sexta-feira, março 21, 2014

Ainda o "manifesto"

Já aqui disse o que pensava sobre o "manifesto" que propõe a reestruturação da dívida pública portuguesa. É um documento corajoso, deve ser refletido, embora eu me interrogue sobre a sua oportunidade.

Dito isto, achei menos bem o surgimento de outras 74 personalidades estrangeiras em apoio ao documento. Para quê? Para mostrar que também "lá fora" há quem tenha ideias idênticas? Isso era natural. Estou certo que os opositores ao "manifesto", se assim o quisessem, poderiam agregar a opinião de outros tantos "sábios", dizendo precisamente o contrário. Os economistas são como os advogados: há opiniões para todos os gostos.

A importância do "manifesto" era precisamente ser um documento português, reunindo personalidades de valia incontestada, por forma a ser visto "lá fora", pelos nossos credores, como traduzindo uma opinião qualificada nacional, de largo espetro, a qual, dada a expectável evolução da situação política interna, poderá vir a ter consequências na atitude de um futuro governo face ao problema. Querer concitar apoios externos declaratórios para o texto parece-me transparecer uma falta de confiança menos digna da coragem que o ato original revelou. Não havia necessidade...

quinta-feira, março 20, 2014

Pacto para o investimento

Transcrevo, de seguida, o texto "Pacto para o investimento", que hoje publico na revista "Sábado", que me pediu, como a várias outras pessoas, uma "ideia" para o país:

"Já não é tempo de milagres. A vida dos portugueses só pode melhorar se o país puder criar mais riqueza. Limitado o endividamento, circunscritos os fundos comunitários, apenas uma injeção de investimento produtivo pode funcionar. Para tal, há fatores que não dependem de nós, porque derivam do quadro externo em que nos interessa manter integrados. Outros decorrem da eventual coragem dos agentes políticos em levar à prática o interesse coletivo, ousando afrontar os poderes das corporações, dos lóbis e da rua. 

A capacidade de rutura da classe política portuguesa é reconhecidamente escassa. O conúbio entre alguma representação institucional e certos interesses, do parlamento às autarquias, apresenta aos potenciais investidores um país que, não obstante fantásticos avanços, tem vastas zonas de atraso comportamental.

É urgente gerar entre nós um pacto social para relançar o investimento produtivo, desenhar-lhe rapidamente os contornos – na burocracia, na justiça, na estabilidade fiscal, no apoio à qualificação, no combate à corrupção e ao “arranjismo”. A sociedade civil, que teve coragem para pôr termo ao tabu da dívida, tem de ser capaz de forçar um choque de realismo, apresentando às forças partidárias uma agenda para a modernidade da sociedade e da economia. Para além dos “suspeitos habituais”, há que envolver nela os bancos, as universidades e a comunicação social. Quem tem coragem para avançar?"

Herman José

Herman José fez 60 anos. Todos lhe devemos algumas das nossas melhores gargalhadas. A vida deste país seria muito mais triste sem ele. E isso não é coisa pouca. É uma figura tão genial que até lhe perdoamos alguns registos de facilidade, bem como um anseio quase obsessivo da consensualidade, que às vezes desgostam. Mas Herman José é muito mais do que isso. E, até agora, é insuperável. Parabéns, Herman, vai ver que é agradável ser sexagenário, palavra que, contudo, começa bem mas acaba mal...

quarta-feira, março 19, 2014

Lembrança

Ontem, numa esplanada na Foz, no Porto, lembrei-me de uma frase do meu pai. "Exilado" em Vila Real desde 1946, viveu por lá uma vida bem feliz, por mais de seis décadas. Mas nunca o abandonou a saudade do mar, da foz do rio Lima que o viu crescer, dessa Viana do Castelo que para ele funcionou como eterna âncora afetiva. "Gostava de acordar todas as manhãs numa casa com vista para o mar", dizia-nos, às vezes, embora soubéssemos que a ele, já transmontano de coração, far-lhe-ia muito mais falta a imagem do Marão ao fundo.

Li há pouco que hoje é dia do pai. 

