sexta-feira, fevereiro 10, 2023

O sol e a saudade

O sol brilhava para todos eles, para os manifestantes que ontem encheram ruas, criando, no espírito de muitos, saudades da geringonça, tempo em que, recordo, nada daquilo se passava.

quinta-feira, fevereiro 09, 2023

“Primeiro de Maio”


Quando, há mais de meio século, trabalhei por uns anos na Caixa Geral de Depósitos, a “Antiga Casa Primeiro de Maio”, ao lado, na descida da rua da Atalaia para o Calhariz, era uma “tasca de almoço” (classificação íntima) que, contudo, não era pouso regular do meus assimétricos grupos de amigos e conhecidos. 

Porquê? Porque, à época, tinha um preço ligeiramente mais alto do que outros locais similares e, nesse tempo, entre os meus colegas, havia quem tivesse de fazer bastantes contas à vida. Por isso, eu só raramente passava por lá, tal como pela vizinha “Primavera do Jerónimo”, que a fotografia assinada da Josephine Baker, no caixilho na parede, elevava a lugar de culto, com o toque turístico a refletir-se no preço dos históricos filetes de pescada. 

Esse era o tempo de um outro Bairro Alto, ainda sem “Frágil” nem “Pap’Açôrda”, onde não tinham despontado o “Casanostra” ou o “Bota Alta”, em que, para a noite, o “Alfaia” já estava na moda e à medida dos nossos bolsos, tal como, um pouco mais tarde, aconteceria com o “Baralto”, o “Fidalgo” e a “Tasca do Manel”. A “Baiuca” e o “El Ultimo Tango” ainda estavam para nascer. Do que por lá vai agora, nem sombras.

Mudei entretanto de ofício e de geografias de trabalho. A partir dos anos 80, quando vivia ou visitava Lisboa, era regular visitante do “Primeiro de Maio”. Aos sábados, era a minha cantina de almoço, sempre com a cinematográfica figura de António Lopes Ribeiro, já bem entrado na idade, a dominar uma das mesas. O “Primeiro de Maio” foi muito “trendy” por bastantes anos, com figuras e figurões bem conhecidos, da política à cultura, por ali amesados.

A cara tutelar do “Primeiro de Maio” era então o senhor Santos, com a sua mulher na cozinha. O seu sorriso acolhedor recebia-nos mal surgíamos no alto dos degraus de entrada. Nesse tempo em que reservar era a exceção, a regra, para nós, era aparecer uma mesa quase por milagre, com intimidade garantida com inesperadas vizinhanças, entre as quais cheguei mesmo a criar amizades. Belos tempos esses!

Entre as mesas do “Primeiro de Maio”, a certo momento, passou andar o Mário, sobrinho do senhor Santos, um miúdo que ajudava ao serviço. Desde que o tio se reformou, passou ele a ser a minha âncora numa casa onde, contudo, ultimamente não tenho ido muito. Fui hoje, com uma tertúlia aperiódica de cavalheiros que andam pela vida como os ingleses conduzem pelas estradas, um grupo que não tem pouso fixo, que erra (às vezes acerta) por vários endereços.

O Mário lá continua, à frente da casa, sempre simpático, herança boa do tio, que vive a merecida reforma na Beira. Os turistas que, aqui há uns anos, tornavam o espaço numa babel às vezes excessiva, desapareceram, desde há uns tempos, para as centenas de outras paragens que vão abrindo e fechando por essa Lisboa. O que havia de gente a mais, num certo período, parece haver a menos, nos dias que correm. E é pena.

Um conselho para antropólogos amadores com bom gosto, curiosos de uma certa Lisboa do passado que ainda por aí subsiste: passem pelo “Primeiro de Maio”, almocem ou jantem num local que terá sempre uma linha bem estimável na história da restauração de Lisboa. Vão lá sem a menor nostalgia, apenas porque sim. Ah! Podem dizer que vão da minha parte (não tenho comissão, garanto!) e peçam sugestões ao Mário. E aproveitem para descobrir os belos vinhos que sempre houve por lá.

Onde é? É na rua da Atalaia, 8, com o telefone 213 426 840.

“Links”

Desde a criação deste blogue que peço que evitem colocar “links” para outros textos. Escrevam comentários próprios, mas não transformem isto num “cabide”, por favor. 

O que correu mal?


Há cerca de um ano, no início das hostilidades na Ucrânia, a revista Visão pediu-me um artigo sobre a conjuntura. À época, não o reproduzi
 aqui, porque, naturalmente, ele só estava acessível a quem adquirisse a revista. Publico-o agora, para testar se o texto resistiu ao tempo.

O que correu mal?

Passaram já 30 anos. A nacionalidade dele era inglesa. A sua ascendência, pelo nome, era de muito longe dali, de um país báltico. Estávamos em Londres, na “Chatham House”, o instituto britânico de relações internacionais, num intervalo para café, durante um seminário onde se discutia algo que tinha a ver com o fim da União Soviética, que tinha ocorrido poucos meses antes. Era o primeiro semestre de 1992. 

“Eles não vão esquecer. E vão voltar, mais violentos do que antes. Nós conhecemo-los bem”. O meu interlocutor não tinha ilusões quanto aos russos. “Moscovo”, para ele, era o poder que tinha esmagado a sua nacionalidade originária. Uma coisa tinha ele por certo: a nova Rússia nunca seria democrática, por muito que tentasse fazer passar-se por isso. E olharia sempre para a sua periferia com um misto de arrogância, de desconfiança e desejo de fazer voltar as coisas atrás. 

Quatro anos depois, em Varsóvia, fui visitar o chefe da diplomacia polaca, Bronislaw Geremek. Um curto encontro de cortesia transformou-se, de um momento para o outro, numa longa lição de História, quando estimulei a sua opinião sobre a evolução da nova Rússia. 

A Polónia, por essa altura, ainda não fazia parte da NATO e da União Europeia. A fé de Geremek na capacidade de regeneração democrática do regime russo era basicamente idêntica à do meu anterior interlocutor de Londres. “Historicamente, a liberdade não mobiliza os russos. A alma da Rússia é a autoridade”. 

Por estes dias, lembrei-me de uma outra frase que o MNE polaco então me disse: “O futuro da Ucrânia é a grande preocupação da politica externa da Polónia”. Na altura, achei aquilo algo excessivo. Olhando o mapa e o correr dos tempos, percebi. O papel axial que Varsóvia tem vindo a desempenhar na tentativa de ancoragem da Ucrânia ao mundo ocidental está na linha dessa preocupação.

Ao longo da vida, tive a sorte de conseguir falar, sem a capa das conversas oficiais, com gente de quase todos os países que foram gerados pela implosão da União Soviética, bem como de quantos dela havia sido parceiros no mundo do “socialismo real”.

A atitude face à Rússia de todas essas pessoas não foi a mesma, mas tinha quase sempre um ponto comum: a ideia de que lhes era essencial reforçar as respetivas nacionalidades, como forma de evitar que uma pulsão centrípeta de Moscovo pudesse fazer voltar atrás o relógio da História. Naqueles que partilhavam a nossa geografia continental, vi uma vontade, praticamente unânime, de integrar as instituições europeias e euro-atlânticas, como escudo para o futuro.

Muitas vezes, confesso, impressionou-me a imediata acrimónia que alguns exalavam quando o nome da Rússia vinha à baila, dando comigo a reagir intimamente ao que interpretava com um exagero nacionalista. Com o tempo, contudo, fui dando por adquirido que é praticamente impossível colocarmo-nos no lugar de quantos passaram por experiências históricas de grande dimensão traumática.

