terça-feira, abril 27, 2010

Portugal e a crise

Os ataques especulativos que a economia portuguesa está a sofrer são a consequência cumulativa de vários fatores, alguns suscetíveis de controlo por parte do Estado português, outros dependentes de variáveis que não relevam essencialmente de Portugal.

No que toca aos primeiros, o parlamento português aprovou um programa, proposto pelo governo, composto por um conjunto de medidas de contenção e rigor que, a prazo, pretendem atenuar os desequilíbrios recentes das nossas contas públicas, em especial a redução progressiva do nosso défice orçamental e a dívida pública acumulada. Embora por vezes argumentando que outras escolhas ou modelos mais rigorosos nas escolhas feitas poderiam ter sido encaradas, a maioria das forças políticas portuguesas manifestou a sua concordância com o sentido global da ação empreendida pelo Governo. A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, tal como a OCDE, fizeram uma leitura positiva sobre as opções tomadas por Portugal, não deixando, contudo, de ponderar a possibilidade de novas ações poderem ter de ser postas em prática, se o programa agora apresentado vir a revelar-se insuficiente.

Para além desse quadro que é suscetível de gestão interna, a verdade é que a economia portuguesa, como uma economia aberta que é, sofre da circunstância de muitos daqueles que são os mercados para onde exporta a sua produção estarem, eles próprios, a atravessar uma situação de crise, com uma retração na procura que, naturalmente, tem vindo a afetar seriamente Portugal como país fornecedor. O caso da Espanha é talvez o mais flagrante, mas outros mercados europeus tradicionais continuam a não dar sinais de retoma com impacto suficiente na absorção da nossa produção. Dado que o mercado interno português tem, em si mesmo, uma escassa dimensão, não será por seu intermédio que será viável estimular a atividade económica nacional. O recurso a novos terceiros mercados revela-se uma opção difícil em tempo de retração económica global, embora algumas economias emergentes, como é o caso de Angola, estejam a reagir de forma muito positiva face à produção portuguesa.

Como sempre acontece em momentos de crise, a ação especulativa tende a estender-se pelas economias mais débeis do sistema. A "proteção" que a pertença ao euro teoricamente representava para os países da "eurolândia" acaba por ser esbatida pela circunstância da economia mais forte do espaço da moeda única estar a demonstrar uma escassa solidariedade com os parceiros mais frágeis. A Alemanha, que - convém que se diga - é a grande beneficiária da abertura do grande mercado europeu, parece demonstrar que não está disposta ao gesto, político e económico, de prestar garantias claras e inequívocas a esses parceiros - não obstante as fortes medidas de rigor que eles colocam em prática, com imensos custos sociais e políticos, sob a observação rigorosa das entidades internacionais.

Neste quadro de dúvidas criadas sobre a solidariedade dentro do espaço da moeda única, as agências de "rating" repercutem tal perpexidade, pelo que fazem um "upgrading" dos níveis de risco para os "produtos" financeiros ligados a esses países. A perversidade desse mecanismo está no facto de. ao tomarem tal ação, essas agências agravarem ainda mais a situação dos países, pela circunstância dessa sua opinião conduzir os mercados a cobrarem mais pelos empréstimos aos Estados cuja situação já era complexa. 

O que não deixa de ser curioso é que os índices macroeconómicos portugueses, se bem que agravados nos últimos tempos, continuam a não estar muito distantes dos de um país, por exemplo, como a França. De forma incompreensível, está-se a verificar nos últimos dias que, ao contrário de uma desejável sofisticação analítica por parte de tais agências, a sua "notação" acaba por não conduzir a uma diferenciação entre os países em crise, com um detalhe natural da diversidade das respetivas situações estruturais,  bem como uma consideração do histórico das medidas de correção já implementadas por cada um - no caso de Portugal, não considerando reformas drásticas como as levadas a cabo na segurança social, reduções substanciais efetuadas nos gastos públicos e um impecável cumprimento de todas as obrigações perante credores internacionais. Essas agências assumem, assim, um lamentável impressionismo de avaliação que, deliberada ou casualmente, as coloca como os melhores cúmplices dos especuladores internacionais.

De Gaulle

Dentro de algumas semanas, comemorar-se-ão 70 anos sobre a data em que o general De Gaulle fez, de Londres, a proclamação em favor da liberdade da França, que representou o momento de criação formal da resistência à ocupação nazi. Em Novembro, 40 anos passarão  também sobre a sua morte.

Ontem, acompanhei uma delegação da Assembleia da República numa deslocação ao Memorial Charles de Gaulle, em Colombey-les-deux-églises, um recente e interessantíssimo museu, construído ao lado da residência e da campa do general, que simboliza o orgulho da França em alguém que, no momento necessário, a encarnou decididamente como nação.

Junto ao Memorial encontra-se esta impressionante Croix de Lorraine, um símbolo histórico francês escolhido para representar a França livre.

Wallraff

O jornalista alemão Gunther Wallraff foi uma personalidade que ficou bem conhecida em Portugal, ao ter enganado o general António de Spínola, apresentando-se como um vendedor de armas, ligado a grupos de direita radical europeia, disposto a ajudá-lo a combater a Revolução portuguesa. 

No seu exílio do Brasil, Spínola alimentava as esperanças que o seu MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal) mantinha em tomar, pela força, o poder em Portugal. Com as reportagens publicadas na revista "Der Spiegel", mais tarde transcritas no livro de que se apresenta a capa, Wallraff não apenas ridicularizou o general como expôs e denunciou a sua estratégia de regresso violento ao poder.

Hoje, ao ler o "Libération", deparei com uma página (texto não acessível por completo) dedicada a Wallraff, a propósito da publicação de um seu novo livro, onde se contam muitas das suas aventuras jornalísticas sob disfarce. 

Relembro Gunther Wallraff por ele também faz parte do nosso 25 de Abril.

segunda-feira, abril 26, 2010

Memória

O Mont Valérien é um importante memorial, a dois passos do centro de Paris, onde muitos resistentes franceses foram fuzilados, durante a 2ª guerra mundial. O general De Gaulle decidiu criar aí um espaço de lembrança histórica.

Ontem, o presidente do parlamento português, Jaime Gama, visitou o local, para prestar um tributo de homenagem a quantos sacrificaram a sua vida pela liberdade da Europa. 

Não estou seguro que, nos dias de hoje, muitos dirigentes estrangeiros façam, com frequência, um gesto de simbolismo similar, o que prova que, para uma certa geração portuguesa, as lições da História continuam a estar bem presentes.

Valores

Acabo de ler que a bandeira e o hino nacionais estão entre os valores que os alunos portugueses devem conhecer e respeitar, de acordo com nova legislação publicada. A surpresa é que, aparentemente, não era assim...

Só espero que, com alguns ex-alunos "feitos" professores nos últimos anos, formados numa cultura laxista e dispicente face aos valores nacionais, ainda se vá a tempo de garantir um certo rigor de aplicação desta lei. 

