ajudas e generosidade, porque nós sabemos bem que, a haver quem tenha ganho muito dinheiro com os empréstimos que nos foram concedidos (e aos bancos e credores não se agradece, tenta-se pagar e boa tarde!), esse alguém é a Alemanha. Mas não, Angela, não tem nada que nos agradecer! Nós somos uns mãos largas e, na passada da crise, para nos alindarmos para o retrato do défice que nos exigiram, até aumentámos ainda mais a dívida que ainda temos que vos pagar e criámos (não gosto deste plural, mas está bem) batalhões de jovens desempregados que vão servir a Alemanha e outros países, sem que vocês tivessem dispendido um cêntimo com a sua formação académica. Diga lá se não somos amigos?! E nem partimos os vidros, como os gregos...

Por isso, Angela, neste seu dia de aniversário, gostava apenas de lhe dizer que ficaria muito agradado se, numa sua próxima deslocação a Portugal, você pudesse receber muitas flores e muito menos vaias no seu cortejo de Mercedes, Audi e BMW, pelas ruas de Lisboa. E isso, acredite, está totalmente na sua mão, na sua abertura à possibilidade da vida dos portugueses poder ser facilitada por um repensar europeu sobre o modo como a austeridade lhes (nos) tem sido imposta pela rapaziada que você controla, de Bruxelas a Frankfurt. Pense nisto, está bem?

E "Alles Gute zum Geburtstag", como julgo que aí se diz, nossa muito cara Angela.

quarta-feira, julho 16, 2014

Caberão?

Chamava-se José Augusto e era porteiro do ISCSP, quando aquela escola tinha um U de "ultramarina" no fim do nome. Foi com ele que me defrontei quando, no decurso de um processo disciplinar, passei um dia a ser impedido de aí entrar. Por largos meses. Nada estava escrito que limitasse esse meu direito, mas a ditadura tinha os seus incontornáveis arbítrios. Ou melhor, eu estava proibido de assistir às aulas e frequentar as instalações, mas podia fazer as frequências e os exames. "São ordens do senhor diretor", disse-me o José Augusto, com o visível gozo em mostrar autoridade sobre um "associativo" tido por incómodo. Tinha fama de "bufo", o José Augusto, mas não posso comprová-lo. De qualquer forma, no dia 29 de abril de 1974, quando me viu entrar fardado de oficial do Exército, ele foi todo mesuras e sorrisos. Se soubesse quem era Dylan, poderia estar a ter a consciência de "the times they are a-changin' ". E estavam.

Anos antes, uma aula tinha de ser mudada, por uma qualquer razão, do grande anfiteatro do anexo do Palácio Burnay para uma sala mais pequena. O velho padre Silva Rego, com sua inconfundível pronúncia beirã, mandou chamar o contínuo e indicou um espaço alternativo para alojar a sua aula de Missionologia (isso mesmo! O que eu então estudava!). O José Augusto, perante o silêncio das hostes, avaliou vagamente a adequação do novo espaço ao número de alunos e lançou, alto: "Não sei se caberão". Só que o "e" da última palavra não surgiu suficientemente forte para evitar uma gargalhada coletiva, com o próprio padre Rego a sorrir, pela gralha fonética. Dando-se conta, num segundo, do ridículo em que caíra, o José Augusto virou costas, perante um gáudio coletivo que o humilhava, saindo disparado, a praguejar, pelo corredor fora.

Porque é que me lembrei disto? Porque, há minutos, perante um Chiado a abarrotar de gente, na maioria estrangeiros visitantes, um amigo meu, como que "assustado" por esta bela e crescente invasão pacífica de Lisboa, dizia-me: "Um destes dias, não sei se caberão!". Cabem, com certeza, e é bom que deixem por aqui os cabedais, a troco do nosso sol, da nossa gastronomia, do nosso acolhimento e do usufruto desta maneira, ímpar e contraditória, de sorrir dos males da sorte.

