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(Uma nota curiosa, de cultura "de almanaque": chama-se "stationery" a estes produtos porque se vendem em sítios fixos e não em vendedores ambulantes: "si non è vero, è bene trovato"...)
Compro-os incessantemente pelo mundo, para angústia de espaço de quem vive comigo, pela certeza que temos que, nem com outra vida, chegaria a ter tempo para os escrevinhar a todos. E tenho-os de várias espécies e tamanhos: desde uma "raça" muito bruxelense, usada na União Europeia, com capa dura coberta a pano acinzentado, até uma vienense de tom verde escuro brilhante, passando por alguns azuis fortes, com belíssimo aspecto e que quase dá pena de encetar. Nas reuniões internacionais, se vislumbro do outro lado da mesa alguém com um modelo que me interessa, não deixo logo de inquirir onde o adquiriu - e lá vou eu... Tenho agora encomendados, num encadernador de Vila Real, exemplares de um novo modelo que vi nas mãos de um amigo, coberto a carneira, que vai passar a estrela (episódica) do armário onde jazem dezenas desses livros e cadernos, separados, "às paletes". E, claro, também tenho um Moleskine, mas apenas um.
Dito isto, convém que ninguém se iluda. O mundo pode produzir toda a espécie destes caderninhos anti-Alzheimer (chamo-lhes assim porque neles tomo nota incessante de tudo o que posso esquecer), mas os melhores de todos - e os mais baratos de todos - encontram-se no Porto, na Papelaria Heróica, no número 110 de uma das mais bonitas artérias da Invicta, a Rua das Flores, paralela à Mouzinho da Silveira, para quem desce da estação de S. Bento para a Ribeira. Há décadas que lá me abasteço desses livrinhos, de capa preta, convencendo-me eu que os passaram a produzir também em papel quadriculado (eram só brancos e de linhas) depois de anos de operosas conversas que tive com os antigos proprietários. Eles fizeram-me a vontade, mas os actuais donos "estragaram-me" a gramagem da capa, o que torna agora os cadernos um pouco mais duros e menos maleáveis. Mesmo assim, valem muito a pena. Experimentem!
Já agora, se forem à rua das Flores, aproveitem para nela ver uma das mais belas igrejas do Porto e, quase em frente, um dos melhores alfarrabistas do país, para coisas contemporâneas, o "Chaminé da Mota". E, por hoje, basta de publicidade!
5 comentários:
Gostei da ultima palavra !
Obrigada, Sr. Embaixador, quase pensei que o tinha vexado.
Partilho da sua convicção sobre a origem da palavra "stationery" que me foi explicada por um amigo inglês. Procurei algumas informações sobre a palavra ao deparar com uma insólita tradução: "estacionário". Ocorreu-me que se deveria, em caso de absoluta necessidade de aportuguesar a palavra se deveria dizer "estacionÉrio".
O burocrata que estava na origem da palavra (e da minha pesquisa) queria, simplesmente, referir-se a "material de escritório" mas, membro que era de uma corporação de poliglotas bem-falantes, pareceu-lhe mais tecnocrático o neologismo britanizado.
Mas também eu não tinha razão absoluta; dada a origem etimológica, a enormidade poderia ser, de facto, "estacionÁrio".
Sou uma fã incorrigível dos Moleskine. De tecido de lã cinza, à clássica capa de pele preta, passando pelos forrados a seda, lindos de morrer, para senhoras - supostamente intelectuais onde, espantem-se, pareço pretender incluir-me -,todos jazem no único armário fechado à chave aqui em casa, na presunção utópica de que alguma vez os utilizarei a todos.
Mas que, confesso, têm feito a inveja de colegas com quem vou a reuniões internacionais. E, se "por acaso", condizem com o que visto, então sim, consigo prodígios de atenção...
Se os/as políticos/as descobrem esta oportunidade, a A. Republica vai tornar-se um arco iris!
Caro Senhor,
Grato pela memória que faz da Papelaria Heroica, propriedade do meu avô - Domingos Dourado Campos - durante muitas décadas, e onde eu aprendi o valor do trabalho digno e honesto.
Quanto aos cadernos que refere, de excelente qualidade e acabamento, são um bom exemplo do que, na senda do Armando Monteiro, aquela empresa, quase artesanalmente, produziu.
Bem haja! Grato.
Caro Aristides Dourado: dei-me conta há semanas que o novo local para onde os produtos da Heróica passaram a ser vendidos, numa esquina frente ao restaurante DOP, também fechou. Que isto dizer que os cadernos já se não produzem mais? Se souber algo sobre isto, ficava-lhe grato
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