Nas poucas ocasiões em que estive na Rússia, em conversas fora dos circuitos oficiais que consegui ter, ou com russos que fui cruzando pelo mundo, mantive sempre uma imensa curiosidade em tentar perceber como viviam os seus novos tempos. Anotei o quase embaraço como, às vezes com grande humildade e até algum esforçado humor, me relatavam as desventuras da sociedade russa contemporânea, quase sempre sem apostarem uma grande esperança num melhor futuro. Raramente lhes consegui arrancar elogios a Gorbachev, sentia-os hesitantes a valorizarem Yeltsin, notei-os sempre divididos quanto a Putin. Mas todos reconheciam que era neste último líder que muitos dos seus compatriotas depositavam alguma esperança. E que daí vinha muito da força de Putin.

O fim da distensão

Passaram já 20 anos. Quando, em 2002, fui para Viena dirigir a então presidência portuguesa da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) sabia que a Rússia constituía, com os Estados Unidos, o “duopólio” que determinava o andamento da organização. 

Vinha de Nova Iorque, de uma cidade marcada pelo recente “11 de setembro”, tragédia que, por algum tempo, tinha feito abater bandeiras no seio da ONU, onde eu era embaixador. Portugal fazia ali parte da “troika” de observadores do processo de paz em Angola, precisamente com os EUA e a Rússia. O último almoço a três que tinha organizado em minha casa correra num ambiente simpático. O convidado russo chamava-se Sergei Lavrov.

O ambiente que fui encontrar em Viena tinha uma tensão bem maior, polarizada nos representantes dessas mesmas duas potências. 

Como tínhamos chegado até ali? O que é que tinha corrido mal?

Nos anos 70, entre o mundo ocidental e a União Soviética, dois poderes que, por décadas, tinham mantido entre si uma forte rivalidade militar no quadro da Guerra Fria, de paralelo com um esforço de proselitismo dos seus projetos à escala global, havia começado a desenhar-se o terreno de algum diálogo. 

Em 1975, como saldo desse esforço diplomático de aproximação, foi assinado o Ato Final de Helsínquia, um texto de compromisso, com medidas geradoras de confiança entre as duas partes, recheado das ambiguidades semânticas com que os diplomatas conseguem ganhar tempo e, às vezes, alguma paz. 

Ironicamente, para nós, portugueses, 1975 seria precisamente o ano em que, na nossa política interna, se viveu um “Leste-Oeste” e, em algumas das nossas antigas colónias, a Guerra Fria continuou acesa.

O declínio da URSS, como potência, foi-se acelerando, desde então. Incapaz de sustentar a rivalidade económica e tecnológica com os EUA, o poder soviético entrou em crise e, em 1991, o país implodiu, dando origem a 15 Estados diferentes.

A ordem liberal parecia ter uma passadeira à sua frente, mas o “fim da História”, prognosticado por quem não percebe que dela nunca nos libertamos, era um falso bom alarme. 

Moscovo tinha passado, entretanto, a capital do país sucessor da URSS, a Rússia. Era um Estado herdeiro daquele outro que fora visivelmente derrotado pelos EUA, numa Guerra Fria onde ambos os lados só tinham combatido através de terceiros, em zonas de confluência dos respetivos poderes. 

O inesperado “flirt” da nova Rússia com o mundo vencedor foi breve e, quase sempre, algo equívoco. Os EUA terão prometido à Rússia que a NATO, depois do Pacto de Varsóvia ter sido dissolvido, se não expandiria para Leste. Não foi isso que veio a acontecer. Porém, a verdade é que a Rússia à qual o ocidente fizera essa promessa também já não era exatamente a mesma. 

A Rússia era agora Vladimir Putin, um homem que terá concluído que tinha mais vantagens em ser temido do que em ser respeitado. O seu poder, quase unipessoal e democraticamente mais do que duvidoso, deu razões à sua vizinhança imediata a Oeste para se manter “de pé atrás”, quanto ao futuro. E esses países procuraram atenuar os seus receios com a obtenção da integração na NATO e na União Europeia. 

Voltemos a Viena, a esse ano de 2002. A OSCE, a que Portugal presidiu durante esse ano, tinha sido o porto de chegada do laborioso processo de distensão entre o Leste e o Oeste. Mas muita água tinha corrido entretanto sob as pontes do Danúbio. Longe se estava já dos dias em que o diálogo fluía, a confiança era ainda possível e tudo parecia encaminhado para um futuro de cooperação. Pelo contrário, as tensões eram cada vez mais fortes.

A Portugal, que era e é conhecido como um eficaz “honest broker”, competia procurar conciliar as leituras da realidade política internacional que ia “de Vancouver a Vladivostok”, como então se dizia. Sabíamos que havia por ali duas culturas de segurança em evidente contraste: um mundo que era chamado de “a Oeste de Viena” que a Rússia acusava de querer, cada vez mais, dar lições de democracia aos países “a Leste de Viena”. Moscovo era o óbvio “protetor“ de quantos eram vistos como infringindo o “template” democrático, dos Balcãs à Ásia Central, passando pelo Cáucaso. 

Nesse ano de 2002, no Porto, em dezembro, todos os então 55 países membros da organização subscreveram os mesmos textos, preparados por nós. Colocar Washington e Moscovo de comum acordo numa perspetiva sobre conflitos e outras situações de instabilidade foi obra! Nunca esse entendimento voltou a ser reeditado na história da OSCE. 

Voltei à OSCE, em duas ocasiões recentes, a última há menos de um ano: o ambiente da relação entre Washington e Moscovo, inquinado pela conjuntura pareceu-me já dificilmente insuperável. A atual situação só confirma isso.

E agora?

No momento em que escrevo, não faça a menor ideia de que forma a situação internacional, decorrente da invasão russa da Ucrânia, evoluirá.

Uma coisa tenho por certa: alguma aquietação da crise atual acabará por fazer-se, com um saldo final, justo ou injusto, em que uns pagarão mais custos do que outros. E também sabemos que daí decorrerão ressentimentos, que irão adubar o futuro, nem sempre num sentido positivo.

A História sempre nos mostrou que, por maiores que tenham sido as tragédias ocorridas entre os Estados, o tempo tende, em geral, a desaguar em tempos de alguma acalmia E que, cedo ou tarde, irão surgir “pontes” entre os adversários de hoje, por necessidade da acomodação mútua.

A alguns, pode parecer chocante, num tempo de mobilização emocional como a que se vive, estar a sublinhar a necessidade da restauração do diálogo diplomático entre o ocidente e a Rússia, com Putin ou com outro líder no Kremlin.

A geografia, contudo, tem determinantes que forçam sempre a realidade. A Rússia, seja ela o que vier a ser, nunca vai deixar de ser vizinha desta Europa. Um lado do continente a que as últimas décadas, somadas aos acontecimentos iniciados em fevereiro de 2022, tornou ainda mais coeso dentro de si, quer na sua aliança militar, quer na interligação económica que as instituições comunitárias potenciaram. 

Quando haverá condições para re-inaugurar uma nova “détente”, envolvendo Moscovo, é impossível de prever. Mas como sempre aconteceu na História, a hora da diplomacia acabará por chegar.

quarta-feira, fevereiro 08, 2023

Nordstream 1 - Verdade 0

Reabriu a questão sobre quem colocou a carga explosiva no Nordstream 2, o segredo mais mal guardado do mundo, sobre o qual só os cegos ainda alimentam dúvidas. Antes do feminismo a proibir, nos mistérios policiais havia uma esclarecedora frase: “Cherchez la femme”.

A “branca”

Na manhã de hoje, no discurso de encerramento de uma conferência na Gulbenkian, o primeiro-ministro António Costa, voltando-se para mim, sentado na primeira fila, citou algo que eu tinha dito, minutos antes. E, ao fazer essa menção, começou a dizer “O embaixador Francisco…” e parou. O “Seixas da Costa” demorou uns segundos a sair. Ora dois ou três segundos, num momento como esse, é uma imensidão de tempo! Logo se lembrou, com um sorriso, pedindo desculpa: “Por um instante, tive uma branca!”. 

Como eu o compreendi!