E depois da "troika"

Diz-se, às vezes, que, no nosso país, há conversa a mais e realizações a menos. Talvez seja verdade mas, pelo que me toca, saio sempre mais enriquecido desses exercícios intelectuais, particularmente se neles for possível ouvir atores responsáveis pelas políticas ou observadores atentos da realidade.

Tenho pena de não me ser possível assistir ao debate que, por esta hora, envolve Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix, Teixeira dos Santos e Vitor Gaspar, no quadro da excelente iniciativa promovida pelo ISCTE sobre as políticas públicas, olhando já para o período depois do ajustamento. Deve ser curioso...

Hoje à tarde, serei um dos protagonistas de um outro debate. Com Diogo Feio, Pedro Silva Pereira e Paulo Rangel, estarei num painel em que a política europeia será abordada. Tenho esperança que possamos sair um pouco da "espuma dos dias" e ir mais além do mero confronto pré-eleitoral.

Em tempo: foi um debate sereno, muito construtivo, em que cada um de nós teve oportunidade de colocar o essencial da sua experiência. As divergências não foram muitas, embora não tivesse sido unânime a leitura das virtualidades do processo de ajustamento e do modo como o governo atuou e atua no quadro europeu. No essencial, porém, verificou-se uma grande consonância no reconhecimento da necessidade de uma postura interventiva portuguesa no palco europeu, bem como na importância de serem escolhidos como titulares da nossa representação a esse nível personalidades qualificadas. Todos lembrámos Medeiros Ferreira, o homem que criou os 3D da Revolução de abril (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver). Só que agora os 3D são outros: Défice, Dívida e Desemprego...

terça-feira, março 18, 2014

José Medeiros Ferreira (1942-2014)

Foi-se o José Medeiros Ferreira! Vi-o, pela última vez, numa homenagem que a Casa dos Açores lhe prestou. Na intervenção com que encerrou a ocasião, pairava já um tom de despedida. Mas naquilo que disse esteve a mesma indómita coragem com que lhe víramos afrontar a terrível doença.

Tinhamos previsto fazer, dentro de algum tempo, um "mano-a-mano", numa conferência a dois, sobre "Portugal no Mundo". Seria a reedição de um idêntico exercício que ambos havíamos levado a cabo, a convite da Assembleia da República, sobre "A imagem de Portugal no mundo".

José Medeiros Ferreira, um açoreano que o acaso da vida quis que nascesse na Madeira (uma ironia com que ele brincava), foi uma grande figura da nossa democracia e da intelectualidade portuguesa. Perseguido e expulso da universidade na crise de 62, exilou-se em Genebra, onde fez parte do grupo oposicionista que publicou a revista "Polémica". Para o Congresso Republicano de Aveiro, em 1973, enviou uma "tese" em que prenunciava o modelo de revolta que, meses depois, viria a derrubar a ditadura. Ao lado de António Barreto, viria a juntar-se ao PS, depois de ser obrigado a fazer alguns meses de serviço militar... na famosa 5ª divisão.

Deputado, secretário de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros, viria a revelar-se com um pensamento estratégico de muito rara qualidade entre nós. Foi pela sua mão, num governo de Mário Soares, que Portugal pediu a adesão às Comunidades Europeias. A figura de Sá Carneiro seduziu-o e viria a ligar-se à sua Aliança Democrática, no pequeno grupo dos "Reformadores", uma vez mais com António Barreto, num percurso comum que não se manteria quando decidiu apoiar Ramalho Eanes, na aventura do PRD.

Seria de novo pela mão do PS que iria regressar ao parlamento, onde o cruzei como presidente da comissão de Assuntos Europeus, nos anos que passei no governo. Nunca mais regressaria a um executivo, embora eu pense que o país perdeu bastante com isso, ao não aproveitar o seu grande talento político. Porém, Medeiros Ferreira, que era uma voz que teimava ser independente e livre, tinha uma autonomia de pensamento que era, não raramente, algo incómoda para a máquina partidária.

Medeiros Ferreira foi um historiador de grande mérito, dedicado à História contemporânea e, muito em particular, ao papel dos militares. Professor universitário e comentador político, teve uma forte exposição pública nos últimos anos, nas televisões, nos jornais e na blogosfera, onde era autor de apontamentos de grande argúcia e frontalidade. Era um benfiquista afirmado e deve ter morrido contente por ver o seu clube prestes a regressar aos títulos.

