O "Le Figaro" e o "Libération", os principais diários franceses de acompanhamento da vida política, decidiram efectuar reformas gráficas, com vista a tornar a leitura mais fácil ou, para utilizar um bom termo anglo-saxónico, ser mais "reader-friendly". A aposta do "Libération", o "Libé" para os franceses, que tem já mais de uma semana, parece-me bastante melhor que a do "Le Figaro", que hoje se iniciou.
Estas mudanças gráficas recordaram-me uma história divertida, passada num concurso de admissão para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, nos anos 90, de cujo júri eu fazia parte.
Havia então um prova - não sei se, no actual regulamento, ainda existe - chamada "de apresentação", que consistia numa conversa de 20 minutos com cada candidato, e que tinha lugar entre as provas escritas e as orais. Três diplomatas "seniores" faziam parte desse painel, que entabulava uma conversa variada com o candidato, pretendendo saber um pouco dos seus interesses culturais e de vida, ao mesmo tempo que se aferia a sua capacidade de expressão, nomeadamente em línguas estrangeiras (parte da conversa era em francês ou inglês). Confesso que achei sempre essa prova um dos momentos de verdade da admissão à carreira diplomática: dela não se percebia se o candidato seria um bom diplomata, mas deduzia-se imediatamente se ele fosse totalmente não-dotado para a profissão.
Num dos dias, um dos jovens candidatos quis "dar-se ares" e, ao ser perguntado por mim se seguia a política internacional, adiantou, com grande firmeza: "Há vários anos que acompanho a imprensa internacional. Todos os dias leio o 'Libération'". Confesso que fiquei espantado! Se tivesse dito o "Le Monde", o "International Herald Tribune" ou mesmo o "Financial Times", era mais plausível. O "Libération", contudo, era um jornal que chegava a Portugal em quantidade muito limitada e era "obra" tê-lo como de leitura diária. Eu lia-o esporadicamente.
Decidi testar o rapaz: "Isso é muito interessante! Então você lê regularmente o "Libération"?! Nesse caso, talvez me possa dar a sua opinião sobre a reforma gráfica pela qual o jornal passou no último mês. Até deve lembrar-se, com certeza, do editorial da semana passada, no qual o Serge July avaliava esse esforço de auto-reconversão do jornal".
O nosso candidato embatucou, mas apenas por uns instantes. Com jeito e artes para não cair em contradições, lá disse umas coisas que, revelando ter uma vaga ideia do "Libération", demonstraram agilidade de raciocínio e capacidade de improviso. E, por isso, passou.
Há uns anos, encontrei-o num corredor das Necessidades e perguntei-lhe: "Então! Continua a ler o "Libération"?". Ambos demos uma boas gargalhadas. Se ele vê o blogue, este post é-lhe dedicado.
Estas mudanças gráficas recordaram-me uma história divertida, passada num concurso de admissão para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, nos anos 90, de cujo júri eu fazia parte.
Havia então um prova - não sei se, no actual regulamento, ainda existe - chamada "de apresentação", que consistia numa conversa de 20 minutos com cada candidato, e que tinha lugar entre as provas escritas e as orais. Três diplomatas "seniores" faziam parte desse painel, que entabulava uma conversa variada com o candidato, pretendendo saber um pouco dos seus interesses culturais e de vida, ao mesmo tempo que se aferia a sua capacidade de expressão, nomeadamente em línguas estrangeiras (parte da conversa era em francês ou inglês). Confesso que achei sempre essa prova um dos momentos de verdade da admissão à carreira diplomática: dela não se percebia se o candidato seria um bom diplomata, mas deduzia-se imediatamente se ele fosse totalmente não-dotado para a profissão.
Num dos dias, um dos jovens candidatos quis "dar-se ares" e, ao ser perguntado por mim se seguia a política internacional, adiantou, com grande firmeza: "Há vários anos que acompanho a imprensa internacional. Todos os dias leio o 'Libération'". Confesso que fiquei espantado! Se tivesse dito o "Le Monde", o "International Herald Tribune" ou mesmo o "Financial Times", era mais plausível. O "Libération", contudo, era um jornal que chegava a Portugal em quantidade muito limitada e era "obra" tê-lo como de leitura diária. Eu lia-o esporadicamente.
Decidi testar o rapaz: "Isso é muito interessante! Então você lê regularmente o "Libération"?! Nesse caso, talvez me possa dar a sua opinião sobre a reforma gráfica pela qual o jornal passou no último mês. Até deve lembrar-se, com certeza, do editorial da semana passada, no qual o Serge July avaliava esse esforço de auto-reconversão do jornal".
O nosso candidato embatucou, mas apenas por uns instantes. Com jeito e artes para não cair em contradições, lá disse umas coisas que, revelando ter uma vaga ideia do "Libération", demonstraram agilidade de raciocínio e capacidade de improviso. E, por isso, passou.
Há uns anos, encontrei-o num corredor das Necessidades e perguntei-lhe: "Então! Continua a ler o "Libération"?". Ambos demos uma boas gargalhadas. Se ele vê o blogue, este post é-lhe dedicado.
2 comentários:
Bela "estória". Creio que podia passar-se ainda hoje, em que até uma certa direita lê o Liberation!
Portugal tornou-se um país evoluído. O jornal é que nem sempre...
Se em Portugal os jornais fossem mais "reader-friendly" na apresentação e no conteúdo -como é o "Libé" talvez tivessem mais leitores... e assim contribuir a baixar o número de analfabetos no nosso pais evoluído e salvaguardar a imprensa escrita.
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