Jacinto Nunes

E se, como homenagem a Jacinto Nunes, lessem estas suas discretas memórias, publicadas em 2009, de que muito pouca gente falou, mesmo por ocasião da sua morte?

Robin Cook


Foi anunciada a saída de William Hague, de "Foreign Secretary" do governo britânico, que passa a líder parlamentar do seu partido na Câmara dos Comuns. Isso trouxe-me à memória a figura de Robin Cook, que teve precisamente o mesmo percurso, depois de ter dirigido a diplomacia britânica entre 1997 e 2001.

Recordo bem o dia em que acompanhei Jaime Gama na visita do recém-empossado Robin Cook (que nada tem a ver com um seu homónimo escritor de romances), na sala da nossa REPER bruxelense. Os serviços do MNE tinham preparado para nós pastas com alguns temas passíveis de serem suscitados na reunião. O novo ministro britânico, numa lógica bem mais simples, tinha apenas duas folhas de A4, ligadas por aqueles lacinhos de fio com extremos metálicos, que fazem a imagem de marca do "civil service"... Como me habituei a ler documentos ao contrário, tomei atenção aos "talking points" que estavam à frente de Cook. Neles se sintetizavam, cada um em duas ou três linhas sem "bolds", os escassos assuntos que o Reino Unido queria colocar na reunião, seguidos da antecipação da possível resposta portuguesa, nalguns casos com sugestões para réplica. Numa segunda parte do texto, fazia-se uma "previsão" de temas que Jaime Gama podia, pelo seu lado, vir a levantar. Lembro-me que Gama foi muito pouco previsível nas poucas questões em que tocou, tendo ficado para sempre com a sensação de que os britânicos, dessa vez, não acertaram uma...
Robin Cook tentou lançar uma "diplomacia ética", que desde o início se confrontou com a "realpolitik" dos negócios. Trabalhista ou conservadora, a administração diplomática britânica segue uma lógica de fins muito profissional e rigorosa, pouco dada a flutuações. Segundo Palmerston, "a Grã-Bretanha não tem amigos, só interesses", embora eu ache que, às vezes, tem interesse em ter amigos... Um dia se falará do modo como, nesse tempo, o Reino Unido atuava perante a Europa e, no que diretamente nos respeita, relativamente à questão de Timor. Mas, se bem me recordo, não variou muito a atitude dos vários contrapartes britânicos que fui tendo nos Assuntos Europeus: Davis Davis, Doug Henderson, Joyce Queen, Geoff Hoon e Peter Hain.
A última imagem que guardo de Robin Cook foi a conversa que tivemos, sentados lado a lado, num jantar em Nice, no dia da assinatura do tratado europeu com esse nome, em 26 de fevereiro de 2001. Uma semana depois, eu iria sair do governo para ir ocupar a chefia da nossa representação na ONU. Fiquei surpreendido quando Cook inquiriu: "Sais por algum conflito com o Jaime?". Expliquei-lhe que esse era um boato corrente e recorrente, mas sem o menor fundamento, e que, como há mais de um ano estava planeado, regressava à minha carreira profissional após a presidência portuguesa da UE e depois de concluir a negociação do tratado que tinha sido assinado nesse dia. Foi então que recebi dele esta confidência: "Sei por experiência própria que, às vezes, as coisas não são fáceis dentro dos governos. Eu próprio tenho as minhas divergências com Tony (Blair). Tenho a sensação, aliás, de que se ocupasse uma pasta ligada a questões de política interna, já há muito que teria saído do "cabinet" ". Não tendo nenhuma intimidade com Robin Cook, fiquei surpreendido pela candura desta revelação. Mas, de facto, já persistiam fortes rumores sobre as divergências entre o primeiro-ministro britânico e o seu "Foreign Secretary", que era tido por demasiado pró-europeu. E, menos de três meses depois desta conversa, Cook seria afastado por Blair do "Foreign Office" para ir para líder dos Comuns, com lugar no governo, mas num segundo plano. Como agora vai acontecer a William Hague.
Tempos depois, Robin Cook sairia com estrondo, mas com honra, desse novo cargo, em protesto contra a posição de Tony Blair na questão do Iraque. Deixou a esse propósito um livro curioso, com o título simbólico de "The Point of Departure", onde, nomeadamente, relata cenas passadas nos conselhos de ministros, nesses tempos tensos. Guardo dessas memórias (que ainda devo ter encaixotadas algures) o episódio divertido de uma conversa com a rainha mãe, em que esta intercede para que não sejam vendidos os edifícios de algumas embaixadas britânicas pelo mundo (por cá, não sei de alguma "rainha mãe" tentou travar a depredadora cultura Re/max que atravessou o MNE, nestes últimos anos).

