quinta-feira, junho 16, 2011

Cohn-Bendit e Portugal

Fico às vezes com a sensação que alguns deputados eleitos para o Parlamento Europeu adquirem, só por esse facto, um conhecimento, quase renascentista, que, a partir desse instante, os autoriza a falar de cátedra praticamente sobre tudo o que toca às relações internacionais. Está longe de ser o caso da maioria, mas sente-se que alguns dentre eles, qualquer que seja a sua nacionalidade, logo que eleitos para o areópago volante entre Bruxelas e Estrasburgo, se sentem ungidos por uma espécie de autoridade, não apenas pan-europeia, mas mesmo à escala global. Com a imprensa a adorar as belas e sonoras frases que podem dar títulos, está feito o "matching" ideal.

Desta vez foi a nossa agência "Lusa", que sabe-se lá por que luas, entrevistou em Bruxelas o dirigente "verde" francês Daniel Cohn-Bendit sobre a crise financeira internacional, nomeadamente sobre o caso português. O líder histórico do Maio 68, entre outros comentários, não se coibiu de dizer que pensa "que não existe consenso na sociedade portuguesa quanto aos passos que devem ser tomados, nem uma visão concreta sobre que tipo de medidas para além de uma política de austeridade e de reforma". Tendo acrescentado: "não vejo ou ouço - mas posso estar cego ou surdo - que na actual situação a sociedade portuguesa diga que é preciso arregaçar as mangas e percorrer esse caminho".

Não é verdade. O deputado Cohn-Bendit não está "cego ou surdo", está é mal informado sobre o sentido largamente maioritário da expressão do voto popular português nas eleições de 5 de junho, bem como sobre o histórico de aplicação de anteriores pacotes de reforma económico-financeira no nosso país.

Se acaso estas declarações de Daniel Cohn-Bendit tivessem sido proferidas na imprensa francesa teriam tido, de imediato, a resposta pública e completa do embaixador português em França. Mas a verdade é que aqui ninguém se lembraria de o consultar sobre isto...

Em tempo: dito e confirmado o que disse, acho que o sr. Cohn-Bendit afirmou coisas interessantes sobre a política europeia na intervenção reportada no video que um comentário lembrou.

14 comentários:

Fada do bosque disse...

Pois sr. Embaixador... Conh Bendit pode até estar enganado, o que não me parece que assim seja realmente, se se contar a abstenção, os votos nulos e em branco... é um consenso muito relativo.. não o considero largamente maioritário, mas admito estar enganada. Mas está decidido. Entretanto ainda bem que esse senhor tem essa característica e se sinta ungido de tal autoridade nos areópagos europeus, senão como íriamos nós saber desta farsa que se passa nos cenários da alta política?

Carlos Cristo disse...

Caríssimo Francisco

Tendo a concordar com o Deputado, ou estarei mal informado sobre a apatia política lusa e sobre a falta de criatividade dos políticos da esquerda à direita?

Anónimo disse...

Também temos uns “Quão-Benditos” por cá, que falam de tudo e mais alguma coisa, de cátedra, de pé, sentados, enfim, como lhes apraz.
Esse ao menos teve a sua graça em tempos idos!
P.Rufino

Anónimo disse...

Totalmente de acordo com o comentário da 'Fada do bosque'. Muito obrigado pelo 'video'.

JCM

cunha ribeiro disse...

Graças à Fada do Bosque ( belo nome para um conto infantil...)- que saúdo - pude ouvir o enorme discurso de C.B.
A referência à venda de armamento à Grécia é de atordoar o espírito de qualquer cidadão. Sobretudo dos menos conhecedores da política eurofágica e interesseira dos países mais ricos da Europa...

Anónimo disse...

Não disse nada de errado, só demonstrou conhecer o actual momento da sociedade portuguesa. Como português, a viver em Portugal e considerando-me bem informado - só posso concordar a 100% com o Senhor Conh Bendit

Anónimo disse...

Grande Fada!

Luís Bonifácio disse...

Cohen Bendit desde que apareceu ao mundo está mal informado, não quer ser informado e informa mal.

É uma besta que não faz falta!

Helena Oneto disse...

Senhor Embaixador,

Subscrevo o comentário da “Fada do Bosque”: o consenso quanto aos resultados da eleições é relativo: os resultados, que dão + ou - 38% ao PSD e + ou - 11% ao CDS referem-se apenas aos votos exprimidos. Os votos brancos ou nulos e os 41% de abstenções, mesmo depurados dos eleitores-fantasma ou falecidos, representam motivo suficiente para pensar nas razões do desinteresse, nas suas causas e razões.

3 – Não há, hélas, consenso no seio da sociedade portuguesa -digo sociedade- quanto aos passos que devem ser tomados para o cumprimento das medidas de austeridade impostas pela troika e as que são anunciadas pelo futuro chefe do governo. Basta abrir os olhos e os ouvidos.

O politicamente incorrecto Daniel Cohn-Bendit disse, há mais de um ano, alto e bom som (o vídeo prova-o), o que muitos não ousam sequer pensar.

Bien à vous!

Cunha Ribeiro disse...

Se o C. Bendit fosse besta, o Parlamento seria o quê, LB?

Anónimo disse...

A arrogância atual dos detentores do dinheiro, a que os políticos se submetem, é das mais pungentes da história recente.
Comparado ao que urge fazer, Conh Bendit é um menino de coro.
As unções nos areópagos deveriam ser mais redentoras da alta POLÍTICA.

Rui Franco disse...

No meio a virtude: conforme disse o PR, quem não votou, perdeu a razão. Vai daí... o consenso interessa no que diz respeito aos votos expressos. Há, portanto, consenso quanto às medidas. Ou haveria, caso pensássemos que o cidadão, ao votar, está a pensar em medidas e programas de governo e não em caras ou partidarites.

Sendo assim, tem razão o Embaixador, ao apoiar-se na votação para afirmar a existência de consenso.

O resto, os que resmungam mas não votam, os que votam mas não pensam... olhem: azar!

Quanto às abstenções, entendamo-nos de uma vez por todas: há uma legião de "fantasmas" ou não? Se há, porquê bater na tecla dos abstencionistas? Se não há, porquê insistir na limpeza dos cadernos?

Anónimo disse...

"o sentido largamente maioritário do voto popular no dia 5 de junho" - seja lá isso o que for - o que é que tem a ver com o que disse Cohn Bendit? Ora essa!

Carlos Cristo disse...

Eu não tinha visto o vídeo.

Viva o meu ídolo de 68 !!!!!

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...