segunda-feira, dezembro 07, 2015

Manuel Pinto Machado


Conheci Manuel Pinto Machado há muitos anos, quando era um colaborador muito próximo de Adelino Amaro da Costa. Fomo-nos encontrando por aí, ao longo dos anos, nomeadamente ao tempo em que foi a figura central da UCCLA.

Há pouco mais de um ano, tive o gosto de o encontrar, aquando de uma palestra que fiz no Instituto Democracia e Liberdade - Adelino Amaro da Costa, a  que ele me deu o gosto de assistir. Conversámos então pela última vez, como a imagem documenta. Soube agora que a vida lhe pregou a partida decisiva. Aqui fica o registo sentido.

domingo, dezembro 06, 2015

França

Mais número menos número, os resultados das eleições regionais francesas, cuja primeira volta teve lugar hoje, revelaram que um em cada três franceses favorece a linha política de Marine Le Pen, a lider do "Front National", o partido criado pelo seu pai e para o qual tem vindo a conquistar uma posição cada vez mais sólida da política francesa. 

Ao longo dos últimos anos, Marine Le Pen cuidou em afastar-se de algumas das bandeiras mais repugnantes que Jean-Marie Le Pen sempre teimou em titular, tais como a desculpabilização do colaboracionismo com a Alemanha nazi, a desvalorização dos crimes contra a humanidade praticados pelo regime hitleriano e uma diversidade de tomadas de posição racistas e xenófobas que o tinham tornado "infréquentable" no cenário político francês.

Explorando os receios provocados pela crise económico-social, com fortes impactos no emprego, pela insegurança pública e, mais recentemente, pelo agravamento dos choques culturais e religiosos que o advento do islamismo radical consagrou, Marine Le Pen estruturou um discurso nacionalista de "proteção" dos franceses, que se revela crescentemente apelativo. Nestas que são as últimas eleições antes das presidenciais de 2017, um bom resultado para o "Front National" representará a confirmação de uma deriva em direção a uma França cada vez mais radicalmente conservadora.

A direita democrática, representada pelo "Republicanos" do regressado Nicolas Sarkozy, vai situar-se neste sufrágio acima do Partido Socialista de François Hollande, que não conseguiu capitalizar a melhoria da apreciação de imagem que a forma como geriu a crise securitária lhe havia trazido nas sondagens. Há quem pense que Sarkozy poderá ser tentado a radicalizar o seu discurso político, disputando franjas do eleitorado de Le Pen, o que não deixará de trazer consequências importantes no equilíbrio político interno do país.

Os próximos tempos confirmarão se o crescimento eleitoral do partido de Marine Le Pen virá ou não a atingir valores ainda mais elevados. Se isso ocorrer, se passar a ser vista como uma potencial vencedora das eleições presidenciais de 2017, com imediato impacto no panorama legislativo e governamental, então a França do futuro será uma outra coisa muito diferente. E a Europa também, claro. Será então tarde para os setores da comunidade portuguesa, que hoje se deixam seduzir pelas propostas do "Front National", perceberem o embuste em que caíram e o que lhes pode vir a acontecer.

O segredo (de polichinelo) de justiça

Diz S. Exª a senhora Procuradora-Geral da República, citada por um jornal: "Todos os magistrados do Ministério Público, todos os magistrados judiciais, todos os funcionários, todos os advogados e todos os intervenientes que por qualquer forma tenham acesso aos processos têm de fazer um esforço conjunto" sobre as quebras de segredo de justiça.

Um "esforço conjunto"? E não ajudaria a esse "esforço" se os inquéritos da PGR sobre as quebras do segredo de justiça no seu seio fossem conclusivos, se dessem origem a processos e decisões disciplinares? Quantos magistrados e funcionários foram até hoje punidos por esses crimes diários? Será que os vários inquéritos sobre a quebra do segredo de justiça ainda estarão ... em segredo de justiça? E qual será a razão que faz com que, nestes casos, e curiosamente, não surjam "quebras" desse segredo? E já repararam que na lista de "intervenientes" a senhora Procuradora-Geral evitou mencionar a palavra "jornalistas"?

Detesto que servidores públicos pagos pelos nossos impostos queiram tomar-nos por parvos. Foi o que fez a senhora Procuradora-Geral com esta sua declaração.