Robin Cook viria a morrer subitamente, de ataque cardíaco, aos 59 anos. Tinha como hóbi escrever para jornais sobre corridas de cavalos, assunto sobre que era um reconhecido especialista. Guardo dele para sempre a imagem de um homem muito cordial e simpático.     

terça-feira, julho 15, 2014

Os equívocos de Paulo Rangel

O deputado europeu social-democrata Paulo Rangel reage hoje, num artigo no "Público", às críticas surgidas durante a jornada de reflexão, na passada sexta-feira, na Culturgest, em que foi referido o facto de Portugal ter deixado de estar representado na Comissão de Comércio internacional do Parlamento europeu, num tempo em que se aproximam importantes negociações sobre a futura Parceria Transatlântica, que tão decisiva pode ser para o nosso país. Essas críticas foram ecoadas num artigo de Teresa de Sousa e num texto aqui neste blogue, o que, a menos que algo me tenha escapado, parece esgotar o universo dos "observadores privilegiados" assinalados por Rangel, que se pronunciaram entretanto sobre o assunto.
 
Na sua reação, Paulo Rangel, pessoa por quem tenho consideração intelectual, assume as "dores" social-democratas e socialistas, áreas políticas que o meu texto visava por igual, o que me deixa mais à vontade.

Relativamente ao artigo, e no que pessoalmente me toca, não padeço de um "desconhecimento efetivo do PE" e, pelo menos tão bem como o deputado, conheço em detalhe o mecanismo de negociação da Europa e sei exatamente onde se situa a "separação de poderes" entre o Conselho e o PE, que em nada é passível do paralelo que Paulo Rangel procura fazer com a relação entre o governo e a nossa Assembleia da República.
 
Portugal, diz Rangel, não está ausente da Comissão a que um deputado nacional presidiu até há semanas. Tem dois suplentes que o deputado nos esclarece que podem "saltar do banco" a qualquer momento. Mas, se assim é, então por que razão as comissões têm "titulares" e "suplentes"? É tudo a mesma coisa? Rangel sabe que não é.

Naturalmente que os 21 deputados não podem ter o dom da ubiquidade, mas não era isso que se lhes pedia: pedia-se que, na hierarquia da escolha das Comissões a integrar, tivessem colocado aquela que trata da Parceria num lugar cimeiro. No meu texto, admitia até que o tivessem feito e que a negociação tivesse corrido mal, pelo que apenas considerava que PS e PSD haviam "perdido o jogo" antes do apito inicial. Paulo Rangel embrulha-se numa confusa formulação de onde se não percebe o que realmente se terá passado: "Nem sempre se conseguem os postos ou os lugares que se almejam à partida e é necessário ter uma visão de como pode ser maximizada a realização das prioridades políticas". Esta habilidosa fórmula impede-nos de saber o que os deputados portugueses - repito, socialistas e social-democratas - eventualmente tentaram obter.
 
Paulo Rangel dedica-se depois a explicar, em jeito de tardia compensação, que os deputados e funcionários portugueses estão hoje em outros lugares-chave da máquina do Parlamento, o que lhes permitirá acompanhar e influenciar o processo negocial, pelo que "o assunto não será menosprezado". Mas logo reconhece que "há, sem dúvida, uma desvantagem em relação à legislatura anterior", em que tínhamos o presidente da Comissão, o que dava "um acesso privilegiado à informação e ao acompanhamento das negociações".

