quarta-feira, junho 20, 2012

Grécia

Na história política grega, uma aliança governamental entre o partido conservador Nova Democracia e os socialistas no PASOK é um caso inédito. As raízes profundas de ambas as formações partidárias apontam para direções bem opostas, fruto de linhagens familiares próprias, de clientelas divididas e de outros fatores de "balcanização" em que a sociedade grega é useira. Só uma ameaça exterior (como será a da imediata bancarrota ou seria a da Turquia) terá levado a este quase milagre político, que se anuncia muito conjuntural.

Em Portugal, a experiência do Bloco Central (1983/1985), uma coligação governamental entre os dois maiores partidos que a democracia havia feito emergir uma década antes, acabou por se revelar uma solução positiva para garantir uma expressão de vontade política maioritária, capaz de enfrentar uma situação de grave emergência nacional.

A prazo, sabe-se que os modelos de "unidade nacional" têm os seus limites, em particular temporais, porque juntam "água e azeite", porque são contra-natura face à normal canalização individualizada de diferente projetos políticos e, muito em especial, porque têm como inevitável consequência fazer crescer as oposições que deles ficam fora, as quais sempre aproveitam para federar o descontentamento que a implementação de políticas impopulares sempre gera.

6 comentários:

Anónimo disse...

Os "Elohins" do que gostam mesmo é de guiar a espécie humana. Possuem até hábitos humanos, mas comandar as ovelhas não implica que as protejam!

Anónimo disse...

Meu caro Francisco,

Há um caso emblemático de sistema governativo de coligação de todas as principais forças com representação parlamentar que dura há muitas décadas. Refiro-me à Suíça.

Bem sei que o sistema político é muito diverso do dos outros países europeus (1 Governo apenas com sete membros com representantes dos 4 maiores partidos, um Presidente rotativo com 1 mandato de apenas 1 ano, decisões populares baseadas fundamentalmente em referendo, seja a nível nacional, seja dos cantões ou local, grande autonomia dos cantões, etc.) mas até agora tem funcionado bem.

Escuso-me a fazer avaliações sobre as virtualidades dos diversos sistemas políticos democráticos, mas constato que aquele sistema funciona e tem assegurado há mais de 1 século estabilidade política.

Um abraço
Fernando Coelho

Anónimo disse...

Com um Pasok reduzido a uma quase irrelevância, depois do que já foi, e uma Nova Democracia também ela enfraquecida, criaram-se as condições, que antes, como refere, seriam impensáveis, para que fosse possível esta coligação. Julgo serem estas as razões que poderão explicar este “novel” governo grego. Resta saber quanto irá durar, se entretanto a economia do país, fustigado pela austeridade imposta pela Troika, não recuperar. E quem, num cenário desses, será o primeiro rato a saltar do barco.
Subscrevo o comentário de F.Coelho.

a)4ª Feira

Gil disse...

Julgo que, No caso da Grécia, pode falar-se em "governo de coligação" mas não em "unidade nacional", dado o desacordo da segunda maior formação política.

patricio branco disse...

interessante o que diz fernando coelho sobre o sistema suiço (ou suisso? não sei). enfim, processos que nunca teremos por cá. acrescente se ainda que coexistem por lá 4 culturas cada uma com a sua lingua e diferentes religiões, tudo sem problemas maiores.e que não são membros da ue e só há pouco das nu.

Isabel Seixas disse...

Na história política grega
este quase milagre político,
(...)"água e azeite",
contra-natura (...)
Adaptado de FSC


Oh, bem bom que na eminência de "Partilhas " do quase nada(Já material) se uniram para partilhar o quase tudo e de todas as "dívidas")...
Está lá na sociologia familiar, o comportamento face á doença ás vezes faz despertar o essencial a perda da soberba para evitar a perda das de todas as existências mormente as afetivas...

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?