domingo, outubro 06, 2013

O tempo e a política

As regras da vida política dos dias que correm são, para o bem e para o mal, muito diferentes das que existiam no passado. O escrutínio público do atos e da vida dos atores políticos é muito maior e com um grau de exigência acrescido, sendo que, quando o vento geral não corre de feição, esse ambiente dominante tudo agrava. Aquilo que, num período de "estado de graça", poderia ter passado como um "fait divers", assume uma relevância de outras proporções quando surge a contraciclo. E se, como às vezes acontece, isso vem somar-se a "episódios" anteriores, então, para usar a elegante formulaçao recente do presidente da Comissão europeia, "o caldo está entornado". Cedo ou tarde.

Desde sempre, entra-se para um governo para colaborar num projeto no qual se acredita, para ser útil, para resolver problemas. Se alguém, a certo ponto, constata que a sua presença acaba por constituir-se, em si mesma, como um novo problema para o próprio governo, recomenda o bom-senso que seja o ator político a tomar a decisão de afastar-se. Sem perda de tempo, limitando o desgaste. Poderá, dessa forma, preservar melhor a sua história pessoal e contribuir para deixar de ser um peso para o executivo com o qual se sente solidário. Esta, aliás, é uma regra bem antiga, pelo que quem já viveu outros tempos da política tem obrigação de conhecê-la.

A tabacaria

Era uma pequena tabacaria de vão de escada, situada no edifício entre a igreja da Encarnação e a então livraria "Diário de Notícias", no Chiado, onde hoje está a Hermès. Dirigia-a uma matrona faladora, que sempre vi à conversa com uns tipos de fato cinzento, sem notória ocupação, que se encostavam pela entrada.

Terá sido por 1971 ou 1972. Num dia, entrei na tabacaria - se assim se pode dizer, porque o balcão estava quase junto à porta - e pedi o "República", o diário oposicionista que saía no início da tarde.

A matrona olhou-me com um sorriso desdenhoso e replicou: "Eu não vendo esse jornal!". Virei as costas, mas ainda ouvi o comentário dela para um dos cavalheiros que ornava a moldura da porta: "Ó Teixeira! Este queria o jornal dos comunas. Deve ser daqueles de quem vocês gostam..."

Saí "gelado" pelo Chiado abaixo. O Teixeira era, com toda a certeza, agente da Direção-Geral de Segurança (o "heterónimo" que o marcelismo tinha criado para a Pide), cuja sede ficava na rua ao virar da esquina.

Depois do 25 de abril, viria a saber-se que a dona da tabacaria era "fiadora" de muitos pides e que aquele era um pouso de predileção dessas figuras.

sexta-feira, outubro 04, 2013

Os nomes e lugares

Vi que saíram da cena da vida Silvino Silvério Marques e Vasco Lourinho. Quem, com menos de 30 anos, sabe quem foi o general efemeramente reciclado pelo 25 de abril ou o correspondente madrileno da RTP com o mais "portuñolez" dos sotaques? Quem, neste presente muito vertiginoso, tem tempo para um passado cuja evocação deve soar a uma espécie de "name-dropping" nostálgico?

Cruzei esta dúvida com a experiência, que há dias aqui contei, de uma conversa com jovens interessados em falar sobre o património de convívio que se esvai, com os lugares desse outro tempo e das pessoas que ajudaram a fazer-lhes o nome. Fiquei então muito agradado e surpreendido com o facto de terem sido eles a promover uma iniciativa deste género, de procurarem "agarrar" o passado, talvez por entenderem que ele é parte importante da sua própria identidade.