Os izes


Ontem à noite, estive a assistir ao Marítimo-Sporting num café de uma pequena aldeia transmontana. Conheço muito bem aquele espaço desde a minha infância, passo por lá todos os anos, embora muito brevemente, e ainda me recordo dele quando aquela era a única loja comercial a alguns quilómetros de distância. Por ali se vendia um pouco de tudo, funcionando num misto de tasca e de mercearia, ambiente que era muito típico do Portugal rural.

Ao olhar os jovens donos que a loja hoje tem, lembrei-me de uma historieta que sempre ouvia na minha infância e que envolvia uma senhora que, nos anos 30 e 40 do século passado, foi proprietária dessa "venda".

Ao que se contava, as crianças da aldeia, quando agarravam uns escassos tostões, passavam por lá para comprar umas pequenas bolachas que reproduziam as diversas letras do alfabeto, uma novidade que tinha surgido na oferta da "venda". Os miúdos selecionavam, na lata das bolachas, as letras que lhes apeteciam. A dona da loja deu-se no entanto conta de que certas letras, porque mais pequenas em dimensão, iam ficando para trás e assim não eram escoadas. Um dia, a senhora, desagradada com a escolha dos miúdos, reagiu, com a linguagem e na sonoridade da aldeia, numa frase que faz parte da minha mais antiga memória:

- Isto não pode ser! Só lebaides os mezes e os nezes. Habeisde comer também os izes...

Alguém quer hoje comer os "izes"?

Boas festas

Tenho um amigo que, desde há anos, tem por hábito enviar os seus votos de Boas Festas por SMS, ainda durante o mês de novembro. É uma prática algo bizarra, mas já todos nos habituámos a ela. Alguns de nós, na resposta e retribuição que damos, não deixamos às vezes de aludir ironicamente ao insólito do facto.

Este ano, um desses amigos, teve uma resposta interessante: "Agradeço e retribuo e, desde já, aproveito para lhe enviar votos de muito Boa Páscoa".

sábado, dezembro 05, 2015

Debater a Europa


Com António Lobo Xavier, conversei na noite de ontem, em Vila Real, à volta do tema "Portugal na Europa e no euro", perante umas largas dezenas de pessoas que se inscreveram para o jantar promovido pelo restaurante "Cais da Vila" e o escritório de advogados "Cavaleiro & Associados", em mais uma iniciativa integrada no ciclo de debates "Portugal e os Caminhos do Futuro".

Os novos desafios colocados a Portugal pelas profundas mudanças ocorridas na Europa, neste quase trinta anos de presença portuguesa nas instituições comunitárias, em especial as exigências decorrentes da pertença ao euro, foram o eixo das nossas intervenções, complementadas com um debate vivo e interessado por parte do público.

Ando há muitos anos a discutir a Europa e o papel de Portugal no seu seio. O tema é o mesmo, mas é sempre diferente. Não deixa de ser curioso verificar que a Europa nos surpreende, a cada dia, com o surgimento de novas prioridades, com a emergência de novas urgências, que exigem respostas cada vez mais rápidas. O ceticismo que existe sobre a capacidade da Europa enquanto potência convive com a consciência subliminar coletiva de que é no seu seio, e já não necessariamente no espaço das ordens políticas nacionais, que é possível encontrar as soluções mais eficazes para os grandes problemas do continente.

Em tempo: um blogue fez uma síntese em dois posts do debate.

Uma agenda para o mundo

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O governo de António Costa parece determinado em dar à política externa um lugar de topo nas suas preocupações. O facto do Ministro dos Negócios Estrangeiros ser o segundo na hierarquia do executivo, e de ter sido escolhido para o posto um qualificado “peso pesado” socialista, é disso prova evidente. Se a isso somarmos a circunstância do MNE ter, pela primeira vez, quatro secretários de Estado, um dos quais dedicado exclusivamente à internacionalização da economia – que é outra maneira de dizer que coordena a AICEP -, fica claro que as Necessidades passam a ter um forte controlo sobre toda a ação externa.

Depois de um tempo em que a obsessão financeira fez estiolar a nossa afirmação internacional, as tarefas de Augusto Santos Silva e da sua equipa são muito exigentes. No plano europeu, vai ser necessário, desde logo … criar uma política! Sem prejuízo da centralidade inevitável das relações com Berlim, é tempo de explorar uma nova geometria variável de alianças, começando por uma participação ativa nas grandes reflexões temáticas europeias. O respeito pelos compromissos assumidos por Portugal em nada é contraditório com a sua eventual associação à revisão de quadros institucionais que o futuro venha a determinar como necessária.
   