Bom, mas então em que ficamos? Afinal, parece que sempre se perdeu alguma coisa de relevante! O deputado conclui, e bem, que, mesmo que Vital Moreira tivesse permanecido no PE, "nada garantia que a presidência dessa Comissão coubesse a um português e a um socialista". Mas quem disse que isso aconteceria se Vital Moreira ficasse? E quem exigia que Portugal mantivesse a presidência? O que se pretendia é que houvesse um qualquer deputado português, socialista ou não, que integrasse de pleno direito a Comissão de Comércio internacional do PE, nos próximos cinco anos. E o que os portugueses talvez gostassem de saber é se isso foi tentado ou não. Se não se tentou, acho grave. Se se tentou e não se conseguiu, então assuma-se que fomos derrotados. Todos nós - socialistas, sociais-democratas ou até Marinho Pinto!

Nós e o mundo

Tenho a sensação de que as pessoas, em Portugal, deram escassa importância a algo de muito significativo que ocorreu na passada semana: refiro-me à reação da comunicação social internacional à crise do BES e à reciclada imagem que Portugal projetou de novo, a partir de então.

Portugal é um país muito pouco importante para o mundo exterior. De nós, e à parte alguns poucos que nos conhecem melhor, está feita por aí uma caricatura simplificada, só a espaços verdadeira na sua crueldade: um país pobre, uma economia frágil e sem capacidade competitiva, uma democracia recente (?) e em tensão, uma sociedade com os vícios comportamentais ditos da latinidade ou da "preguiça" mediterrânica. Damos ainda de nós mesmos a imagem de quem exporta mão-de-obra a que não sabe dar futuro, porque, de forma endémica, somos incapazes de sustentar os nossos episódicos sucessos. Dizem-nos um país que não soube aproveitar aquilo que a Europa nos "deu", alimentado por pequenos compadrios e grande esbanjamento. E, claro, dizem também, para nosso gáudio patriótico, que somos simpáticos, geralmente humildes (Mourinho, Ronaldo e Saramago são as exceções), prestáveis, acolhedores - do "hostel" à tasca da esquina. A crise de 2011 confirmou aquilo de que muitos desconfiavam: que não tínhamos condições para pertencer ao euro, para cuja entrada, com toda a probabilidade, havíamos feito um hábil "autoretrato" sincrónico da nossa economia. É assim que muitos nos olham, podem crer. Às vezes com pena, outras com sobranceria, frequentemente com ambas.

O modo como a austeridade por aqui passou também confirmou, a esses mesmos olhos, que somos passivos, sofredores, quase subservientes. A Irlanda e a Grécia conseguiram vantagens com a "troika" que o governo português (por incompetência? por seguidismo? por complexo de "bom aluno"?) nem sequer ousou reclamar. Os estrangeiros olharam para os vidros intactos das montras durante as nossas manifestações, compararam-nos com a "fogueira" da praça Syntagma ou com a agressividade nas Puertas del Sol e interrogaram-se. Admirativos? A palavra "admirar" tem dois sentidos e um deles não devia ser bom para o nosso orgulho.

Foi esse mundo que, na passada semana, voltou a olhar para nós, através do "caso BES", para a procrastinação decisória da família Espírito Santo (que, para muitos observadores externos, começa a ser vista como "famiglia", podem crer!), para o incrível alheamento, por muito tempo, dos responsáveis políticos (a quem o virus liberal parece ter toldado o sentido da responsabilidade de Estado), para o passo de tartaruga da supervisão (que, uma vez mais, não soube prever o "tsunami" e que, nas horas que correram, devia estar a ler o FT com dois dias de atraso) e até para o incrível tempo que o "dream team" da nova gestão do banco levou a forçar a sua chegada aos cadeirões de couro do 15º andar do 195 da avenida da Liberdade. Portugal projetou a imagem do filme de um desastre em "slow motion".