É que me interrogo, muito seriamente, sobre se todos os professores portugueses conhecem o nosso hino nacional.

domingo, abril 25, 2010

Ainda Marselha e os "retornados"

A sina dos "pieds noirs", esses franceses forçados a regressar à metrópole europeia, vindos da África magrebina independente nos anos 60 do século passado, foi algo que sempre me interessou, por ser um fenómeno político e social revelador dos limites da capacidade de integração em França. Durante várias conversas que na passada semana tive em Marselha, a "porta da França" que se tornou o destino dessa comunidade desenraizada, procurei perceber se o fenómeno subsistia e em que moldes. Verifiquei, com alguma surpresa, que permanecem ainda fortes traços essenciais desses núcleos, agora coexistindo, embora sempre bem separados, com as significativas comunidades magrebinas que dão a certas ruas e praças de Marselha ares de bairros transplantados de Argel.

Dei comigo a pensar que, no caso da descolonização portuguesa, esse mesmo fenómeno teve um destino bem diverso. Os "retornados" da África colonial portuguesa que se acolheram na Europa, quase sempre em condições económicas pessoais muitos precárias, expostos a um ambiente político que estava longe de lhes ser simpático, num tempo económico português de crise e falta de investimento, com escassíssimos apoios oficiais (lembram-se do IARN e dos hóteis ocupados, a compensarem a crise turística?), souberam "virar-se" e integrar-se de forma magnífica na sociedade portuguesa. As redes familiares e, essencialmente, a sua "garra" e vontade de reconstruir a sua vida fizeram milagres. Hoje, já ninguém se lembra nem fala dos "retornados", praticamente não se refere que alguém veio ou não de África nos idos dos anos 70.

E, no entanto, o caso português era potencialmente muito mais grave: se compararmos as centenas de milhares de "retornados" que chegaram a Portugal, face a uma população com a nossa dimensão, com a muito inferior percentagem de "pied-noirs" no seio de uma sociedade forte e desenvolvida como a francesa, acho que encontramos fortes razões para que nos devamos congratular. 

Neste tempo em que parece endémico o comprazimento em acentuar das desgraças pátrias, talvez o processo de absorção dos "retornados" nos ajude a ter algum orgulho no país que temos.   

Abril (8) - Em França

O 25 de abril foi, nestes dias, comemorado um pouco por toda a França, no seio da comunidade portuguesa. 

É neste período que a "ubiquidade" do embaixador de Portugal é posta à prova...

Dia 23, depois de uma agenda em  Marselha, participei no "desfile da liberdade" de Fontenay-sous-Bois, nos arredores de Paris. No dia seguinte, estive no debate sobre a Revolução na Cité Universitaire de Paris e, logo de seguida, integrei as comemorações feitas em Pontault-Combault, onde, simultaneamente, se celebrou o 35º aniversário da Associação Portuguesa Cultural e Social, uma instituição cujo grande dinamismo se deve ao trabalho intenso do respetivo presidente, Mário Castilho. Hoje, dia 25 de abril, viajei quase 500 km para estar, durante várias horas, com os portugueses de Roubaix, numa iniciativa da Associação Católica Portuguesa local, animada por essa figura portuguesa de referência na região que é Jean Barbosa.

O 25 de abril justifica bem que lhe dediquemos estes dias.

Abril (8) - Razões de abril

Abril (7) - Razões de abril

Abril (6) - Razões de abril

Abril (5) - Razões de abril

Abril (4) - Olhares sobre abril

Nada havíamos combinado entre nós, ou melhor, apenas havíamos decidido ser breves nas nossas intervenções. Eduardo Ferro Rodrigues, embaixador junto da OCDE, Manuel Maria Carrilho, embaixador junto da UNESCO, e eu próprio, falámos, ontem à tarde, sobre o 25 de Abril, a convite dos residentes da Casa de Portugal, na Cité Universitaire de Paris.

As dezenas de assistentes ajuizarão melhor do que nós do eventual mérito deste exercício, cujo modelo julgo inédito e me pareceu interessante. Esta "conferência dos embaixadores", como pomposamente vi chamada algures, teve talvez a curiosidade de revelar como três pessoas que abertamente se reivindicam da herança da Revolução de abril observam a realidade que dela resultou, sob prismas próprios, marcados pelas diferentes formações e hierarquia intelectual de interesses. Foi também muito simpático ver o público a interagir, de formas muito diversas, lançando pistas que permitiram abordar aspetos variados da sociedade portuguesa contemporânea.

sábado, abril 24, 2010

Abril (3) - Fazer a festa

Em Portugal, o 25 de abril é oficialmente celebrado com uma sessão de discursos políticos e partidários na Assembleia da República. Todos os anos, para além da aturada observação jornalística de quem leva ou não um cravo ao peito, a atenção pública volta-se para o tom e exegese dessas intervenções, que invariavelmente utilizam a comemoração abrilista para tratar a realidade da conjuntura política do presente. Assim, aquilo que poderia ser um espaço de proclamação de elegias à liberdade conquistada nessa data acaba por se transformar numa arena de severo combate político, com as diversas leituras de "abril" a servirem de arma de arremesso, mais ou menos subliminares. Julgo que ninguém, com sinceridade, acreditará que essa maratona declaratória contribui minimamente para louvar as virtualidades da Revolução e para cativar novas gerações para o culto desse momento fundacional da nossa democracia.

Noutro registo, menos plural e um pouco mais "biaisé", um grupo de muito respeitáveis militares que fizeram a Revolução de abril, acompanhados por figuras da nossa história política (quase sempre já) passada, acolitados por incontornáveis representantes de forças políticas e sindicais de lateralização óbvia, desce a avenida da Liberdade, aí já com total abundância de cravos e com a exibição de slogans que fazem parte do património típico da memória revolucionária. Ninguém negará, contudo, que o tom peculiar dessa manifestação acaba por excluir muitos outros, para quem a memória da Revolução se exprime em moldes mais serenos e menos polítizados.

Na simples mas inalienável qualidade de cidadão, quero deixar aqui expresso, com a total consciência do peso do que escrevo, que considero que ambos os eventos acabam por funcionar, objetivamente, contra o 25 de Abril.

Comemorar o 25 de Abril, celebrar essa magnífica Revolução que, por uma vez, quase que fez o milagre impossível de unir o país, deveria consubstanciar-se apenas na organização de festas populares por todo o país, com música, com bailes, com juventude, com alegria e, sempre, sem discursos e sem slogans. Como, aqui em França se faz com o "14 juillet". Ah! e com muitos cravos, para quem os quisesse e os apreciasse. A liberdade também se faz da possibilidade dessa opção.

Mas que não reste a menor dúvida: nesta data, estive, estou e sempre estarei de cravo vermelho ao peito.

Abril (2) - Salazar, por Fernando Pessoa



António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.


Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
Água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...


Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.


Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.


Mas afinal é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

Poema de Fernando Pessoa

sexta-feira, abril 23, 2010

Abril (1) - Baptista de Matos

Chama-se Baptista de Matos. Tem 76 anos. Está em França desde 1963, tendo hoje direito a um espaço memorialístico próprio no Museu da Imigração francês, escolhido como símbolo da nossa comunidade em França.