A voz e as posições portuguesas têm de ser fazer ouvir, com determinação e coerência, nos grandes debates que aí estão – desde a governança do euro à política de refugiados, do combate ao terrorismo às relações com a Rússia, de uma resposta firme à provocadora agenda de “devolution” britânica até à fixação dos termos da Parceria Transatlântica. E, desde já, será necessário fixar uma posição portuguesa muito clara na revisão do acordo de Schengen e na coordenação das políticas migratórias, bem como definir cuidadosamente o grau de envolvimento nacional no combate coletivo ao Estado islâmico.

Para atenuar o insensato alarmismo lançado pelo chefe de Estado, o governo necessita de diluir rapidamente quaisquer preocupações criadas em torno dos compromissos nacionais no domínio transatlântico. As relações com Washington têm de ser cuidadas desde a primeira hora e a sequência do tratamento da questão das Lages será uma boa oportunidade para tal.

Independentemente do seu futuro político, a Espanha permanecerá o nosso primeiro parceiro comercial. As nossas relações passam por Madrid, e só por Madrid, se me faço entender. Por isso, não nos sendo indiferentes, as questões intra-espanholas continuarão a ser apenas isso mesmo.

Um terreno interessante, que parece pedir um “restart”, é a questão lusófona, com a política da língua associada. Lançar um debate sobre a CPLP, aproveitando para tal a futura presidência do Brasil e o facto do novo secretário-executivo vir a ser um português, pode ser uma oportunidade interessante, até para desmentir a ideia de que os socialistas não se sentem à vontade com os dossiês africanos. Um primeiro teste terá de ser, desde logo, a questão das relações com Angola, um tema delicado mas, como agora se diz, realmente incontornável, para o qual se espera que os partidos apoiantes do governo no parlamento, pelo menos, não atrapalhem.

Importa também, sem ceder a demagogias, retificar alguns erros crassos que se fizeram nos últimos anos em matéria da rede e da estrutura das missões diplomáticas e consulares, aproveitando para tentar refletir sobre o modelo do relacionamento com uma diáspora em crescente mutação.

E, “last but not least”, é da maior importância garantir um acompanhamento, eficaz mas sem o foguetório promocional recente, do extraordinário trabalho das nossas empresas no exterior, procurando, em paralelo, captar investimento produtivo e manter o turismo nas grandes prioridades da economia nacional.

Conhecendo os novos governantes e a dedicação e qualidade da nossa máquina diplomática, devo confessar que me sinto bastante otimista.

(Artigo que hoje publico a convite do "Diário de Notícias")

Entrevista ao Jornal i


sexta-feira, dezembro 04, 2015

Em que ficamos?


Há pouco tempo, assistimos a um espetáculo insólito: no dia em que o governo minoritário PSD/CDS foi derrubado na AR, sindicatos ligados à CGTP organizaram uma manifestação em frente de S. Bento. 

Em Portugal, ninguém põe em causa o direito de reunião de quem quer que seja, dos sindicalistas ao grupo de “tias” que então contestou a legitimidade da união das esquerdas. O 25 de abril fez-se para isso mesmo. 

É essa liberdade que reivindico para exprimir o desconforto que senti com a realização dessa manifestação (a outra era mero folclore e deve ter acabado nos antiquários de S. Bento, p’cebe?). No momento em que, cá dentro e lá fora, se suscitavam fantasmas sobre a inédita opção de António Costa, “cercar” o parlamento traria inevitavelmente à memória o triste episódio de há 40 anos, quando sindicalistas, sob a cobardia ou a impotência do MFA, sequestraram os deputados à Assembleia Constituinte. 

Desta vez é diferente? É, mas não deixa de ser de uma imensa inoportunidade. Além disso, o gesto funcionou como um recado aos representantes eleitos do povo: “lembrem-se de que estamos aqui, que, se as vossas decisões nos não agradarem, cá estaremos na rua para vos contestar”. É como se a vontade expressa pelo povo português nas eleições legislativas ficasse refém dos interesses corporativos das tropas do senhor Arménio Carlos.

