Como esperado, o novo filme de Manoel de Oliveira, "Singularidades de uma Rapariga Loira", está a merecer em França um acolhimento muito positivo, nas áreas da cultura que, desde há muito, mantêm um fascínio e veneração pelo realizador português. Um texto de página, no "Libération" de hoje, é disso prova clara.
Num dos pontos desse texto, o crítico refere que o filme tem a cena de uma jovem vista de longe: "La jeune fille a toujours l'air absent et comme filmée de loin, à la fois idéale et détachée, ou alors de si près qu'elle perd tout le sortilège de son charme".
Ao ler esta frase, lembrei-me de uma história que me foi contada pela minha colega embaixadora Margarida Figueiredo, que se terá passado, um dia, com um membro de um Governo português que presidia a um qualquer Conselho de Ministros, numa reunião da União Europeia, em Bruxelas.
Ao que ela me relatou - sem revelar, "bien entendu", o nome do político -, esse governante terá, a certa altura, ficado como que deslumbrado com a entrada na sala de uma nova ministra, oriunda de um qualquer país onde o loiro costuma abundar. Porque essa senhora chegara atrasada à reunião, o nosso homem, logo que teve a oportunidade de retomar a palavra, ter-se-á desvanecido numa manifestação de expressivas boas-vindas à recém-chegada, num exagero que por pouco não roçava o assédio verbal - a acreditar, como sempre acredito, na versão daquela minha colega. Alguns dos presentes terão mesmo ficado um tanto perplexos com tão calorosa manifestação por parte da presidência portuguesa. Mas, verdade seja, a União Europeia começa hoje a ser uma entidade no seio da qual já ninguém se surpreende com nada. Note-se ainda, porque não é irrelevante, que a tal ministra loira estaria sentada precisamente do outro lado da sala, naquelas mesas imensas, num lugar muito distante da nossa delegação.
No termo do almoço de trabalho, onde apenas tomam assento os ministros e o contacto é mais chegado entre eles, a embaixadora Margarida Figueiredo, cuja confiança de alguns anos com o governante já lhe permitia alguma ousadia, inquiriu-o ironicamente sobre como achara, no contacto pessoal, a nova colega, que visivelmente tanto o impressionara na sessão. A resposta foi cortante: "Afinal é uma velha! Parecia muito gira, mas está toda encarquilhada! Vou ter de mudar de óculos para ver à distância", concluiu, agastado. A galanteria portuguesa já não é o que era...
Num dos pontos desse texto, o crítico refere que o filme tem a cena de uma jovem vista de longe: "La jeune fille a toujours l'air absent et comme filmée de loin, à la fois idéale et détachée, ou alors de si près qu'elle perd tout le sortilège de son charme".
Ao ler esta frase, lembrei-me de uma história que me foi contada pela minha colega embaixadora Margarida Figueiredo, que se terá passado, um dia, com um membro de um Governo português que presidia a um qualquer Conselho de Ministros, numa reunião da União Europeia, em Bruxelas.
Ao que ela me relatou - sem revelar, "bien entendu", o nome do político -, esse governante terá, a certa altura, ficado como que deslumbrado com a entrada na sala de uma nova ministra, oriunda de um qualquer país onde o loiro costuma abundar. Porque essa senhora chegara atrasada à reunião, o nosso homem, logo que teve a oportunidade de retomar a palavra, ter-se-á desvanecido numa manifestação de expressivas boas-vindas à recém-chegada, num exagero que por pouco não roçava o assédio verbal - a acreditar, como sempre acredito, na versão daquela minha colega. Alguns dos presentes terão mesmo ficado um tanto perplexos com tão calorosa manifestação por parte da presidência portuguesa. Mas, verdade seja, a União Europeia começa hoje a ser uma entidade no seio da qual já ninguém se surpreende com nada. Note-se ainda, porque não é irrelevante, que a tal ministra loira estaria sentada precisamente do outro lado da sala, naquelas mesas imensas, num lugar muito distante da nossa delegação.
No termo do almoço de trabalho, onde apenas tomam assento os ministros e o contacto é mais chegado entre eles, a embaixadora Margarida Figueiredo, cuja confiança de alguns anos com o governante já lhe permitia alguma ousadia, inquiriu-o ironicamente sobre como achara, no contacto pessoal, a nova colega, que visivelmente tanto o impressionara na sessão. A resposta foi cortante: "Afinal é uma velha! Parecia muito gira, mas está toda encarquilhada! Vou ter de mudar de óculos para ver à distância", concluiu, agastado. A galanteria portuguesa já não é o que era...