Um dia, tive com o Zé Medeiros uma forte divergência. Com o tempo, soubemos ultrapassá-la, com mútuo garbo. Considerava-me um seu amigo e um seu grande admirador. Vai-nos fazer muita falta na tertúlia do Procópio, para onde nos trazia belas tiradas, que nos animavam as conversas e as ideias. À Maria Emília, deixo um sentido abraço.

Irrelevância

Há dias, ao atentar no discurso de um dirigente político português sobre a Europa, dei comigo a pensar que o atual quadro decisório europeu configura um terreno de crescente dificuldade para a expressão dos interesses próprios do nosso país. Nada que seja uma novidade, mas, durante alguns anos, tentei concordar com quantos não achavam isto importante. Hoje estou mais preocupado.

Os vários interesses nacionais que se projetam em Bruxelas comportam, entre si, uma margem significativa de divergências, por vezes de conflito, que cabe à União tentar conciliar nas suas deliberações. Desde a criação da máquina comunitária europeia, os Estados mais populosos tiveram, com toda a naturalidade democrática, um peso maior nas decisões. Quando Portugal entrou para as Comunidades, o seu voto à mesa do Conselho de Ministros valia precisamente metade do poder decisório alemão. Para a Comissão, a Alemanha podia indicar dois comissários e Portugal apenas um. No Parlamento europeu, o número de eleitos alemães era quatro vezes o nosso.

Era uma relação desequilibrada? Era, mas era gerível. Muitas decisões nos Conselhos de ministros eram então tomadas por unanimidade, a Comissão Europeia vivia uma cultura de “proteção” dos interesses dos países mais pequenos e mais pobres, o âmbito das temáticas em que a Europa intervinha era bem menor e o Parlamento estava longe de possuir os poderes de que hoje dispõe. Além disso, a Europa comunitária de então era um “clube de ricos” com escassos “pobres” para contentar. Eram dias felizes.

Desde então tudo mudou. Dos “doze” de 1986, passámos agora a 28, com um quadro de interesses médios muito mais diverso. A utilização das votações por maioria, com o abandono progressivo da unanimidade, passou de exceção a regra. Com o modelo do Tratado de Lisboa, a Comissão perdeu poderes para o Conselho de ministros, onde o peso demográfico de cada Estado é a matriz central do processo decisório. Os 22 deputados portugueses são hoje uma gota de água no seio dos 736 membros do PE. E serão ainda menos, a partir de Maio.

Portugal tem hoje de operar numa União onde o padrão médio de interesses se afasta progressivamente dos seus e fá-lo com meios de afirmação de poder decisório cada vez mais reduzidos, em termos relativos. Esta é uma questão da maior sensibilidade, porque toca de perto a questão da legitimidade dos dirigentes nacionais perante os respetivos eleitores.

Quando um cidadão alemão ou francês vota para eleger os seus deputados nacionais, está indiretamente a escolher governantes que, à partida, têm garantida uma forte capacidade de intervenção nos Conselhos de ministros da União, porque se acolhem sob o chapéu de países com força institucional própria. Um eleitor português ou grego vai acabar por tomar consciência, um destes dias, de que está a escolher dirigentes que pesam muito pouco, mesmo em assuntos que lhes dizem diretamente respeito, e aos quais pouco mais resta do que a coreografia verbal à entrada ou saída das reuniões europeias, onde o sentido das decisões já está tomado, com ou sem a sua presença. Será por isso é que alguns já lá nem vão?

Artigo que hoje publico no "Diário Económico"

segunda-feira, março 17, 2014

Ainda o 16 de março

Há cinco anos, contei por aqui esta historieta, passada em 16 de março de 1974. Valeu-me, à época, comentários menos complacentes de algumas leitoras, como ainda se poderá ler nos comentários então publicados. Porque a idade, aumentando, diminuiu ainda mais o meu tropismo para o "politicamente correto", aqui reproduzo o episódio com quatro décadas, com um imenso abraço àquele que o titula e que, creio, não terá apetência para agora o relembrar. Aqui vai.

O António era um conquistador “nato” ou, como ele dizia, com graça e referindo-se às suas tendências esquerdistas, menos “Nato” e mais “Pacto de Varsóvia”.

