O resultado das eleições britânicas, confirmando de uma forma inesperada David Cameron em Downing Street, esmagando com fragor os trabalhistas, fazendo pagar aos liberais-democratas o estatuto de partido-muleta sem identidade apelativa, dando novo alento ao independentismo escocês e tornando irrelevante o euroceticismo radical, é a prova que o eleitor é livre e que as sondagens, particularmente num sistema como o britânico, valem o que valem - e, neste caso, valeram muito pouco.
O que sai daqui? Sai a óbvia necessidade de Cameron cumprir a promessa de, em 2017, fazer um referendo sobre se o Reino Unido quer ou não quer permanecer na Europa, o que vai transformar-se numa imensa pressão sobre a própria Europa no sentido de "dar" aos britânicos aquilo que eles necessitam para vencer este referendo, abrindo o dossiê da "devolution" de poderes europeus noutros países, a começar pela Finlândia. Sai a necessidade do "labour" se reinventar, seguramente com novo líder e sabe-se lá com que linha política, depois do fracasso do "new labour" de Blair e Brown, seguido desta derrota de "Red Ed". Sai o início de mais um ciclo da reconstrução dos liberais-democratas, que hoje pagam, e bem, o facto de não terem conseguido que, no acordo de há cinco anos com os conservadores, tivesse ficado preto-no-branco a aceitação do sistema proporcional (que os trabalhistas também detestam). Sai, muito provavelmente mais cedo do que esperado, um novo referendo sobre a independência da Escócia, que não é indiferente para os equilíbrios europeus (bom dia, Catalunha!). Sai a constatação de que ser eurocético não é necessariamente sinónimo de ser uma caricatura disso mesmo e que, para um votante médio, a direita tradicional faz bem esse papel, sem necessitar do folclore do UKIP.
Esta eleição é a vitória da política, da surpresa depois do encerrar das urnas, da rasteira dos votantes aos espertalhaços dos institutos de opinião. Ou, como diria Churchill, do facto da democracia provar ser o menos mau de todos os regimes. Mesmo que o resultado não agrade a alguns, como me acontece a mim no dia de hoje.