Alguém notava, num evento caritativo a que assisti na noite de hoje, o caráter "sazonal" do nosso compromisso com a solidariedade e com as carência que afetam os outros, afirmando que essa atitude não deveria surgir apenas na época natalícia, mas ser praticada ao longo de todo o ano - porque os sofrimentos e a fome não entram de férias. Talvez essa pessoa tenha razão, mas a experiência e a vida mostraram-me que mais vale estimular a preocupação com os outros em tempos como as festividades de Natal, mesmo que esses gestos surjam como pontuais absolvições de consciência, do que corrermos o risco da indiferença permanente, sem resultados materiais que permitam atenuar as dores alheias.
Vem isto a propósito do jantar em que hoje participei na "Rádio Alfa", com mais de 300 pessoas, destinado a recolher fundos para a Santa Casa da Misericórdia de Paris, cujo dinamismo desinteressado faz com a Embaixada se mobilize, com regularidade, em favor das causas que promove. A preocupação desta instituição com os mais carenciados dentro da nossa comunidade, com aqueles a quem a sorte não tocou na onda de assinalável sucesso da generalidade dos portugueses em França, com as dificuldades da nova emigração, com os idosos e doentes sem meios, com os presos portugueses e com aqueles para quem é necessário encontrar sepultura digna - eu sei que estas temáticas não são confortáveis, mas elas existem e, como se vê, há quem delas cuide com desapego material - deveria merecer um maior empenhamento de solidariedade coletiva dentro da nossa comunidade.
Uma boa ocasião para tal será dar uma colaboração, ainda que pequena, para o "cabaz de Natal" em que a Santa Casa recolhe produtos não perecíveis ou outras contribuições materiais, para ajuda daqueles nossos compatriotas que se sabe estarem mais carenciados. Neste tempo em que todos somos chamados a pensar, cada vez mais, nas dificuldades do nosso próprio futuro coletivo, talvez fosse apropriado termos um gesto em favor daqueles para quem a crise já faz parte do respetivo presente.
11 comentários:
Neste mundo d'"affreux, sales et méchants" ainda há solidariedade. Ontem, no supermercado onde fui fazer as compras, os "cabazes de Natal" da campanha de recolha de géneros alimentícios, estavam cheios.
Que bem que aqui ficou resumido o balanco deste Jantar e o programa da Santa Casa da Misericordia!
E como disse o nosso Embaixador é bom que nestas épocas em que muita gente, felizmente, pensa nas festas que pode fazer possa tambem pensar naqueles que nunca podem fazer festa!
Obrigado pela vossa presenca e participacao ainda mais enriquecida com este olhar benevolente.
José Barros
Compreendo bem o que diz, Senhor Embaixador.
Mas atrevo-me a fazer uma sugestão que eu própria sigo. Escolher meia dúzia de instituições com esse cariz e dar uma autorização de transferência bancária mensal. Pode ser pouco mas é certo, e para quem trabalha nessas áreas essa certeza ajuda a planear acções. E os que dão não só podem abater alguma coisa ao IRS, como até esquecem o bem que fazem...
Bem haja senhor embaixador bem haja.
A imagem é de si apelativa.
Admiro sempre quem promove a solidariedade seja em que dimensão for.
De facto, "estas temáticas não são confortáveis, mas elas existem"... Se todas as médias e grandes empresas gastassem, por vezes, um pouco menos que fosse em publicidades e outros eventos (legítimos e necessários)e desempenhassem também um papel social... Não se resolveriam todos os problemas... mas a nossa sociedade seria um pouco mais humana.
Manuel Antunes da Cunha
e que a solidariedade se manifeste tambem em portugal na sua vertente filantrópica, quem tem muito dinheiro, pessoas ou grupos,que doe p ex uma unidade de dialise a um hospital que não a tem, a cantina a uma escola ou o que seja.
E que se estimule a solidariedade dando beneficios fiscais a quem a pratica, apoiando ongs, organizações dedicadas a isso, etc.
Portugal tem tanta gente que gosta de dar ! Pena é que dão prentas caras a quem já tem tanto!
Infelizmente a solidariedade em portugal é comercial. A Santa Casa tem milhares de propriedades devolutas que podiam vender e materializar em bens de consumo e dar a quem precisa! Porquê que não o fazem !
OGman
OGman, é caso para dizer "Santa Casa" não faz milagres. :)
Para além da "Santa CAsa" não fazer milagres, como disse e muito bem, ainda vai buscar os impostos do estado para obras de manutenção e melhorias dos imóveis que por sua vez não pagam IMI, ao contrário dos tristes e desgraçados cidadãos sobre os quais caem as campanhas de solidariedade!!
A "Santa casa" que agora resporta directametne ao Vaticano, não paga um tostão de impostos sobre os imóveis que possui( cerca de 50 000) e ainda vive da caridade do Estado. Este por sua vez escorraça os seus cidadãos com impostos!!!
Isto faz-me lembrar os tempos da Idade Média!A época das trevas !
O último comentador está equivocado: as suas críticas foram dirigidas à Sanra Casa da Misericórdia de Lisboa quando este post é dedicado à Santa Casa da Misericórdia de Paris. Que não tem uma única propriedade...
CAro Sr Embaixador,
Hoje , nenhuma mísericordia tem qualquer património, pois ele passou directamente para os pertences do Vaticano, como se compreende do excerto da noticia do Ecclesia , da qual fiz copy paste ! Este decreto manifestou a maior resistência dos provedores das respectivas "casas". Ainda hoje a coisa ainda não serenou , portanto dá para ver que o patrimonio é o nó gordio da questão e não a ajuda ao pobrezinho, como o nome indique cordeosos com a miséria ( mísericordia )
Respeitosametne OGman
Para D. Jorge Ortiga, no entanto, "a praxe da Cúria Romana firmou-se na natureza pública das Misericórdias portuguesas pelos Decretos do Pontifício Conselho para os Leigos de 30.11.1992 e de 13.5.2003”, e no “mesmo sentido” seguiu a jurisprudência do Supremo Tribunal da Igreja Católica através de sentenças proferidas em 1999 e 2005”.
“Mediante esta interpretação ‘autêntica’ do Direito Canónico, feita pelo mais alto Tribunal da Igreja Católica, dúvidas não restam de que as Misericórdias portuguesas são associações públicas de fiéis”, assinala o documento.
As Associações públicas de fiéis são, de acordo com o Direito Canónico, as erectas pela competente autoridade eclesiástica (Santa Sé, Conferência Episcopal ou Bispo, consoante o respectivo âmbito de acção), tanto constituídas por iniciativa desta autoridade como pela dos fiéis.
Actualmente a UMP integra e coordena aproximadamente cerca de 400 Santas Casas de Misericórdia, em Portugal, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, e apoia a fundação e recuperação de Misericórdias nos Países de Língua Portuguesa (Angola, São Tomé, Moçambique e Timor-Leste) e ainda nas comunidades de emigrantes.
Enviar um comentário