Há mais de três décadas, em Londres, numa passagem pela capital britânica de Fernando Nogueira, uma das figuras mais marcantes do universo social-democrata, ministro da Defesa e número dois do governo, coube-me acompanhá-lo ao aeroporto, onde havíamos reservado, como era da praxe, uma sala na respetiva área VIP, destinada a passageiros ilustres. Lá chegados, e após termos ultrapassado as barreiras de segurança, sempre invocando o nome da embaixada, dirigimo-nos ao balcão de atendimento.

Com o ministro ao meu lado, informei quem eu era, indicando que estava a acompanhar o ministro português da Defesa. A funcionária inquiriu qual era o nome do ministro. 

Foi nesse instante que tive uma "branca" e o nome de Fernando Nogueira se me varreu por completo da memória. Fosse o cansaço ou a noite mal dormida, a verdade é que o nome não me ocorria. O meu embaraço era total. O ministro já olhava para mim, intrigado, e a funcionária aguardava a minha resposta.

- Desculpe! A reserva da assistência foi feita pela embaixada de Portugal, já lhe disse que se trata do ministro da Defesa, por que diabo precisa também do nome?

A senhora mirava-me, surpreendida com a duvidosa racionalidade da minha reação. E o ministro também:

- Por que lhe não diz o meu nome?

Tentando ganhar tempo, avancei então com uma "criativa" justificação, completamente tonta e até pesporrente:

- Senhor ministro: esta gente tem de perceber que deve funcionar com base na informação que é essencial. Imagine que era um nome chinês! Que interesse é que ela tinha em ouvir uns sons estranhos numa língua ainda mais estranha? Basta-lhes a embaixada e o título da pessoa!

O peso deste meu imaginativo argumentário de ocasião estava a começar a esgotar-se. E, na crescente atrapalhação, fui-me inclinando sobre o balcão, tentando ler, ao contrário, a folha que a funcionária tinha diante de si, com todas as reservas dos compartimentos da zona VIP. Por sorte, consegui descortinar a palavra "Portugal" numa das linhas. O nome e o título do ministro vinham a seguir… Então, com grande "autoridade", estendi o indicador e apontei-lhe a linha:

- Look! It's there!

- Mr. "Nóguêra"?

- That's right!

Ao meu lado, o ministro Fernando Nogueira, um homem cordialíssimo e de sereno sorriso, devia estar intimamente a pensar como é bizarra essa espécie profissional que são os diplomatas. 

Nunca tive oportunidade de lhe revelar este episódio. Quando isso acontecer, acho que vai achar graça.

Engenharias

Já terá sido criado, em alguma universidade, o curso de Engenharia Financeira? Se sim, David Neeleman, que comprou a TAP sem gastar um tostão seu, já devia ter recebido um doutoramento “honoris causa”.

terça-feira, fevereiro 07, 2023

Mas deve haver…

Ainda não desisti de encontrar pelas redes sociais com um fulano que ache que o que leva à emigração da geração mais bem preparada de sempre, lá no fundo, se deve aos malefícios da imigração nepalesa. Mas, a acreditar em algumas barbaridades que aqui surgem, um destes dias vai acontecer.

Moedas

É minha impressão ou Carlos Moedas vive demasiado isolado na chefia do município? Fica a ideia, e ele contribui bastante para ela com o discurso personalizado que adota, de que a sua equipa é frágil e que tudo depende dele. Ora a CML é maior do que a maioria dos ministérios!

Lula (2)

O “bate-boca” entre Lula e o Banco Central brasileiro revela a conflitualidade de duas filosofias de política económica que, curiosamente, tinha sido iludida durante os dois primeiros mandatos do presidente. Porquê agora? Porque Lula tem uma grossa fatura de Bolsonaro para pagar.

Lula (1)

Um dos sinais mais evidentes do rápido fim do estado de graça de Lula, no Brasil, é a inflexão de alguma imprensa e de alguns “opinion-makers” que, nos últimos meses, pareciam estar a dar o benefício da dúvida ao re-novo presidente.

Nove teses de fevereiro (9)

Não é ao PS que “compete” criar condições para que o PSD recupere força à direita. Mas, se puder “dar uma mão”, tudo deve fazer para que isso aconteça. É que, no Rato, para além de eventuais tentações, deverá haver clara consciência de que o México é num outro continente…

Nove teses de fevereiro (8)

Começa a criar-se a ideia de que a direita só poderá regressar ao poder com uma agenda condicionada por setores mais radicais. Se assim for, os eleitores moderados e social-democratas, que alternavam entre PS e PSD, tenderão a deixar-se colonizar pelo “situacionismo” socialista.

Nove teses de fevereiro (7)

A atual balcanização da direita é uma péssima notícia para a democracia portuguesa. O atual regime vive da alternância entre dois grandes partidos, com pressão compensatória à esquerda e à direita, mas sem nenhum deles depender demasiado do radicalismo situado ao seu lado.

Nove teses de fevereiro (6)

O PSD vive agora o drama do gaullismo francês: para evitar que a extrema-direita se aproprie das causas dos “enragés”, tenta criar um discurso próprio sobre esses temas, não se dando conta que as suas “nuances” nunca se notarão, na simplificação das mensagens na salada mediática.

Nove teses de fevereiro (5)

O PSD não se dá conta de que, ao manter aberta a porta à possibilidade de fazer governo com o Chega, oferece razões para que muitos continuem a votar Chega. Essas pessoas, se tivessem a certeza de que o Chega nunca entraria no governo, votariam no “next best”, obviamente o PSD.

Nove teses de fevereiro (4)

Montenegro poderia usar o exemplo açoreano e dizer: se o PSD ganhar e o Chega for necessário no apoio parlamentar para afastar o PS, caberá ao Chega decidir se quer salvar os socialistas. E acrescentar: comigo, porém, nunca haverá ministros do Chega. Não diz, porque pode haver…

Nove teses de fevereiro (3)

O discurso do “essa não é uma questão que se ponha agora”, usado por Montenegro para responder à pergunta de uma eventual aliança de governo com o Chega, é uma óbvia falácia: se não estivesse na sua intenção admitir em absoluto o cenário, dizia-o já e arrumava o assunto de vez.

Nove teses de fevereiro (2)

Montenegro sabe que há muitos setores dentro do PSD a quem não repugnará fazer uma coligação de governo com o Chega, disfarçada com gente da IL e de algum CDS que possa vir a emergir eleitoralmente, se essa for a única forma de afastar o PS do poder.

Nove teses de fevereiro (1)

A nova liderança do PSD vai viver, até às legislativas, sob constante pressão para revelar se irá ou não aceitar o Chega como parceiro dentro do mesmo governo, não podendo usar o truque de tentar invocar a Geringonça, porque BE e PCP nunca fizeram parte de nenhum executivo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2023

Exames

Não percebo nada de educação e detesto dar bitaites, no género de achismo de conversa de café, sobre assuntos que não conheço em profundidade. Mas tenho um pressentimento de que é correta a decisão de manter exames no termo do ensino secundário, como acaba de ser anunciado.

Deturpação

Nas últimas horas, uma suposta frase do CEO do Santander andou por aí a ser glosada em todos os tons. Decidi ir ouvir e, afinal, o que ele diz tem um sentido completamente diferente do que lhe é atribuído. Para as redes sociais, a verdade é o que der jeito ao preconceito.

Jornalismo com todas as letras


Não conheço o jornalista da CNN Portugal Sérgio Furtado, mas quero deixar aqui expressa a minha admiração pelo trabalho que o tenho visto fazer na Ucrânia, em situações de evidente risco e dificuldade de operação. Um excelente exemplo de profissionalismo.

Temida?

Marta Temido é a nova líder concelhia dos socialistas. Para muitos, isto confirma o rumor de que ela irá ser a candidata do PS à Câmara de Lisboa, concorrendo contra Carlos Moedas, nas próximas eleições autárquicas. No mundo de trocadilhos que por aí anda, não se admirem se os seus camaradas vierem a crismá-la de “A boa Moeda”.

