domingo, fevereiro 22, 2015

Não, senhora ministra!

A ministra Maria Luís Albuquerque é, no plano técnico, uma das figuras mais competentes deste governo. Dirão alguns, mais cínicos e irónicos, que isso não é difícil... Talvez seja verdade, mas o que é indiscutível é que a senhora ministra das Finanças demonstra, com clareza, ter um perfeito domínio das questões que lhe compete tutelar, sendo mesmo capaz de o fazer com uma capacidade de explicitação pública muito superior ao seu antecessor. E lá virão os mesmos dizer que também isso, em si, não é obra por aí além... Quero com isto dizer que, goste-se ou não da política que defende - e eu não gosto mesmo nada - ela defende-a de forma capaz e a prova provada disso está no crescente "appeal" que faz nascer nas hostes do seu partido, onde, qual Cavaco Silva ao rodar o carro para a Figueira da Foz, surge sebastianisticamente como uma promessa, ungida daquela sedução pelos titulares das Finanças que, de tempos a tempos, empolgam os setores conservadores de um país que nunca soube fazer suas contas.

Dizia-se de um certo professor que tive que, entusiasmado pelo brilho que achava ter nas suas aulas, saía delas "aos ombros de si próprio". A senhora ministra das Finanças, verdejante oásis no deserto político em que se move, ter-se-á também deixado deslumbrar pelo nível da sua "performance" dentro do executivo de que faz parte e tem vindo a dar mostras de um comportamento que, frequentemente, roça já um perfil de arrogância e alguma sobranceria. Vê-se isso no parlamento onde dá ares de que mais ninguém "sabe da poda". Não fosse o seu sorriso gaiato e a sua cara laroca a ajudarem e as coisas seriam ainda bem piores.

O destino político da senhora ministra estará, daqui a meses, na mão dos portugueses. E esses, a seu tempo, dirão de sua justiça. Só que, até lá, a senhora ministra não tem um mandato que lhe permita, ainda que temporalmente, conspurcar fora de portas o nome do país honrado em que exerce funções. Alguém deveria conseguir explicar à senhora ministra que o espetáculo a que se prestou ao lado do seu colega alemão foi de uma indignidade, quase sem par, na representação externa do Estado. Deixar-se utilizar como instrumento comparativo por parte de Berlim na sua cruzada de isolamento da Grécia configurou uma das mais tristes figuras que alguma vez vi fazer a um governante português na ordem externa - e, podem crer!, já vi bastantes e bem lamentáveis. E prolongar essa atitude no Eurogrupo, para entrar no "quadro de honra" com que Berlim premeia os "alunos" bem comportados, ajudando cobardemente à humilhação de um país também amigo e aliado, provocou um incómodo muito raro no país, ao que se diz até nas hostes da maioria. Este governo - e meço as palavras - consegue, dia após dia, surpreender-nos na sua capacidade de rebaixar a dignidade do Estado que circunstancialmente titula.

24 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Concordo na essência do que diz sobre a indignidade a que nos vimos sujeitos ao darmos com uma senhora do nosso governo a prestar-se a tão tristes figuras. Uma vergonha que arrepia. Uma vergonha que nos dá vontade de a impedir de nos continuar a representar. Envergonha, menoriza e prejudica Portugal.

Mas não concordo quando a diz competente. Ela tem clareza de expressão e assertividade e diz uma coisa e o seu contrário com a impetuosidade dos que não têm pudor. Vejo nela o mesmo mérito que vejo em Passos Coelho que também diz uma coisa e o seu contrário olhando de frente e com a voz bem colocada. Parece que sabem o que dizem. E assim enganam os mais incautos. Frequentemente enrolam o discurso tornando-o incompreensível e, portanto, podem passar a ideia de que falam de coisas complicadas. Ele enrola-o porque tem naturais dificuldades no manejo da língua portuguesa, ela usa terminologia técnica. Mas competentes não são. Veja-se o resultado das suas políticas. Pelos frutos os conhecemos, Embaixador. E quem pode dizer que os frutos são bons?

Joaquim de Freitas disse...

REVOLTA !!!!
A atitude subserviente da ministra das finanças portuguesa junto do ministro alemão Schaüble e a posição vergonhosa do executivo português perante o combate do governo grego para suavizar o sofrimento do seu povo, indispôs-me. E que esquecem que se o compromisso falhar, em Junho estaremos no mesmo ponto, mas o euro e a UE arriscam o colapso. Porque a situação será então pior que hoje.

