Pensando bem, só há quatro tipos de portugueses,
quando se trata de analisar o comportamento deste presidente da República.
O primeiro adora o modo como Marcelo exerce a sua
função, acha que a sua quase ubiquidade é uma benesse para o país, tem uma
leitura extremamente positiva sobre a sua compulsão para o comentário público,
do Orçamento à morte de George Michael. É o mesmo português que, depois de uma década de
cera, sente que tem, finalmente, um presidente que está próximo de si, com quem
provavelmente já tirou uma “marselfie”, e que, em meia dúzia de meses, ajudou a
descrispar o país e deu ao governo todo o espaço para executar a sua política,
sem que Costa tenha o menor motivo de queixa, antes pelo contrário.
Há, contudo, outro português que, pelas esquinas, vai
encontrando cada vez mais gente que pensa como ele. É o que, fazendo também uma
avaliação favorável do mandato presidencial, acha que o presidente pode estar a
ir longe demais na banalização da sua figura, que a vulgarização da sua
presença e palavra o pode fazer perder espaço para uma intervenção que, um dia,
requeira uma maior distância de tudo e de todos, a começar do próprio governo.
Para este cidadão, alguma “gravitas” mais seria recomendável, num país como
Portugal, onde o saber medir as distâncias é uma qualidade longe de generalizada.
O terceiro português é o “geringonço” militante, a
quem Marcelo tem “dado muito jeito”, mas que começa a sentir alguma urticária
ao ver o presidente envolver-se em terrenos que ele entende serem do domínio
exclusivo do governo. O “geringonço” ficou algo incomodado com a cena da
Cornucópia e interpreta a hiperatividade do presidente como um voluntarismo
excessivo, um indisfarçável tropismo presidencialista, que pode vir a colocar
em causa os equilíbrios de poder com o governo.
E existe, finalmente, o “viúvo”, o que “já perdeu a
paciência para o Marcelo”. Detesta a subliminar postura anti-Cavaco do novo
presidente e recorda-se bem do dia em que viu Marcelo entrar de rompante num
congresso do PSD e "roubar o show" a Passos Coelho. O “viúvo” (coitado!)
não teve outra solução senão votar Marcelo, mas cedo acordou do sonho frustrado
de o ver puxar o tapete à “geringonça”. Agora acha que começa a chegar o tempo
de denunciar o que lhes parece ser um evidente "fazer da cama" a Passos
Coelho, a partir de Belém, com ou sem o almocito de ontem. Depois da consoada,
vendo-se sem nenhuma prenda política no par de botas em que se meteu, já se deu
conta que este ano não vai ter Boas Festas e de que está muito longe de poder
vir a ter um Feliz Ano Novo. A este português, ao “viúvo”, apetece-me dizer o
que, lá por Vila Real, lançamos àqueles com quem nos cruzamos na rua, entre a
missa do galo e os Reis: "Continuação"…