quarta-feira, maio 24, 2017

"Puttanesca"

Que bem que se come no "Puttanesca", na zona alta de Leiria! Vivamente recomendo!
Paulo Oliveira, que sabe desta poda como poucos, tinha-me recordado isso há dias - eu tinha cá vindo duas vezes, mas, às vezes, as casas perdem fulgor, o que está muito longe de ser o caso.
Esta Leiria merece uma visita!

Olha a mala!

Sentado numa simpática esplanada de Aveiro, com o pôr-do-sol a aproximar-se, neste Verão "avant la lettre", leio na net a notícia da pesada condenação de Oliveira e Costa.
Do outro lado, fica a Pousada da Ria. Há muitos anos, nós e um casal amigo fomos lá ficar uma noite. Estava um funcionário na receção, a tomar conta dos nossos dados, que, amavelmente, nos esclareceu: "Não se preocupem com as malas! O meu colega vem já buscá-las!".
E, de facto, nem um minuto era volvido quando ouvi o meu amigo, atrás de mim, notar, para alguém que chegava: "Pode levar já estas. Há ainda duas sacas que eu vou buscar ao carro". E saiu, apressado.
Notei que qualquer coisa de estranho sucedia: as malas, mesmo ao meu lado, continuavam no lugar.
Olhei para trás e deparei com o olhar impassível de Oliveira e Costa, que o meu amigo, pouco dado às políticas, não identificara como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, um "ajudante" de Cavaco Silva.
"Fiz de conta" que não tinha ouvido a cena e só mais tarde expliquei ao meu amigo quem era o pretendido "carregador" de malas.
Estes equívocos podem ocorrer.
Em 1980, na Noruega, tinha lugar uma reunião da Internacional Socialista, a que foi Mário Soares, então líder da oposição, que vinha acompanhado por Maria Barroso e Rui Mateus.
No hall do Hotel SAS a confusão era grande. Os trabalhistas noruegueses tinham uma organização pouco eficaz, ou nós é que estávamos já fartos de esperar. O embaixador português, Cabrita Matias, estava em Oslo há poucos dias e logo lhe caíra "na sopa" um peso pesado como Soares, que dava mostras, compreensíveis, de querer ir para o quarto logo que possível. O embaixador estava "elétrico", ao ver a impaciência de Soares. Eu procurara já ajuda, sem grande sucesso.
Surgiu então, perto de nós, uma senhora com ar e atividade que indiciavam pertencer à organização, com a identificação ao pescoço.
Vi o embaixador avançar para ela e, ainda à distância, dizer-lhe, no seu impecável inglês, qualquer coisa como isto: "Ó menina, pode tratar destas malas, "faxavor"?" Eu dei um salto, puxando-lhe pelo braço, evitando que ele perseguisse a senhora, que parecera não ter notado o pedido.
Apenas lhe pretendia dizer que a "menina" era Gro Harlem Brundtland, a futura líder dos trabalhistas noruegueses, que ele ainda não tivera ocasião de conhecer. Dois meses depois, a "menina" era primeira-ministra...
Isto de malas tem muito que se lhe diga!
(E o sol está a pôr-se, aqui em Aveiro!)

Nobel do conforto


Lembrei-me agora, a caminho de Braga: será que ao inventor do ar condicionado a Academia sueca terá tido o bom senso de atribuir o mais do que merecido Prémio Nobel?

Braga

"Com que então vais amanhã a Braga! Não te esqueças de levar o Pacheco como guia! Um abraço!" E desligou. Foi ontem à noite, ao telefone com um amigo.
Como estava apressado para outros afazeres em Lisboa, não me interroguei muito sobre o críptico Pacheco referido.

À noite, pus-me a pensar. Seriam os guias do Helder Pacheco? Mas, que eu soubesse, ele só tinha escrito sobre o Porto. Às tantas, haveria algo sobre Braga que eu não conhecia.
O Pacheco Pereira não era, pela certa. Li tudo o que escreveu e não me recordo de Braga ter particular saliência em algum escrito seu.
E até me veio a memória o Pacheco do Eça, esse "imenso talento" que para nada servia. Mas também não passara por Braga.
Num segundo, fez-se-me luz! Era o Luiz Pacheco, claro! O meu amigo, numa referência geracional, quis falar de "O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor", esse opúsculo "maldito" que tanto escândalo provocou à época.
E, embora tardiamente, "ofendi-me"! Libertino, eu? Ou seria uma graça por ele me saber, por estes dias, "de Rodriguez" - esse estado de pontual liberdade matrimonial que os espanhóis crismaram para a história da blague.
Seja como for, amanhã vou reler o Pacheco.