Conheci-o em Paris, nos anos 60, onde estudava sociologia e levava uma bela vida, hospedado da cidade universitária, com um cheque mensal enviado pelo pai, um militar da Marinha que a Revolução havia de alcandorar na hierarquia. Vestia-se sempre impecavelmente, tinha um MGB GT que era a inveja de muitos, abancava com nocturna regularidade na barra do Gambrinus, onde espalhava a sua imensa simpatia e charme.

É claro que o facto de ser casado lhe limitava, naturalmente, o espaço de manobra para as aventuras, pelo que necessitava de montar alguns estratagemas para as levar a cabo. O que quase sempre conseguia.

Naquele mês de Março de 1974, ambos estávamos a prestar serviço como oficiais milicianos na EPAM (Escola Prática de Administração Militar), na Alameda das Linhas de Torres, no Lumiar. Um dia, o António pediu a minha ajuda para uma “operação”: telefonar à mulher dele, a meio da manhã, informando-a de que, inesperadamente, tinha ocorrido uma emergência e que ele fora enviado, com outros colegas, para um “exercício militar”, pelo que estaria incomunicável durante 48 horas. Devia acrescentar que era apenas um treino, pelo que não havia qualquer razão para ela se preocupar. Na lógica de uma velha (ainda que contestável, eu sei!) solidariedade masculina, prontifiquei-me a fazer a chamada telefónica.

O plano do António era arrancar cedo para a Ericeira, acompanhado de uma bela pequena, impante no seu MGB. Havia já assegurado, antecipadamente, uma folga no serviço, para que tudo corresse sem falhas. No seu caminho para a Ericeira, passou na Alameda das Linhas de Torres e do que se lembrou? De ir atestar o depósito de gasolina na unidade militar, onde o preço era muito mais barato. Esse era um dos privilégios que ninguém deixava de utilizar.

À chegada à EPAM, um complexo situado onde hoje é uma universidade, o António estranhou ao ver que os grandes portões de entrada estavam fechados, contrariamente ao que era habitual. Buzinou, aparecendo pela guarita a cabeça do sargento-de-guarda, o qual, reconhecendo-o, deixou entrar o MGB.

Só que a vida tem destas surpresas: estávamos precisamente no dia 16 de Março, as tropas fiéis ao general Spínola tinham-se amotinado na noite anterior nas Caldas da Rainha e a EPAM, como todas as unidades militares, estava, desde há horas, de rigorosa prevenção. Como era de regra nestes casos, todos os militares ficavam obrigatoriamente retidos em serviço.

O António já não foi autorizado a abandonar a unidade, recordo-me da sua fúria e do imenso gozo com que alguns de nós, conhecedores do “esquema” que acabara de se esboroar, vimos a pobre e bela amiga do António a ter de sair da EPAM, a pé, com um saco na mão, em busca de um táxi ou de um autocarro.

Por mim, livrei-me de ter de dizer uma mentira à mulher do António. Ele tinha agora um álibi imbatível.

domingo, março 16, 2014

Financial Times

Creio que nunca, neste blogue, foi publicado um texto em inglês. Mas, desta vez, decido abrir uma exceção. O "Financial Times", um dos melhores jornais do mundo, famoso pela sua infuência nos mercados e na elite das elites, inseriu, no seu número deste fim de semana, um artigo que, muito provavelmente, fará mais pela promoção dos vinhos portugueses no mundo que muitos "roadshows" que por aí se organizam.

A figura central do texto é João de Vallera, o embaixador português junto da corte de St. James. Ler o que sobre a sua ação surge no artigo é, para um velho amigo, um imenso orgulho e, para a sua profissão, que tão maltratada tem sido, uma saudável "vingança":

João de Vallera, Portuguese ambassador to the UK, and a confirmed enophile. Belgrave Square is one of London’s smartest addresses, giving its name to Belgravia, the rich kernel of one of the world’s richest cities. It is not the natural milieu of scruffy wine writers but, thanks to João de Vallera, the current, unusually wine-minded Portuguese ambassador to the Court of St James’s, we have all been trotting along to number 12 Belgrave Square on a regular basis. The Portuguese embassy is the handsome three-storey stucco mansion on the square’s northwestern corner (the Spanish ambassador lives on the southwestern corner) and so far, this year alone, it has been the setting for a Wine Society event showcasing the wines of Luis Pato; a Baga Friends celebration of the characteristic grape of the northern wine region of Bairrada; the 10th Wines of Portugal Awards dinner; and a presentation of the exciting table wines that the Douro Valley, home of port, is producing.

