sábado, abril 14, 2012

O bacalhau e a política

Entre os políticos portugueses, os períodos de campanha eleitoral são conhecidos pelos "circuitos da carne assada", esse infindável périplo por mesas de restaurantes e pavilhões gimno-desportivos, com comida portuguesa, quase sempre mais em força do que em jeito.

Aqui em França, presumo que as coisas não devam ser muito diferentes. Mas, para além do predomínio da comida do seu país, o proselitismo de conjuntura obriga a que os políticos franceses em campanha não se eximam a provar a gastronomia típica das comunidades cujo voto pretendem conquistar. Já me contaram histórias deliciosas dos tempos de Jacques Chirac, ao tempo em que se interessava pelo voto dos portugueses.

Na campanha presidencial em curso, um determinado restaurante português ganhou foros de alguma fama, ao ter-se convertido numa espécie de cantina diária informal da candidata Marine Le Pen e da sua equipa. Há dias, foi a vez do presidente candidato Nicolas Sarkozy ter organizado um almoço, na periferia de Paris, num restaurante com cozinha portuguesa. Na passada semana, a "Academia do Bacalhau" de Paris, uma convivial agremiação de portugueses, convidou representantes das candidaturas de François Hollande e de Nicolas Sarkozy para, à volta do "fiel amigo", explicarem de que modo os interesses de afirmação cultural e linguística da comunidade de origem lusitana seria protegidos, em caso de vitória do seu candidato.

Nunca se saberá qual o sentido político maioritário dos cidadãos de origem portuguesa que dispõem de direito de voto nas eleições presidenciais que se concluirão em 6 de maio. Pelo que todos ficaremos sempre sem saber se o esforço de simpatia dos candidatos pela cozinha portuguesa teve algum efeito nessa opção. Mas, enfim, a verdade é que alguns tentaram...

4 comentários:

patricio branco disse...

bonita maneira de apresentar os pastelinhos de bacalhau, ordenada e atisticamente em forma de flor com corola de 8 petalas sendo o raminho de salsa os estames. vejo que são acompanhados de um copo de vinho branco e um molho que não distingo.melhor assim que atirados para o prato, como na maioria das vezes os servem.
Quanto aos candidatos nas tascas ou restaurantes portugueses, algum resultado dará e tem de ser. Que gostarão de comer martine le pen, sarkozy ou hollande?
nunca vi em portugal os candidatos darem importancia às comunidades estrangeiras que podem votar, africanos, brasileiros, europeus. penso mesmo que passam por cima desses eleitores e quase nem existirão nos programas eleitorais pontos relativos aos imigrantes, comunidades estrangeiras, que têm os seus problemas tambem e necessitam de atenção dos governantes.
divertido post que dá para pensar desde gastronomia a estrangeiros e campanhas eleitorais.

gherkin disse...

Meu caro. Mas quem ganha é a deliciosa cozinha portuguesa. Por isso, parabens a si pelo oportuno apontamento e...aos candidatos, que, como muito bem diz, para favorcerem os seus interesesfazem ao mesmo tempo propaganda ao nosso país.
Abraço,
Gilberto Ferraz

Santiago Macias disse...

Há quem se coloque à margem. Lionel Jospin não se deu à maçada de tais delicadezas...

Anónimo disse...

Nas últimas eleições autárquicas, na campanha para a CMLisboa, a Mouraria inaugurou esta "moda" de visitar as lojas e alguns restaurantes de comunidades estrangeiras. Muitos são portugueses (porque descendentes da comunidade portuguesa na índia) Os lisboetas é que desconhecem que são portugueses... Entrou um paquistanês na lista do PS nas listas para a freguesia do Socorro. Junta que mudou para o PS... Na zona da Almirante Reis a animação foi tanta, que o então candidato António Costa, inaugurou na rua da Palma uma exposição de fotografias e trabalhos de comunidades estrangeiras; chineses incluidos num "melting-pot", aonde não costumavam aparecer. Traziam todos fatos tradicionais e, da parte dos chineses houve mesmo umas prendas para as instituições que têm sede naquela zona da cidade. Foi muito divertido, Patrício Branco. Não sei se terá continuidade. Entretanto o estado de alma daquelas bandas é mais de debandada de Portugal, principalmente no caso dos brasileiros que estão de regresso ao seu país, aonde os conhecimentos que adquiriram em Portugal são uma mais valia para um recomeço de vida com os euros que ganharam e as aulas dos cursos que frequentaram. Sou fã de "Dim Sam" há muitos anos... e depois que abriu um restaurante parecido com a confecção do Mandarim do Casino Estoril, volto frequentemente à Almte Reis com passagem obrigatória por um supermercado em Santa Justa de macaenses, onde não falta nada. Quem gostar de Dim Sam em Paris encontra na China Tawn alguns sítios onde comprar algumas ementas que se podem cozer em casa a vapor. Em tempos idos, em Londres, colaborei numa almoçarada para promover o MDP/CDE,(partido a que nunca pertenci) levando uma mala de Lisboa com : bacalhau; azeitonas; queijos; vinho verde (garrafão); enchidos, ervas de cheiro; alhos, azeite, broas de milho embrulhadas em toalha branca, tudo asseadinho, mas que me demorou um bocado na alfândega com o "ar" de incredulidade por parte dos dois funcionários, a quem convidei para a festa... Tudo isto era campanha para evitar que o PCP continuasse a alastrar entre os funcionários dos consulados. Lembram-se como foi? Trabalho bem sucedido por sinal. "O bacalhau e a política" Podia-se até fazer um livro interessante nesta perspectiva. Exemplos não faltam.

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