Roger Moore



Às vezes, há a tendência para alguma generosidade, por altura da morte das pessoas. Comigo, confesso, isso raramente acontece. Posso ocultar alguns aspetos menos notáveis de quem se vai, mas não caio em edulcorar-lhes por excesso as virtudes.

Lembrei-me disto ao ler que morreu Roger Moore. Era um senhor respeitável, que protagonizou alguns filmes de James Bond com um misto de humor e charme machista, que sempre saía das cenas mais violentas com a poupa intocada, com aquele sorriso simpático de marca, que, aliás, conservou na velhice, como pude comprovar quando, há não muitos anos, o cruzei num evento em Paris.

Conseguia dar um tom saudavelmente picante aos rápidos diálogos com Moneypenny, fazia desesperar "Q" com um nunca batido humor e sempre cuidou em não dramatizar o tom da eternamente "impossível" relação com "M", que Daniel Craig, produto "eslavo" de um "casting" para 007 que estou certo teria irritado Ian Fleming, levou a um cúmulo de tensão muito discutível, no modelo de relação com a personagem de Judy Dench.

Como ator, desempenhava um Bond divertido, ao mesmo nível, comparadas as épocas, com que já fizera para a televisão as séries "Ivanhoe" ou "O Santo". Mas, sejamos honestos!, foi sempre um ator "13 valores", para usar a classificação que o meu pai costumava dar às prestações "assim-assim". Sempre pressenti que, no seu íntimo, vivia com um fantasma chamado Sean Connery - o "verdadeiro" Bond.

Uma novidade para os menos iniciados na "bondmania". Moore usou a famosa frase de 007 para pedir o Martini - "shaken, not stirred" - num episódio de "O Santo", meia dúzia de anos antes de ter vindo a protagonizar 007.

Presto aqui uma sincera homenagem a Roger Moore. Divertiu-me por muitas horas - também no "Ivanhoe" e em "O Santo" da minha juventude - "cultivou" mulheres lindíssimas (algumas segundo o padrão da época, outras de modelo estético mais "sustentável" no tempo) e soube transmitir a algumas cenas inverosímeis a ironia necessária para as não tornar completamente ridículas.

terça-feira, maio 23, 2017

Os interesses de Portugal

A meu convite, António Vitorino falará hoje na Universidade Autónoma de Lisboa sobre os interesses que Portugal tem e deve proteger na Europa. 

Esta é a segunda de uma série de conferências, numa organização conjunta da UAL e do jornal "Público", que juntará um qualificado grupo de especialistas que, ao longo das próximas semanas, identificarão e abordarão, setor a setor, os interesses portugueses na ordem externa, neste tempo complexo de rearranjo da ordem internacional.

É uma indiscutível certeza não haver em Portugal ninguém mais qualificado do que o antigo ministro, deputado e comissário europeu António Vitorino, que durante seis anos presidiu à Fundação Notre Europe, criada por Jacques Delors, para falar do tema europeu e do papel de Portugal neste projeto.

Assim, quem se quiser atualizar sobre Portugal e a Europa tem hoje uma oportunidade única para o fazer, pelas 18 horas, na UAL, na Rua de Santa Marta, 56, em Lisboa.

Manchester

A Grã-Bretanha é uma ilha. Os controlos fronteiriços são muito mais fáceis de aplicar numa ilha. 

Além disso, o Reino Unido nunca fez parte do acordo de Schengen, o que confere uma proteção acrescida ao seu território. 

O Reino Unido tem assim melhores condições do que qualquer outro país europeu para se proteger de infiltrações exteriores.

E, no entanto, para além dos atos violentos de terror, no passado, por motivações separatistas, o Reino Unido foi já severamente fustigado por atentados terroristas inspirados pelo radicalismo islâmico. 

Até hoje, se bem me lembro, nenhum ataque terrorista no Reino Unido foi cometido por alguém infiltrado no país, mas sempre por cidadãos já nele nascidos. 

O terrorismo contemporâneo, está hoje provado, tem menos a ver com a circulação de pessoas através de fronteiras e muito mais com a livre propagação dos fanatismos - e essa não tem barreiras. 

Em Manchester, uma vez mais, ficou provada outra velha realidade, com que temos de viver para sempre: é muito difícil impedir alguém de cometer um ato terrorista se essa pessoa estiver na disposição de morrer para o praticar. 