A reacção do mesmo executivo perante a "confissão" de Junker sobre o facto das instituições europeias terem "pecado" contra Portugal, o que este executivo desmente, também me chocou.

Desmente, porque tudo vai muito bem no nosso jardim à beira mar plantado. Os jovens emigram em massa, e não é por espírito de aventura, mas antes " por "não caberem no berço" (na expressão de Torga , ), que se lançam nos caminhos do mundo em busca de outros horizontes.
Os que ficam , a maioria, conforma-se com o que pode obter, precário ou periclitante, mal remunerado, como as reformas e as pensões de miséria.
Portugal encontra-se no 26º lugar no índice mundial de miséria, as cantinas escolares do ensino básico servem refeições "pobres em calorias" devido aos "limitados" recursos financeiros para os refeitórios escolares, o governo deve subsidiar milhares de refeições aos pobres, e no fim de tudo isto, os Portugueses ainda têm medo.
O medo de perder mesmo o pouco que têm! O medo é ancestral em Portugal e o de hoje corresponde a uma falta de ousadia e ausência de auto-estima, que ultimamente se fez moda. Ah, a foto da ministra das finanças junto do gauleiter das finanças persegue-me!

"Petits toutous" de companhia de Madame Merkel, como ontem do Tio Sam, quando Portugal , com outros países, proibiu o sobrevoo do território nacional ao avião de Evo Morales de regresso à Bolívia.

Anónimo disse...


Sr. Embaixador haverá a certeza que a Maria Luís tem "tamanho peso" que possa influenciar a balança das decisões do Eurogrupo?!!!
ou não nos ligam nenhuma ou então partimos a loiça!

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Um Jeito Manso. São competentíssimos, na perspetiva daquilo que entendem que lhes compete fazer. Esse é o maior insulto que lhes podemos fazer.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 14.03. Ninguém afirmou que MLA tem peso no Eurogrupo. A ser, é um "peso leve", como se diz no boxe. Serve, no entanto, à maneira, à estratégia dos "pesos pesados"

Anónimo disse...

Gostei do Post. E subscrevo inteiramente UJM. Quer ela, a MLA, quer o Gaspar são incompetentes. Vejam-se os resultados. O País está pior do que alguma vez esteve. Ao nivel do PIB, do desemprego, de tudo! MLA é uma incapaz. Uma medíocre. Agora, como diz e repesco, “ela (e o inqualificável Gaspar) são competentíssimos, na perspetiva daquilo que entendem que lhes compete fazer. Esse é o maior insulto que lhes podemos fazer”. Nem mais! Como se não bastasse, ainda se prestam a indignidades perante SShauber, a atitudes de arrogância no Parlamento e a provocações anti-Grécia. Este governo de extrema-direita tem os dias contados – felizmente! Mas, os estragos que fez são de monta! No plano social, económico e financeiro (e na saúde, educação, justiça, etc).
P.

Anónimo disse...

Um retrato exemplar! Parabéns Francisco

Anónimo disse...

Ao colar-se a Schauble estaria Maria Luis Albuquerque a defender os interesses Alemães ou os interesses Portugueses?

Explico a minha questão. Dado a Grécia não conseguir financiar-se normalmente nos mercados toda e qualquer concessão feita aos Gregos que envolva mais dinheiro irá ser prejudicial para os restantes países, os únicos que lhes emprestam dinheiro e por questões meramente políticas.

Ora, dada esta realidade, não estaria a senhora Ministro de Estado e das Finanças a defender os interesses Portugueses? Ou terá sido encontrado petroleo no Beato, a República ficou a nadar em dinheiro e eu não me apercebi?

Anónimo disse...

Reparem como o Freitas, até neste assunto, conseguiu arranjar maneira de trazer os americanos à baila.

O homem é um obcecado!

Anónimo disse...

Lapidar, caro Francisco. O melhor post de sempre.
Um abraço
JPGarcia

patricio branco disse...

foi mais que patetico, essa cena da ministra chamada a Berlim pelo mentor para explicar publica e internacionalmente, sob o olhar vigilante do guru alemão, as virtudes da fé que o governo português adoptou.
também tudo muito grosseiro pelas intenções que houve, mostrar que a Grecia está a actuar mal, e a imagem da propaganda teutónica ficará para sempre colada a maria luis albuquerque.
triste, patetico, subserviência, prestar-se a esse papel (com outros antecedente do governo).
e, já agora, teria na reunião do euro grupo cumprimentado ou falado já com o seu colega grego ou será como ppc disse, ainda não, haverá ocasião.
ao menos que os alemães nos paguem pelo servicinho a que nos estamos a prestar.

opjj disse...