O senhor Catorze


Nos dias de hoje, as pessoas da minha geração andam a fugir por entre as pingas do politicamente correto. Ainda ontem, num jantar em casa de um amigo, fiquei com a sensação de que o grupo, com tantas mulheres como homens, como que esperou por uma ida à cozinha do filho do dono da casa para poder “ajavardar” (eu sei que deveria evitar este verbo…) com uma inocente graçola, de tons sociais interditos pelo ar do tempo. 

Poder ser acusado de homofóbico, racista, sexista ou coisas assim é o pão nosso de cada hora das conversas. Até ao telefone, já se assiste a pessoas reticentes em dizer, perante um amigo que faz uma tragédia de uma simples constipação, um inocente “deixa-te lá de mariquices!”

Por isso, hesitei um pouco antes de dedicar este post à palava “catorze”. Porquê? Porque, ao lembrá-la, me veio à memória uma imagem com bem mais de 60 anos: o Senhor Catorze. 

Era em Bornes de Aguiar, perto das Pedras Salgadas, onde, de Vila Real, íamos, às vezes, passar uns dias, ao tempo em que eu era miúdo, à casa onde tinha nascido o meu avô materno. 

Havia lá pela aldeia um homem que me recordo sempre de ver agarrado a um cajado, mancando fortemente ao andar. Nunca soube se era doença de infância ou o fruto de um acidente mal tratado. Sei é que, quando parava para a conversa, no largo do Cruzeiro, quase sempre encostado a uma parede, uma das pernas fletia em ângulo quase reto e assentava sobre a outra, desenhando uma espécie de 4. Ao lado, o cajado funcionava como um 1. E o homem era assim conhecido pelo “Catorze”… 

Chamava-se Francisco, mas toda a gente se lhe referia como o “Catorze”, ou o Francisco “Catorze”. E, dele, a designação passou à família: sem que a implícita similitude com a corte de Versalhes fosse evidente para a esmagadora maioria da aldeia, o irmão era conhecido como o Luís “Catorze”… 

Claro que ninguém o chamava diretamente dessa forma, salvo em discussões mais acaloradas pelo álcool na venda do Chico, onde o cajado era chamado a defendê-lo do apodo pelo qual, nas suas costas, ele sabia que era designado. 

Eu, que só o via à distância, por muito tempo não soube qual era o seu nome verdadeiro. Sei é que, por respeito à idade ou temor ao cajado, mas cavalgando o abuso sobre a deficiência motora do homem, me referia sempre a ele como o Senhor Catorze.

Por que diabo me fui lembrar hoje o Senhor Catorze? Porque só agora notei que, no passado dia 2 de fevereiro de 2023, este blogue “Duas ou Três Coisas” perfez 14 anos de publicação (foi iniciado em 2 de fevereiro de 2009), sem que em nenhum desses 5.110 dias alguma vez tivesse faltado à chamada. Foram cerca de 11 mil posts que aqui deixei, escritos a partir de 33 países diferentes, que originaram mais de 72 mil comentários, convocando 8,6 milhões de visitas, vindas de 178 países. E por aqui irei andando, “se a tanto me ajudar o engenho e arte” - e a paciência, minha e dos leitores “que tão generosamente me acolhem no seu seio”, como, lá na Várzea de Colares, A. B. Kotter dizia dos portugueses que lhe aturavam as caturrices.

O Senhor Catorze há décadas que deve ter uma cruz em cima da campa, no cemitério de São Martinho, morada derradeira onde estão muitos dos meus. Morreu sem que a internet existisse, sem saber o que era um blogue, sem que lhe passasse pela cabeça o que hoje é o politicamenre correto. Mas se alguém lhe chamasse Catorze, era o bom e o bonito lá por Bornes…

(ps - Ah! E por favor! Não tragam para aqui a discussão sobre se se escreve catorze ou quatorze…)

Copianço


A assistir ao “bombardeamento” americano do balão chinês, tive um “déjà vu”. Afinal, os “yankees” não são mais do que meros seguidores do nosso Presidente da República, que já disse ter como prática regular “picar o balão” para “controlar preventivamente a evolução dos acontecimentos”. Copianço!

domingo, fevereiro 05, 2023

TGAD


“Lembras-te de ali haver o “The Great American Disaster?”, disse eu para o lado.

Estávamos a passar na Elias Garcia, ontem à noite, depois de um pneu do nosso carro me ter obrigado a encostá-lo a um passeio. (A um sábado, porque estas coisas, como é sabido, acontecem sempre aos fins de semana).

Alerta à conversa no banco traseiro, porque não se espia apenas com balões de olhos em bico, o jovem condutor do Uber, pedagógico, esclareceu-nos que, “desde sempre”, o “The Great American Disaster” só existiu no Marquês. Ele recordava-se bem!

Cada vez mais, encontro gente para quem o mundo só existe depois de eles existirem. De esguelha, na noite do carro, olhei-lhe a pinta. Tinha uns vinte e poucos anos. Até era simpático na conversa, mas convencido na sabedoria que não tinha. E para se meter comigo a discutir restauração lisboeta ainda tinha de ganhar algumas diuturnidades.

O TGAD surgiu, em Lisboa, creio que em 1978, isto é, há cerca de 44 anos. Tal como acontecera em Londres, em Fulham, nos “swinging sixties”, o TGAD, com uma localização algo excêntrica na parte norte da Elias Garcia, trazia a Lisboa um modelo novo e jovem de espaço informal para comer o que era vendido como sendo aquilo que se comia na América, isto é, hamburgers e coisas assim. As paredes eram coloridas e, numa delas, ia jurar que havia o mapa que está na imagem. 

(Que me recorde - mas não garanto - outro dos escassos lugares onde, em Lisboa, nesses anos 70, se podia comer hamburguers era o Ivos’s, uma casa com poucas mesas, para onde se entrava por uma pequena escada, na Padre António Vieira, à saida da Artilharia 1. A mesma rua onde, quase ia jurar, surgiu uma das primeiras pizzarias de Lisboa.)

O TGAD da Elias Garcia não deve ter durado muito nesse local e com esse nome. O seu homólogo do Marquês existe desde o início dos anos 80. Substituiu ali o snack-bar do Flórida, histórica sede informal da estimabilíssima “Intervenção Socialista”, equivocamente chamada de “GIS”, com os seus membros, também erradamente, a serem chamados de “ex-MES”, embora nenhum deles alguma vez tenha chegado a pertencer ao MES (afastaram-se na reunião fundacional do Movimento de Esquerda Socialista) - Jorge Sampaio, Nuno Brederode Santos e outras notáveis e algumas já saudosas figuras, quase todos eles meus amigos e companheiros de futuras jornadas políticas conjuntas.

Isto de se ter alguma idade - talvez o triplo da do rapaz do Uber - dá-nos alento às lembranças. E, depois, vai-se à tecla e é como as cerejas…

Ah! Até hoje, nunca consegui saber por que diabo a cadeia de restaurantes “The Great American Disaster” se chama assim. A menos que tivesse sido inspirada em Saigão ou em Cabul…

É isto que penso

Cada vez mais valorizo restaurantes de qualidade com uma “cozinha auto-explicativa”. Casas com uma carta cujos pratos dispensam qualquer recitação oral sobre a sua elaboração, numa exegese muitas vezes pretensiosa sobre produtos e artes culinárias. Se um prato não consegue “falar” por si…

sábado, fevereiro 04, 2023

Já vale tudo, não é?

Nas últimas horas, uma suposta frase do CEO do Santander andou por aí a ser glosada em todos os tons. Decidi ir ouvir e, afinal, o que ele diz tem um sentido completamente diferente do que lhe é atribuído. Para as redes sociais, a verdade é o que der jeito ao preconceito.

sexta-feira, fevereiro 03, 2023

Olhó balão!


