sexta-feira, abril 18, 2014

A Revolução de Abril

Na tarde de 21 de abril, vou intervir no Congresso "A Revolução de Abril", organizado pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, a ter lugar no Teatro Nacional D. Maria II.

Faço parte de um painel sob o tema "Portugal no Mundo", moderado por Teresa de Sousa e integrado por Jorge Sampaio, José Fortes Bouzan, Pilar del Rio e Manuela Aguiar. José Madeiros Ferreira estava previsto para integrar este debate.

Para quem possa estar interessado, aqui fica o programa completo do Congresso.

quarta-feira, abril 16, 2014

Salazar e a emigração

Há cerca de ano e meio, em Paris, chegou ao meu conhecimento que ia ser publicada em francês uma tese universitária que refletia sobre atitude do salazarismo face à emigração. Contactei os editores e propus que o lançamento do livro fosse feito na embaixada de Portugal em Paris. Assim viria a acontecer.

Hoje, tive um grande gosto em estar presente na Fundação Mário Soares no lançamento em Portugal do livro "A ditadura de Salazar e a emigração", da autoria de Victor Pereira, tradução da obra original.

As intervenções de Irene Pimentel, que apresentou a obra, e do autor deram-nos conta de vários aspetos que o trabalho aborda, desde as ações de intimidação levadas a cabo pela polícia política portuguesa na comunidade emigrada à referência à importante questão, ainda muito pouco estudada, dos desertores e refratários da guerra colonial - uma temática que ainda vive abafada por um ambiente de incompreensível "incomodidade", que urge romper.

Uma nota final. O autor fez uma análise às intervenções públicas de Salazar, procurando nelas encontrar referências ao tema da emigração. E fez a impressionante constatação de que o ditador, perante uma realidade incontornável da vida portuguesa de então, manteve sempre um total mas significativo silêncio.

terça-feira, abril 15, 2014

Estratégia

 
Parece evidente que Portugal vive hoje sem uma estratégia nacional clara, contentando-se a vogar ao sabor da conjuntura e de agendas externas que não domina. Por essa razão, o país limita-se a reagir na base de um casuísmo que, frequentemente, torna inglórios esforços sectoriais, por mais meritórios que estes sejam. A sensação que Portugal projeta, no plano externo, é a de um país que está de tal forma condicionado pela urgência financeira que colocou todas as suas restantes opções numa espécie de "pousio", à espera de melhores dias. Um país assim é uma presa fácil para o oportunismo externo.

Com a ausência de um pensamento orientador para o país e a aparente falta de vontade de o promover, a crispação e a clivagem criadas face aos sectores políticos alternativos, bem como às forças económicas e sociais, veio agravar esta imagem de desorientação, de mera "navegação à vista", que é a forma mais lamentável de se exercer a responsabilidade de Estado. 

O que se passou com a "discussão" dos fundos do novo QREN foi bem revelador: em escassas semanas, pretendeu-se substituir, através de um modelo de "pareceres" e "consultas", um trabalho que deveria ter partido do cruzamento das novas disponibilidades com uma estratégia de Estado, previamente consensualizada, projetada no médio e longo prazos do novo quadro financeiro comunitário, que será o essencial do investimento público disponível para os próximos anos. 

A responsabilidade essencial desta falta de orientação pertence, como é óbvio, ao governo. Mas não só. Desde logo, parece insólito que o presidente da República, em face de uma grave situação de crise, não tivesse tido, durante os últimos anos, a iniciativa de promover uma reflexão nacional sobre as grandes opções para o futuro do país, para ela convocando as forças políticas, económicas e sociais. Nada disto tem a ver com o patético Conselho de Estado para discutir o "pós-troika" ou com a bizarra semana de conversas entre a maioria e o PS, numa espécie de recado de "entendam-se!" 

Num tempo tão turbulento, marcado pelo imediatismo da conjuntura, uma realização deste género - eventualmente apoiada no "conceito estratégico nacional" que uma comissão preparou para o governo em 2012 - poderia ter sido um valioso contributo para tentar consensualizar uma orientação para o país, válida para além dos ciclos políticos. E não se diga que o chefe do Estado não pode "meter-se" neste tipo de iniciativas: pelo contrário, a sua legitimidade política própria exige que exerça o seu papel para além da "espuma dos dias". Caso contrário, ficará condenado a que seja questionada a necessidade do presidente ser eleito pelo voto popular, bastando-lhe ser uma simples emanação da maioria parlamentar.