Em Fontenay Sous Bois, nos arredores de Paris, Baptista de Matos anima uma associação portuguesa que, há quase três décadas, teima em realizar uma original comemoração do 25 de Abril, uma marcha com centenas de archotes que atravessa a cidade em direção a um monumento comemorativo da nossa Revolução, um espaço celebratório da liberdade dos povos, onde hoje figuram já placas de memória de outras experiências de resistências à opressão. Este evento anual congrega portugueses e franceses, muitos eleitos locais e imensa juventude, que sempre protagoniza momentos culturais alusivos à data.

Tal como no ano passado, fiz questão de estar presente na bela festa que teve lugar na noite de ontem - tendo para lá ido quase diretamente do aeroporto, logo que chegado de Marselha. Nas palavras que então disse, lancei a sugestão de que, no próximo ano, a festa de Fontenay Sous Bois possa ter um carácter mais inclusivo, reunindo outras associações portuguesas da região, numa comemoração conjunta da festa de abril. Será isso possível ou o espírito de "luso-capelinha" acabará por prevalecer? A ver vamos. 

Também Marselha

Ouvir do "maire" de Marselha, Claude Gaudin, um elogio resgado à seriedade e qualidade profissional da empresa portuguesa de construção FDO, encarregada de várias obras na cidade, foi uma muito agradável sensação. Uma empresa que opera com pessoal exclusivamente português, sob a liderança local entusiasta de Ulysses Paredes, um luso-francês cuja credibilidade e competência conquistou por completo os marselheses.

Neste "non-stop" que foi a minha deslocação a Marselha, urbe de muito complexos contrastes, onde 35% de imigrantes nos transmitem a impressão de se estar numa espécie de "cidade aberta", quis também expressar o meu apoio ao esforço de trabalho na área económica que agora começa a ser feito pelo LusoForum des Affaires, onde se procuram congregar também representantes de outros países de língua portuguesa, naquela que me parece ser uma direção certa de trabalho.

Essa mesma disposição de operar na base comum da lusofonia encontrei-a na professora Ernestine Carreira, diretora do departamento de estudos portugueses e brasileiros em Aix-en-Provence, que me ajudou a perceber o muito que nos falta fazer na área cultural.

Como sempre me acontece no termo destas rápidas viagens a cidades francesas, saio de Marselha com a vontade de dar impulso a várias dimensões das nossas relações bilaterais, a coisas que estavam ou ficaram "no ar", para a dinamização das quais vai ser preciso mobilizar agora boas vontades em Portugal. A vida diplomática prova que, muitas vezes, isso não é fácil. O que não deve ser razão para se desistir de tentar.

Piano a quatro mãos

Desta vez, por estar ausente de Paris, não pude acompanhar os cerca de 200 convidados que encheram a nossa Embaixada para assistir ao recital de piano a quatro mãos, organizado para saudar as comemorações dos 150 anos do Tratado de Amizade, Paz e Comércio entre Portugal e o Japão.

O meu colega japonês e outros convidados nipónicos estiveram no evento, onde atuaram o pianista português Ricardo Vieira e o japonês Tomohiro Hatta, que frequentam o Conservatório Nacional de Paris.

Este foi mais um espetáculo da série Entre Partituras / Entre Partitions, que o Instituto Camões/Embaixada de Portugal tem vindo a realizar desde há cerca de um ano. 

quinta-feira, abril 22, 2010

"Friends in high places"

Lembrei-me do título deste livro de Jeremy Paxton, que há quase vinte anos me ajudou a decifrar a política britânica, quando hoje dei conta

- da recondução de António Guterres como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados;
- da nomeação de Carlos Costa para Governador do Banco de Portugal;
- da indicação de Alexandre Abrantes como delegado do Banco Mundial para a reconstrução do Haiti.

Abraços e votos de bom trabalho para estes três amigos.

Marselha

Depois da nuvem, o trabalho. Desde ontem de visita oficial a Marselha, tenho hoje encontros com o "Maire", o Prefeito, comunidade e empresários portugueses, bem como com instituições culturais da cidade e de Aix-en-Provence.

Interessante será perceber os objetivos, plano de atividades e necessidades do recém-criado "LusoForum des Affaires". Com diferentes designações, começam a expandir-se por várias cidades francesas núcleos de dinamização empresarial ligados a Portugal, com apoio das nossas estruturas consulares. Colocá-los em rede vai ser uma tarefa em que a Embaixada e o AICEP têm de se empenhar.

quarta-feira, abril 21, 2010

Brasília e Portugal

Brasília faz hoje 50 anos. Portugal está na história da nova capital brasileira, por diversas formas e em diversos tempos. Desde logo, pelos muitos portugueses que fizeram parte da vaga dos “candangos”, os construtores originais da cidade, de que ainda por lá há alguns magníficos resistentes.

Ainda antes da inauguração oficial de Brasília, Juscelino Kubitshek, o construtor de Brasília e grande amigo de Portugal, quis ter um gesto de simpatia para com o novo embaixador português, que aguardava, no Rio de Janeiro, a hora de apresentar as suas cartas credenciais. Em 30 de Junho de 1958, o chefe de Estado brasileiro levou consigo, de avião, do Rio para Brasília, o embaixador Manuel Rocheta. E, nessa data, no Palácio da Alvorada, sua futura residência oficial, que abria as portas precisamente nesse dia, o representante diplomático português teve a distinção de ser o primeiro dignitário estrangeiro a apresentar em Brasília as suas cartas credenciais.

Mais tarde, faz hoje precisamente 50 anos, na data da inauguração de Brasília, a missa campal que aí teve lugar foi celebrada pelo cardeal português Gonçalves Cerejeira. Do anedotário local faz parte a recordação de que ninguém percebeu nada do que ele então disse, pelo arrevezado “sotaque” português (como os brasileiros dizem) e bem peculiar tom aflautado de voz do prelado preferido do salazarismo, quiçá agravado pelas condições acústicas. O que poucos saberão é que, a coadjuvar Cerejeira no ato, esteve uma figura que haveria de ficar na história da dignidade da igreja brasileira: o futuro arcebispo de Olinda e Recife, Hélder da Câmara. Há ironias e contrastes nos destinos, mesmo das figuras da religião.

Esta memória de Portugal em Brasília não ficaria completa sem que conte uma historieta que me foi relatada por José Pereira.

(Cabe aqui um parêntesis para uma palavra sobre o José – um orgulhoso brasileiro do Piauí, brasiliense por adoção, há décadas funcionário da nossa Embaixada em Brasília e, seguramente, um dos mais dignos e dedicados servidores públicos com que Portugal alguma vez pôde contar, entre todos os milhares que teve e tem pelos seus postos diplomáticos e consulares em todo o mundo. E não serei o único a dizer isto, estou certo. O José, porém, é, além disso e talvez mais importante do que tudo isso, um querido amigo que imensamente estimo.)