Tim Stanley-Clarke, wine trade veteran and UK representative of the Symington port family, says: “I would put João top of the vinous Richter scale of the Portuguese ambassadors I have known over the past 30 years. He really loves wine and knows quite a lot about it.”

Danny Cameron, the chairman of the association of Portuguese wine importers in the UK, is another fan. “He has a great sense of humour and a great sense of humanity. And, above all, he loves good wine. Whenever I have a meeting or telephone call with him, it’s never completely about the next event, or whatever else, because he always slips in a comment about something he has tasted recently, or wants to discuss a particular vintage of something.”

As I settled in to my seat next to de Vallera at the awards dinner in the frescoed dining room recently, he said with some pride that the room had recently housed a catwalk. “There are three areas I take a personal interest in,” he confided. “Fashion and textiles, tourism, and wine. And I am particularly keen on combining the last two.” He was then able to quote the number of hotel rooms occupied by Brits in Portugal last year and, almost, the number of glasses of wine they had drunk. But it is not as though wine is a particularly important export from Portugal. The ambassador reeled off statistics about the country’s exports of machinery, oil, vehicles – all more vital to the fragile Portuguese economy than fermented grape juice.

However, his heart is clearly in wine. According to several independent reports, he even keeps a cutting from this newspaper in his breast pocket, which showed that my average red wine scores are higher for Portuguese wine than for any other country’s. One of my informants adds: “It is really funny because it always takes him some time to find the photocopy among all the little papers he carries with him – but he shows it to literally hundreds of people.”

Portuguese wine producer Dirk van der Niepoort describes the ambassador as “very special, intelligent and really wants to do things for Portugal. He does a lot more than is his duty.” This is his third year in London and this will be his last post, after Dublin (1998-2000), Berlin (2002-2006) and Washington (2007-2010). In Berlin, de Vallera is proud of having converted the sommelier at one of the city’s top restaurants to Portuguese wines, so that by the time he left there were 14 Douro wines on the list. He also religiously attended the Prowein wine trade fair in Düsseldorf. In Washington, he famously shipped the Douro red Quinta do Vale Meão 2004, disguised as olive oil, that was the first Portuguese table wine to feature in the Wine Spectator magazine’s top 100. He was determined that arcane US prohibitions on moving alcohol from New York to the nation’s capital would not rob him of an opportunity to show off this new Portuguese achievement.

De Vallera earned his ambassadorial status after toiling 16 hours a day at the Maastricht negotiations in Brussels. “Then, as a young diplomat, I was very interested to witness the revolution in Portuguese wine, to see all these new, young winemakers emerging. You used to have to search for good Portuguese wine but now it’s difficult to find a bad one. And even the inexpensive ones are good,” he says delightedly.

He has a particular fondness for the Douro because his maternal grandfather had a port wine quinta there, in the Távora side-valley, the grapes being sold to Barros. He and his family spent every summer there. He was born in Angola, now the second most important export market for Portuguese wine after France, which imports huge quantities of basic port. The youngest of five and seriously threatened by liver disease, he was shipped back to his grandmother in Lisbon at the age of two and hardly saw his parents again until he was six.

As an attendee of the recent New Douro tasting in the embassy, I was struck by the unusual warmth of the atmosphere. So often, a tasting for the wine trade can feel rather impersonal and routine. There are various settings, often used by a range of exhibitors, which have all the charm of the National Exhibition Centre. But in the Portuguese embassy we really felt, rightly, as though we had been invited into someone’s home. The wines were truly exciting, not least because most of the reds were the products of the exceptional 2011 vintage in the Douro Valley. On these pages I have previously written that if you have reason to celebrate the year 2011, you might consider investing in 2011 vintage port. But the quantities made were very small and most of it has been squirrelled away in private collections by now. I would urge you to think seriously about the 2011 Douro red table wines too.