Termino com um reflexo externo desta evidente falta de estratégia. Na Europa, "ouve-se" há três anos o silêncio de Portugal, nota-se o olhar oficial angustiado para Berlim, a preocupação em furtar-se a qualquer política de alianças que possa ser menos bem vista pelos detentores da "safety net" que o governo acredita que os alemães nos estenderão, se alguma coisa "correr mal". No mundo, retraímos o dispositivo e a ação diplomática e hoje apenas "vendemos o país", limitados a uma imagem de "Oliveira da Figueira". É pouco e é triste. Portugal merecia melhor.

Artigo que hoje publico no "Diário Económico"

segunda-feira, abril 14, 2014

Gdansk

Olhando para a coleção de selos que, durante anos, me ajudou a desenhar a geografia política do mundo em que ia viver, o meu pai falava-me de Dantzig, a cidade mártir, do seu "corredor", cuja ocupação pelos alemães lançou a 2ª Guerra mundial. Dantzig tinha selos próprios, como "cidade livre" que chegou a ser. Ainda possuo alguns.

Decorreram uns anos. Dantzig já era designada pelo nome polaco de Gdansk. Vivia eu na Noruega e, em 1980, a cidade passou a ser o lugar onde nasceu o Solidarnosć, onde surgiu Lech Walesa à frente de uma revolta que iria abalar, ainda mais, os alicerces do muro que estava prestes a cair em Berlim. 

Quase duas décadas depois, acompanhei Jorge Sampaio numa viagem de Estado à Polónia. No roteiro figurava, como não podia deixar de ser, uma deslocação a Gdansk, a capital da Pomerânia polaca, onde nasceram Schopenhauer e Gunter Grass. Confesso que cuidei mesmo em que passássemos pelo estaleiro "Lenin", onde a revolta tivera o seu início.

(Devo dizer que então estranhei - e disse-o - que Lech Walesa não tivesse sido associado a nenhuma das cerimónias oficiais, como antigo presidente do país. A minha estranheza foi, contudo, recebida com uma reação por parte dos nossos anfitriões: Walesa já não era uma figura muito popular, a imagem "heróica" que dele sobrevive no imaginário oficial internacional não parece ser acompanhada internamente, um pouco ao jeito da de Gorbachev, na Rússia de hoje. "Vocês convidam o Otelo para as cerimónias oficiais?", perguntou-me ironicamente um amigo polaco com alguma memória lusitana.)

Estou desde ontem por Gdansk. Já ninguém fala de Walesa. Só me falam da Ucrânia, aqui já ao lado. A uma escassa centena de quilómetros da cidade está o enclave russo de Kalininegrado. A Polónia é hoje um país a que a sua trágica geografia induz preocupações bem concretas. Mesmo que eu próprio possa discordar de algumas avaliações que por aqui são feitas (ouvi-as, idênticas, na passada semana, em Varsóvia), em torno de certas opções geoestratégicas do Ocidente, tenho sempre um profundo respeito pelo sentimento de quem sofreu "muita História".

domingo, abril 13, 2014

MRPP

Existe uma "fórmula" quase imbatível para avaliar o destino dos antigos militantes do MRPP: os que ingressaram no partido antes do 25 de abril, estão em geral à esquerda; os que aderiram post-25 de abril estão à direita. 

Façam o teste com os vossos amigos e conhecidos.

Em mirandês...

Não sem algum orgulho, descobri há pouco isto no blogue Froles Mirandesas:

Yá ye tiempo de ampeçarmos a celebrar nós tamien (depuis de Válter Deusdado que tubo l'einiciatiba) l 25 de abril… que deberie de ser «ua fiesta» cumo screbiu hai dies, nun de ls sous artigos, Francisco Seixas da Costa, ex-ambaixador de Pertual an França. 

Em tempo: e o blogue mirandês reagiu

sábado, abril 12, 2014

Assunção

Vi na televisão a dra. Assunção Esteves dizer que a ida ou não dos capitães de abril a S. Bento no 25 de abril "é um problema deles". É capaz de ter razão. Para mim, é claro: com mais esta declaração, a dra. Assunção Esteves confirmou ser um problema nosso. Dos portugueses.