Nesse período distante em que, a Portugal, havia sido atribuído, pelas autoridades brasileiras, um terreno para a construção da sua futura Embaixada em Brasília, o José foi encarregado de se colocar na área, com vista a evitar eventuais ocupações “espontâneas”. Que, como é natural, não deixaram de ser tentadas. Um dia, bem atento, o José confrontou um grupo que pretendia invadir o terreno e nele instalar-se. Com paciência, explicou que aquele terreno era de Portugal, a quem fora dado pelo governo brasileiro, e que, por essa razão, os putativos ocupantes teriam de procurar outra área para se instalarem. A reação, contou-me o José, foi muito curiosa. O líder do grupo, surpreendido, retorquiu: “De Portugal? Este terreno? Então eles tiveram tudo isto (e fez um gesto largo, que pretendia ir do Amapá ao Rio Grande do Sul) e, agora, só têm esta coisa aqui? Coitados!”. E foram-se embora…

terça-feira, abril 20, 2010

Cinzas

Há uns anos, uma pessoa minha conhecida viu-se obrigada a passar algumas horas num sofá num corredor do Palácio das Necessidades. Dessa circunstância de involuntária "seca" resultou-lhe uma curiosidade: o que é que significava o regular trânsito de umas senhoras, de bata cor de cinza, que andavam, de um lado para o outro, com umas caixas de madeira na mão?

Confesso que, num primeiro momento, não identifiquei o cenário descrito, talvez porque o não isolava no meu quotidiano. Depois, pus-me a pensar e decifrei o mistério.

As principais comunicações escritas entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e as nossas embaixadas, missões e consulados são chamadas de "telegramas", o que resulta do facto de, no passado, tais mensagens seguirem por via telegráfica. Porque então os telegramas se pagavam à letra ou à palavra, e para evitar custos, a regra era serem redigidos numa linguagem sujeita a uma severa economia de artigos e proposições. Isso criou mesmo, na nossa profissão, um tipo de escrita que alguns tradicionalistas pretendem ainda preservar, porque a identificam como fazendo já parte de uma nobre liturgia da "carreira".

Os tempos mudaram, do uso dos correios passou-se ao telex, agora ao e-mail, mas o nome de "telegrama" permanece no jargão da casa. Largas centenas de mensagens desse género constituem hoje a nossa "telegrafia" interna, impressa em papel laranja no caso dos textos recebidos e em papel verde para os expedidos (a futura passagem à transmissão em suporte informático, sem impressão, vai depender da capacidade de modernização dos nossos quadros diplomáticos). Assim, os "telegramas" partem da "Secretaria de Estado" (nome que, ritualmente, entre nós, damos ao Ministério, em Lisboa, e que alguns confundem com as diversas secretarias de Estado nele existentes) e são recebidos dos postos no estrangeiro, sendo difundidos pelos diversos departamentos internos, em função dos temas neles abordados.

As tais misteriosas senhoras de cinzento, a que se referia esse meu conhecido, eram parte, nem mais nem menos, do "pelotão" de contínuas que iam e vinham entre o serviço da cifra (a maioria das nossas comunicações são "cifradas", para evitar a furiosa curiosidade de terceiros sobre os nossos grandes segredos...) e os vários departamentos geográficos ou temáticos, onde o respetivo chefe era o poderoso detentor de uma pequena chave que abria a caixa de madeira e que lhe dava acesso à "telegrafia" que lhe era destinada.

Ontem, ao passar por um gabinete do Ministério, vi chegar, pelas mãos de um matulão já sem qualquer farda e com uma dignidade de vestimenta de quem poderia estar a entregar pizzas ou coisas afins, uma mala toda modernaça, metalizada, com um código que o destinatário utilizou para receber o "molho" de telegramas.

Não tenho nenhuma saudade particular das malas de madeira (até porque "herdei" a da foto, não me perguntem como...) e, reconheço isso com facilidade, os novos recipientes metálicos parecem bem mais seguros. Mas, depois de algumas décadas de casa, deixem-me sentir um pouco nostálgico daquela antiga coreografia, feita da silenciosa circulação de tais senhoras, vestidas de um discreto cinzento, percorrendo sem pressas os longos corredores alcatifados do palácio, portadoras inconscientes de grandes segredos do nosso pequeno mundo diplomático.

Europa

Os ministros dos Transportes da União Europeia, sem transporte para irem reunir em Bruxelas, decidiram organizar uma video-conferência, através da qual algumas decisões foram tomadas sobre a presente crise aérea.

Para quem não saiba, uma parte das reuniões dos governantes europeus é dedicada a aprovar, muitas vezes sem qualquer debate, decisões antes tomadas a níveis inferiores. Porque hoje, numa União a 27, o diálogo público entre os ministros é cada vez mais raro, as reuniões compõem-se maioritariamente de monólogos nacionais, parte dos quais publicamente transmitidos, em que, perante cada tema, cada ministro debita a sua posição. Toda a documentação está informatizada, podendo ser consultada à distância.

Porque já participei neste tipo de exercícios, sei que ele sofre, por vezes, de algumas limitações técnicas, pelo que há que afinar e securizar os sistemas de apoio. Nada que à União Europeia seja impossível de organizar, tanto mais que as vantagens práticas são imensas, em especial pela possibilidade de cada governante poder ser assessorado pelo conjunto de técnicos que entender, sem quaisquer encargos, o que não sucede nas reuniões comunitárias. Não me parece que um sistema destes devesse substituir, em absoluto, todas as reuniões realizadas nas instituições da União, onde alguns contactos pessoais úteis têm lugar, mas sou de opinião que a sua utilização mais frequente evitaria, com grande vantagem, muitos encontros presenciais.

Será que este exemplo dos ministros dos Transportes irá ser seguido, depois da nuvem islandesa? Já imaginaram os gastos colossais que se evitariam (deslocações, hotéis, ajudas de custo, horas perdidas) se, futuramente, o recurso à video-conferência passasse a ser a regra e a deslocação a Bruxelas ou ao Luxemburgo fosse a exceção? Quem estará contra isto? Valeria a pena pensar.

Curtas 5

60 horas foi quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, levou de S. Francisco a Berlim, depois de passar de avião por Lisboa e Roma e de ter sofrido um acidente numa autoestrada italiana, no imenso trajeto rodoviário entre as capitais italiana e alemã.

Há dias em que se não pode sair de casa...

Curtas 4

Os Deolinda aí estarão, dentro de dias, com um novo disco.

Fiquem com o "Um contra o outro", o único som que dele se conhece. 

Curtas 3

O i deixou de contar com o Martim Avillez Figueiredo.

Tenho pena pelo belo projecto que é o i, como tenho pena pelo Martim, um dos mais talentosos e empenhados jornalistas da sua geração. Estes abanões na esperança não prenunciam nada de bom.

Curtas 2

A Taça de Portugal é uma competição onde, por vezes, há grandes surpresas.

Uma modesta equipa de província, o Grupo Desportivo de Chaves, vai agora disputar a final da Taça contra o Futebol Clube do Porto. As suas hipóteses de sucesso são as que se conhecem, a milionária desigualdade das duas equipas é flagrante. Mas, como dizem os comentadores da especialidade, "a bola é redonda". Será? 