Forum parlamentar luso-espanhol

Síntese dos tópicos que usei na intervenção que ontem fui convidado a proferir na sessão de abertura do Forum parlamentar luso-espanhol:
  • Virtualidades da diplomacia parlamentar na política externa e europeia. Reforço da legitimidade europeia através dos parlamentos nacionais.
  • Articulação hispano-portuguesa na construção europeia. "Lessons learned"
  • A imperiosa necessidade da "atualização" dos modelos de cooperação transfronteiriça existentes.
  • A questão da "ilha energética" peninsular, os problemas das interligações com França e o que sobra (ainda) para a nossa agenda bilateral. 
  • Almaraz e o problema da confiança, no seio da "cultura de vizinhança" na Península. Questão é muito mais do que energética, ambiental, de segurança física e territorial. Importante que Espanha perceba bem a sensibilidade da questão entre nós.
  • Crise europeia. Estado da arte e razões de preocupação. Ensaio de explicações.
  • As incógnitas europeias sobre a "nova" França.
  • Papel agregador do euro. O que falta completar da União Económica e Monetária. As lacunas da União Bancária. A "aposta" peninsular no euro.
  • As "hesitações" alemãs sobre a UEM. O "Catch 22" em que Berlim pode fazer cair a Europa.
  • Os cenários dos Livro Branco da Comissão Europeia. A "inevitabilidade" e os "riscos" da integração diferenciada.
  • Um orçamento para a zona euro. A necessidade imperiosa da evolução do Mecanismo Europeu de Estabilidade para um "fundo monetário europeu". A fuga à intergovernamentalidade para o combate aos futuros choques assimétricos. A ideia do subsídio de desemprego europeu e outros instrumentos "sociais", como fator compensatório da "centralização" institucional em torno do euro.
  • O efeito Brexit no futuro orçamental da UE. A aparente dualidade de posições de Portugal e Espanha na avaliação do relatório Monti sobre recursos próprios.
  • A discussão sobre a sustentabilidade financeira dos avanços sobre a defesa e segurança no cenário europeu. O efeito Trump na segurança europeia.
  • Nota final: Portugal e Espanha nas relações externas da União. Necessidade de um urgente impulso no acordo comercial UE-Mercosul.

segunda-feira, maio 22, 2017

O dia adversativo

Grande dia foi o de hoje para as adversativas: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, não obstante...

Vemos, ouvimos e lemos: não podemos deixar de sorrir.

domingo, maio 21, 2017

Rebuçados da Régua

Há uns meses, levei uns amigos brasileiros a um passeio pela zona do Douro. À chegada à Régua, expliquei-lhes que uma das coisas mais típicas da cidade, para além da mais pequena barbearia do mundo, eram os seus rebuçados. 

Essa doçaria é uma coisa muito simples: é praticamente açúcar em ponto, deixado arrefecer, embrulhado em papel branco. A graça está em quem o vende, umas senhoras de avental ou bata branca, com umas cestas de verga, sentadas sob as árvores junto à estação do caminho de ferro. No passado eram senhoras muito idosas, nos últimos anos a venda estava já rejuvenescida.

Chegados nesse dia ao largo da estação, nada de vendedoras! Fiquei desiludido e perguntei pelas "senhoras dos rebuçados" a um dos taxistas no local. Foi-me dito que já não apareciam com tanta frequência, mas lá se conseguiu comprar rebuçados numa tabacaria próxima. Mas, confesso!, saí da Régua "de orelha murcha". A Régua sem rebuçados era como Vila Real sem covilhetes! 

Hoje, durante uma função oficial, jantei ao lado do edil-mor da Régua e, como antes se dizia, "lavrei o meu protesto". E não é que fui informado que as senhoras dos rebuçados continuam, que nesse dia deviam ter ido "para os barcos", que a Câmara até providencia os aventais/batas brancas e tudo?! 

Assim sim, porque eu sou daqueles que não gostam que lhes troquem as voltas e mudem aquilo a que se habituaram a ter como cenário confortável de vida. O nome para pessoas assim é "reacionário", não é?

sábado, maio 20, 2017

Gilberto Ferraz

Morreu Gilberto Ferraz. Chegou-me agora a notícia, de Londres. 

Às vezes me pergunto onde conheci, pela primeira vez, o Gilberto Ferraz. Posso estar equivocado, mas tenho a impressão de que foi nas manhãs da TSF, nos anos 80, no meio daqueles noticiários e "gingles" trepidantes, que escutei pela primeira vez a sua voz. Como milhares de portugueses, podia receber, cada manhã, sínteses precisas sobre o modo como a imprensa britânica via o mundo, o seu e dos outros. 