O balão espião chinês sobre os EUA foi um ato de uma extrema gravidade. Sendo a América um país ao qual, ao longo da História, nunca alguma vez passou pela cabeça espiar quem quer que fosse, compreende-se que tenham ficado melindrados. Isto não se fazia! Malandros dos chineses…

Luís Moita

Ao aprovar hoje, por unanimidade, um voto de pesar pela morte de Luís Moita, a Assembleia da República honrou-se a si própria. A circunstância de ter sido o próprio presidente do parlamento a propor esse voto confere um simbolismo acrescido a este voto. Santos Silva, no dia da morte de Luís Moita, tinha já dito o essencial: “Luís Moita continuará bem vivo na memória dos que com ele aprenderam a estar no lado certo da história: na luta pela paz, a descolonização, a democracia mais avançada possível, a espiritualidade viva. Antes e depois do 25 de Abril, uma referência cívica e moral de várias gerações".

"A Arte da Guerra"


No "A Arte da Guerra" desta semana, o podcast sobre questões internacionais do Jornal Económico, converso com António Freitas de Sousa sobre o processo de armamento da Ucrânia, a ação externa de Israel e a visita do MNE russo a Angola. Ver aqui

quinta-feira, fevereiro 02, 2023

“Trrim!”


“Não atendas! Deve ser da MEO, da Iberdrola ou da Deco…”. É assim que, cá por casa, dada a experiência dos últimos meses, se reage ao inesperado toque do telefone fixo. Antes, o aparelho tinha uma centralidade dominante na sala. Agora, o pobre anda perdido pelos cantos. “Trrim!”

Dia mundial dos dias mundiais?

É minha impressão ou cada vez há mais “dias mundiais” de qualquer coisa? Ontem era o “dia mundial da leitura em voz alta”. Imaginem! Quem será o génio que inventa estas coisas?

quarta-feira, fevereiro 01, 2023

Saudades do Carteiro

Ontem, na reunião periódica na empresa, onde, nos últimos sete anos, o fui encontrando, com regularidade, não o vi. Estava doente, disseram. Por detrás do olhar de quem o disse, pareceu-me descortinar alguma coisa mais.

Era um homem aproximadamente da minha idade. Especialista na área técnica em que, desde há décadas, colaborava com a empresa, foi essencial para me ajudar a entrar nas minhas novas funções. Caloroso, bem disposto e com um permanente sorriso, retribuí-lhe um dia toda a sua simpatia convidando-o para um almoço, que acabou por ser muito divertido, num restaurante que ele próprio me revelou, "O Carteiro".

Fomos íntimos? Longe disso! Tratávamo-nos pelo nome próprio, trocávamos mensagens, em especial durante a pandemia, que acabou por atingi-lo. Falávamos, às vezes, pelo telefone. Uma vez ligou-me de Moçambique, outras do Alentejo, onde gostava de sossegar a vida. Sempre bem disposto, sempre positivo.

Ontem, ao final da manhã, saí daquela reunião com um mau pressentimento. Mas, disse para mim, eu é que sou um incurável sismático - como o meu pai designava aqueles que ficam a remoer tudo na negativa. 

À noite, chegou-me a notícia. O Carlos Bernardes tinha morrido. O velório foi hoje, o funeral será amanhã.

É assim a vida, é assim a morte.

Um passado demasiado presente

Boris Johnson, com toda a sua retórica e coreografia auto-póstuma no plano internacional, mina a credibilidade do atual primeiro-ministro e está a ser um imenso embaraço para a política externa britânica. Chama-se a isto, muito simplesmente, falta de sentido de Estado.

O nosso amor brasileiro


Naquele final de tarde de 2009, em Paris, na residência em que Calouste Gulbenkian guardou por muitos anos a sua fabulosa coleção de arte, percebi um pouco melhor o que a nossa cultura podia representar para o mundo exterior à língua portuguesa. 

Cleonice Berardinelli, a decana dos estudos portugueses no Brasil, num francês límpido e culto, com uma assertividade e um rigor que desmentiam por completo o que o calendário lhe atribuía como idade, revelou com extremo brilho, para um interessado público francês, a universalidade de Camões. Ela era ali o que do melhor a lusofilia cultural nos podia oferecer.

Eu tinha nascido para Cleonice ao tempo em que fui embaixador luso por terras do Brasil, a partir de 2005. Quem a “apresentou”, ainda antes de a conhecer pessoalmente, foi João Pedro Garcia, diretor internacional da Fundação Calouste Gulbenkian, que me havia chamado a atenção para o trabalho notável que a professora Cleonice Berardinelli vinha a fazer, por décadas, no meio académico e editorial brasileiro, pela literatura portuguesa.

Encontrando-a depois, ouvindo-lhe em muitas ocasiões o discurso solto, pontuado por um inesquecível sorriso, belo e ladino, servido por uma memória prodigiosa e um sentido raro de observação, dei-me conta de estar ali o melhor que Portugal, num discreto e às vezes involuntário proselitismo, podia receber de quem se sentia tributário da riqueza gerada através da língua que nos é comum.

Tive um dia o gosto de ver aprovada pelo Estado português a proposta que fiz para que a Cleonice fosse atribuída a mais alta distinção que, nas “artes e letras”, Portugal lhe poderia conceder: a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. E guardo ainda as palavras com que, no ambiente único do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, em 2006, ela recebeu essas insígnias, reiterando, como se tal fosse necessário, o amor à literatura a que dedicou toda a sua vida.

A sua graça e o seu humor estão bem representados naquilo que disse quando, em 2009, ascendeu a uma vaga aberta entre os 40 “imortais” da Academia Brasileira de Letras: “Mas eu sou quase uma vaga…”

A minha amiga Cleonice Berardinelli - porque tive o privilégio de ser seu amigo - desapareceu agora, aos 106 anos, depois de algum tempo já de afastamento do mundo.

Portugal honra-se em ter podido contar Cleonice Berardinelli entre as suas amizades mais fiéis. Cleonice foi, verdadeiramente, o nosso amor brasileiro.

terça-feira, janeiro 31, 2023

Feito!


Foi na tarde de hoje que o grupo encarregado pelo atual governo de preparar as bases para o novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional, para vigorar nos próximos 10 anos (2023/2032), fez entrega do seu relatório à ministra da pasta, professora Helena Carreiras. Noto que, da equipa indicada em 2012, pelo governo de então, para preparar o anterior Conceito (2012/2022), transitaram para este grupo três pessoas: o professor Nuno Severiano Teixeira, que agora presidiu ao grupo, e dra. Leonor Beleza e eu próprio.

Com forte e muito eficaz contributo do Instituto de Defesa Nacional, o grupo trabalhou, ao longo dos últimos meses, num processo de aproximação progressiva de posições, analisando diversos contributos, o que permitiu chegar ao relatório que hoje apresentado. O governo é o destinatário desta nossa contribuição, que será depois sujeita a apresentação e debate parlamentar. Para obviar à especulação típica dos tempos que correm, notaria que este nosso trabalho foi feito sem qualquer retribuição nem o menor encargo financeiro para o Estado.

Brexit - três anos depois


Comentário, esta tarde, na CNN Portugal. Pode ver aqui.

Antes do Brexit


Faz hoje três anos que o Reino Unido abandonou a União Europeia. Muitos balanços se farão, em Londres e pelo mundo, sobre os efeitos dessa drástica decisão britânica.

A maioria das análises concluirá pelo efeito negativo do Brexit sobre a economia britânica e também, de certo modo, sobre a própria União Europeia - embora, com o tempo, comece a criar-se a sensação de que o clube europeu não foi tão afetado como, à partida, se temia.

A figura britânica tida como o principal responsável pela ocorrência do Brexit foi David Cameron, o primeiro-ministro conservador que, curiosamente, terá pretendido, ao ter a iniciativa de convocar um referendo, ancorar, de uma vez por todas, o Reino Unido à União Europeia.

Cameron tinha medido mal o sentimento da população do seu país e, nos meses que antecederam o escrutínio, esforçou-se por obter dos seus parceiros europeus um conjunto de concessões que pudessem vir a funcionar como argumentos para convencer os eleitores da bondade da permanência na União. Portugal foi, naturalmente, um dos países alvo desse lóbi.