Curtas 1

A nuvem trouxe-me saudades do futuro.

segunda-feira, abril 19, 2010

Lisboa

Através de um irritante portão com grade, no largo das Belas Artes, observa-se um dos mais belos panoramas de Lisboa.

O cenário, aliás, é muito idêntico ao de uma cena do filme "House of Russia", o que me faz pensar que, em parte, terá sido rodado numa casa ao lado. Quem quiser dar-se ao luxo de almoçar com esta Lisboa aos pés pode, aliás, fazê-lo na Tágide, um pouco abaixo.

Por mim, limitei-me a usar o iPhone, da rua.

domingo, abril 18, 2010

Retrato

Chegou-me há pouco uma curiosa análise sobre o Duas ou Três Coisas.

Agradeço-a e deixo-a aqui.

Fados

Assumindo, em pleno, o meu estatuto de turista acidental em Lisboa, uma espécie de "náufrago do autocarro" da nuvem islandesa, decidi ontem ir ao fados, coisa que não fazia há muito. Porque optei por um modelo tradicional, vi-me transportado para um ambiente do Bairro Alto que tinha um cenário idêntico àquele que aí se vivia há quatro décadas. Até alguns cantadores e cantadeiras eram desse tempo. A única coisa que foi atualizada foram os preços. Deve ser da idade, mas achei muita graça à experiência.

À saída, um imenso contraste: uma Lisboa jovem, solta, moderna, muito africana, lojas abertas a desoras, copos na rua, até polícias com ar quase "punk".

Sou de outro Bairro Alto. De início, quando por lá trabalhava, fui da "Primavera", do "Pucherus", do "Farta-Brutos", da "Antiga Casa 1º de Maio", passando pelo "Cocote", o bar do Olívio, onde meia Vila Real desaguava em whisky marado, nos anos 70, a saudade da esquina da Gomes (só os vila-realenses perceberão isto, desculpem lá!). O bairro era, já então, orgulhosa sede da "Bola", do "Record" e dos vespertinos da época, para além dos magníficos alfarrabistas. As ruelas, com a pobreza a fazer de típico, haviam começado a crescer na moda gastronómica lisboeta, de início com o "Alfaia", a "Tasca do Manel", o "Baralto", o "Fidalgo", o "Bota Alta" e coisas afins. Mais tarde, post-modernizou as noites, por muitos e bons anos, no "Frágil", com a Margarida Martins a gerir o "funil" de entradas, dedicada a gente de preto, com olheiras graves, muito pó-de-arroz e outros pós menos saudáveis. Na restauração, houve, entretanto, afloramentos já mais distintos - no "Pap'Açorda", no "Casanostra", no "Porta Branca". Com as noites a ficarem "rough" demais para o meu gosto, deixei de ser cliente ao tempo da explosão das lojas, do Manuel Reis às várias modas, agora com a vertente étnica a rimar já com a Lisboa da imigração. Desde esse tempo, perdi o bairro como hábito. 

Hoje, quando por cá passo, verifico que há muitas Lisboas em Lisboa. Aos diplomatas portugueses, nos seus estágios de atualização, deveria ser proporcionado um curso sobre o país real. A começar no Bairro Alto. Para evitar que andem a representar, pelo mundo, um Portugal já meramente virtual.  

sábado, abril 17, 2010

"Pendurado"

Alguns ditos "experts" em temas internacionais, que andam pelas colunas da nossa imprensa, têm vindo a especular, a propósito das próximas eleições legislativas britânicas, sobre a possibilidade do respetivo resultado poder vir a resultar num "hung parliament" (à letra, um parlamento "pendurado"), cenário pouco vulgar que poderia dar ao Partido Liberal-democrata um papel relevante num quadro político que não pendesse, de forma decisiva, para o Partido Conservador ou para o Partido Trabalhista.

Esse cenário é possível, embora improvável. Porém, o que estranho é que esses "especialistas", que bebem tão eruditas expressões na imprensa britânica de onde traduzem as suas ideias, talvez ganhassem em clareza se dissessem, com bem maior simplicidade, que se trata apenas da possibilidade do partido que vai formar governo vir a ter, ou não, uma maioria absoluta. É que os portugueses conhecem "de gingeira" os dois cenários...

Praga

Os comentários críticos sobre a situação económica portuguesa feitos, em público em Praga, pelo presidente da República Checa, Vaclav Klaus, durante a visita do presidente Cavaco Silva àquele país, chocou algumas pessoas. Com efeito, o formalismo e as regras implícítas que regem este tipo de encontros, que existem para consagrar e reforçar quadros de boas relações bilaterais, pareceu, aos olhos desses observadores, menos consentâneo com o que foi dito.

As palavras de Vaclav Klaus tiveram a resposta considerada adequada por parte do chefe de Estado português. A excelência das nossas relações com a República Checa, país cujas ambições europeias Portugal sempre apoiou de forma determinada, está muito para além destes "fait divers", os quais, contudo, também nos ajudam a perceber melhor a diversidade das culturas políticas que se projetam na atual União Europeia.

Ainda a propósito de Praga, uma das mais belas e românticas capitais da Europa, aqui deixo uma fotografia da sua praça de S. Venceslau, um lugar histórico que há anos teimo, por qualquer razão, em achar parecido com a avenida dos Aliados, no Porto. E sobre a figura de Vaclav Klaus e Portugal, talvez possa ser interessante ler o que, em tempos, escrevi aqui.

Nuvem

Temos a pretensão de que somos donos das nossas vidas, que controlamos o nosso tempo ao minuto, achamos que gerimos as conjunturas. Mas, subitamente, uma simples nuvem, proveniente de um vulcão situado lá para a Islândia, para-nos, aos milhares, por toda a Europa, aterrando-nos, por dias, num aeroporto qualquer.

A senhora Angela Merkel teve hoje direito a uma noite no Ritz, em Lisboa. O presidente português está retido em Praga. Pela Europa, há milhares e milhares de deslocados, à espera que o vento dissipe os efeitos do vulcão islandês.

Neste inesperado desregulamento das nossas vidas, há quem acabe por ter alguma sorte: retido na minha escala em Lisboa, passeei ao final da tarde por livrarias, jantei com amigos, estive na minha tertúlia no Procópio, dormi em casa. Há nuvens que vêm por bem.

E, já agora, recordem isto.   

sexta-feira, abril 16, 2010

Açores (3)

A geografia era improvável: Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores. O local ainda mais: o velho salão nobre da Câmara Municipal. Mas foi para aí que, em boa hora, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento deslocou ontem o seu II Forum Franklin D. Roosevelt, numa sessão iniciada com uma palestra minha sobre "A Europa e a política externa da administração Obama". Sala a abarrotar, público interessado, imensos alunos universitários do continente e dos Açores. A minha intervenção e as várias perguntas que ela terá justificado contribuíram para fazer deslizar o horário do carregado programa, inserido neste estimulante exercício sobre "As relações transatlânticas e os equilíbrios internacionais emergentes".