João de Vallera was very much in evidence at this Douro tasting, sauntering between the two handsome reception rooms with a smile framed by his neat, white naval beard, glass in hand and, often, with his beloved Olympus EPM2 round his neck. He even – and this is surely way beyond the call of diplomatic duty – emptied my spittoon.

Poema


Sou da geração errada, 
com licença, vou embora. 
E se a porta for fechada, 
ficamos todos cá fora.

Todos fora, com certeza, 
mas assim mesmo leais. 
Com menos lugares a mesa
as contas ficam normais.


Luis Castro Mendes

Casa da Sorte

 
"Eu não sou daqueles que fustiga o engenheiro Sócrates a dizer que ele é culpado por tudo o que se passa em Portugal. Acho essa ideia absolutamente caricata e ridícula. A principal culpa pelo que se passa em Portugal são fatores externos". (...). "Foi um primeiro-ministro com visão em várias áreas. Ele era vários deuses ao mesmo tempo, depois caiu em desgraça e passou a ser culpado de tudo. Isso é caricato. Ele foi um primeiro-ministro com várias qualidades, um chefe de governo com autoridade e capaz de impor a disciplina no seio do seu governo".

Quem disse isto, hoje, numa grande entrevista ao "Público"? Quando é que "anda a roda"?

sábado, março 15, 2014

Novo Rumo

A conferência "Um Novo Rumo para a Europa", que hoje me coube organizar em Lisboa, não foi o momento unanimista que alguns poderiam esperar. Era essa precisamente a ideia. Ao escolher alguns dos seus intervenientes, tínhamos a clara consciência de que, dentre as pessoas convidadas, unidas pelo desconforto perante a prática política da atual maioria, não existia uma total consonância de pontos de vista.

Isso foi patente, em especial, na questão do "manifesto" sobre a dívida pública. Diria que, sobre o tema, por ali ficaram claras três posições: os que defendem e subscrevem a iniciativa, os que estando de acordo no essencial com o diagonóstico contestam a sua oportunidade e os que abertamente discordam do texto. No termo das várias horas de debate, testemunhado por várias centenas de pessoas, perguntei-me a mim mesmo quantas forças políticas portuguesas teriam a abertura suficiente para acolher um exercício com esta diversidade opinativa sobre um tema tão central da nossa vida política. E, também por isso, dei-me por satisfeito pelo facto de ter tido oportunidade de coordená-lo.

sexta-feira, março 14, 2014

Crispação

Não deixa de ser preocupante e sintomática a polémica criada em torno do "manifesto" sobre a reestruturação da dívida pública portuguesa, apresentado por mais de 70 figuras da nossa vida pública.

Por um lado, estimulada pelo desagrado da reação oficial, desencadeou-se uma onda de acusações aos subscritores do documento, tidos por irresponsáveis e quase anti-patriotas. Setores da blogosfera e comentadores mediáticos na área do poder lançaram ataques de inusitada violência, onde, no fundo, transparecia este sentimento: o "manifesto" é um texto da esquerda a que, por oportunismo, ressabiamento ou "naiveté", certa direita se juntou, acabando por ser "compagnon de route" de uma iniciativa que, sem o afirmar expressamente, contesta a filosofia do modelo de ajustamento seguido. E isto é quase crime!

No outra banda, na margem esquerda, a atitude não foi menos ridícula. A menor crítica ao "manifesto" foi vista como uma ignorante negação da realidade, uma colagem culposa às posições oficiais, com os polícias ideológicos do costume a instaurarem um "rigoroso inquérito" a quem se afastasse da racionalidade da iniciativa. As menores dúvidas quanto à oportunidade da apresentação do texto, qualquer que fosse a opinião expressa sobre o seu conteúdo, foram tratadas com desprezo, qualificados os seus titulares de "direitistas" e, em alguns dos comentários, de "proto-fascistas". Também por aqui, o "patriotismo" só teve uma cor. Embora outra.

Que diabo de país em que nos transformámos, que já não consegue discutir nada com um mínimo de serenidade! E, pior que tudo, de seriedade.