E o que se viu? Viu-se a imagem do país, que havia sido retocada pela leve aguarela da "saída limpa", a desfazer-se com fragor em poucas horas, com o "rating" da República, apenas sustentado pela política do BCE, sob pressão do "caso BES", como se o mundo se preocupasse com as subtilezas das diferenças entre o BES e o GES e, dentro deste, cuidasse em distinguir as amigalhices da PT, as trapalhadas angolanas ou os "erros" do já famoso "contabilista do Luxemburgo" - aliás, um belo título para um "financial thriller" de Paul Erdman. E logo se viu Portugal, como um todo, a ser lido como um país uma vez mais em profunda crise, financeira e quiçá política, um incurável "doente europeu", causador irresponsável de instabilidade para os parceiros. Olhem-se as capas do "Wall Street Journal", do "Financial Times", as reportagens da CNN ou da BBC. Por todos esses espaços, regressou a imagem do país frágil de que falei no início desse texto. Imagem que, infelizmente, não se vai afastar, por muito tempo*.

Em política, dizia já não sei quem, "o que parece é". E, com o caso do BES e com o comportamento inapropriado (hoje deu-me para os eufemismos diplomáticos) das autoridades portuguesas, demos a imagem de uma República também não sei bem de quê. Nem o futebol ajudou, caramba!

* sobre a imagem que Portugal projeta nos outros, e para quem tiver algum tempo, deixo este link.

"14 juillet"

Há já uns bons anos, sem que me tivesse apercebido da data, cheguei a Paris, ido de comboio de Bruxelas, na noite do 14 de Julho, a festa nacional francesa. Havia sido difícil reservar um hotel próximo do "Périphérique", porque era importante conseguir sair bem cedo para o aeroporto, no dia seguinte, para partir para outro continente.

O motorista que me aguardava na Gare du Nord foi-me dizendo que não ia ser pêra doce chegarmos ao hotel, que ficava perto da Étoile. Tinha razão. O trânsito estava impossível e, chegados ao Arco do Triunfo, foi preciso parlamentar com uns polícias para atravessar a praça. Mas lá conseguimos arribar ao destino.
 
Entretanto, o motorista tinha-me chamado a atenção para o interesse em não perder o fogo de artifício dessa noite, o maior e mais imponente nos céus de Paris, durante todo o ano. Desde sempre, desde as festas da Senhora da Agonia em Viana do Castelo, passando pelo "4 de Julho" em Manhattan, sempre fui um fã das sessões de fogo de artifício, essa maravilhosa arte efémera que alegra as noites de verão.

Com a sugestão do motorista ainda no ouvido, mas consciente de que a hora do espectáculo se aproximava, perguntei na recepção do Hotel Raphael, onde me iria hospedar, se me aconselhavam algum local, de onde ainda pudesse ver o espectáculo. A reacção do empregado foi de uma snobeira tipicamente parisiense. Depois de me dar a chave do quarto, olhou para o relógio e adiantou, num tom displicente: "As pessoas acham que o terraço do nosso hotel é, muito provavelmente, o melhor local de Paris para ver o fogo de artifício do 14 de Julho. Aliás, o fogo desta noite começa daqui a 15 minutos e vamos servir champanhe no terraço dentro de... 3 minutos".

Foi quase uma noite memorável, com técnicas de pirotecnia que não imaginava possíveis. Presumo que, de lá para cá, tudo esteja ainda mais requintado no fogo da festa parisiense, tanto mais que, este ano*, a Torre Eiffel, que comemora os seus 120 anos, será ainda mais o centro principal do evento.

Ainda não sei onde vou, logo à noite, ver o fogo de artifício do 14 de Julho. Mas não excluo, em absoluto, tentar-me fazer convidado para o terraço do Raphael...

em tempo: este post foi aqui publicado em 2009. Lembrei-me de o reeditar nesta noite de "14 juillet"

segunda-feira, julho 14, 2014

Messi?