Partilhar uma análise da Europa e da "nova América" com gente muito interessante, vinda de várias partes do mundo, que olha para a temática com visões diferentes, algumas surpreendentes, foi um privilégio. Vir, para isso, aos Açores - esse "produtor de clima", para utilizar uma feliz expressão do comandante das Lajes - é sempre um imenso gosto. Fazê-lo ao lado da base aérea, cenário de concretização de uma aliança estratégica importante para Portugal, mas também de um momento diplomático a que a História nos poderia ter poupado, constituiu uma sensação curiosa.

O meu texto pode ser lido aqui.

quinta-feira, abril 15, 2010

quarta-feira, abril 14, 2010

Açores (2)

Ao ouvir ontem o presidente do governo regional dos Açores, Carlos César, abordar com frontalidade a questão de novos objetivos, compatíveis e complementares com os atuais, para uma futura utilização das facilidades logísticas de natureza militar existentes na região, dei comigo a pensar que os Açores são, com toda a certeza, a única região portuguesa cuja singularidade estratégica pode justificar uma visão diferenciada, em matéria de segurança e defesa, no contexto nacional português. Estou certo que alguns dirão que a potencial interação Madeira-África representa um outro desafio específico, mas há que reconhecer que a escala de importância é muito diferente. Todavia, qualquer que possa ser a relevância, nomeadamente em matéria económica, que estas duas dimensões regionais possam ter num contexto estratégico português mais alargado, sou de opinião que quaisquer opções que as envolvam e que possam vir a ser feitas no futuro terão sempre importantes resultantes de natureza nacional, pelo que deverão ficar sempre subordinadas a este circunstancialismo mais alargado. Carlos César citou Franklin D. Roosevelt para sublinhar o imperativo de ação neste domínio: há várias maneiras e caminhos para nos movimentarmos, mas só há uma maneira de nos mantermos parados. À bon entendeur... 

Este é um debate complexo, sobre o qual não refleti ainda de forma aprofundada, embora tenha algumas certezas apriorísticas que não vejo, por ora, interesse em abandonar. Contudo, observei hoje, durante um almoço, que ele não escapa há muito à análise arguta de José Medeiros Ferreira, o qual alia a sua qualidade de açoriano de coração a um pensamento muito claro sobre o nosso destino nacional. Por ora, não lhe vou fazer a "maldade" de lhe pedir para fazer uma síntese adaptada a este caso.

Em tempo: numa rua de Angra do Heroísmo, lá estava o letreiro: companhia de seguros "Açoreana", com um "e". Mau! Afinal em que ficamos?

Garzón

O magistrado espanhol Baltazar Garzón, personalidade com expressão mediática ganha na perseguição de algumas sinistras figuras da cena política internacional, está agora sob fogo por ter procurado contornar o compromisso histórico em que assentou a transição espanhola, tentando criminalizar o período franquista.

Pode haver legítimas razões para pensar que a iniciativa a que se propôs, que agora o coloca como alvo da Justiça que tem servido, é despropositada, desajustada no tempo, pode acicatar feridas, reavivar velhos traumas e, no fundo, desservir a democracia que a Espanha laboriosamente conquistou, por entre as tensões autonómicas e as ameaças terroristas.

Tudo isso pode ser verdade e Garzón pode estar errado. No que, a meu ver, ele não está minimamente errado é no esforço que, desde há anos, vem a fazer para impor a dignidade à escala global, colocando a Espanha na linha da frente da Justiça internacional, para saudável inquietação de muitos patifes. Garzón é um homem de bem e não tenho visto isso suficientemente sublinhado.     

terça-feira, abril 13, 2010

Açores (1)


Ontem à tarde, percebi melhor o conceito de periferia. Atrasos de aviões, quase nove horas de Lisboa a Angra do Heroísmo, mais de metade passada em aeroportos, ajuda a entender muita coisa. Quando, noutras eras, me empenhei bastante a defender o apoio europeu à nossa ultraperiferia atlântica, estava longe de supor que a iria experimentar desta forma. Há um preço que se paga por este isolamento e distância insular.

Há mais de dez anos que não vinha aos Açores. Impressionam as infraestruturas, o vento da modernidade, um certo ambiente já cosmopolita, embora atenuado por um saudável espírito de "vila".  

Em Ponta Delgada, não resisti e comprei o "Açoriano Oriental", o mais antigo jornal diário português. Olhando a "mancha", fiquei um pouco desiludido: está um jornal igual aos outros, até com um certa elegância gráfica, mas sem nada de singular. Tinha muito mais graça no passado, mas talvez esta evolução seja inevitável.

Uma última nota: andei uma vida a escrever "açoreano". Afinal é com um "i". Nunca é tarde...

Imagem de Portugal

Quando se entra para a carreira diplomática, a categoria de acesso tem a designação de Adido de Embaixada.

Hoje de manhã, a convite do Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, estive a dar uma aula de "Diplomacia Pública" a cerca de três dezenas de novos Adidos de Embaixada, os quais, desde há dias, passaram a integrar o serviço diplomático português. Estranhei a quebra do número de mulheres admitidas, o que espero seja um fenómeno conjuntural. Foi um prazer colaborar neste exercício, porque há muito que penso que a formação das novas gerações é das tarefas mais úteis a que os diplomatas mais velhos se podem dedicar.

Para além de alguns conselhos ditados pela experiência pessoal, falei-lhes da imagem de Portugal no mundo, do modo de a cultivar, do seu futuro papel na promoção do nosso país na sua atividade no estrangeiro e com os estrangeiros. Procurei dar-lhes conta do que considero ser o privilégio de passarem a ser uma "cara" de Portugal e as responsabilidades que isso acarretem.

Para leitura, deixei-lhes um texto de uma comunicação que, há precisamente dois anos, sobre o assunto apresentei na Assembleia da República, a convite da sua Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. Foi uma intervenção que, na altura, alguns dos meus colegas consideraram um tanto "franca" demais. Confesso, porém, que cada vez me sinto menos vocacionado para utilizar a "langue de bois" de um certo estilo de diplomacia.

Em tempo: este blogue tem recebido alguns (tristemente anónimos) comentários relativos aos critérios de seleção adotados no último concurso de admissão de adidos de embaixada, assunto com o qual, é claro, não tenho nada a ver. Se quem os escreve foi concorrente a esse concurso, a justiça cumpriu-se: a "elegância" do método e da linguagem desqualifica-o/a para o exercício da profissão, desde já. Sendo-o ou não, se alguém tem queixas ponderáveis, em lugar das calúnias anónimas, pode sempre recorrer à impugnação judicial. É tão simples...

segunda-feira, abril 12, 2010

Anatoly Dobrynin (1919-2010)

Durante um quarto de século, Anatoly Dobrynin foi o embaixador soviético em Washington. Se pensarmos que era, muito provavelmente, a figura da URSS que melhor conhecia os EUA, onde antes exercera já funções, deve poder concluir-se que muitas das mais importantes decisões tomadas por Moscovo face a Washington durante esse longo período terão tido a sua direta influência.

