Aos 79 anos, morreu Arnaldo Matos.
Nos "anos da brasa" de 1974/75, Arnaldo Matos foi um nome bem conhecido dos portugueses, como líder do MRPP. Dirigente associativo universitário nos tempos da ditadura, este jurista madeirense viria a criar, em 1970, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, mais tarde qualificado de PCTP/MRPP.
Era um movimento maoísta de tipo novo, numa linha completamente independente - e abertamente oposta - das correntes tradicionais.
Em 1974, num comício do MRPP, no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, imediatamente após o 25 de abril, foi anunciada, a certo passo, a chegada ao palco do "representante do Comité Lenine, comité central do MRPP". A sala ficou em "suspense". Quando vi subir, em passo lesto, essa anónima figura, saiu-me, bem alto, um "Olha! É o Arnaldo Matos!". Reconheci-o dos tempos da luta académica e de algumas reuniões políticas oposicionistas em 1968/69.
Fui logo silenciado por um coro de protestos dos circunstantes, escandalizados por eu estar a "expor" alguém que estaria "na clandestinidade". Sabia lá eu, que estava por ali, não por qualquer militância partidária, mas por mera curiosidade, e que estava longe de saber que, embora na completa liberdade que então já se vivia, ainda havia quem se mantivesse nesse mundo de sombras.
O nome de Arnaldo Matos acabaria por ser divulgado meses mais tarde e a ele ficou ligado o título de "grande educador da classe operária", na linha grandiloquente da inigualável propaganda do MRPP. Por muitos meses, titulou uma linha que se opunha fortemente ao Movimento das Forças Armadas (MFA), acusando este de ser uma "correia de transmissão" do PCP, numa "tropa" onde curiosamente dispunha de alguns aliados, o mais proeminente dos quais era o major Aventino Teixeira. Uma proximidade a Ramalho Eanes, fruto da convivência comum no seu serviço militar em Macau, também o terá protegido, em especial aquando da sua detenção em 28 de maio de 1975, numa operação do MFA destinada (sem sucesso) a desmantelar o MRPP.
A Revolução entraria, entretanto, em perda de velocidade, o MRPP foi-se tornando cada vez mais diminuto e, um dia, deixou de se ouvir falar de Arnaldo Matos, que terá ingressado na advocacia.
Nos últimos anos vi-o, por diversas vezes, em eventos públicos, ao lado do lider que lhe sucedeu no partido, o também advogado Garcia Pereira. Depois, foi público um dissídio entre os dois, com este último a ser expulso do MRPP, onde Arnaldo Matos regressaria, em moldes informais e que me pareciam pouco claros, a vários títulos.
Seria a propósito de eu ter referido por aqui esse seu ambíguo estatuto, que o “grande educador da classe operária” me viria a zurzir, tempos mais tarde, nas redes sociais. Nada que eu não levasse à conta da belicosidade polémica de alguém cujo nome, reconheça-se, fica ligado a um período importante da vida política em Portugal.