sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Onde está a Europa ?


Há uns anos, se bem se lembram, a União Europeia dispunha de presidências rotativas com alguma visibilidade. Nas crises e nas relações, acompanhada do Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, a presidência desenvolvia as diligências necessárias, às vezes com a colaboração da Comissão Europeia e da presidência seguinte.

Um dia, a União Europeia inventou o Tratado de Lisboa. O alargamento tornava a UE difícil de dominar pelos poucos que a isso se tinham habituado. Criou a figura do presidente do Conselho Europeu, fez desaparecer os ministros dos Negócios Estrangeiros das reuniões dos Conselhos Europeus e converteu a Comissão Europeia no seu órgão executivo e no seu "polícia financeiro", dando-lhe como função ser uma espécie de "ASAE" do comportamento macro-económico dos países. Era a vitória despudorada do "diretório" das potências que, pela Europa, se dão ares de grandes. Coisa, aliás, que durou pouco: a Alemanha rapidamente tomou conta "das operações". Para disfarçar essa solidão, fez a cooptação da França, que sempre adora os momentos em que julga poder recriar o "eixo Paris-Berlim", tentando fazer esquecer que o verdadeiro eixo que hoje existe é Berlim-Frankfurt. Primeiro foi Sarkozy, agora é Hollande.

E lá foram eles hoje, em nome sabe-se lá de quem, tentar a mediação na Ucrânia. O pessoal de Bruxelas já deve estar de fim-de-semana...

8 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico Post!
P.

Anónimo disse...

Tusk em Moscovo?Nem ele quereria ir nem o queriam lá.
E assim anda a Europa. Isto é que são "jogos de crianças", como dizia o outro.
JPGarcia

Anónimo disse...

Nāo importa,"pourvu qu'elle marche !"
C.Falcao

Joaquim de Freitas disse...

Excelente radiografia da Europa, Senhor Embaixador. O Chefe e o subchefe da UE não intimidam o "meneur de jeu" Russo.


A Rússia não vai deixar ninguém impor-lhe outra política que não a protega nas suas fronteiras.

Já ontem, em Moscovo, uma das condições de Putin é que qualquer que seja o plano da UE para a estabilização do perímetro geográfico da Ucrânia, "esta não poderá entrar na NATO". Ponto.

E o Ocidente que pode realmente?

O Senhor Embaixador escreve que o eixo verdadeiro é o Berlim-Frankfurt. Creio antes que é o Berlim-Washington.

( Vê-se bem no caso da Grécia, que Obama pressiona Merkel para mais flexibilidade com Syriza, porque a saída eventual da Grécia do euro, e a queda final deste, deixaria o dólar nu face aos especuladores monetários internacionais, o que Obama quer evitar absolutamente. Merkel foi "convocada" a Washington !)

Se o impasse perigoso persiste entre a UE e a Rússia a propósito da Ucrânia, a UE será confrontada nos próximos anos a uma militarização da Europa de Leste, uma nova corrida aos armamentos com a NATO , braço armado dos EUA, como protagonista e uma zona de instabilidade semi-permanente do mar Báltico aos Balcãs e ao mar Negro, afim de impedir uma integração eurasiática mais estreita.

Os Americanos são artistas na criação destes arcos de instabilidade que servem os seus interesses geopolíticos.

Há algum tempo, Sergueï Lavrov tinha denunciado o outro arco, imenso, que vai do Magreb ao Xinjiang na China, passando pelo Médio Oriente e a Ásia central.

Certos sectores influentes na Alemanha denunciam-no já, particularmente a elite cultural, que rejeitam a ideia duma nova guerra na Europa. Talvez lhe interesse ler " Une autre guerre en Europe ? Pas en notre nom !, Le Saker francophone, 10-12-2014.

O que é certo é que os EUA continuarão a lançar carburante no fogo no novo arco de instabilidade no interior da Europa e sobre os mercados económicos e financeiros e a instrumentalizar a nova cortina de ferro prefabricada do mar Báltico ao mar Negro. A promessa de Kerry, de 3 000 milhões de $ de armamento à Ucrânia, é a prova, enquanto podemos estar certos que Obama não enviará soldados para a estrada de Donetz. "Wrong war, wrong place, wrong time!

Anónimo disse...

Juncker dirige a Comissão a partir da sua quinta no Luxemburgo e a partir de quarta-feira à noite o Berlaymont é mentira onde se deixaram de ver luzes de pessoas a trabalhar à noite. E Barroso é que não estava á altura...

Anónimo disse...

Com o frio que faz por estes lados, o Senhor Embaixador queria o pessoal em Bruxelas? Estão nas férias da "neve", nem mais! Na Europa, Senhor Embaixador, pelo menos ainda há neve em Fevereiro!

Anónimo disse...

Ao anónimo das 14:42:

A surfar na neve deve estar o sr.JF !!!

Anónimo disse...

Este seu texto é maravilhoso e ilustra bem o que também eu acabei de escrever no "post" anterior.
Vou repeti-lo, pois, suprimindo algumas ideias.

"Um dia, a União Europeia inventou o Tratado de Lisboa. Criou a figura do presidente do Conselho Europeu, fez desaparecer os ministros dos Negócios Estrangeiros das reuniões dos Conselhos Europeus e converteu a Comissão Europeia no seu órgão executivo e no seu "polícia financeiro". Era a vitória despudorada do "diretório" das potências que, pela Europa, se dão ares de grandes. Coisa, aliás, que durou pouco: a Alemanha rapidamente tomou conta "das operações". Para disfarçar essa solidão, fez a cooptação da França, que sempre adora os momentos em que julga poder recriar o "eixo Paris-Berlim", tentando fazer esquecer que o verdadeiro eixo que hoje existe é Berlim-Frankfurt."

Pois é, um dia alguém inventou o nome de Lisboa para dar a uma Tratado que não assegurava os interesses de PORTUGAL e a seguir soprou-o à UE.
Eles, os EM, gostaram da ideia.
Tratado de Lisboa, so it is.
Tratado de Lisboa here it is.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...