O obituário deste grande diplomata está já feito por aí. Para o que agora me interessa, gostava apenas de destacar - porque não vi isso suficientemente feito - que o seu livro de memórias "In confidence: Moscow's ambassador to America's six Cold War Presidents" é um documento surpreeendentemente interessante, em especial face ao cinzentismo daquilo que costumam ser os testemunhos, com alguma relevância diplomática, escritos por protagonistas da URSS, oriundos de áreas não dissidentes. Recordo as memórias de figuras como Brezhnev, Gorbachev ou Yeltsin, bem como de personalidades de menor porte, como Gromiko, Shevardnadze e Primakov, passando mesmo por um observador influente como Arbatov, de quem se esperaria um melhor livro. Se descontarmos o "estranho" volume de Krutchev, só a custo se consegue tirar algo de interessante da "seca" que foi a escrita oficial ou oficiosa soviética e pós-soviética. 

No momento de morte de Dobrynin, a melhor homenagem que se pode prestar a quem foi um ilustre diplomata é recomendar a leitura das suas memórias, um excelente retrato da Guerra Fria e das curiosíssimas pontes que ele soube estabelecer em Washington. 

domingo, abril 11, 2010

Spínola

António de Spínola, primeiro presidente da República designado após o 25 de Abril, foi  ontem homenageado, no centenário do seu nascimento, com a atribuição do seu nome a uma avenida de Lisboa.

Com o 25 de Abril, Spínola entrou para a nossa História. Militar conservador e tradicionalista, fez uma grande evolução no seu pensamento político, que o levou da participação, como jovem observador, na "Divisão Azul" hitleriana que atacou a URSS até a uma progressiva sedução pela liberalização da ditadura. Pelo meio, ficou o seu carisma de brilhante militar, que arregimentava prosélitos e que trazia ideias de evolução para a política colonial que o imobilismo do regime não deixou frutificar. O seu livro "Portugal e o Futuro", de 1973, é um ensaio de "gaullismo" requentado que chegava atrasado para salvar o regime mas ainda chegou a tempo para ser uma cartilha de união ambígua de todas as tendências militares, cuja conjugação foi essencial para o sucesso da Revolução de 1974.

Spínola foi alcandorado à chefia do Estado na noite dessa Revolução. Mais tarde, tentou instrumentalizá-la com uma espécie de "pronunciamento" que acabou por vitimar politicamente o primeiro-ministro que escolheu, Palma Carlos. Percebeu, entretanto, que a independência das colónias teria de ser quase incondicional, depois de ter tentado outras vias, com ligações que foram de Mobutu a Nixon. Após provocar até ao limite o Movimento das Forças Armadas, que o colocara no poder, não resistiu à tensão que ele próprio criou e potenciou até à rutura, demitindo-se na sequência do 28 de Setembro de 1974. 

Voltou ao cenário político-militar como titular de um frustrado golpe de Estado - o 11 de Março - e, após essa data, exilou as suas esperanças através de um grupo de resistência conservadora externa - o MDLP, Movimento Democrático para a Libertação de Portugal - que tem uma história de cumplicidades internas (em áreas que hoje seria penoso estar a lembrar) que vai muito para além da caricatura que dele se fez. E convém não esquecer nunca: do 11 de Março ao MDLP, o percurso de António de Spínola ficou ainda marcado por algumas responsabilidades  de que resultaram consequências sangrentas.  Absolvê-las no altar da estabilização foi uma decisão implícita de um país que terá achado que elas eram a outra face do espelho de radicalismos de sinal contrário.

Com a institucionalização plena do novo sistema político português, e sempre graças à tolerância da nossa democracia, Spínola regressou a Portugal. Através de entendimentos que hoje já fazem parte das curiosidades do nosso regime, reganhou um estatuto público que as suas equívocas aventuras no exílio lhe haviam feito perder. E ascendeu a Marechal das nossas Forças Armadas.

Como atrás escrevi, Spínola ganhou legitimamente um lugar na nossa História. Era um patriota e foi um militar de grande coragem e valia. Faz parte das figuras que acabam por sofrer do facto de terem servido de charneira em tempos de transição. Prestar-lhe agora este reconhecimento é um ato de grandeza por parte de um regime para cuja implantação contribuiu, mas cujo curso poderia ter tido derivas indesejáveis se acaso, em certos momentos, tivesse seguido as linhas que ele pretendeu impor-lhe. Ainda assim, homenagear António Sebastião Ribeiro de Spínola é um gesto que o Portugal de Abril pode e deve fazer. Com conta, peso e medida histórica. Como ontem disse o presidente Cavaco Silva, "muito para além das homenagens dos homens, será o juízo do tempo que se encarregará de lhe reservar na História o lugar que merece".

Paris-Roubaix

Já é azar! Pela segunda vez consecutiva, perdi hoje a hipótese de ver a clássica prova ciclística Paris-Roubaix.

Para o ano, vou organizar-me melhor para estar presente naquela que é uma das mais antigas e exigentes corridas de bicicletas do mundo, criada ainda no século XIX, com um trajeto que, em algumas partes do percurso, segue por caminhos como os que a imagem mostra.

Como o meu 25 de Abril se passará este ano em Roubaix, junto da Comunidade portuguesa, vou já "marcar lugar" por lá para 2011.

sábado, abril 10, 2010

1989

Pierre Grosser foi diretor do Institut Diplomatique do "Quai d'Orsay" desde a sua criação, em 2001. Tem uma importante obra publicada em temas internacionais e escreveu, há pouco, um livro fascinante, de que pouco se tem falado, sobre esse ano-charneira, em especial para a Europa: "1989 - L'année où le monde a basculé".

São muitas centenas de páginas, escritas num tom multidisciplinar ambicioso, que podem ler-se espaçadamente, como tenho feito, desde há semanas. Trata da Europa, mas igualmente das suas periferias, indo à raiz histórica das temáticas abordadas e procurando ligá-las nos seus contextos económicos, financeiros, sociais e até ecológicos. Sendo que a queda do muro de Berlim é talvez o pretexto central deste trabalho, o facto dele se alargar a outros domínios e cenários geopolíticos acaba por ter o mérito de relativizar a dimensão da unificação alemã e de nos obrigar a olhar um pouco mais longe.

As obras com grande abrangência transversal têm sempre lacunas. Neste livro, encontrei uma única referência a Francis Fukuyama e apenas duas notas curtas sobre Samuel Huntington. Se, no primeiro caso, "o fim da História" pode ser descartado, no segundo parece-me muito escasso o que foi citado. Mas, a meu ver, mais grave será Grosser nem sequer ter mencionado, uma única vez, nomes como Edward Said e, muito em especial, um autor sem o qual é difícil interpretar o século XX, Eric Hobsbawm. Porquê?

De qualquer forma, o saldo é amplamente positivo: estamos perante um livro muito interessante e muito clarificador. A ler.

Política local

Oloron-Sainte-Marie é uma belíssima pequena cidade junto aos Pirinéus, perto de Pau, a dois passos de Espanha, onde uma associação de portugueses já com muitos associados franceses, dirigida por uma "mulher de armas", Elsa Godfrin, faz maravilhas para cativar os locais para os valores culturais e turísticos do nosso pais.

É sempre muito interessante observar a vida desta orgulhosa França de província, com uma ativa sociedade política, muitas vezes marcada por uma agenda que se afasta das grandes tensões nacionais, mas que não deixa de ter os seus momentos de "stress".

