Há dias, um canal da televisão francesa apresentou um programa onde um grupo de académicos, vocacionados para a leitura da coisa pública (sociólogos, semiólogos, psicólogos e politólogos), apreciou, com profundidade e grande qualidade científica, os chamados "discursos da derrota" dos políticos.
O objecto do estudo foram peças televisivas, algumas com mais de meio século, nas quais figuras proeminentes da vida política francesa reagiram a quente, em frente às câmaras, face a derrotas que tinham acabado de sofrer. Foram dissecados, para além do conteúdo do que foi então dito, a imagem, o estilo e a forma dessas prestações - os ares seráficos, a raiva contida, os esgares forçados, a expressão dos olhares e os tom de voz, a presença ou ausência de força anímica residual nas personagens, em alguns casos veladas ironias.
Houve de tudo um pouco, desde a humildade sincera à arrogância e à acidez, do anúncio da saída definitiva de cena até à subliminar promessa da não desistência no futuro, de votos de felicidades aos contendores até a prenúncios trágicos do "après moi, le déluge". E, claro, queixas do efeito das sondagens, campanhas distorcidas, teorias conspiratórias e traições, incredulidade e desencanto perante a ingratidão ou a incompreensão dos votantes. Uma hora magnífica e instrutiva de televisão.
Em Portugal, todos temos na memória alguns momentos semelhantes, esses escassos minutos em que, sempre com ar grave e, às vezes, genuinamente emocionado, dirigentes políticos caseiros tiraram conclusões, instantes depois de terem concluído que os eleitores lhes haviam tirado o tapete...
Agora já é tarde, mas teria tido imensa graça, e dessacralizaria por antecipação as nossas noites televisivas de 27 de Setembro e 11 de Outubro, se algum canal da televisão portuguesa tivesse tido a coragem de nos lembrar esses momentos breves do nosso passado político dos últimos 35 anos.
Isso poderia ensinar os nossos futuros derrotados a conviverem melhor com o que o destino lhes trará. É que a democracia não é apenas o sistema em que se vive, é também a maneira de o saber viver e aceitar.
O objecto do estudo foram peças televisivas, algumas com mais de meio século, nas quais figuras proeminentes da vida política francesa reagiram a quente, em frente às câmaras, face a derrotas que tinham acabado de sofrer. Foram dissecados, para além do conteúdo do que foi então dito, a imagem, o estilo e a forma dessas prestações - os ares seráficos, a raiva contida, os esgares forçados, a expressão dos olhares e os tom de voz, a presença ou ausência de força anímica residual nas personagens, em alguns casos veladas ironias.
Houve de tudo um pouco, desde a humildade sincera à arrogância e à acidez, do anúncio da saída definitiva de cena até à subliminar promessa da não desistência no futuro, de votos de felicidades aos contendores até a prenúncios trágicos do "après moi, le déluge". E, claro, queixas do efeito das sondagens, campanhas distorcidas, teorias conspiratórias e traições, incredulidade e desencanto perante a ingratidão ou a incompreensão dos votantes. Uma hora magnífica e instrutiva de televisão.
Em Portugal, todos temos na memória alguns momentos semelhantes, esses escassos minutos em que, sempre com ar grave e, às vezes, genuinamente emocionado, dirigentes políticos caseiros tiraram conclusões, instantes depois de terem concluído que os eleitores lhes haviam tirado o tapete...
Agora já é tarde, mas teria tido imensa graça, e dessacralizaria por antecipação as nossas noites televisivas de 27 de Setembro e 11 de Outubro, se algum canal da televisão portuguesa tivesse tido a coragem de nos lembrar esses momentos breves do nosso passado político dos últimos 35 anos.
Isso poderia ensinar os nossos futuros derrotados a conviverem melhor com o que o destino lhes trará. É que a democracia não é apenas o sistema em que se vive, é também a maneira de o saber viver e aceitar.
3 comentários:
Na mouche! Creio que a maioria dos nossos concorrentes já terá as duas versões dos discursos engatilhada. Faltar-lhes-á, ainda, ensaiar o ar e o fatito com que irão aparecer.
Na última deliciei-me. Jerónimo estava engravatado e Louçã desgravatado apenas abria um botão da camisa. Rapaz tímido, este!
Garanto, por experiência própria, que somos postos à prova de forma mais intensa nos momentos de vitória que nos de derrota. Quando se perde, e já me aconteceu mais que uma vez, um pouco de calma, de fair-play e, sobretudo, de sentido de humor, são a melhor forma de ultrapassar momentos pouco agradáveis. A pior tentação das vitórias é sermos magnanimamente (e falsamente) generosos...
Caríssimo Embaixador,
Subscrevendo, sem quaisquer reservas, a postagem apresentada, acrescentaria ainda que o mais lamentável espectáculo a que os políticos nos habituaram é a falta de humildade e de modéstia evidenciadas, quer na hora da vitória quer na derrota.
Na realidade, quer num quer no outro caso, o principal e exclusivo protagonista foi, é e será sempre do Povo eleitor. É ele quem escolhe e dita o resultado final! Pelo menos, enquando estivermos sob a DEMOCRACIA!
Forte abraço.
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