Nessa conversa, e à medida que falava, ia-me dando conta de que, porventura, podiam ter para eles escasso significado nomes de figuras que eu ainda vi pela "Smarta", de escritores que identificava na "Paulistana" ou no "Monte Branco", da importância de quantos preparavam pelo "Vává", mas também pela barra do "Gambrinus", o renascimento do cinema português. Arrisquei falar de gente interessante que cruzei na "Granfina", de algumas conspirações leves a que assisti, em fins de tarde, no "Montecarlo", bem como dos "internacional-situacionistas" que por lá surgiam, dos "situacionistas" do regime (e dos sportinguistas, o que, ao tempo, era bastante o mesmo) que andavam pelas mesas de canto do "Aviz" ou, um pouco mais acima, de alguma intelectualidade, esquerdalha e jornalística, que passava pela "Ribadouro" ou pelo "Café Lisboa". Mas também de figuras que vi ou conheci por noites do "Botequim", do "Bolero", do "British Bar", da "Alga" ou do "Alfredo". E de quem parava, às tardes, pelas livrarias do Chiado, que antes eram lugar de animada tertúlia - lembrando, no que me toca, especialmente a "Opinião", com o pessoal saído das redações do Bairro Alto.

Alguns perguntarão: mas que importância tem isso hoje, ou, como em tempos se dizia cinicamente, "em que é que isso contribui para a minha felicidade?" 

Ora bem, eu também não andei com o Bocage no "Nicola", nunca encontrei o Eça na "Havaneza", nunca vi o Pessoa no "Martinho da Arcada", não cruzei as gerações históricas da arte na "Brasileira", já não topei surrealistas no "Gelo", não estava no "Chave d'Ouro" quando o Delgado anunciou o decreto de demissão de Salazar. E, no entanto, sei bem quem eram, por onde paravam, o que uns fizeram, o que outros escreviam, conheço histórias que os uniam ou separavam. Um país é isso tudo. É também o que fica para trás. E que nos compete ajudar a transmitir. Dar razões às novas gerações para se interessarem pelo que já lá vai é uma tarefa que ainda vale a pena. Acho eu!

O discurso da "troika"

Há momentos tristes na vida de um país. 

Um deles é ver, com a óbvia cumplicidade (senão mesmo a pedido) das autoridades nacionais, um grupo de credores institucionais externos expressarem, de forma ostensiva, uma pressão sobre um órgão de soberania como o Tribunal Constitucional português. Leia-se isto:
"No caso de algumas destas medidas virem a ser consideradas inconstitucionais, o Governo teria de reformular o projeto de orçamento a fim de cumprir a meta do défice acordada. Tal, contudo, implicaria riscos acrescidos no que se refere ao crescimento e ao emprego e reduziria as perspetivas de um regresso sustentado aos mercados financeiros."
Pergunto-me sobre a reação que, em outros países, um tipo de declaração desta natureza teria desencadeado. 

quinta-feira, outubro 03, 2013

Uma equação belenense

  • Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se altamente crítico da prestação de Pedro Passos Coelho como líder do PSD, considerando mesmo ter sido o pior de toda a sua história partidária.
  • No caminho para as próximas eleições presidenciais, em 2016, o presidente do PSD, seja ele tem for, terá sempre a palavra decisiva na escolha do candidato que o partido vier a apoiar.
  • Como é sabido, em certos setores do PSD, o nome de Rui Rio começa a ser muito falado como alternativa possível ao atual líder, particularmente se o resultado nas eleições europeias, em meados de 2014, voltarem a ser desastrosos para o partido.
  • Marcelo Rebelo de Sousa nunca escondeu as suas ambições presidenciais e o sufrágio de 2016 é, muito provavelmente, a sua derradeira oportunidade, tanto mais que a lógica portuguesa aponta para a recondução dos presidentes em funções.
  • Como se chamava o secretário-geral do PSD que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu quando foi presidente do partido?
  • Acertou! Chamava-se Rui Rio.

O futuro da PT

Escrevi aqui um dia que, cada vez mais, só emito opiniões firmes sobre questões relativamente às quais julgo possuir conhecimentos suficientes para formular um juízo minimamente consistente. Quanto ao resto, posso ter vagas ideias, mas elas não dão mais do que para uma mera conversa de café.

É este último sentimento que tenho face à questão da fusão da PT com a brasileira Ói, que por uns dias vai dominar o debate público e que, com toda a certeza, irá ser objeto de tomadas de posição, definitivas e enfáticas, por parte dos nossos conhecidos "tutólogos" - essa originalidade nacional que nos dá o privilégio de possuir um mão cheia de figuras que falam e escrevem de cátedra, sobre tudo o que "vem à rede", desde o desporto à economia, da saúde às obras públicas, passando naturalmente pela política, área em que são ases deste baralho de bisca lambida que nos calhou em rifa.