Cidadania

"Presidi" ontem, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a um interessante exercício de mobilização de cidadania, que envolveu várias dezenas de pessoas com perfis muito diversos. Tratou-se do Fórum de Vila Real, uma iniciativa que reproduziu idênticos eventos numa dezena de cidades. Nas cerca de quatro horas que o exercício durou, que tinha como pano de fundo os 40 anos do 25 de abril, os participantes dedicaram-se a identificar iniciativas, práticas e viáveis, para promover a cidadania e reforçar a participação democrática. O meu papel foi identificar uma temática entre as várias sugeridas, colocando os interventores a discutir modelos de realizações, sem grandes custos nem necessidade de novas estruturas. Agora, resta verificar o que vai sair deste trabalho. Mas, devo dizer, depois de alguma perplexidade e até ceticismo que inicialmente alimentei sobre o mesmo, fiquei convencido de que há uma reserva de boa vontade e até de utopia que mostra que subsiste ainda um Portugal bem acordado e com uma generosidade solidária. Graças ao 25 de abril, diga-se.

sexta-feira, abril 11, 2014

Injustiças

Acabo de ler: Cristiano Ronaldo foi consultar ao Porto o famoso ortopedista José Carlos Noronha e veio de lá com a certeza de que o problema do seu joelho é simples e sarável.

Esta vida não é justa: há dias, o meu joelho foi visto, uma vez mais, por esse "mago" portuense e a conclusão foi precisamente a oposta. 

C'os diabos! Já não há justiça?!

Assuntos Europeus

O "Le Monde" sublinha hoje o facto de a França ter tido, nos últimos 12 anos, precisamente 12 titulares da pasta dos Assuntos Europeus, nos seus governos. É, de facto, impressionante, esta rotação intensa, num posto governamental para o qual, curiosamente, se exige uma preparação algo específica. Em princípio.

Em Portugal, a nossa experiência não é tão "rica". Entre a entrada para as Comunidades Europeias, em 1986, e 2001 (15 anos), houve apenas dois titulares (um por cerca de 10 anos e outro por pouco mais de cinco anos). Depois disso, isto é, nos últimos 13 anos, tomaram posse entre nós oito titulares dos Assuntos Europeus. Não é o mesmo "ritmo" da França, mas não deixa de ser um número significativo.

A estrutura que, entre nós, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus tutela em prioridade tem-se mantido com uma certa estabilidade, desde 1986. Depois do período da Adesão, começou por chamar-se Direção-Geral das Comunidades Europeias, depois dos Assuntos Comunitários, para agora ser dos Assuntos Europeus. A sua estrutura interna teve algumas variações ao longo destes 28 anos, fruto da evolução da leitura quanto ao modelo de coordenação de certos setores com atuação na área europeia. Porém, o setor dos Assuntos Europeus tem sido, ao longo destes anos, um pilar muito sólido, quer no seio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, quer na sua interlocução com as diversas áreas da nossa Administração Pública. No meu caso pessoal, foi um orgulho ter servido nessa casa, em três diferentes cargos de chefia, num período total de quase nove anos.

Palhaçada

Não gosto muito de usar estes termos para uma data a que estou ligado afetivamente, mas acho que a polémica que se está a criar em torno da comemoração dos 40 anos do 25 de abril ameaça converter, uma vez mais, uma evocação que deveria ser festiva numa triste romaria de discursatas, com aproveitamento oportunista por todos, para efeitos políticos de conjuntura. Continuo a pensar o que sempre pensei: o 25 de abril deveria ser comemorado como uma grande festa popular, como uma elegia à liberdade, com o povo na rua numa grande celebração coletiva. Sem um único discurso.

O que, uma vez mais, vai acontecer em São Bento é uma espécie de "assembleia geral" anual do 25 de abril, com os vários "accionistas" a fazerem uma avaliação do "relatório e contas" apresentado pela administração de plantão. Cada um fará o seu "número", uns aproveitando o ensejo para denunciar os "desvios" ao "espírito" de abril, outros tentando passar por entre os pingos das críticas, disfarçando mal a forma como historicamente sempre conviveram com o significado da data. Como há uma eleição à porta, o ensejo irá funcionar como um despudorado tempo de antena de campanha, com os tenores escolhidos a preceito, tentando tirar efeitos cénicos para conquista de prosélitos, para o voto que aí vem.