Adenda: No debate da Sexta Ferro Rodrigues disse 400.000 que emigraram e no Sábado António Costa disse 300.000.Já o disse aqui, não será melhor acertarem as agulhas numa coisa tão simples! É OBRA 100.000 de diferença.Por estas aqui chegados.
Cumps.

JS disse...

Sim. Um "colega", o alemão, sobranceiramente a gabar a "colega?. "Colegas"?. Tristezas.

Ter de confiar mais na comunicação social internacional também não é alegria nenhuma.


Dizia um certo professor que a maioria dos alunos vem aqui para tirar um curso, literalmente falando. Aprendem lestamente a debitar o que o professor quer ouvir. É e será, com muita confiança, o seu método toda a vida. O pior é quando quem os aprecia conhece outras cartilhas.

O "colega" grego, falha umas, acerta outras. "Different folks, different strokes".

Anónimo disse...

A ministra não é pior do que a Presidente do Parlamento que abriu aos jornalistas e às câmaras as entradas triunfais da troika acompanhadas de dois ushers menores, o matraquilhos e a senhora de fato branco de rosa exuberante na lapela. Esperemos que todas estas personagens grotescas desapareçam de vez da nossa paisagem.

Graça Sampaio disse...

Muito bem! E que bem dito, caro Embaixador!!

EGR disse...

Senhor Embaixador: um grande aplauso! retrato fiel da estatura, ou melhor da falta dela, de quem nos governa.

Anónimo disse...

Uma nação amiga, a Grécia? Que se lhe oferece dizer sobre isto:

Em 1984, Papandreou ameaçou vetar a adesão de Portugal e Espanha.

Memória fraca têm alguns... e falta de brio nacional também.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador

A Senhora Ministra além de competente, para desgosto de alguns defendeu os interesses de Portugal e não os da Grécia. Por isso tem sido tão atacada.

Espero bem que nas próximas eleições a maior parte dos Portugueses reconheça a competência desta Ministra e da Equipa governativa, e não votem naquele partido que nos colocou na bancarrota .

Anónimo disse...

J.M. Mello Breyner,
Felizmente que os portugueses não são estúpidos e saberão reconhecer que este governo e a sua ministra das finanças (como o seu antecessor) foram incompetentes e que foram eles os responsáveis pelo desastre que refere. Não foi o anterior governo, embora tenha parte da culpa, mas este governo que nos endividou de um forma irreparável, nos arruinou economicamente, nos agrediu socialmente, destruiu a Saúde, o Ensino (embora em ambos os casos tenha "doado" aos privados milhões de euros dos contribuintes!), a Justiça, contribuiu para o aumento do desemprego, da miséria, do desquilibrio completo da classe média, levou à emigração de milhares de portugueses qualificados, enfim, colocou o páis de rastos e de joelhos perante a Troika e os mercados. Só mesmo uma visão vesga pode dizer coisas espantosas como as que referiu. Em Outubro serão finalmente escorraçados, para seu desgosto.
José António Nogueira

Anónimo disse...

"Presunção e água benta cada um toma a que quer !"

Anónimo disse...

J.T. Mello Breiner, tirou-me as palavras da boca, concordo inteiramente consigo. Parabens pelo seu post. :)
VW

ARPires disse...

Jose Tomaz Mello Breyner, em Outubro vai levar a resposta do povo português, pela simples razão de que não são estúpidos.

Joaquim de Freitas disse...

Talvez que o Sr. Mello Breyner considere que a situação dos pobres perante a doença, não tenha importância, e que o "seu" governo liberal , competente, fez muito bem.

"As medidas do Governo de contenção da despesa no sector da saúde fizeram com que Portugal acabasse por cortar o dobro do que era exigido no memorando de entendimento com a troika, diz um relatório da OCDE."
Esta é uma das principais conclusões do relatório Health Spending Growth at Zero – Which countries, which sectors are most affected?,

Anónimo disse...

Ao anónimo das 12.39 e, sobretudo à maioria dos comentadores deste texto : o socialista Papandreou não só ameaçou vetar, fez os impossíveis durante muitas reuniões para evitar a entrada de Portugal e de Espanha ... e acabou por concordar mediante um substancial reforço financeiro para... a Grécia.

Será que a memória é curta , não querem ver ou é mesmo ignorância ?!?

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