Por coincidência, e ao tempo em que era embaixador português no Brasil, tive o ensejo de participar em conversas que Henrique Granadeiro manteve com entidades oficiais brasileiras, com vista a apresentar-lhes o modelo estratégico que a PT tinha em perspetiva para aquele país. Não podendo entrar aqui em detalhes, porque a reserva profissional a isso não me autoriza, posso contudo dizer que esse modelo procurava associar, de forma criativa, valências empresariais dos dois países, com a finalidade de obter importantes ganhos de escala, com impactos pretendidos no espaço global da língua portuguesa, numa lógica que excedia em muito as meras comunicações para se prolongar na futura gestão de conteúdos. Era um formato que, ao tempo, parecia coerente e com perspetivas de ser uma boa aposta para o futuro.

Muita água correu, entretanto, sob as pontes. As alianças da PT no Brasil acabaram por ser algo diferentes das que, à época, pareciam ser as mais desejáveis. Foram, com certeza, as possíveis e é nesse novo quadro que o modelo agora anunciado se concretiza.

Como disse, não tenho a menor opinião sobre a bondade da opção seguida. Tenho, porém, duas certezas. A primeira é a de que Henrique Granadeiro é uma personalidade que, ao longo destes anos, maturou e mostrou uma leitura estratégica para a PT, feita de uma grande experiência e de um evidente acumular de sucessos. A segunda é de que Zeinal Bava é, nos dias que correm, reconhecido como um dos mais brilhantes gestores mundiais na área das telecomunicações. Só podemos esperar que a decisão que ambos tomaram - e que, do lado da PT, cabe essencialmente aos acionistas avaliarem - tenha sido a melhor.

Lugares da vida urbana

A iniciativa insere-se no âmbito da Trienal de Arquitetura de Lisboa. O projeto chama-se Gargantua Collective e, em síntese, tem por objetivo refletir sobre as perdas, para o património humano e cultural das cidades, que pode representar a desaparição de alguns locais públicos de convívio lúdico e de restauração, que estão hoje sob forte ameaça, em grande parte pela crise económica, mas, noutros casos, pela mera inadequação da sua oferta, algo estática, face aos desafios do consumo contemporâneo.

O olissipógrafo José Sarmento de Matos e eu próprio, fomos anteontem convidados a falar, perante um público jovem, atento e interessado, que se juntou no restaurante "Pessoa" - uma casa com 164 anos, por onde o homónimo poeta também passou, na clássica rua dos Douradores - sobre a importância desses locais, como plataformas de sociabilização e, em alguns casos, como espaços de criatividade e diálogo cultural, com dimensão histórica significativa.

Dediquei a Lisboa grande parte daquilo que disse, nessas quase duas horas e meia de convívio, onde também se leu poesia e se avaliou a evolução do usufruto da "rua" e da noite pelas gerações, chamando à conversa as redes sociais e a globalização da cultura do imediato, que hoje atravessa as camadas mais jovens, que olham preferencialmente para outros suportes, muito para além dos livros, dos jornais ou da televisão. 

Sem a menor nostalgia mas com o carinho devido, falei de cafés, bares e restaurantes perdidos ao longo dos anos, realçando sempre, contudo, que nunca como hoje a cidade de Lisboa esteve tão "gloriosa" e diversa em termos de oferta gastronómica e de locais de convívio, não apenas para os jovens, mas para todas as gerações e gostos. E abordei, com alguma atenção, a evolução da vida urbana fora da capital, no Porto e em outras cidades de província que conheço bem, notando as mutações nos hábitos e, com elas, a perda inevitável e irreversível do lugar social de certos espaços, como, aliás, acontece um pouco por todo o mundo que se nos assemelha.