Talvez seja ingénuo, porque não estou no segredo dos deuses das conversas “das esquerdas”. Porém, tinha por adquirido que um governo do PS, com o inédito apoio parlamentar do PCP (o Bloco é irrelevante para esta história), poderia vir a contar com um apaziguamento relativo das tensões sindicais, pelo menos por algum tempo. Ao assumir o gesto de reverter o processo de privatização de algumas empresas públicas de transportes, o PS havia dado um passo com um elevado custo, no mínimo político. A gratidão não é um conceito da vida pública, mas imaginei que, pelo menos até assentar a poeira desta crise, os sindicatos revelassem alguma contenção.

Pois não senhor! O que se anuncia é uma onda de greves, nomeadamente na área dos falidos transportes públicos, o setor onde o governo assumiu o mais difícil dos seus gestos. Já se percebeu que a estratégia do senhor Arménio Carlos – estranho já o silêncio do senhor Mário Nogueira, com certeza desejoso de reeditar a miserável campanha que organizou contra Maria de Lurdes Rodrigues – é “esticar a corda”, agora que o saldo financeiro das quotizações sindicais já está garantido nos bolsos da CGTP.

E o PCP, de cujo Comité Central estas figuras fazem parte? Não tem nada a dizer sobre isto?

(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")

quinta-feira, dezembro 03, 2015

Cúmulo

Aquele velho e prestigiado diplomata, que ocupava o lugar de topo da hierarquia da carreira das Necessidades, ouvia com atenção a opinião sobre um funcionário que recentemente fora colocado numa determinada função. As primeiras avaliações sobre ele eram dececionantes. Porém, por razões legais, tão cedo não seria possível mudá-lo de tarefas. O dirigente que lhe transmitia o parecer foi ao ponto de afirmar que o homem lhe parecia, muito simplesmente, "estúpido".

O chefe da carreira perguntou então:

- E ele trabalha?

A resposta também não foi animadora. Além de pouco dotado, o funcionário não era dedicado ao serviço e trabalhava muito pouco.

- Ótimo!

O dirigente que qualificava o funcionário ficou baralhado. Por que razão era "ótimo" que ele fosse um mau funcionário, para além de ser pouco dotado?

- Ó homem, se ele tem de ser estúpido, ao menos que seja preguiçoso...

Brasil

Jantei na noite de ontem com um amigo, diplomata de um importante país europeu, que comigo coincidiu como embaixador no Brasil. Disse-me da tristeza com que estava a seguir a situação naquele país e, muito em especial, o seu sentimento de que a linha de rumo hoje confirmada, com o início do processo de afastamento da presidente Dilma Russeff, lhe parecia poder vir a desencadear uma crise que muito afetaria a imagem do Brasil no mundo. 

Sou da mesma opinião. O facto desse processo ser desencadeado por um presidente da Câmara de Deputados sobre o qual impendem graves acusações, deixando a ideia de que se está perante um mero processo retaliatório, torna tudo muito mais estranho, o que parece encaminhar o Brasil para uma crise institucional muito grave.

Nunca vi aquele país tão dividido. Nem no tempo da ditadura militar, ao que me recordo, se sentia este ambiente confrontacional. Chega a ser incomodativo falar com alguns amigos brasileiros, de tal forma a polarização está acesa no debate popular. Tenho assistido, em situações sociais, a uma agressividade entre as pessoas que julgava que não regressaria ao debate político dessa grande democracia da América do Sul. Há dias, num jantar, referi a minha amizade pessoal por uma figura secundária, ligada ao atual poder político. O ar de quase desprezo com que, de imediato, fui olhado por vários dos presente revelou-me o tempo de intolerância que se atravessa.

Sou apenas um observador estrangeiro e é aos brasileiros que compete definir o seu destino. Porém, como sincero amigo do país, não consigo deixar de ter opinião sobre uma realidade política que acompanhei bem de perto. Não tendo a menor simpatia pessoal por Dilma Rousseff, cuja atitude negativa face a Portugal me parece uma evidência, devo contudo dizer que os dados que conheço sobre o processo de "impeachment" que lhe diz respeito me parece serem muito mais uma espécie de "terceira volta", por via parlamentar, das eleições de há pouco mais de um ano do que um caso com reais fundamentos juridico-políticos. E isto é muito perigoso para o prestígio do país Brasil na ordem internacional.  

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Stiglitz


Foi uma interessante e muito concorrida sessão aquela que a Fundação Calouste Gulbenkian ontem organizou, com a conferência do prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz. A apresentação, substantiva e profunda, feita pelo presidente da Fundação, Artur Santos Silva, valorizou ainda mais o momento.