Os "media" do país europeu com mais canais televisivos de "informação" explorarão, até à exaustão, as "nuances" e as contradições dos adjetivados pronunciamentos, a começar pelo penúltimo texto a ser lido na ocasião pelo ocupante de Belém, que é sempre um "must" na exegese da maratona declaratória da data. De passagem, ouvirão os ex-capitães, todos bem cravados ao peito, irados como lhes compete com a retirada da sua palavra na cerimónia, alguns remoendo patéticas ameaças de um "remake". Os da esquerda mostrarão a sua "indignação" com essa injustiça, os do "outro lado" ("esquerda" assume-se, "direita" esconde-se; por que será?) desvalorizarão o facto, com o argumento de que ninguém é "proprietário" da Revolução - também não lhe chamarão assim, claro, em especial não utilizarão a maiúscula.

Ao final do dia, aquela que deveria ser uma festa da liberdade, acabará transformada num gigantesco "Prós e Contras", com Fátima Campos Ferreira substituída, sem especial vantagem, por Assunção Esteves. Depois queixem-se de que as novas gerações se sentem cada vez mais desligadas do 25 de abril!

quinta-feira, abril 10, 2014

O "22 de Paio Pires"

Há dias, num debate, tive uma ideia "peregrina": falar do "22 de Paio Pires". Havia uma boa razão para isso: estava a tomar a palavra perante um auditório da localidade de Paio Pires. Mas que diabo é o "22 de Paio Pires", perguntarão alguns? Pois é, leitor, foi pela certeza de que a esmagadora maioria do auditório de Paio Pires, ao qual eu falava, não fazia a mais leve ideia do que era o "22 de Paio Pires" que decidi não abordar o tema. Esta é, portanto, desculpem lá!, uma histórieta sobre um "não evento".

O "22 de Paio Pires" foi um divertidíssimo "sketch", interpretado por um ator de que a maioria dos leitores deste blogue também nunca ouviu falar: Humberto Madeira (1921-1971). Madeira tentava ligar para o número de telefone 22 da localidade de Paio Pires e, sequencialmente, saiam-lhe à linha uma diversidade de interlocutores errados, o que tornava a conversa hilariante. 

Falo disto pela circunstância, que cada vez mais me acontece, de ter de cuidar, em conversas ou intervenções públicas, em escolher referências que possam ser entendidas pela generalidade das pessoas presentes. Sei que isto é claramente uma questão etária, mas confesso que começa a ser angustiante ter de olhar em volta, medindo o conhecimento médio do auditório, antes de citar um facto, um autor ou fazer uma graçola com base numa citação.

Tempos atrás, comecei a contar num grupo de jovem colaboradores uma história relacionada com Pedro Moutinho, uma das mais populares figuras da rádio dos anos 40 a 60. Conheci Moutinho bastante bem, já depois do 25 de abril, em circunstâncias curiosas - mas só relevantes em função do conhecimento do passado de Pedro Moutinho. Ele deixara de ser locutor e fora mesmo algo hostilizado pelo regime democrático. A certo passo da minha narrativa, pela cara dos presentes, dei-me conta de que estava a fazer verdadeira "geometria no espaço". Ninguém ouvira alguma vez falar de Pedro Moutinho, pelo que a minha historieta pessoal com este último não tinha, aos seus ouvidos, a menor relevância. Os sorrisos simpáticos que dedicavam ao que lhes dizia relevavam mais de uma piedosa tolerância do que de uma genuína atenção. Aprendi a lição. 

Talvez por isso, abstive-me de contar o episódio do "22 de Paio Pires". Mesmo em Paio Pires. 

quarta-feira, abril 09, 2014

A memória de Jouyet

Jean-Pierre Jouyet, antigo secretário de Estado dos assuntos europeus de Nicolas Sarkozy, acaba de ser nomeado secretário-geral da Presidência da República francesa. Trata-se de um lugar da maior importância no xadrez político de Paris. Jouyet é um homem muito próximo de François Hollande, um dos seus maiores amigos, e já em 2012 o seu nome "corria" para o cargo. É uma figura de uma extrema cordialidade, com quem criei uma ótima relação, com uma leitura muito interessante do papel da França na Europa. Numa sociedade tão polarizada como a francesa, diz muito da sua qualidade o facto de ter sido aceite a sua "travessia" da fronteira esquerda-direita, isto é, integrar o "core" do poder socialista depois de ter pertencido ao governo de Sarkozy. Para quem conhece a França, é obra!