Futebol português

Aos meus amigos de afeição lampiónica e andrade, deixo aqui um muito sincero abraço de parabéns pelas duas excelentes vitórias, que muito prestigiam o futebol português no plano internacional.

quinta-feira, março 13, 2014

José Policarpo

Em 1978, um grupo de cidadãos de diferentes cores políticas e oriundas de setores muito variados decidiu tomar uma iniciativa com o objetivo de reforçar a visibilidade das Nações Unidas no seio da sociedade portuguesa.

Por razões políticas, Portugal apenas em 1955 foi admitido na organização, isto é, cerca de dez anos após a sua criação. Quase de imediato, a política colonial do governo de Lisboa conduziu o país a uma crescente confrontação com diversas instâncias da ONU, que levaria mesmo à sua marginalização em algumas das suas agências especializadas. Na minha juventude, as Nações Unidas eram apresentadas como um "inimigo", uma instância em que Portugal era sistematicamente "atacado" e na qual a nossa diplomacia desenvolvia uma tenaz defesa das posições "ultramarinas" portuguesas. Com uma imprensa censurada, a imagem da ONU que a ditadura expunha tinha um tom sempre negativo, com a ação no seu seio dos países do "terceiro mundo", que apoiavam os "terroristas" que atacavam as nossas "possessões", a ser diariamente diabolizada.

O 25 de abril mudou a perceção de Portugal no plano externo, mas a imagem das Nações Unidas, das suas virtualidades, do fantástico trabalho dos seus diferentes órgãos e agências, ficou ainda longe de ser reconhecido entre nós. Creio que em inícios de 1978, fui contactado para fazer parte do grupo fundador de uma estrutura tendente à promoção da ONU em Portugal. Recordo que tivemos várias reuniões no escritório das Nações Unidas em Lisboa, no edifício Imaviz, tendo eu próprio sido o autor dos estatutos da ACNUP (Associação de Cooperação com as Nações Unidas em Portugal). Tendo partido para o estrangeiro em 1979, desliguei-me entretanto da associação.

Pus-me agora a pensar em pessoas que tinham estado entre os fundadores da ACNUP. Nomes como António Costa Lobo, Carlos Eurico da Costa, João Palmeiro e Rui Machete ocorreram à minha memória. E lembrei-me também que, entre nós, havia uma figura religiosa, um padre que tinha então a seu cargo o setor da comunicação do Patriarcado. Chamava-se José Policarpo.

quarta-feira, março 12, 2014

Demissões manifestas

Armando Sevinate Pinto e Vitor Martins, dois consultores do presidente da República, deixaram os lugares que ocupavam, por terem sido subscritores do "manifesto" que apela à reestruturação da dívida portuguesa.

Deixo aqui um forte abraço a ambos, pessoas por quem tenho um grande respeito intelectual e uma estima pessoal que vem de há muitos anos. Independentemente da posição que ontem aqui expressei sobre a oportunidade do "manifesto", trata-se de um texto cuja leitura vivamente recomendo.

Álvaro Salema

Se fosse vivo, Álvaro Salema faria 100 anos na data de hoje. Já dele falei aqui um dia, tendo também anotado o que Jorge Amado escreveu, aquando da sua morte, em 1991.

António Valdemar fez hoje sair no "Público" um excelente artigo sobre Álvaro Salema, que faz justiça a essa figura maior da cultura portuguesa, insuficientemente conhecida das novas gerações. Aqui deixo o link.

Haverá alguma universidade que se disponha a comemorar este centenário?

Forum das Políticas Públicas


Um Novo Rumo para a Europa

Programas

"New Pact for Europe"

New Pact for Europe

Stakeholders Meeting

Fundação Calouste Gulbenkian

Quinta, 13 mar 2014  |  10:00


Auditório 3

Programa10:00 | Sessão de abertura

Artur Santos Silva
Maria João Rodrigues

10:30 | Discussão sobre as opções estratégicas do projeto
Intervenções | Viriato Soromenho-Marques | Vítor Martins | João Ferreira do Amaral

Moderador | Francisco Seixas da Costa

11:25 | Debate

12:40 | Encerramento

Ver uma síntese possível do debate aqui

Queijos

Parabéns ao nosso excelente queijo!  Confesso que estou muito curioso sobre o que dirá a imprensa francesa nos próximos dias.