9 comentários:
Divertida história esta. Que me fez recordar uma outra com laivos semelhantes. Há uns anos atrás, num país da Europa de Leste, que tinha “acedido à Democracia, recentemente”, o Embaixador, que passava uma boa parte do seu tempo sozinho, naquele Posto, convidou-me um dia para “tomar um copo” algures, à noite. Lá fui ter a casa dele e dali fomos a um bar que ele conhecia. Estava bastante escuro, apenas com umas luzes “tipo ambiente”. Sentámo-nos numa mesa, pedimos uma bebida e ali ficámos na conversa e a ouvir umas cançonetas da autoria de um “artista” de recurso, que actuava num pequeno palco, ao fundo da sala. A certa altura, o dito é substituído por uma “pequena”. Trajava um vestido justo, um pouco acima do joelho, tinha uma voz lânguida (ainda que, em minha opinião, algo já “passada”), inclinava a cabeça enquanto cantava uma melodia (roufenha) e fazia uns gestos de mãos “provocadores” (ou a pretender tal), com isto acabando por chamar à atenção do Embaixador, homem já com sessenta e poucos. Que começou a agitar-se na cadeira. A páginas tantas, diz-me: “Oh fulano, você está-me a ver aquilo?”. Respondi-lhe (pouco entusiasmado) que sim, “que estava a “topar a coisa”. “Que diabo, homem, você não parece lá muito convencido, hem?” – atirou-me. Expliquei-lhe, com todo o cuidado e simpatia (gostava dele e achava-lhe imensa piada), que “me parecia (a minha vista, mesmo naquela semi-escuridão, alcançava melhor do que a dele, sempre havia uma diferença de quase 25 anos) que a artista não era bem aquilo que dava a entender à distância”. Nada conformado com esta opinião, quando o empregado voltou à nossa mesa a perguntar se queríamos algo mais, pediu-lhe se transmitia à “cantante” se ela aceitava tomar uma bebida ali connosco, uma vez “intervalasse”. E pouco depois, ela lá foi postar-se à nossa frente. E foi nesse momento, quando a pobre criatura se preparava para se sentar ao nosso lado, que o Embaixador se “apercebeu” do que tinha pela frente. O sorriso que tinha desvaneceu-se, engasgou-se com a bebida, quase caiu da cadeira e deu um grito: “Ah!”- ficando “a modos que” sem reacção, sem fazer um gesto para a “artista” se sentar, que manifestamente aguardava por esse convite, pelo contrário, olhando-a como tivesse acabado de ver uma avantesma, pelo que tive de ser eu a tomar a iniciativa. Lá se sentou. Mas claramente perturbada, sem perceber a razão de semelhante espanto, da parte do velho Embaixador e como fomos, ambos, parcos em palavras, acabou, ao fim de uns goles e escassos minutos de conversa mole, por se levantar, deixando-nos – e, com um ar gélido, atirou-nos um seco: “obrigado”. Já recomposto, diz o Embaixador: “Bolas, você tinha razão, já não enxergo como dantes. Que mulher mais feia! Aquilo mais parecia o Alfredo Marceneiro de saias! E pelos vistos, nem sequer falava uma língua cristã. A única palavra que consegui entender do que disse ainda foi o Thank You. Bom, vamos indo? Por mim já estou aviado!” E lá fomos, rindo pelo caminho. Isto de “distâncias” faltas de luz é o que dá!
“Adido de Embaixada”
Mas permitiu uma grande história. Quamto a Manoel de Oliveira, o "rei vai nu", na mimha modesta opinião.
Duas "estórias" de encantar. Ri a bom rir. E lembrei-me de algumas senhoras que conheço e que se esquecem que ultrapassados os 50, o melhor é "ir tapando"...
Infelizmente, ao plastificarem-se, começam a fazer o contrário. Ou seja destaparem-se.
É nessa altura que deveriam ficar a umas largas dioptrias do sexo oposto. Mas não resistem!
Quanto ao Oliveira estou com o expresso da linha. Se o rei não vai nu vai, de certo, muito esfarrapado. Olá se vai!
Daí a metáfora das diopterias...
E eles a dar no Oliveira e o Oliveira a fugir...
Ele pode não ser um cinesta mal dito mas é certamente um cineasta mal visto.
Eu acabei de comprar o Libé de hoje por causa deste post e, artigo sobre o filme de MO, nem vê-lo...
Cumprimentos,
PG
Libé - 02.09.09, pag. 29 (Cinema). Artigo de Philippe Azoury, título "Oliveira, auprès de sa "blonde", sub-título: "Fixette - Destabilisant récit d'une relation impossible par le maître portugais, désormais centenaire".
A data do post era 2 de Setembro, je regrette.
Pois, tem toda a razão, não sei como pude ver mal, enfim... Verei na biblioteca.
Cumprimentos,
PG
PS E obrigado pela resposta!
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