Sei que o convite ao economista liberal americano (e o conceito de "liberal" é, nos EUA, praticamente o oposto da noção que a Europa dele tem) foi formulado já há muitos meses, mas quase se poderia considerar, por aquilo que Stiglitz disse, que tinha vindo a Lisboa para apoiar abertamente o governo socialista no poder, tal foi a identidade de pontos de vista que manifestou com o programa do novo executivo. Diria mesmo que, em certos aspetos, Stiglitz foi bem mais ousado do que as ideias económicas de Mário Centeno.

Curioso foi também o ataque mortífero que Stiglitz fez à Parceria Transatlântica, perante o olhar fortement desaprovador do embaixador americano em Portugal, Robert Shearman, que tanto se tem esforçado por promover esta iniciativa entre nós. O apoio da sala às fortes críticas de Stiglitz deve ter levado Shearman a pensar que, às vezes, a vida de um diplomata não é nada fácil... 

Forum do Centro Norte-Sul


Numa iniciativa do Centro Norte-Sul, do Conselho da Europa, tem lugar em Lisboa, em 3 e 4 de dezembro, mais um Forum anual desta estrutura sedeada em Portugal, desta vez dedicada ao oportuníssimo tema "Como combater a radicalização e o terrorismo: instrumentos de prevenção e conhecimento partilhado no espaço europeu e mediterrânico", com a presença de participantes oriundos de 40 países.

Lamento não poder corresponder, por virtude de outros compromissos, ao convite que me foi formulado para participar neste Forum, que desde há vários anos tem sabido congregar vozes de ambas as margens do Mediterrâneo, na persistente promoção de um diálogo pela paz e pelo entendimento.

Quero deixar aqui expressa a minha continuada admiração pelo magnífico trabalho que o CNS tem vindo a desenvolver, com uma pequena mas muito qualificada equipa, dirigida pelo diplomata Frederico Ludovice, que, vai para dois anos, me sucedeu na direção executiva do Centro. É graças ao seu entusiasmo e competência - e, convém deixar claro, também ao apoio permanenente do Ministério português dos Negócios Estrangeiros, nomeadamente da nossa missão junto do Conselho da Europa, dirigida pelo embaixador Luis Castro Mendes - que tem sido possível continuar a assegurar a existência do Centro Norte-Sul, que tem já um quarto de século de vida.

terça-feira, dezembro 01, 2015

Ainda a tempo do primeiro de dezembro


"Portugal divided by austerity"


No preciso dia em que passou a ser propriedade de um grupo japonês (seria interessante verificar o que de importante permanece hoje 100% em mãos britânicas, lá pelo Reino Unido), o mais influente órgão de imprensa financeira do mundo, o "Financial Times", insere hoje um suplemento sobre Portugal, com o subtítulo "Investing in Portugal" e com o título de "Portugal divided by austerity".

Tive o gosto de fazer parte das pessoas ouvidas pelo "Financial Times", com Pedro Ferraz da Costa, António Costa, Mário Centeno, António Barroso, Catarina Martins, Arménio Carlos e Pedro Santa-Clara.

Fortunato da Câmara


Será hoje, terça-feira, dia 1 de dezembro, pelas 19.00 horas, na FNAC do Chiado, que Fortunato da Câmara, crítico gastronómico do "Expresso", onde tem hoje a imensa responsabilidade de substituir José Quitério, apresenta este seu novo livro, um curioso trabalho que assume como "um manual bem-humorado para quem gosta de comida e restaurantes".

Há anos, tive o gosto de prefaciar, bem como de apresentar, neste mesmo local (e também no Porto), o seu "Os Mistérios do Abade de Priscos e outras histórias curiosas e deliciosas da gastronomia", um livro que foi um sucesso editorial. Espero, sinceramente, que este também o seja.  

A pedido de várias famílias...

Parece que o filtro que introduzi nos comentários está a pôr a cabeça em água a muita gente, que não está inscrita no Google nem sabe como isso se faz. Além disso, a saída do Facebook levou a que várias pessoas deixassem de poder dizer fosse o que fosse sobre o que por aqui escrevo. Por isso, "a pedido de várias famílias", como antigamente se dizia, voltamos à fórmula inicial. Cá me encarregarei de ser eu o filtro, embora a partir de agora com bastante menos paciência para ser masoquista na aceitação de insultos ou insídias, não obstante admitir naturalmente a crítica serena e educada. Quem quiser comentar e não tiver conta, assinale no quadradinho "Anónimo", escreva o que quiser e, no final, se lhe apetecer, coloque (ou não) o seu nome.