Um dia, numa passagem por Londres, coloquei finalmente uma cara naquela voz. Quando, tempos mais tarde, me mudei para ir trabalhar para a capital britânica, na nossa embaixada, passei a contar com o Gilberto Ferraz como um interlocutor regular. Construímos então uma boa amizade, feita de respeito e estima, pessoal e profissional, que se manteve e reforçou a partir de então.

Gilberto Ferraz foi um jornalista que, desde há muitas décadas havia assentado arraiais "Por terras de sua majestade" - e deixo isto entre aspas, porque esse é o título do seu livro de memórias, editado em 2016, que tive o gosto de prefaciar.

O Gilberto teve um pé na política (julgo que chegou a representante do PSD ou do PPD no Reino Unido), tendo sido também correspondente em Londres do "Jornal de Noticias" e colaborado pontualmente com diversos outros órgãos de comunicação social. 

Paralelamente a tudo isso, trabalhou, durante décadas, na famosa "Secção portuguesa" da BBC, uma excecional escola de rádio e jornalismo. Em 2012, fui um dia de Paris a Londres e convidou-me para almoçar na Bush House, a sede da BBC, onde notei que ele se sentia verdadeiramente em casa. 

No ano passado, voltámos a ver-nos no seu apartamento em Cascais. Depois, entre os lançamento do seu livro de memórias, em Londres e em Lisboa, morreria Marisa, a sua companheira de muitas décadas. A saúde o Gilberto era já então muito frágil e, com certeza, isso e os anos pesaram agora sobre o desgosto. Desaparece agora. Deixo aqui uma nota muito sentida de pesar por um amigo, um homem de bem e um jornalista sério e rigoroso.

Embaixador em Lutenblag

Gosto dos nomes dos "novos países" que a NATO acaba de criar para os seus jogos táticos na guerra cibernética: Berília e Crimsónia.

Sempre achei graça a estes Estados fictícios, desde a Bordúria e a Sildávia em que Hergé fez circular Tintin. Aliás, é vulgar esquecer que a série não ficou por aqui. Hergé inventou também El-Khemed, San Theodoros e Nuevo Rico.

Nestas ficções geográficas, há três áreas tradicionalmente "privilegiadas": os Balcãs, a América Central e o mundo árabe, com alguma África à mistura. De certo modo, isso correspondia ao "mistério" e menor conhecimento existente sobre essas geografias. A literatura e o cinema estão cheios desses reais imaginários e, entre eles, há nomes deliciosos, na sua sonoridade e inventiva.

Há uns anos, numa livraria em Paris, deparei-me com o suprassumo editorial dessa fabulação: entre uma série de guias sobre vários países, surgia um dedicado à Molvânia, um Estado não existente. Trazia referências às suas tradições, usos, figuras da história e literatura, tudo com imensas fotografias e até endereços de restaurantes. Nunca me perdoei não ter comprado esse guia de ficção turística, que espero que venha a ser atualizado com a necessária regularidade, porque a imaginação também se renova. 

Na altura, pensei que Lutenblag, a popular e ao que dizem deslumbrante capital da Molvânia, seria o destino diplomático adequado, por inócuo e inofensivo para os interesses do Estado, para dois ou três colegas com os quais me cruzei ao longo da minha carreira profissional e cuja afeição ao trabalho apenas era compatível com a colocação em postos imaginários. Ah! E que, naturalmente, mereciam ser pagos na respetiva moeda local, porque "isto não é o da Joana"...

Caminhos de ferro

Tenho "mixed feelings" sobre os atuais serviços ferroviários portugueses, que, nos últimos anos, tenho usado exclusivamente entre Lisboa e Porto. Reconheço que os comboios andam geralmente à hora, as carruagens são muito mais agradáveis do que eram, mas - tenho de dizer isto com total sinceridade - continuam ainda muito desconfortáveis. Ou talvez o "defeito" seja meu, ao comparar subliminarmente com alguns TGV que conheço.

Viajei hoje na mais moderna unidade da CP, o modelo Manoel de Oliveira. Limpo, espaçoso qb, mas com bancos muito rígidos. E o "balancear" e a natureza saltitante da viagem são incomodativos (há zonas piores do que outras). Dir-me-ão que a culpa não é da CP, dona do material circulante, é da Refer, responsável pela linha. A mim, que pago o bilhete (barato, na minha opinião) é-me indiferente o "culpado". Estou a ser excessivamente exigente? Talvez, mas é o que sinto.

