Extracto da palestra proferida pelo Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, na Federação das Indústrias do Estado do Ceará, em Fortaleza, em 8 de Agosto de 2005
Nestes tempos em que se tem falado, com inédita exposição mediática, de alguns interesses económicos portugueses no Brasil, há duas ou três coisas que, na minha qualidade de embaixador, quero deixar claro, até para evitar que algumas árvores possam esconder a floresta.
O investimento português no Brasil, que teve uma forte intensificação na segunda metade dos anos 90, representou e continua a representar uma aposta assumida nas virtualidades da economia brasileira, de aberta confiança no seu processo de crescimento e consolidação.
Portugal chegou a ser, em anos consecutivos, o terceiro investidor internacional no Brasil, o que não deixou de surpreender alguns, pouco habituados a verem-se confrontados com uma atitude tão positivamente agressiva por parte de agentes económicos portugueses, em certos casos afectando competitivamente as suas próprias ambições e interesses.
Em anos mais recentes, esse fluxo de investimento abrandou em termos quantitativos, não obstante terem entretanto surgido novas iniciativas, de que a hotelaria e as operações turísticas são o melhor exemplo. Neste último caso, o papel da companhia aérea TAP tem sido um factor de grande dinamização do sector, com uma frequência de mais de 40 voos semanais para diversas cidades brasileiras.
O investimento português foi e é, na generalidade, muito bem recebido, quer a nível do Governo federal, quer no âmbito dos diversos Estados em que se fixou. Nos contactos que venho mantendo com os Governos desses Estados, verifico existir uma crescente apetência para a captação de mais investimento português e temos iniciativas em curso com vista a ajudar a potenciá-lo – sabendo, embora, que ela dependerá, em primeira instância, da forma como as próprias empresas continuarem a ser acolhidas, do modo como virem recompensado o seu esforço, dos incentivos oferecidos e, em geral, do clima em que puderem actuar.
Do mesmo modo, muitos desses Estados reconhecem o papel primordial da TAP no seu processo de desenvolvimento económico e eu próprio tenho recebido insistentes pedidos para que as rotas daquela companhia se alarguem a Estados brasileiros para onde ainda não opera.
Convém que todos entendam que o investimento português no Brasil, na sua esmagadora maioria, veio para ficar, não obstante algumas empresas terem entretanto atravessado períodos de dificuldades, o que é uma contingência natural em todo o tipo de negócios. Hoje, de acordo com o Banco Central brasileiro, cerca de 600 empresa com capital oriundo de Portugal operam neste mercado. Mas é necessário ter presente que algum desse capital de origem portuguesa escapa ainda a esta estatística, por ser oriundo de outras praças financeiras com regimes fiscais mais favoráveis.
Há indicações segundo as quais o investimento directo português na economia brasileira ascende a cerca de 15 mil milhões de dólares. Estima-se que mais de 100 mil empregos directos derivem das acções dessas empresas de capital português, o que dá bem nota da sua importância relativa. Estamos perante operadores que actuam numa diversidade muito grande de áreas – desde o sector eléctrico, as telecomunicações, a banca, as concessões rodoviárias e de água e saneamento, as autopeças, o têxtil, os aglomerados de madeira, a hotelaria e restauração, os cimentos, a distribuição comercial, etc.
A acção destas empresas configura, muitas vezes, casos de grande sucesso, mesmo de liderança, num mercado difícil e complexo, no qual souberam impor-se a competidores nacionais ou internacionais. É uma competição árdua e nela a qualidade dos nossos operadores económicos tem vindo a impor-se pela qualidade dos serviços prestados, pelo profissionalismo dos técnicos envolvidos e pela seriedade do seu trabalho – no que, aliás, confirma apenas a imagem de respeito e honestidade que Portugal e os portugueses têm neste país. Foi e continua a ser um grande esforço de que Portugal muito se orgulha e que eu, enquanto embaixador, não cessarei de apoiar e de promover neste país.
Recentemente, o nome de empresas portuguesas surgiu ligado a presumíveis iniciativas, ainda que não concretizadas, que potencialmente associavam eventuais intervenções económicas a certos interesses de natureza política. A investigação em curso, que se deseja rápida, profunda e esclarecedora, contará, em tudo quanto for necessário, com a inteira disponibilidade oficial portuguesa, a bem da verdade, da justiça e da preservação do bom nome da acção económica portuguesa no Brasil. Os investidores portugueses no Brasil sabem que contarão sempre com a sua Embaixada para a defesa dos seus legítimos interesses neste país.