Um dia, o então ministro dos Negócios Estrangeiros britânico veio a Portugal, no tempo da transição do PSD para o PS. “Dividir para reinar” é, teoricamente, uma boa divisa para ser seguida por países com monarcas. Os britânicos confiavam que, numa sociedade politicamente tão polarizada como era então a portuguesa, ser-lhes-ia possível introduzirem uma fissura entre os dois maiores partidos políticos portugueses.

Na noite da sua passagem por Lisboa, o governante britânico reuniu, à volta de um jantar na sua embaixada, quatro figuras que tinham tido responsabilidades políticas em governos PS e PSD, duas de cada área política, todas com experiência internacional relevante. Nessa escolha, a embaixada britânica terá partido da assunção de que essas pessoas podiam ter algum papel de aconselhamento das respetivas áreas políticas.

Nenhum dos convivas sabia que os outros iam lá estar, pelo que ninguém tinha combinado rigorosamente nada, nem com o setor político do qual estava mais próximo, nem, em especial, com o outro parceiro da sua área que ali estava sentado. Seguramente que isto havia sido assim pensado.

O ministro britânico elencou então algumas questões que, dias depois, Cameron iria propor aos seus homólogos, uma lista de concessões europeias que, muito em especial, fragilizariam alguns direitos futuros dos cidadãos dos restantes “vinte e sete” no Reino Unido.

Cada uma das pessoas, à volta da mesa, foi depois convidada a pronunciar-se sobre o que ouvira. O espetáculo foi digno de se ver.

Os quatro convidados, sem a menor combinação entre si, cada um a seu modo, explicaram ao chefe da diplomacia britânica a impossibilidade do que ele solicitava vir alguma vez a ser aceite por parte de Portugal. Não dispunham de nenhum mandato para o que afirmavam, mas todos tinham a perfeita consciência de que nunhum governo português, com o mínimo sentido de responsabilidade, aceitaria tais concessões.

O responsável de Londres pareceu ter ficado surpreendido com a sintonia total de posições. Dias depois, o seu primeiro-ministro, em Bruxelas, iria confirmar isso mesmo. E, não tendo convencido os seus eleitores, David Cameron, a partir daí, viria a perder a cadeira onde se sentava, não apenas em Bruxelas mas também em Downing Street.

( Artigo publicado no site da CNN )

Uhf!

Um alerta noticioso esta manhã: Portugal teve um crescimento da sua economia como já não se via desde os anos 80. Pensei: como é que "eles" vão sair disto? Agora chegou outro alerta: o desemprego aumentou. Uhf! Era só o que faltava haver uma notícia positiva sem um "mas"...

Para adormecer


Ontem, dormi com isto sobre a cabeceira da cama. Tentei assobiar a música, mas não consegui.

Não, obrigado

Referendar o direito à eutanásia? Não. Basta corrigir a lei. Ponto.

segunda-feira, janeiro 30, 2023

Erratas

Sei que é muito impopular, em certos meios, ouvir isto, mas eu digo: o Tribunal Constitucional tem toda a razão. Uma lei desta natureza não pode assentar na menor ambiguidade. E a Assembleia da República sabe muito bem o que há que fazer.

Moradas

Um amigo bastante conservador dizia-me há pouco que a sua casa é na rua Salvador Allende. Quando reagi, com um “bem feito!”, ele esclareceu, a rir, que, antes, a rua chamava-se Oliveira Salazar. É em Caxias. Uma terceira pessoa comentou: “Salazar em Caxias! Que imenso sonho!”

domingo, janeiro 29, 2023

A cama comum

Desconfiem sempre de quem passa o tempo a equiparar a extrema-esquerda à extrema-direita. Todos sabemos com quem essas pessoas, no fim do dia, acabarão por se “deitar”. Se tiverem paciência para elas, perguntem-lhes se a extrema-esquerda é racista, xenófoba e homofóbica.

Contrição

A presença do governo e do PS no encontro do Chega foi um imenso erro. Ficaria bem a António Costa, a Ana Catarina Mendes e a Eurico Brilhante Dias, depois daquilo a que se assistiu, o reconhecerem. Nem sempre persistir no tradicional discurso do não arrependimento, clássico no discurso do poder, é a solução.

Fascismo à portuguesa

Este fim de semana foi um tempo de glória televisiva para o mundo que alimenta e se alimenta da azia adjetivada das caixas de comentários, para os enraivecidos que já não se acham representados pelos políticos do sistema, os quais, agora, para tentarem recuperar esses seus votos e chegar ao poder, passarão a ser tentados a dizer coisas basicamente iguais às que se leem nas caixas de comentários.

Títulos

O Luís Paixão Martins deve estar a pensar que deveria ter dado por título ao seu livro “Como perder uma eleição ganha”…

sábado, janeiro 28, 2023

Luís Moita



Em 5 de Outubro de 2022, escrevi por aqui isto:

“Quando revemos aquele fantástico filme da saída dos últimos presos de Caxias, surge por ali a cara sorridente e confiante de um homem alto, com ar determinado, a caminhar para a liberdade por que tanto tinha lutado. É o Luís Moita.

Há muito que, à distância, eu sabia quem era aquela figura que, saída do catolicismo crítico, enveredara, entre outras, pela tarefa difícil, mas essencial, de ajudar à luta anti-colonial na terra do colonizador. A repressão, que bem conhecia a sua determinação, não o poupou.

Imediatamente após Abril, cruzei o Luís em algumas noites agitadas desses dias sem par. Mas, com a minha itinerância, os nossos destinos perderam-se, por algum tempo.

O Luís, com uma admirável coerência e grande dignidade, fez, a partir daí, o percurso cívico que a consciência lhe ditou, ligando-se, sempre com aquele contagiante entusiasmo juvenil que é o seu, a algumas causas que entendeu como nobres e necessárias.

Sempre do lado certo da História, com aquele sorriso bom e o seu modo suave e amável de estar com os outros, o que o torna apreciado e respeitado em insuspeitados quadrantes, o Luís foi fazendo o seu caminho, envolvendo-se em áreas da dinamização da sociedade civil, ao mesmo tempo que ia construindo uma carreira académica de sucesso.

Foi em alguma limitada ligação minha ao mundo universitário, a seu convite, na última década, que me aproximei mais do Luís. E em que desenvolvi com ele a forte relação de amizade que hoje nos une. Tenho, além disso, pelo Luís Moita, uma consideração e uma admiração que dedico a muitas poucas pessoas - e digo isto com grande sinceridade.

Durante anos, eu achava que o Luís “não tinha idade”. A sua vitalidade e capacidade de trabalho projetavam nele um “boyish style” que quase me levou a não acreditar quando, um dia, ele me convidou para a festa dos seus 80 anos.

A saúde pregou, entretanto, algumas partidas recentes ao Luís. O seu quotidiano futuro vai ter algumas limitações, o dia a dia já não vai poder ser aquilo que, até há pouco, foi e em que ele se sentia confortável. A universidade já não poderá contar com aquela sua generosa e proverbial disponibilidade. Mas, como canta o nosso amigo Fausto, “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”. “

Não vieram. O Luís Moita morreu hoje. Pouco consigo dizer, além de enviar um abraço de muito pesar à Ana e à sua família.

Ele há cada drama!


Por um instante, fiquei na dúvida sobre o estado de espírito daquele meu amigo. Na quinta-feira, a meio da tarde, vi-o surgir, com passo apressado e um ar que parecia como que angustiado. Íamos em sentido contrário, na rua de São Paulo, perto do fundo do elevador da Bica.

Por coincidência, o aniversário desse amigo é hoje, sábado. Ele passou já da fasquia dos setenta, por uma mão cheia de anos. Nunca o vi muito preocupado com isso, mas, às vezes, as pessoas disfarçam os estados de espírito. Seria o que justificava a sua cara fechada, aquele olhar um pouco ansioso?

