terça-feira, setembro 01, 2009

Pedras Salgadas

Acaba de ser anunciado que a Unicer decidiu fazer entrega do Hotel Palace de Vidago ("do" Vidago, como dizem as gentes de lá) a um grupo hoteleiro de luxo francês, depois da intervenção feita por Siza Vieira naquele belo edifício - e cujo resultado arquitectónico ainda não tive o gosto de conhecer.

Mas o que eu já conheço - e bem! - é o impressionante atraso em que a Unicer está a arrastar as obras a que se comprometeu no Parque Termal das Pedras Salgadas, onde concentra todo o seu sistema industrial de engarrafamento de águas minerais, essa mina de ouro líquido que se esvai daquela terra, sem que para ela redunde um mínimo de contrapartidas. O já considerável atraso de tais obras está a criar uma situação angustiante para o comércio local, cujos últimos anos foram altamente penosos, precisamente devido ao encerramento do Parque e à perca progressiva da habituação da frequência do complexo termal.

Que fique claro: esta não é uma questão de natureza política, como alguns, de ambos os lados do espectro partidário, no calor das eleições que aí vêm, querem fazer crer e pretendem instrumentalizar, cada um à sua maneira. Trata-se apenas de um simples teste de honorabilidade da palavra de uma empresa que, perante as instituições oficiais do país, se comprometeu, para além de um conjunto de outras medidas, a abrir o Parque Termal das Pedras Salgadas e a construir, num prazo contratualmente bem determinado, um novo hotel - e não a estimular o surgimento de quaisquer sucedâneos, como já consta como pode vir a ser a alternativa.

A realidade é muito clara: o parque esteve e permanece fechado, as obras do hotel ainda não se iniciaram. Ora tudo isto contraria, em absoluto, aquilo a que a Unicer se comprometeu. Já corre que, como um também atrasado paliativo, a Unicer terá feito saber que o parque poderá abrir em 2010. Logo veremos, mas a grande questão, para a população local, aquilo que seria essencial a que a Unicer respondesse com clareza e precisão, seria dar a conhecer a data exacta do início e termo das obras do hotel - a única estrutura que tem verdadeiras condições para poder alavancar o renascimento das Pedras Salgadas como destino termal. Ou será que, afinal, já não haverá nenhum hotel, como muitos suspeitam? O grande teste para a boa fé da Unicer, em toda esta questão, seria ela responder - sim ou não - a esta simples pergunta. Terá frontalidade para isso?

Se a Unicer quer continuar a ser vista no país como uma entidade económica de bem, prolongando a relação de confiança que havia construído inicialmente com as Pedras Salgadas, e também para justificar os fundos públicos que entretanto já recebeu, tem de devolver todo o conjunto termal das Pedras Salgadas... em ponto!

Se o fizer, exactamente nos termos que subscreveu, sem recuos nem revisões de projecto, efectuados com o acordo ou não de complacentes entidades públicas sensíveis aos seus argumentos dilatórios, serei o primeiro a reconhecer que estive enganado e pedirei desculpas à Unicer por esta minha tomada de posição.

Se não o fizer, estarei entre os primeiros a ajudar a denunciar publicamente, por todos os meios que forem possíveis e necessários, que a empresa está a enganar as Pedras Salgadas e, em geral, a enganar o país, cujos fundos públicos lhe serviram para subsidiar esta sua operação de exploração económica, efectuada sob a condição de contrapartidas em matéria de melhoramentos turísticos, que até agora continuam a ser apenas uma miragem. A escolha é da Unicer, claro.

Este post foge um pouco do tom normal deste blogue, mas até um embaixador tem o direito à indignação. E eu estou sinceramente indignado com esta situação, que diz bastante a uma terra a que estou muito ligado.

10 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais! Um blog também deve servir, por vezes, para uma pessoa (neste caso um Embaixador) exprimir espontaneamente aquilo que pensa.

Um Abraço,

Pedro Dâmaso

Fernando Correia de Oliveira disse...

Estive há duas semanas em Pedras Salgadas, fui levado lá por uma investigação que levo a cabo em Parada de Monteiros, uma aldeia das vizinhanças. Pude comprovar o estiolar do comércio local de Pedras Salgadas e o abandono a que as obras parecem, aparentemente, visto do lado de fora dos muros, votadas.
Só mais uma coisa: sou incondicional de Pedras Salgadas, uma das marcas mais fortes no imaginário do consumidor português. E boicoto militantemente outras "águas com gás" que me querem impingir (e que têm carbono injectado artificialmente). A textura da água Pedras Salgadas é única. Conheço poucas no mundo assim, e posso considerar-me um adepto de águas minerais.

Anónimo disse...