Fernando Pessoa


Fernando Pessoa morreu faz agora 80 anos. Foi uma figura complexa, de afetos e desafetos não lineares, como a sua poesia deixa transparecer. Sobre Salazar escreveu isto, que tem a sua graça: 


António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
Água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas afinal é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

(Poema de Fernando Pessoa)

segunda-feira, novembro 30, 2015

Reacionário me confesso...


A pressa (qual é a pressa?) de legislar para acabar com o exame da "quarta classe" (sou de um outro tempo, pois claro) é algo que não consigo entender. Ou melhor: posso perceber que estas micro-agendas dos "compagnons de route" do PS possam fazer sentido para eles, mobilizados por temáticas modernaças e de "contemporaneidade". Mas não entendo por que é que o PS vai a reboque delas.

O exame colocava "stress" nas criancinhas? Claro que sim! E depois? Lembro-me de ter dormido muito mal antes do meu exame da "quarta classe", de ter tido pesadelos nas vésperas do "exame de admissão" ao liceu (e fiz também à Escola Comercial e Industrial, não fosse dar-se o caso de reprovar no liceu). E o que eu passei, entre angústias e insónias, antes da montanha de exames do 2º ano do liceu, com os meus pobres 12 anos. E as noites longas, a "marrar" temas áridos de História do Matoso (do outro) no 5º ano? Ou a decorar as funções da Câmara Corporativa, no exame de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação) do 7º ano? (Saí com com 20 - vinte, ouviram?).

Tive suores frios, tomei Fosfero Ferrero, desesperei, perdi horas, sublinhei, reli alto, decorei montes de coisas inúteis, para poder estar preparado para todos os muitos exames que fiz ao longo da minha vida? Claro que sim. E também "chumbei" em alguns, perdi um ano inteiro, tive de repetir cadeiras (em segunda e terceira "época") e, nem por isso, tive depressões ou me suicidei ou sequer fiquei psicologicamente afetadoo. E, claro, fiz exames para o meu primeiro emprego público, passei na prova exigentíssima para a minha segunda e última profissão e, querem saber?, dei-os a todos por muito bem empregados. Endureci na vida, "saiu-me do pêlo", aprendi (sem gravurinhas para amenizar a dificuldade dos temas) o que tinha de aprender, se calhar ainda menos do que devia mas, de certeza!, muito mais do que aquilo que observo (e mais não digo!) na esmagadora maioria dos alunos que agora tenho. E, com tudo isso, construí uma carreira e progredi e tive nela o sucesso que consegui ter - sempre com todas essas chatices, essas tensões, essas exigências, essas muitas horas de trabalho e de esforço. Teria tudo sido melhor se tivesse tido menos exames, se tudo fosse de avaliação mais "diacrónica" e menos "sincrónica"? Não sou dado a teses de que "no meu tempo é que era bom", mas que não vejo a menor desvantagem nessa aferição pontual de conhecimentos que os exames constituem, lá isso é verdade.

Volto ao princípio. Percebo que o Bloco de Esquerda tenha esse tipo de agendas. Já percebo menos que o PS se deixe ir nessa onda "modernaça", que entre pelo facilitismo, que queira reverter a obrigatoriedade dos exames para a miudagem, os quais, é sabido, podem provocar stresses, angústias e tremores, mas que não matam ninguém e ajudam os miúdos a perceber que a vida não é um armazém do Toys r Us e que não há nenhum direito divino às playstations, às roupas de marca e aos hamburgers na Disneylândia. 

E já agora, também não percebo que se volte atrás na exigência dos exames àqueles que querem ser professores. Eu também fiz um exame de admissão profissional, depois de acabado o curso. Às tantas, talvez valesse mesmo a pena que alguns dos docentes atualmente em atividade, que por vezes andam aí com um ar que converte os arrumadores de carros em "gentlemen" do Downton Abbey, que devem funcionam como "belos" exemplos e modelos para as crianças, fossem também obrigados a efetuar provas a meio da carreira. E a alguns outros profissionais, tal como os diplomatas, menos do que avaliação contínua muito deficiente como a que hoje têm com o famigerado Siadap, talvez uns examezitos a meio do percurso lhe não fizesse mal e os forçasse a atualizarem-se e a ler mais.