Eu sabia que a vida não lhe corria mal, salvo os azares inevitáveis que fazem parte da existência de quem por cá anda e se preocupa com os que lhe são próximos, mas onde os ventos (eu sabia!), sopravam agora no bom sentido. 

Reformado há muito, sempre o vi ocupado com imensas coisas que o interessavam, algumas que lhe davam “para os alfinetes” (como ele dizia, acho que por “understatement”), outras que lhe davam apenas muito gozo e entretem. 

Sabia-o feliz com os muitos amigos que tem. Muitos livros, alguma escrita, viagens agora q.b. e frequência regular de mesas de comezainas, tudo isso, à evidência, o divertia e alimentava o corpo e o tempo. Um dia, esse amigo tinha-me confessado que a existência lhe tinha dado muito mais do que aquilo com que alguma vez sonhara. 

E, no entanto, lá vinha ele, com ar estranho, como que a tentar escapar à leve chuva de molha-tolos que lhe humedecia o cabelo branco, já ralo. 

Não gosto de me meter, sem necessidade, na vida dos outros, mas aquele fácies preocupado, pouco conforme com o tipo quase sempre com humor que eu me habituara a conhecer nele, deixou-me curioso. 

Travei-o no passo, nem tinha reparado em mim, demos um abraço e perguntei-lhe: “Olha lá! Há algum problema? Vejo-te esquisito.”

Respondeu: “Claro que estou! Não consigo arranjar um táxi e tenho de estar num sítio daqui a pouco”. Era esse então o “drama”? Felizes os que chegam àquela idade e têm essas coisas como visível preocupação. 

E, com uma súbita alegria a despontar-lhe no rosto, vejo-o levantar o braço: “Lá vem um, finalmente! Bolas, que susto!, pensei que não conseguia”. E, para me compensar, deixou cair: “Temos de almoçar um destes dias! Eu ligo-te!” E o táxi arrancou. 

Como eu sei que esse meu amigo adora restaurantes, sobre os quais até chega a escrever, para nos abrir o apetite e, às tantas, também a inveja, acho que, um destes dias, ele vai cumprir. No dia de hoje ele só vai cumprir 75 anos.

sexta-feira, janeiro 27, 2023

Sabiam?


Portugal teve, pela primeira vez, em 1929, o seu nome inscrito nos Guias Michelin, através do Hotel de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e do Hotel Mesquita, em Vila Nova de Famalicão, que então obtiveram uma estrela, que sustentaram por vários anos.

Tapeçaria …


… numa parede por aí.

Para marciano ver

Só algum ser estranho, aterrado de Marte, é que poderia acreditar que um evento com a magnitude das Jornadas Mundiais da Juventude conseguia ser organizado entre nós sem ser envolvido num registo de polémica, de suspeição e, não deve tardar, com teorias da conspiração à mistura.

A luz vem do alto

O pessoal da TAP nem acredita que o altar lhe tirou os holofotes de cima.

A sociedade do espetáculo

Isto é a sociedade do espetáculo, o sonho do Debord. Há dias foi a cena da subida ao palco no S. Luís. Agora, por um palco lá para os lados da Expo, zangam-se por aí as comadres. Valha-lhes deus!

Professores

Faço parte de um grupo de cidadãos, e julgo que nem serão tão poucos quanto isso, que, tendo já percebido que algo vai mal no mundo dos professores, não concluiu ainda se eles têm razão em tudo o pedem ou se há por ali reivindicações sensatas misturadas com coisas demagógicas.

Peugeot


Ontem, num restaurante, olhei o saleiro e notei a marca: Peugeot. 

Uma amiga, ao meu lado, surpreendeu-se: “Não conhecias a marca Peugeot como ligada aos moínhos para especiarias e outros objetos das artes da mesa?”

Confessei a minha ignorância e ela explicou-me que a Peugeot, quase há dois séculos, começou a atividade pelo fabrico deste e de outros tipos de objetos, bem antes de se dedicar aos automóveis.

A nossa memória, como acontece com os carros, às vezes demora a arrancar. No caminho para casa, ocorreu-me que, há mais de 20 anos, tinha ido a uma reunião internacional realizada no Museu da Peugeot, na cidade francesa de Montbéliart, junto à fronteira com a Suíça.  E ocorreu-me então que, durante um intervalo dos trabalhos, tinha-nos sido proporcionada uma visita ao museu, tendo sido apresentada toda a variedade histórica de moínhos, manuais e elétricos, de marca Peugeot, alguns dos quais continuavam a ser produzidos. Tinha-se-me varrido por completo da memória!

“Vê-se mesmo que não cozinhas!”, tinha-me dito, ao almoço, essa amiga. “Se cozinhasses, e ainda por cima tendo tu vivido em França, saberias que há bastante mais Peugeot para além dos carros”. 

Ignorância minha! Não tive coragem para responder: “Eu, de facto, conheci por lá um “Moulin Rouge”! Mas não este…”

quinta-feira, janeiro 26, 2023

“A Arte da Guerra”


Em “A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico” desta semana, com o jornalista António Freitas de Sousa, abordo a saga dos tanques para a Ucrânia, as novas reticências turcas à entrada da Suécia para a NATO e os debates em Davos. Pode ver aqui.

quarta-feira, janeiro 25, 2023

10 anos


Faz hoje precisamente 10 anos, fechei, pela última vez, esta porta. É o nº 3 da rue de Noisiel, onde se situa a embaixada de Portugal em Paris. Regressei a Portugal, nesse dia 25 de janeiro de 2013, sem a mais leve nostalgia, depois de mais de 42 anos ao serviço do Estado. Gostei imenso do que fiz, tive um grande orgulho em ser funcionário público, mas há mais vida para além da diplomacia.

Painel…



 … de azulejos de Jorge Barradas, com que hoje deparei numa residência particular.

terça-feira, janeiro 24, 2023

Pela calada da morte

Mário Mesquita, uma grande personalidade do jornalismo e da intelectualidade nacional, que há meses nos deixou, tendo a sua súbita morte convocado um sentimento quase unânime de perda nacional, foi, numa das linhas do seu currículo riquíssimo, vice-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ECR). 

Acaba agora de ser revelado que um trabalho técnico desenvolvido no quadro daquela estrutura, de que foi o principal responsável, foi editado com o deliberado apagamento do seu nome na capa, numa aparente vingança do presidente da ERC, que era público manter com Mário Mesquita um mau relacionamento, um gesto feito pela calada da morte de Mário Mesquita.

Ucrânia

A propósito da Ucrânia, Macron terá dito, ao que ouvi, uma coisa com algum sentido: se, neste momento de algum impasse no conflito, provocado pelas condições climatéricas, não há sinais de vontade negocial, tudo será pior quando as hostilidades voltarem à velocidade de cruzeiro.

segunda-feira, janeiro 23, 2023

Três excelentes ministros!

 



Para tomar nota.

Mentira, claro

Só por ironia ou sectarismo se pode qualificar de “coragem” e “frontalidade” o que não passou de uma grosseira mentira, disfarçada de modo atabalhoado.

Partidos

No último fim de semana, ficou a perceber-se melhor por que razão se chama ”partido” a um partido.

“Restaurante da Adraga” (Almoçageme)

 

Chega-se lá descendo a estrada que sai do centro de Almoçageme para a praia da Adraga - lindíssima, ali ao lado. A casa chama-se, simplesmente, “Restaurante da Adraga”. Existe desde 1905, acreditem! Conheço este pouso há muito tempo, mas só lá vou quando o rei faz anos, quase sempre com amigos, tanto mais que não é todos os dias que ando pela zona de Sintra e Colares. Trata-se de um local agradável, de decoração simples, mas onde recordo ter sempre comido bem. O pessoal é simpático e diligente. A especialidade da casa, como não podia deixar de ser, é o peixe e muitas outras boas coisas do mar, mas os carnívoros radicais não passarão fome, podem estar descansados. Ontem, à nossa mesa, além de uma sopa de peixe, estiveram umas ameijoas em molho de alho e coentros, um linguado de que me disseram maravilhas, um polvo à lagareiro e um chocos com tinta. Tudo a preceito. A conta foi equilibrada, com um branco de Borba a ajudar. À terça-feira, o “Restaurante da Adraga” fecha. Mas, de quarta a segunda, está sempre aberto, das 12:30 às 22:00. Em especial nos fins de semana, é recomendável reservar com antecedência pelo 219 280 028.

domingo, janeiro 22, 2023

Uma república de juízes?