Há muitos anos o Zé Cutileiro dizia que havia em Potugal duas aguas minerais - a das Pedras e a "Pedras não temos serve Vidago?"
F...Rodrigues

Anónimo disse...

estou a pensar deixar de beber água das Pedras ...
para grandes males, grandes remédios.....

Olhares longinquos... disse...

Por acaso sou "originaria" de Vila Pouca de Aguiar (os meus pais são de là) ... e a verdade é que aquele parque trazia muitos "turistas/visitantes" para a zona... e dava muito trabalho... é realmente uma pena estar fechado ha tanto tempo... E acho imoral a atitude da Unicer...

Anónimo disse...

Tempos idos, miudo era eu, saracoteava no parque das Pedras como "grumeiro" do Grande Hotel.......
Memórias!...

Em grau, número e genero, revejo-me neste articulado.

A comunidade local das Pedras Salgadas disse...

Exº Senhor Embaixador
Venho por esta via agradecer o elevado empenho de vossa Excelência na defesa desta tão nobre causa (a sobrevivência do termalismo em Pedras Salgadas).
Fiquei orgulhoso por ver tão distinta pessoa motivada a lutar por uma região com elevado potencial termal e turistico.
Por favor não pare, "AS PEDRAS TÊM DE ROLAR" é uma questao de sobrevivência.
Pedras Salgadas está a ser colonizada pela UNICER, e o seu objectivo é extrair toda a riqueza, as gentes deste concelho com o que ficam?
O projecto aquanatur tem de ser cumprido na integra o mais rapido possivel.
Termas sem hotel, é como um campo de futebol sem bola,(não existe jogo).
Termas sem hotel, é como ter águas para engarrafar e não ter garrafas.
HOTEL SIZA VIEIRA É PEÇA IMPRESCENDIVEL NO RELANÇAMENTO DAS TERMAS DE PEDRAS SALGADAS.
Só assim as termas terão sucesso.

Senhor Embaixador:

Não vamos parar a nossa luta, conte connosco, estamos todos altamente empenhados nesta causa.
Obrigado pelo seu empenho... continue (estamos orgulhosos com a sua atitude).

Antonio Fonseca, Porto disse...

Grande contributo.
Só pessoas desta estirpe é que levam o país para a frente.
Combata os interesses destes pseudo - empresários que estão com um pé na política e outro a atrofiar o desenvolvimento sócio – económico do país.
Os apoios financeiros do estado, são para isto?
Grande Homem......


Grande Embaixador do Termalismo...
Siga em frente.
Um Apoiante desta justa causa.

Anónimo disse...

Por mero acaso vimcair a este blog. Mas é que foi mesmo mero acaso.
Li-o todo e no final não pude deixar de 'postar'. É no mínimo estranho que a empresa/grupo visado neste belíssimo texto do Sr. Embaixador ainda não tenha reagido. É que em Portugal as reacções costumam ser muito 'originais': Estamos de consciência tranquila...; Estamos a cumprir com o protocolo/acordo outorgado; Cumpriremos com os compromissos assumidos; etc., etc.,etc..
Ora, se no caso presente não há contraditório - (não são eles quem gosta deste termo?) - o que significa???

Obrigado Sr. Embaixador por ter posto o dedo em mais uma ferida e oxalá leve a sua causa a bom porto.

Anónimo disse...

COMO FAMILIAR AFASTADA DO MESTRE E ARQUITECTO VICENTE COSTA, PROFESSOR E ARQUITECTO NA CIDADE DE CHAVES.CASADO COM A PROFESSORA ALEXANDRINA COSTA.
GOSTAVA DE SABER MAIS SOBRE AS SUAS OBRAS. SABEMOS APENAS QUE FEZ A FAMOSA ESCADARIA DO TAMBÉM FAMOSO HOTEL PALACE VIDAGO, ARQUITECTURA DO TELHADO DA ADEGA DE FAUSTINO E UMA CENTRAL TERMOELÉCTRICA A CARVÃO EM CHAVES. NÃO TEMOS MAIS NENHUMA INFORMAÇÃO SOBE AS SUAS FEITORIAS, QUER DELE "VICENTE COSTA QUER DA SUA ESPOSA ALEXANDRINA COSTA", RESTA-NOS UMA FOTO MUITO ANTIGA CEDIDA POR FAMILIARES, ENTRETANTO JÁ TODOS FALECIDOS. NÃO NOS RESTA MAIS NENHUMA INFORMAÇÃO. ERA COM GRANDE ALEGRIA QUE ALGUÉM NOS PUDESSE FORNECER ALGUMA INFORMAÇÃO.

SEM OUTRO ASSUNTO SUBSCREVO-ME ATENCIOSAMENTE E OBRIGADA.
CLEMENTINA DUQUE, ESPOSA DO NETO DE VICENTE COSTA E ALEXANDRINA COSTA.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...