Isso, aliás, devia ser obrigatório para os ex-professores que "sindicalizaram" grande parte da sua vida, por forma a se aferir se já "perderam a mão". Ou não será estranho que esse tal de Mário Nogueira, que regularmente agita o bigode, a raiva e o verbo pelas grades da multidão com cartazes na 5 de outubro, tenha dado a sua última aula presumo que ainda antes do novo ministro da Educação nascer?

"Estás um bom reacionário, estás!", já estou a ouvir de algumas amigas e amigos, daqui a horas, quando lerem este post. E então dos corajosos anónimos que por aí polulam vai ser um fartote. Mas, como costumava dizer uma sobrinha minha, na sua infância: e a mim que me importa!

E agora, Francisca?

O que se passou na noite de ontem, com a transmissão pela CMTV de parte do interrogatório do ex-ministro Miguel Macedo e do ex-diretor do SEF Manuel Palos, pode representar um teste muito importante para o futuro do nosso regime democrático e da determinação do governo que acaba de tomar posse em defendê-lo. Estou a exagerar? Acho que não.

Vou ser muito claro. O caso Sócrates vem a demonstrar, desde há muito, a existência de um ambiente de conivência entre setores do sistema judicial e alguns órgãos de comunicação social. Com razão ou sem ela, está instalada a ideia de que a acusação terá procurado garantir junto da opinião pública um apoio para o "peso" que significava ter um antigo primeiro-ministro detido. O método escolhido terá sido "alambicar" informação sobre o andamento do respetivo processo, credibilizando progressivamente as suspeitas, dessa forma garantindo que o vasto setor da opinião pública portuguesa que detesta José Sócrates acabaria por constituir um espécie de "clube de fãs" que iria servir de escudo protetor do procurador e do juíz que têm o caso a seu cargo. Com o país dividido entre os que detestam José Sócrates, e que acham que tudo o que dele se diz de mal - do curso ao "Freeport", da corrupção à fraude fiscal e "tutti quanti" - é pura verdade, e os que juram a pés juntos que este processo mais não é uma vil cabala inventada pelos seus inimigos de A a Z, está instalado à volta do processo do antigo primeiro-ministro uma espécie de "empate" técnico. 

A propósito da responsabilidade criminal sobre os "leaks" que regularmente continuam a sair para a imprensa sobre o processo Sócrates, terá já havido inquéritos - "rigorosos" como é de bom tom dizer-se - mas os respetivos resultados parecem manter-se por detrás dos sorrisos esfíngicos da senhora Procuradora-Geral da República quando, com estranha raridade, algumas perguntas lhe são colocadas sobre o assunto. O país parece mesmo conviver com isto com curiosa naturalidade, sendo que a menor das surpresas ainda será assistir ao silêncio de chumbo que Belém preserva sobre estes atentados à integridade do sistema judicial pelo qual, recorde-se, também lhe compete velar.

Ontem, porém, abriu-se um capítulo novo e a cuscuvilhice sobre processos envolvendo figuras mais ou menos famosas foi bastante mais longe, ao termos assistido às incríveis imagens televisivas de Miguel Macedo e Manuel Palos a serem interrogados por uma procuradora. Por mim, ao ver àquilo, senti-me enojado e triste, com um sentimento de vergonha pela justiça do meu país - e não é por acaso que hoje não uso maiúscula para a qualificar. Não conheço nem nunca falei com Miguel Macedo, figura política que, tanto quanto sei, não suscitará uma polarização de simpatia/antipatia como é o caso de Sócrates. Quero com isto dizer que, salvo a menina do CMTV que logo cuidou de avisar que se tratava de imagens "de interesse público", o país não vai acordar amanhã com grupos de cidadãos a defender os autores destes novos "leaks", talvez apenas alguns "jornalistas" amigalhaços, à espera de também serem usufrutuários futuros destes comportamentos miseráveis. Por isso me pergunto se isto ficará "assim", uma vez mais.

Custa-me ter de colocar esta simples questão à pessoa com que tenho a relação mais próxima dentre todos os membros do novo governo: e agora, Francisca?

Na minha outra juventude

Há muitos anos (no meu caso, 57 anos!), num Verão feliz, cheguei a Amesterdão, de mochila às costas. Aquilo era então uma espécie de "M...