O tema não é popular, mas há que falar nele. Há, nos dias de hoje, um desproporcionado papel interventivo do judiciário brasileiro na esfera dos restantes órgãos de Estado. Agora, isso funcionou em favor da democracia. Mas nada garante que, no futuro, assim continue a ser.

Regresso

O regresso de Bolsonaro ao Brasil será um pesadelo para Lula. A sua muito provável detenção, mesmo que bem sustentada judicialmente, criaria uma sombra no regresso do país à normalidade democrática. O exílio de Bolsonaro seria uma excelente notícia para Lula.

Ucrânia

Sei que sou suspeito, mas, com sinceridade, acho que a CNN Portugal tem promovido a mais completa informação sobre a guerra na Ucrânia, com excelentes enviados especiais e comentários de pendor diverso e estimulante. “Toda a unanimidade é burra”, dizia Nelson Rodrigues.

Ação de graças

Se tudo continuar a passar-se como até aqui, Lula deveria mandar rezar uma missa de ação de graças pelos arruaceiros de 8 de janeiro, contra as instalações dos três poderes. Afinal, com a sua descabelada ação, eles acabaram por dar-lhe um imenso sopro de legitimidade.

Lula e a tropa

O modo exemplar como Lula se relacionou com as Forças Armadas, durante os seus anteriores oito anos como presidente, dão-lhe agora plena autoridade para se revelar indisponivel para tolerar quaisquer atitudes reticentes face aos seus poderes constitucionais nesse domínio.

Amazónia

O descaso criminoso com o bem-estar das populações indígenas no Brasil, que acaba de ser revelado com imagens chocantes que, estou certo, vão abalar o mundo, traz ao novo governo uma honrosa responsabilidade. Estar à altura dela será um grande e inescapável desafio para Lula.

Ainda Dilma

Não entro na discussão sobre se o “impeachment” de Dilma Rouseff foi ou não um golpe. Porém, tendo acompanhado o processo com bastante atenção, em especial aquelas horas de declarações de voto na Câmara, de uma coisa tenho uma absoluta certeza: foi uma vergonha para o Brasil.

O diabo e a farda

Lula, ao substituir o comandante do Exército por um militar que expressamente afirma a sua plena subordinação ao poder democrático, pode estar a fazer um favor às Forças Armadas brasileiras, reconciliando-as com a ordem republicana, resgatando o seu equívoco papel no interlúdio de Bolsonaro.

sábado, janeiro 21, 2023

“Terroso” (Cascais)


Chama-se “Terroso”. É um pequeno restaurante (20 lugares) e “wine bar”, no dédalo de ruelas velhas de Cascais, não longe da Câmara e do Hotel Baía, só para orientar quem chega. Tinha ouvido falar da casa, mas nunca a visitara. Só de olhar para as garrafas que, em armários, envolvem a sala é-nos induzida uma sede sofisticada (ter um Crasto vinha Maria Teresa ali à mão, a mim, desestabiliza-me). A lista segue um registo clássico, mas é muito equilibrada nas suas escolhas e, o que é cada vez mais importante nos dias que correm, nos preços. Fora dela, havia uma feijoada à brasileira que estava de comer, como de facto comemos com grande gosto, e de chorar por mais. Optámos por não chorar e, alegremente, partimos para as sobremesas, uns doces a preceito. Na cozinha e no comando das operações, estava a proprietária, dona Vitalina Marques de seu nome, uma senhora simpática que, por muitos anos, oficiou naquele que foi (bem antes do tempo dela, mas já no meu) um dos primeiros restaurantes do momento “trendy” do Bairro Alto, nos anos 70 do século que se foi, o histórico ”Alfaia”. A fantástica escolha dos vinhos da casa é da responsabilidade do marido, Pedro, com uma qualidade atestada pelo prémio que foi atribuído à casa pela “Revista de Vinhos”. O Terroso fica na Rua do Poço Novo, 17, como referi, em Cascais. Telefonem (sempre, claro!) a reservar, pelo 214 862 137. Domingos e segundas-feiras, o Terroso encerra. Vão ver que não lamentarão seguir esta minha opinião, seguindo uma bela dica do Zé Paulo Fafe.

Melhor…

 


Daqui a pouco…

 


Espero que, de manhã, esteja um dia mais límpido…

As fitas do tempo

Os críticos do governo, em especial na comunicação social (que, por estes dias, é a verdadeira oposição), sabem muito bem quem, entre Fernando Medina e Pedro Nuno Santos, interessa colocar mais sob fogo, por forma a atingir diretamente António Costa. O ridículo da situação é que, com este afã contra o primeiro-ministro, agora até já incensam o tutor da Geringonça, um político capaz que tanto diabolizaram no passado. Mas, enfim, estamos no tempo do vale tudo.

sexta-feira, janeiro 20, 2023

Um guerra com barbas…

O líder checheno, Razman Kadyrov, criticou o facto de os homens não poderem usar barba se integrarem as Forças Armadas Russas. Belo tema de dissensão para quem está numa guerra.

Isso agora não interessa nada…

O ruído público criado em torno da TAP vai desgastando o governo e, quem sabe?, pode mesmo vir a contribuir para a sua queda. Mas há uma certeza: a TAP também vai por arrasto para o charco… Já estou a ouvir alguns irresponsáveis: “É um preço barato para acabar com esta maioria”. 

“A Arte da Guerra”


O reforço do armamento da Ucrânia pelos países seus apoiantes, as primeiras atribulações do novo governo de Israel e as tentativas de acordo entre o Reino Unido e a União Europeia são os temas abordados na edição desta semana de “A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico” onde converso com o jornalista António Freitas de Sousa.

Pode ver aqui.

Eles aí estão!


Como se vê, este blogue tem alguns bizarros leitores. Na comodidade do anonimato, cavalgando um post que nada tem a ver com o assunto que querem tratar, insultam, cheios de uma coragem onde, lá no fundo, se deteta algum desespero. Deixo aqui a nota, pelo seu ineditismo: nunca na vida me tinham chamado “nazi”. É uma “première”!

ISCSP


A minha escola, o ISCSP, comemora 117 anos, desde o tempo longínquio em que foi uma escola vocacionada para os temas coloniais até à excelente escola de ciências sociais e políticas que hoje é. No meio de tudo isto, um nome foi essencial para aquela casa: Adriano Moreira.

quinta-feira, janeiro 19, 2023

O fim da linha

A sorrir de forma triste, Jacinda Ardern anunciou ter chegado, na política, ao fim da linha. A primeira-ministra neozelandesa constatou publicamente já não dispor da força anímica necessária para continuar a batalhar nesse terreiro. Antes, em tempos difíceis, tinha revelado determinação e coragem, em horas de pandemia, terrorismo e outras dificuldades, sempre com um sorriso simpático a humanizar a sua ação. Talvez pelo facto de a Nova Zelândia ser uma realidade distante, situada do outro lado das notícias e do mundo, esse mesmo mundo mostrou um inesperado interesse pelo surgimento ali daquela figura simpática, também num tempo de evidente fascínio mediático pelas mulheres novas que assumem papéis de relevo na vida pública. Agora, como é dos livros, nota-se uma atenção ao lado frágil de uma pessoa que um dia foi olhada como forte. Porquê? Talvez porque a revelação dessa fragilidade, de certa maneira, a aproxima do comum dos cidadãos, isto é, de nós.

Recado da mãe

O tornado há horas avistado no Tejo terá sido a primeira reação da mãe natureza quando soube que vai ter por cá um negacionista climático co...