O título deste post é o de um livro de Adriano Moreira, publicado nos anos 60 do século passado.
(Recordo-me de o ter utilizado como epígrafe equívoca de um artigo em "A Voz de Trás-os-Montes", em outubro de 1969, quando a Oposição democrática, que se opunha ao já então decadente marcelismo, aproveitava, com ansiedade, o estreito espaço de manobra pública que a censura da época lhe dava. Como um dos efémeros "porta-vozes" dessa mesma Oposição, em Vila Real, inundei o jornal de vários textos, até que a paciência do censor local, o capitão Medeiros, se esgotou e fui finalmente privado dessa tribuna, para aberto desagrado do diretor do jornal, (o então padre) Henrique Maria dos Santos*).
(Recordo-me de o ter utilizado como epígrafe equívoca de um artigo em "A Voz de Trás-os-Montes", em outubro de 1969, quando a Oposição democrática, que se opunha ao já então decadente marcelismo, aproveitava, com ansiedade, o estreito espaço de manobra pública que a censura da época lhe dava. Como um dos efémeros "porta-vozes" dessa mesma Oposição, em Vila Real, inundei o jornal de vários textos, até que a paciência do censor local, o capitão Medeiros, se esgotou e fui finalmente privado dessa tribuna, para aberto desagrado do diretor do jornal, (o então padre) Henrique Maria dos Santos*).
Lembrei-me deste título hoje, a propósito da imensa curiosidade com que o corpo diplomático acreditado em Paris acompanha as declarações dos responsáveis que a candidatura de François Hollande, o principal "challenger" do atual presidente, mantém para os vários setores governativos, em caso de vitória. Neste tempo que, segundo muitas sondagens, poderá vir a ser por aqui "o tempo dos outros", é importante podermos garantir às nossas autoridades uma previsão daquilo que uma possível nova administração pode vir a fazer, se acaso o resultado das urnas lhe vier a ser favorável. O respeito que é devido aos poderes instituídos, bem como à possibilidade de serem reconduzidos, pela livre expressão da vontade dos franceses, não deve nem pode limitar o nosso interesse e legitimidade em estarmos preparados para todas as eventuais alternativas.
Com alguma ironia - sem a qual de há muito não sei viver -, costumo dizer que, basicamente, só há três circunstâncias em que os embaixadores têm por certo que as suas comunicações são lidas, com algum interesse, nas respetivas capitais: quando há crises nas relações bilaterais, quando há golpes de Estado nos países onde estão acreditados ou quando há localmente eleições marcadas por algum grau de indecisão quanto aos resultados. No dia de hoje, não sendo embaixador espanhol em Buenos Aires, nem estando na ingrata posição do meu colega em posto em Bissau, resta-me assumir o popular risco de opinar sobre a campanha presidencial francesa - na esperança, quiçá vã, de alguns dentre quantos me leem em Lisboa não tendam a dar mais crédito ao que, sobre o tema, vão escrevendo o "Financial Times", o "International Herald Tribune" ou mesmo o "Le Monde".
Em tempo: um comentador informou que Henrique Maria dos Santos faleceu em 13 de abril, quatro dias antes deste post em que eu falava da sua louvável abertura de espírito, nesses tempos complexos.
Em tempo: um comentador informou que Henrique Maria dos Santos faleceu em 13 de abril, quatro dias antes deste post em que eu falava da sua louvável abertura de espírito, nesses tempos complexos.
10 comentários:
estranho país a argentina que continua a ser governada por peron à maneira de evita. é ali que é de facto a patria do populismo. mas tambem é esse o pais da grande buenos aires, do tango e da milonga, de borges e cortazar, do churrasco, etc.
quanto a domingo, é seguir com atenção o escrutinio e que algo saia bom para portugal, se assim se pode dizer.
pouco à vontade deve estar o embaixador argentino em madrid chamado ao ministerio dos exteriores, sabemos o que lhe disse o ministro, este mesmo o disse depois da conversa, e o embaixador nem foi depois ao encontro de rubalcaba com os embaixadores latino-americanos, faltou, melhor ficar no recato da embaixada.
tenho uma ideia de quem possivelmente insistiu com a senhora a tomar a decisão que tomou.
Esperemos que tudo seja bem lido em lisboa, agora mudei de cenário e refiro-me à campanha e eleições francesas e informações sobre elas.
Eu vivi o 10 de Maio de 81 em Paris, na Bastilha, "quase" com a mesma emoção que muitos portugueses viveram a madrugada do 25 de abril de 74 em Lisboa.
As espetativas na vespera de 81 não eram as mesmas que são as de este ano enquanto se espera pela segunda volta das presidenciais francesas; em 81, a surpresa de então originou aquele "enchente" na Bastilha; hoje, pelo contrário, toda a esquerda espera uma mudança de rumo sem surpresas enquanto observam a vantagem de Hollande nas sondagens...
A surpresa seria se os resultados das urnas viessem motivar os seguidores de Sarkozy a encherem a praça da Concórdia (como este nome dá uma tonalidade esquisita a este texto!) ou a praça de Vandome, que já soa melhor ! Porque para a Bastilha não penso que ousem ir.
José Barros
Senhor Embaixador
Ainda bem que continua a acreditar em promessas. Eleitorais claro.
Eu que tenho mais uns aninhos em cima já sei como é o tempo dos outros. É sempre "um outro tempo" que lhes permite esquecer as promessas do seu tempo.
Complicado?!Nem tanto. Questão de praxis política...
Como não sou politizado não sei quais as consequências para a Europa neste momento se houverem mudanças políticas em França com nacionalizações como na primeira presidência de Mitterand. Mas... a crise vai dizer.
Excelente!!!
Só o título que escolheu nos conforta. Não esperamos milagres, só porque pode mudar o Presidente da República em França. Mas, sempre haverá alguma novidade... Já imaginaram a diferença que será a chegada "tout court" do novo Presidente (se não ganhar o mesmo) a Bruxelas? A malta precisa de umas alegrias, por breves que sejam!
Votos que a moda dos saltos altos em França tenha os dias contados.Além da piroso,faz mal à
coluna.Parabens pelo post.Excelente.
Privilégio! E, agora, com a vantagem de sendo também Embaixador da UNESCO, pode analisar a contenda política sob um prisma artístico! Que tal. E, neste caso, qual dos candidatos vencerá. Talvez Hollande, não? Abraço, Gilberto
A velha senhora dirige-se à sua 'amiga Helena', a Dra.HSC, mas abusou do verbo... e do verde:
mais velha sou eu, helena,
e tenho outra opinião:
não há mudança pequena,
não se muda nunca em vão,
não muda o curso do sena,
muda o curso da nação
e ai, se o mudar, vale a pena:
tudo muda na união
europeia, que se drena
co casal franco-alemão
e a submissão nada amena
do coelho-cavacão.
e chega de cantilena,
que me chora o coração.
mas helena não se pica
e oxalá não tenha pressa,
que eu hoje sou uma bica
de versalhice travessa
que me sai e praqui fica
em verborreia confessa
e com rima nada rica:
embaixador, que eu conheça,
não acredita, critica
o feito, o dito, a promessa,
e tudo, a quem deve, explica.
sua missão é só essa.
creia, helena, nesta dica,
que alguns 'conheci', homessa!...
Viva sr Embaixador,
lamento informar q "(o então padre)
Henrique Maria dos Santos.";morreu salvo o erro dia 13.Abril.
Arm.
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