Houve ocasião para abordar o tempo da vaga avassaladora dos bancos sobre muitos cafés, explicando o papel que estes tinham desempenhado, durante muitos anos, na atenuação da solidão de quem, vindo da província - e, à época, "quase não havia lisboetas..."- caía desamparado numa cidade que parecia imensa, fosse ele estudante ou trabalhador. Falámos das tertúlias políticas, intelectuais e literárias, desportivas ou simplesmente lúdicas, da noite "que era predominantemente masculina", salvo num seu certo lado... Falámos muito, de facto, dessa noite, da boémia, pobre e rica, dos bares, dos cabarés, até do fado, dos escritores e dos seus lugares preferidos, dos locais operários e estudantis. E da cultura, dos suplementos literários, das revistas que marcavam um tempo que era muito mais lento e menos perecível, agora apagado de imediato pelo dia seguinte.

Sarmento de Matos, com o seu conhecimento histórico ímpar da capital, deu-nos notas curiosíssimas sobre a evolução espacial de Lisboa, dos círculos de identidade em que a capital se desdobrou, das dinâmicas sociais urbanas e no modo como a cidade se foi construindo.

Na sala estava uma das figuras a quem a divulgação da vida e obra de Eça de Queiroz mais deve, o arquiteto Campos Matos, que contribuiu com traços muito interessantes dessa Lisboa novecentista. Apelámos à audiência para que lesse "A Capital", onde está tudo: os cafés, as tertúlias, os lugares de restauração, a vida social e intelectual, visto sob um (falso) olhar provinciano. Olhar essa Lisboa é meio caminho andado para entender a Lisboa de hoje. E Portugal.

quarta-feira, outubro 02, 2013

O voto de Berlusconi

Graças a Sílvio Berlusconi, a Itália parece ter regressado a um novo ciclo de turbulência. Hoje, num almoço a que assisti, veio à baila esta figura polémica da política europeia. Dois dos convivas, ambos portugueses, contaram um episódio curioso a que haviam assistido.

Um conhecido político português foi, um dia, visitar Berlusconi, que então era primeiro ministro. O encontro decorreu de forma agradável, no ambiente de descontração que o líder italiano tradicionalmente proporcionava aos seus visitantes.

O nosso político, a certo ponto da conversa, fez uma apresentação muito completa e informada sobre a situação europeia e mundial, com grande rigor e brilho expositivo. Berlusconi mostrou-se visivelmente interessado no que ouvia, que seguiu com atenção até ao fim. Nesse instante, não se conteve e disse:

- Tenho pena que o senhor não seja italiano!

Por segundos, o escasso auditório ficou perplexo. Com um sorriso aberto, Berlusconi esclareceu:

- Se o senhor fosse um político italiano, eu e a minha família votaríamos em si, com toda a certeza.

O nosso político terá considerado isso um elogio?

terça-feira, outubro 01, 2013

Silêncio de ouro

Os comentadores, na sua natural liberdade, podem, e até devem, falar da possibilidade de Portugal, caso venha a constatar-se que não consegue regressar ao mercado financeiro sem garantias externas, poder ter de vir negociar um novo programa de ajuda, no pior cenário em moldes idênticos ao atual, na melhor das hipóteses através de um "programa cautelar", apoiado apenas nas instituições europeias.

Aos mesmos comentadores assiste também o direito de refletirem em voz alta sobre se Portugal e os seus credores não deverão, em momento oportuno, encarar a possibilidade de recorrer a uma "reestruturação da dívida" (alguns, dados ao "economez" que agora é gíria, dão-se ao luxo de falar de "haircut"), elegante forma de se assumir que parte dela será necessariamente "perdoada" e não paga, atenta a implausibilidade manifesta de o país vir a registar taxas de crescimento capazes de corrigirem os atuais desvios.

De igual modo, nas tribunas de imprensa ou nas conversas de café, a questão do nível do défice das nossas contas públicas para 2014 pode ser objeto de comentários, às vezes informados, outras vezes meras "fezadas". Ou, retomando Augusto Gil: "Será 4%? Será 4,5%? 5% não é certamente, porque a "troika" não deixa assim..."

Os comentadores têm todo o direito de especular sobre tudo isto. Mas os políticos não. Só que, em Portugal, já não se percebe bem onde começam uns e acabam os outros. 