No termo da presidência francesa da União Europeia, em 2008, Jouyet publicou um livro que passou praticamente despercebido na vaga da literatura "de conjuntura" em que a França é fértil. Chamava-se 'Une Présidence de Crises". A certo ponto do livro, Jouyet critica fortemente a Comissão Europeia sobre a gestão da crise de 2008. Passo a traduzir um extrato significativo: "Ela (a Comissão) deveria ter antecipado muito mais e ter modificado a sua linha da conduta muito mais cedo. Na sexta-feira (10 de outubro de 2008), enquanto que Fortis (importante instituição financeira do Benelux) está à beira da falência, José Manuel Barroso, que eu cruzo em Nova Iorque, quase que se ri de mim: "Jean-Pierre, estás enganado, diz-me ele. Não é necessário alarmar as pessoas. Trata-se, antes de tudo, de uma crise americana". Viu-se!

Lei da rolha

Pinto da Costa foi suspenso por criticar a atuação de um árbitro. Sou insuspeito da menor simpatia pelo FCP, mas espanta-me que a sociedade portuguesa conviva sem uma revolta com esta verdadeira ditadura da "justiça" desportiva, que impede que um dirigente, seja ele quem for, possa considerar má ou medíocre, em público, uma arbitragem, ou tenha uma livre opinião sobre aspetos da prestação de um cavalheiro do apito, no pleno uso da liberdade que a lei comum concede a todos nós. É claro que, se na formulação dessas críticas, alguém vier a atingir a honorabilidade da pessoa do árbitro, lá estarão os tribunais comuns para julgar a eventual ofensa. 

Esta "lei da rolha" que vigora nos órgãos futebolísticos - e atinge jogadores, treinadores e dirigentes - é em absoluto contrária à liberdade constitucional de expressão ganha no 25 de abril. E por que será que ninguém fala disto?

João Paulo Guerra

A Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu ontem o prémio "Igrejas Caeiro", dedicado a uma personalidade destacada da rádio portuguesa, a João Paulo Guerra. Por lá estivemos, amigos, familiares e admiradores do João, a dar-lhe o merecido abraço.

Foi uma cerimónia simples, talvez demasiado simples, pelo menos para o meu gosto. Senti pena que a SPA não tivesse cuidado em aproveitar este ensejo para criar um momento que permitisse sublinhar devidamente o notável percurso radiofónico de João Paulo Guerra, enquadrando os seus diversos tempos na rádio com o trabalho desenvolvido em jornais, relevando também a sua obra publicada e, porventura, recortando alguns aspetos mais interessantes do próprio perfil pessoal do homenageado. João Paulo Guerra foi e é uma figura de primeira grandeza na rádio em Portugal. Se este prémio da SPA o honra a ele, o contrário também não deixa de ser verdade.

Em tempo: ouçamos o João Paulo aqui.

terça-feira, abril 08, 2014

Benita Ferrero-Waldner

Era o dia dos meus anos, naquele início de 2000. Fazia um périplo pelas capitais europeias para tentar ultrapassar as dificuldades surgidas no arranque das negociações da Conferência Intergovernamental que iria fixar o Tratado que viria a chamar-se de Nice. Vinha de Estocolmo e o Falcon, já de regresso a Lisboa, parou em Madrid, onde eu iria ter um encontro com o meu colega, o secretário de Estado espanhol dos Assuntos Europeus, Ramón de Miguel.

À saída do avião, tinha dois recados.

O primeiro era de Lisboa: no termo da reunião com os espanhóis, deveria fazer uma declaração à imprensa sobre a decisão da Áustria de constituir um governo que incluía um partido de extrema-direita, que fora anunciada na noite anterior. Competia-me explicar o modo como a presidência portuguesa da União Europeia via a questão, que já estava a agitar toda a Europa.

