A maioria agora cessante prestou um péssimo serviço à imagem política das gerações mais novas. Naquilo que aparentemente procurou ser uma espécie de refrescamento etário, o governo que termina funções acabou enxameado de figuras sem um currículo político significativo, alguns saídos da blogosfera e da intriga nas redes sociais, outros de cenáculos de obsessão neoliberal e do deslumbre das academias estrangeiras, outros ainda do serralho dos gabinetes, como é sempre típico dos tempos de “seca” política. Algumas exceções pontuais de qualidade só ajudaram a melhor definir aquilo que foi uma triste regra nestes quatro anos.
Esta pretendida geração da “rutura”, fortemente marcada por
uma ausência de experiência na gestão do Estado, havia mesmo sido aculturada no
ódio à coisa pública: menos Estado, menor Estado e, como se viu... o que sobrar
“para eles”! O “memorando de entendimento” foi a bíblia mais à mão, a qual,
aliás, tentaram completar com a rápida passagem “a patacos” de tudo quanto
tivessem à mão para privatizar, não fosse o Estado ter a “ousadia” de renascer
após a sua passagem de Átila. O patético afã com que agora estão a delapidar, à
última hora, o que ainda resta no domínio público envergonha e revolta até setores
que lhes são próximos.
A máquina política tem necessidade permanente de ser
rejuvenescida. Os “cabelos brancos” não são, em si mesmos, uma garantia de
competência e de experiência com utilidade e, em especial, de capacidade de
saber ler, com olhos de modernidade, as mudanças de orientação que os novos tempos
exigem. Ter mais idade não é, necessariamente, uma garantia de maturidade com
qualidade. Mas, naturalmente, como agora ficou patente, também o voluntarismo cego no “jeunisme” não assegura, por
si só, um desempenho eficaz.
Uma coisa é, contudo, clara. Por toda essa Europa, os membros
dos governos são cada vez mais jovens e começa a ser evidente que a regra é fazer
assentar na geração com 40/50 anos o essencial da responsabilidade política. Fora
disso, e não obstante a maior longevidade dos quadros, é hoje bastante mais natural
conferir funções governativas a jovens na casa dos 30 anos do que a figuras
entradas na faixa dos 60. Algumas pessoas não gostarão de ler isto, mas esta é
a realidade dos factos.
Por isso, um futuro governo PS deverá apostar na
responsabilização de quadros políticos jovens, militantes ou independentes, que
hajam dado provas ou deem garantias de um forte sentido de Estado, de devoção
desinteressada pela vida cívica, de maturidade na ação política e na gestão da
coisa pública, a somar a uma necessária formação académica e profissional,
assente em currículos que passem para além das funções de “aparelho”. Urge preparar
a geração de responsáveis políticos para os anos exigentes que aí vêm.
Atribuir-lhes desde já responsabilidades, dar oportunidade a que usem os anos
mais produtivos das suas vidas adultas ao serviço da comunidade, é uma aposta
essencial para assegurar que o país poderá contar com quem assuma, com
eficácia, a sua futura liderança.
(artigo hoje publicado no Acção Socialista digital)