(Em tempo: não é admissível, em tempo de captação de turismo, que os anúncios por altifalante sejam feitos exclusivamente em português. Foi visível a perplexidade e incompreensão de vários passageiros. E, já agora!, um "upgrade" no "cosmopolitismo" do serviço seria bem vindo, "if you know what I mean")

Portugal - Espanha

Domingo e segunda-feira, em Vila Real, deputados portugueses e espanhóis, com os seus presidentes, respetivamente da Assembleia da República e das Cortes de Espanha, reunem-se para um encontro de reflexão e debate, antecedendo de alguns dias a cimeira onde participarão ambos os governos, e que também terá lugar na capital transmontana.


Recebi o honroso convite para, na 2a feira, fazer uma das duas intervenções temáticas na abertura do debate, focando os grandes desafios europeus, o papel dos dois países peninsulares nesse contexto e as identidades de interesses e perspetivas que nele podem projetar.

Agora Marcelo Caetano

Como aqui assinalei, morreu, há dias, no Rio de Janeiro, António Gomes da Costa, um dos mais destacados líderes da Comunidade portuguesa no Brasil. 

Foi uma figura cuja ação sempre admirei, pela sua empenhada dedicação à promoção de Portugal no Brasil e ao aprofundamento das relações luso-brasileiras. Era um homem profundamente conservador, apreciador confesso das virtualidades do regime derrubado em 1974, crítico regular no novo regime então surgido.

Isso nunca o impediu de manter um relacionamento impecável com os representantes do Estado, em democracia, como foi o meu caso, entre 2005 e 2009.

Num depoimento que hoje enviei para o JL - Jornal de Letras, contei um episódio passado no primeiro encontro que tive com António Gomes da Costa, em inícios de 2005. 

Perguntei-lhe então sobre o estado de conservação da sepultura do professor Marcelo Caetano. Respondeu-me que tinha indicações de que o espaço estava bem cuidado, por pessoas da nossa comunidade. Notei, contudo, a sua surpresa, pelo facto de eu ter abordado o assunto. Expliquei-lhe – e fazia-o com total sinceridade – que era minha preocupação, como embaixador, garantir, durante o tempo que durasse a minha missão no Brasil, que o local onde estavam os restos mortais daquele antigo chefe do governo estivesse preservado com a dignidade necessária, assegurando que a embaixada tinha toda a disponibilidade para auxiliar em tudo quanto, nesse domínio, viesse a ser necessário fazer. 

António Gomes da Costa terá percebido nesse instante que a minha atitude relevava de uma leitura de Estado, muito para além das trincheiras políticas muito diversas que ocupávamos. E julgo que isso contribuiu para que, a partir daí, nos tivéssemos relacionado sempre sem o menor problema. Continuando nós, bem entendido, cada um "na sua", em matéria política.


É que uma coisa que todo o diplomata deve ter sempre bem presente, quando está em serviço no estrangeiro, é que, estando embora sob as ordens conjunturais do governo de turno, ele representa o Estado e é depositário de toda a História que o país carrega consigo. Toda, mesmo.

A situação política no Brasil


Aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, maio 19, 2017

Sonoridades e pressas

E não é que, num artigo de hoje no JN, escrevi "arlequim e manjerona". "Arlequim" em lugar de "alecrim?" Foi erro, claro, não há desculpas! Estas sonoridades próximas levam-nos a estes lapsos embaraçantes, meia Commedia dell'Arte, meia arte de ervanária. Coitada da Colombina...

Portugal na Europa


Conferência/Debate "Que rumo para Portugal na Europa?", promovido pela Associação José Afonso, em Lisboa, dia 30 de maio, pelas 19 horas

Eleições francesas

Debate sobre "Eleições em França, consequências à escala europeia", promovido pelo IDL - Instituto Amaro da Costa, em Lisboa, no dia 26 de maio, pelas 13.00 horas


Brexit

Participação no painel "The EU after the UK referendum", no âmbito do 38º Colóquio de Relações Internacionais da Universidade do Minho, dedicado a "O projeto europeu: que União?", em Braga, dia 24 de maio, 4ª feira, pelas 14 horas.


Na minha outra juventude

Há muitos anos (no meu caso, 57 anos!), num Verão feliz, cheguei a Amesterdão, de mochila às costas. Aquilo era então uma espécie de "M...