Saber perder é uma arte. Como o é, aliás, saber ganhar. No sábado, o Brasil fez uma "triste figura" ao não saber honrar os justos vencedores, a Holanda. Ontem, Lionel Messi, com uma iniludível "cara de frete", não soube comportar-se à altura de um capitão da equipa que titulava, numa demonstração de falta de sangue frio, perante a adversidade desportiva que tinha obrigação de saber enfrentar. Não se lhe pediam sorrisos, pedia-se urbanidade e educação, perante os que o saudavam com admiração. Messi comportou-se como um miúdo mimado, a quem tiraram o brinquedo que achava ser seu.

Como se isso não bastasse, a FIFA, ou lá quem foi, decidiu "premiar" Messi com o galardão do melhor jogador do torneio. Considero Messi um dos mais geniais - senão o mais genial - jogadores do mundo, mas neste Mundial foi uma sombra de si mesmo. Há bem mais de uma dezena de participantes que, sem a menor contestação, mereceriam muito mais o prémio. Desde um colega de Messi, Di Maria, a Robben (que, para mim, seria a escolha certa), passando por Muller e James Rodriguez. E porque não é apenas com os pés que o futebol é disputado, por que não os guarda-redes dos Estados Unidos ou da Colômbia? Se era um prémio de consolação, então que o tivessem dado a Neymar, que bem o merecia, pelo que jogou e pelo que não o deixaram jogar.

Agora Messi?! "Só contado p'ra você!", como dizem os amigos brasileiros.

TAP ?

Que se passa com a TAP? A toda a hora, ouço cada vez mais reclamações sobre o funcionamento daquela que, desde sempre, foi a minha companhia aérea favorita. Os atrasos, o cancelamento de voos, a displicência regular de muito do pessoal estão na boca de toda a gente, a somar a uma atitude arrogante e sempre auto-justificativa da companhia, quando contactada para explicar as deficiências. Há dias, depois de uma "seca" de mais de uma hora num aeroporto europeu, nem a uma palavra simpática de desculpas tivemos por parte do comandante. Como se já fosse natural... Outras vezes é aquela encanitante justificação de que "o atraso se ficou a dever à chegada tardia do avião", como se isso fosse argumento para quem esperou, que gostaria de perguntar: "e por que chegou tarde?"

Num passado que tínhamos por longínquo, a TAP era mal vista, tida por irregular, se bem que segura. Ironizava-se então que a sua sigla significava "Take Another Plane". Com os anos e, ao que parece, com o que foi a ação do "dream team" brasileiro, a TAP mudou de imagem e, claramente, de "performance". Começaram a ser publicitados os prémios que recebia, embora nós saibamos a "valia" objetiva desses troféus de raiz comercial. Mas o país recuperou o orgulho na sua companhia, interrogando-se mesmo sobre a racionalidade da sua privatização.

Mais recentemente, porém, as queixas voltaram a surgir, as ironias a crescer: "Vais na TAP? Prepara-te para os atrasos..." Amigos estrangeiros usam-me como alvo das suas crescentes reclamações: "não se pode confiar na TAP para estar a horas numa reunião!". Na operação Brasil, na qual a TAP voa para dez cidades com cerca de 70 voos semanais, e que continua a ser a "galinha dos ovos de ouro" da companhia, assistiu-se, há semanas, a queixas oficiais brasileiras, somadas a declarações iradas de muitos passageiros prejudicados. Na operação europeia, não passa um dia sem que se encontrem pessoas que procuram "fugir" da TAP, pelos seus atrasos já endémicos, a que se soma um serviço aos passageiros que decaiu de qualidade de forma notória, em especial nas refeições. Nos voos, as apresentações sonoras feitas pelos tripulantes, em especial em francês mas frequentemente também em inglês, são de uma pobreza lamentável, sendo já um "must" para gozo dos viajantes. Fica a ideia que a TAP já se acomodou ao declínio inexorável da sua imagem. Será assim?

Vem aí o "pico" do Verão e, por maioria de razão, teme-se ainda o pior.*

*Leia-se isto.

A face exterior da América

Comecemos pelo óbvio. Os americanos, nas suas escolhas eleitorais, mobilizam-se essencialmente pela agenda do seu quotidiano interno. Nestes...