O segundo recado era mais intrigante. O meu colega espanhol mandava avisar-me que a indigitada nova ministra dos Negócios Estrangeiros austríaca, Benita Ferrero-Waldner, estava secretamente de visita a Madrid e queria encontrar-se comigo, de forma discreta.

Eu conhecia Benita muito bem. Ela fora, até então, responsável pela pasta dos Assuntos Europeus no governo do seu país e havíamos criado, ao longo de quase cinco anos, uma excelente relação pessoal. Viera recentemente a Lisboa, a meu convite, e recebera-me em Viena, em anos anteriores. Diplomata de carreira, antiga chefe de protocolo das Nações Unidas, é a mais latina de todos os austríacos que conheci, o que seguramente se fica também a dever ao facto de ser casada com Francisco, um simpático espanhol. Benita, aliás, fala um impecável castelhano.

Sem revelar o inesperado encontro que ia ter aos três jornalistas que me acompanhavam - Alexandra Marques, Lassalete Marques e Paulo Nogueira -, fui discretamente falar com Benita numa sala do Palácio de Santa Cruz, as "Necessidades" espanholas. O que foi dito nessa conversa fica para ser analisado em outra altura. Apenas posso dizer que foi algo difícil compatibilizar essa conversa com a declaração que, depois, tive de fazer na conferência de imprensa.

Este e outros episódios desse tempo complexo foram ontem lembrados por ocasião de um jantar em Lisboa, a que Benita esteve presente, juntamente com Luís Amado, outro dos seus amigos portugueses. Ela teve a simpatia de recordar o modo natural como Jaime Gama e eu próprio a acolhemos no primeiro Conselho de Ministros da UE a que assistiu já como MNE, contrastando com a atitude de muitos outros colegas, que positivamente a ignoraram. Disse-me que nunca esqueceu esse nosso gesto e estou em crer que talvez isso tenha contribuído para que a sua primeira visita a um parceiro comunitário, após o levantamento das "sanções" à Áustria, tivesse sido a Portugal.

Benita Ferrero-Waldner ficou vários anos como ministra. Encontrei-a por diversas vezes em Viena, quando por lá trabalhei junto da OSCE. Viria a ser ainda comissária europeia, tendo tido um papel essencial na questão da parceria estratégica com o Brasil, aquando da nossa presidência de 2007. Hoje dirige uma fundação para as relações entre a Europa e a América Latina, com sede em Espanha.

(Quem tiver curiosidade sobre o tema das sanções à Áustria em 2000, pode consultar aqui e aqui)

segunda-feira, abril 07, 2014

A entrevista de José Sócrates

Se a RTP pretendia aumentar as audiências do programa "A entrevista de José Sócrates" (estou em crer que o nome "A opinião de José Sócrates" não pode sobreviver por muito tempo, no formato atual) tê-lo-á conseguido plenamente. O episódio de ontem foi delicioso para quem a ele assistiu e, agora, todos aguardaremos as cenas dos próximos capítulos.

A vida e a curva

Ontem, na festa de aniversário de um amigo - um tempo de reencontro e também de poesia - alguém lembrou este belo poema de Alberto Caeiro. Já o não ouvia há uns bons anos, mas fez-me muito bem recordá-lo.

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

domingo, abril 06, 2014

As mulheres e a Europa

Quando andei pelos assuntos europeus, as mulheres eram largamente predominantes nos cargos técnicos especializados. Na primeira estrutura criada aquando da nossa adesão às Comunidades, trabalhei num "open space" rodeado de colegas femininas, apenas com um outro homem em toda a imensa sala. Fui, aliás, o primeiro funcionário diplomático, na história do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a ser chefiado por uma técnica, exterior à carreira. Anos mais tarde, no meu gabinete, quando membro do governo, chegou a haver um período em que, salvo os motoristas, só tinha mulheres a trabalhar comigo - chefe de gabinete, adjuntas, assessoras e pessoal administrativo. Nas minhas funções, aliás, foram muito raros os homens que nomeei para lugares de chefia.

Lembrei-me disto ontem, num colóquio sobre a Europa em que participei. Além de mim, todas as restantes quatro intervenções especializadas foram de mulheres. Aliás, magníficas prestações. As mulheres continuam "a dar cartas" nos assuntos europeus.

... e logo se vai ver!

Ver aqui .