domingo, junho 10, 2012

Eu, a Alemanha e a bola

Portugal perdeu com a Alemanha. Todas as pessoas que entretanto encontrei, desde essa hora, foram unânimes: podíamos ter empatado. Melhor!: com alguma sorte, até podíamos ter ganho. Pois é, mas, no final, perdemos. E, quando se perde - mesmo que estivéssemos "à bica" de ter empatado ou, mesmo, de ter ganho -, a verdade é que... perdemos.  Podia ter sido diferente, pois podia!, mas não foi.

Claro!, mas, c'os diabos!, perdemos contra a Alemanha da senhora Merkel, a Alemanha do velho marco (de que o euro é um mero pseudónimo em europês), a Alemanha onde fica o BCE e quem nele manda, a Alemanha que nos faz ver os eurobonds por um canudo! Todos sabemos que ganhar à Alemanha seria sempre muito difícil, que empatar até seria bem bom e perder (vá lá!) até já é quase normal. Não fica mal perder contra Alemanha em futebol (alguns, historicamente, teimam em não perder com a Alemanha noutros campeonatos), em especial quando, em "jogo jogado" (que saudades tenho do Gabriel Alves, que nos dizia isto tão bem, num futebolês suave, sem o MBA do inenarrável Rui Santos, a quem só falta usar o "alavancar" do léxico dos gestores espertalhotes), "não ficámos atrás". É verdade, saímos "de cabeça levantada", jogámos "taco-a-taco", aquela bola na trave esteve "quase lá"! Pois é. mas, desculpem estar sempre a lembrar isto, no final, perdemos!

Provavelmente, um embaixador português não deveria dizer este tipo de coisas, devia estar aqui "puxar" pelo ânimo do país, a ser tão otimista como um espanhol até ontem, até à véspera do pedido de resgate. Mas, confesso, já não tenho paciência - deve ser da idade, embora eu suspeite que é também por outras razões - para edulcorar os meus sentimentos profundos: enquanto nos não libertarmos desta miserável, e também miserabilista, linguagem "sportinguista", das "vitórias morais" e do "quase", não vamos lá. No futebol, aliás, como no resto.

Isto é Portugal, não no seu melhor, mas no seu real que, infelizmente, parece ser, de facto, o seu melhor. Um Portugal que é tão verdadeiro como o daquele "patriota" que, na assistência, exibia meio garrafão de vinho na cabeça, pintado a verde e a vermelho, "representando" o seu país. Significava um país que, não por acaso, também é o meu. Mas não havia no estádio alemães com cornos e capacetes ridículos? Claro que havia! Mas com o ridículo dos alemães posso eu bem... Porquê? Não percebem? Porque ganharam, caramba! Como o diria o Ricardo Araújo Pereira: "estou chateado? É claro que estou chateado!". Ainda não tinham percebido?

12 comentários:

Isabel Seixas disse...

Oh! Claro que estou consigo, mais ainda com o mutismo do meu Filho e do meu Marido, se não fosse abusar simplificava isto tudo dizendo MERDA...

Anónimo disse...

A velha senhora também não gosta de perder:

chateados pá quem o não está porra meu filho
neste país à beira mar dizem plantado
perdemos todos contra todos no sarilho
que passos encavaca merda no relvado

C.e.C disse...

O que mais me irrita, na verdade, não é a derrota; que essa simplesmente e autenticamente é isso mesmo: derrota. O que me irrita, verdadeiramente, é placidez típica de quem espera que algo "caia do céu"..
Ainda eu me admiro de tantos feriados religiosos, num país de ateus.

... depois "algo ocorre" e aí já é tarde.
Vê-se tal atitude em praticamente todos os dogmas nacionais, desportivos ou não.

Anónimo disse...

Subscrevo!
No final do jogo de ontem, como legenda de uma foto da seleção, escrevi no meu Facebook “Enquanto pensarmos pequeno, não conseguiremos ser grandes.”
E isso foi mais que evidente no jogo e fora dele. Desde o início que o comentador português dizia: “Se conseguirmos empatar com a Alemanha, já não vai ser mau.” E tecia loas à seleção alemã e seus craques.
Depois, durante o jogo, a equipe portuguesa jogou para não perder até ao momento em que a Alemanha marcou.
E aí, então, a seleção portuguesa começou a jogar como pode e sabe. E, de facto, foi um jogo bem diferente.
Se tivéssemos começado a jogar de igual para igual, sem complexos de pequenez, desde o início, muito provavelmente o desfecho teria sido outro. E, mesmo que não fosse, teríamos mostrado maturidade e emancipação face a este eterno complexo de pequeninos.
Ontem veio-me à memória o falecido “psicólogo/treinador” de futebol, Joaquim Merim, que, antes de um jogo da sua modesta equipa contra um dos grandes do futebol português, limitou a sua palestra de balneário antes do jogo, a mandar que todos os jogadores ficassem nus. E quando todos, perplexos e curiosos, se encontravam como a mãe os pôs no mundo, perguntou: “Olhem bem para vocês e vejam se têm alguma coisa a menos que os adversários que vão defrontar.” E mais não disse.
JR

Helena Sacadura Cabral disse...

Deixe lá Senhor Embaixador, que Portugal foi, é e será sempre um país de passado prometedor...

Anónimo disse...

Não é por se perder uma batalha que se perde uma guerra ...
Pior do que perder um joguito de bola é perder a Esperança ...
Portugal 0
Esperança 5000000000000000000000
Mas ainda há tempo para se reverter esse placar. Este "jogo" não dura somente 90 minutos.

Força!

Maria Climénia Rodrigues disse...

Pois é Sr. Embaixador, a sua crónica é mesmo muito sentida...de facto enquanto pensarmos "pequeno",não vamos mesmo a lado nenhum....

Anónimo disse...

No futebol,só nos falta os golos.Na
diplomacia,como não se joga com os pés,são casos como este,que nos dão
alento.Também nesta área temos (alguns) profissionais de top.
Bem haja.

Anónimo disse...

"Nós portugueses, somos honestos no papel que representamos, mas somos inúteis naquilo que fazemos."

Ruben A.

Julia Macias-Valet disse...

Nao se rale caro escriba...ja sabemos que o futebol é aquele desporto em que duas equipas de onze jogadores se defrontam durante 1h30 e no final quem ganha sao SEMPRE os alemães !

É como esta coisa de Rolland Garros...nao sei para que é que eles se chateiam as fazer tantos jogos antes se no final quem ganha é sempre o Nadal : ))

Helena Ferro de Gouveia disse...

A forma de jogar da selecção reflecte a Weltanschauung nacional: o pensar pequenino, nas vitoriazinhas, ou nas vitórias morais.

Na Alemanha antes do Europeu começar a fasquia foi colocada bem alta : tudo o que não seja chegar à final não tem valor. A Mannschaft até pode falhar a final mas não o fará sem lutar de forma determinada até ao último instante . Esta determinação obstinada de querer ser e fazer o melhor, que muitos confundem facilmente com arrogância, explica ( parcialmente ) o bom desempenho germânico a vários níveis.

Mesmo sabendo tudo também me custou ver as Quinas perderem...

Anónimo disse...

Que direi eu, depois de ganharmos ontem e, o Ronaldo (da minha terrinha) ter estado sem forma nenhuma. Valho-nos o passado, bem lembrado pela Dra Helena Sacadura Cabral.

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...