Hoje, ao almoço, o Maire da cidade, Bernard Uthurry, contou-me a história deliciosa de uma postura municipal que, há cerca de dois anos, decidiu fazer publicar, para limitar o excesso de ruídos de que os seus concidadãos se queixavam. O texto da decisão andava há anos pela Mairie, tendo-o herdado do seu predecessor. Cheio de trabalho, e confiando no conselho que lhe era dado pelos seus adjuntos, assinou-o praticamente sem ler.

No dia seguinte, acordou com a agência France-Presse e os jornais regionais em  agitação: o texto previa a supressão do cantar dos galos na cidade! Mobilizadas pelo "fait-divers", a imprensa nacional e as televisões agarraram logo o tema. O Maire foi assim acordado politicamente pelos galos que, sem pensar, proibira de cantar. E teve de recuar na sua decisão, face à gargalhada nacional que se anunciava.

A política, por vezes, também se faz destes bizarros sobressaltos.

sexta-feira, abril 09, 2010

Chirac

Por estes dias, as sondagens revelam que Jacques Chirac conserva uma grande estima por parte dos franceses. Na leitura mais "fina" das razões dessa popularidade, a generalidade dos observadores nota o prestígio que o antigo presidente criou, ao ter colocado a França, lado-a-lado com a Alemanha e vários outros países, em oposição à decisão americana de invadir o Iraque, sem um mandato multilateral.

Passam já 7 anos sobre esse episódio que dividiu a Europa e o mundo. Mas os franceses não esqueceram que, no momento oportuno, Chirac soube colocar-se ao lado da razão e da justiça internacionais. Se há uma virtude que a França tem, essa é a sua memória.

A síndroma de Agosto

Estávamos em Agosto de 1979. Era a primeira vez que eu assumia, interinamente, a chefia da Embaixada em Oslo. Tinha pouco mais de três meses de experiência no exterior e as férias do embaixador a isso obrigavam.

À época, o "sangue na guelra" e a inexperiência levaram-me a ser tentado a trabalhar nesse mês de substituição do embaixador como se tivesse sido ungido como "embaixador substituto". Daí que fosse afetado, sem o saber, pela "síndroma de Agosto" - esse "chico-espertismo" que faz com que os "encarregados de negócios" mais jovens, aproveitando as férias dos chefes de missão, se ponham em pontas de pés perante Lisboa, enviando correspondência em abundância, mostrando-se à tutela. Esquecendo que, nesse mês de Agosto, o Palácio das Necessidades está também deserto e quase ninguém os lê. Quase...

Assim, e a propósito de uma qualquer notícia surgida na imprensa, preparei um longo telegrama (nome que damos às comunicações urgentes, com distribuição prioritária - ao tempo enviadas por telex), creio que de quatro páginas, sobre a questão das dissidências entre a então URSS e a Noruega, a propósito da exploração de recursos do arquipélago de Svalbard. O tema era altamente especioso, implicava contextualização histórico-jurídica, pelo que era de muito duvidoso interesse para o MNE, para mais num tempo em que a nossa diplomacia tinha uma agenda de preocupações algo limitada. Gastar com o assunto quatro páginas, numa comunicação telegráfica, tipo de correspondência que devia ser guardada para coisas urgentes, era, manifestamente, revelação de imaturidade. 

Imagino que, logo que enviado o texto, depois do que deve ter sido uma sua cuidadosa elaboração, ter-me-ei sentido satisfeito comigo mesmo. De facto, eu acabara de apresentar a Lisboa uma densa exposição sobre uma problemática importante para a política externa norueguesa. Não detetara, nos arquivos, que a Embaixada se tivesse dedicado com profundidade ao tema. Lisboa iria apreciar, pela certa.

Ora não foi bem assim. Dois dias depois, recebo um telegrama do MNE que dizia mais ou menos isto: "Telegrama nº tal não se justifica. Vossa Senhoria poderia perfeitamente ter informado sobre o assunto por ofício". (O "ofício", no jargão da casa, é um texto que segue semanalmente na mala diplomática, pelo correio). Na linha seguinte estava o pior, a assinatura desta "rabecada": "Ministro". (Noto que o "Vossa Senhoria" é a fórmula consagrada que o Ministério sempre utiliza para se dirigir a quem não tem estatuto de embaixador).

Alguém receber um telegrama assinado pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros é uma coisa que rarissimamente acontece na nossa profissão. E, com uma mensagem tão seca e negativa, a excecionalidade tornava-se trágica. Posso imaginar como me devo ter sentido, pensando estar em face do início do fim da minha carreira. O meu ritmo de "produção" telegráfica deve ter levado, a partir daí, um corte substancial, resumindo-me ao essencial, para evitar atiçar ainda mais as iras lisboetas. No regresso de férias, o embaixador, em tom de algum desagrado, deixou cair que "ouvira nos corredores" a história do meu telegrama e da resposta do ministro. Não fora, de facto, uma brilhante estreia como "encarregado de negócios".

Mas não houve mais consequências e tudo acabou apenas por ser uma bela lição. Aprendi que, nas chefias interinas, os substitutos devem ser discretos e proceder exatamente da forma como imaginam que os substituídos gostariam que as coisas se passassem na sua ausência. Nem mais, nem menos. Foi o que passei a fazer a partir de então.

quinta-feira, abril 08, 2010

La Lys

Em 9 de Abril de 1918, teve lugar, no norte da França, a batalha de La Lys, onde pereceram muitos soldados que a República portuguesa enviou, ao lado dos Aliados, para defenderem a liberdade da Europa.

Foi uma confrontação trágica para as nossas tropas. A manifestação do nosso respeito tem de estar à altura do sacrifício dos que então perderam a vida, muitos dos quais jazem no Cemitério português de Richebourg onde, na próxima semana, entidades oficiais portuguesas irão homenagear esse esforço supremo das  suas Forças Armadas.

Boatos

Há bem mais de uma década, uma revista política britânica de circulação muito limitada, "Scallywag", publicou um rumor sobre um falso "affaire" do então primeiro-ministro conservador britânico, John Major. Durante alguns dias, ninguém mais tocou no assunto. Major não desencadeou qualquer ação judicial contra a revista.

Passadas breves semanas, a revista "New Statesman", uma publicação bastante lida, muito próxima dos trabalhistas, retomou o tema, comentando o conteúdo do artigo do "Scallywag", embora não credibilizando necessariamente o boato. Porém, porque o "New Statesman", ao falar no assunto, amplificou a divulgação da mentira, Major (e a senhora envolvida no boato) processaram a revista. E depois, naturalmente, também o "Scallywag".  Para a História: ganharam os dois processos.

O comportamento inicial de John Major mostra que seguiu uma regra básica da comunicação: quando as mentiras têm uma difusão restrita, reagir contra elas, em termos públicos, acaba por ser contraproducente.

B & B

Há bastantes anos que ouvia falar daquele restaurante, situado numa certa capital de distrito, onde não vou muito e onde tinha escassas refe...