Numa situação internacional na qual a imagem de Portugal sofre hoje de uma clara fragilidade, em que os detentores - atuais ou potenciais - da nossa dívida olham "à lupa" qualquer dissonância por parte do nossos decisores políticos - também eles, atuais ou potenciais -, o óbvio recomendável seria que todos eles se calassem, sobre os temas que acima referi. Mas já se percebeu que isso não é possível e que a politiqueirice os impele a fazerem, de quando em vez, considerações "ligeiras" sobre estas questões, que sendo de uma extrema sensibilidade, nos custam a todos, e todos os dias, imenso dinheiro. Que não são eles que pagam, claro.

segunda-feira, setembro 30, 2013

A minha opinião...

... que vale o que vale!

1. O PS ganhou as eleições. Talvez não por tantos votos de diferença como o estado do país justificaria, mas ganhou. E António José Seguro, que corria neste sufrágio o seu maior risco - as eleições europeias vão ser uma "passeata" -, ficou consolidado como candidato socialista a primeiro-ministro, quaisquer que sejam as reticências que possa merecer. Desde logo, da parte de muitos que nunca votarão no PS, mas que se arrogam a mandar bitaites sobre a vida política interna dos socialistas. E, depois, também de outros que, votando regularmente socialista, não se revêem no seu estilo de liderança. Mas quem manda no PS são os militantes do PS e, a seu tempo, o PS elegeu e depois confirmou Seguro. Que agora ganhou. Talvez valesse a pena ter claro: Seguro será líder do partido até às próximas eleições legislativas.

2. António Costa confirmou-se como uma figura política de grande dimensão. Apoiado por uma espécie de neosampaísmo e com forte penetração em algumas áreas não socialistas, é, felizmente para o país, uma figura incontornável no nosso futuro político. Mas não vale a pena alguém ter ilusões: está decididamente "fora de jogo" para a liderança socialista até 2015. Por azar dos calendários, arrisca-se a ser para os seus, como Dennis Healey foi um dia no Reino Unido para certo "labour", "the best prime minister we never had". Mas Belém fica já ali adiante. E mais vale um pássaro na mão...

3. Passos Coelho foi muito realista na assunção da derrota e muito irrealista nas razões que a motivaram. Sem sofismas, admitiu o seu fracasso e o êxito do PS, insistindo, contudo, na tecla da linha política que levou muitos dos seus candidatos ao tapete. Posso admitir que, com a "troika" no Terreiro do Paço, não lhe restasse outra opção. Mas, salvo um milagre, acaba de escrever mais um capítulo da crónica de uma morte política anunciada. O PSD continuará a ser, apesar da "abada" de ontem, um grande partido autárquico e, sem fundos comunitários para alimentar as rotundas, os repuxos e a relva, os edis socialistas vitoriosos vão passar por tempos bem difíceis. Daqui a quatro anos, a "máquina PPD" vai recuperar. Até lá, o sebastianismo "fluvial" irá corroendo o partido, sendo muito curioso ver o que o Porto poderá fazer por isso. Não faço prognósticos, salvo que, para os social-democratas, tudo será pior amanhã do que hoje. Estas eleições colocaram um ponto final no otimismo que a remodelação de agosto provocara. Em política o que é, tarde ou cedo, aparece.

4. Sem surpresas, o PCP volta a federar algum descontentamento que a prudência do PS não conseguirá nunca agarrar, sob pena de se descredibilizar como força de alternância. Tendo habilmente feito esquecer ao eleitorado que foi com o seu voto (e o do Bloco) que os socialistas foram derrubados em 2011, e que é graças ao PCP que Passos Coelho é hoje primeiro ministro e aplica as políticas que os comunistas diabolizam, a Soeiro Pereira Gomes regressa momentaneamente aos "ontens" que sempre canta lá pelo Alentejo e arredores lisboetas "enragés". Daqui a dias, voltará para a rua, pela mão da sua heterónima CGTP. Enquanto o sacrifício essencial recair no setor público, o efeito político será uma coisa. Quando forem os assalariados e reformados privados a ter de pagar a fatura - como se viu no caso da TSU - o caso mudará de figura e as ruas passarão a avenidas. O PCP terá sempre e apenas a força que o leque das medidas do governo lhe concederem. Nem mais, nem menos.

5. O CDS confirma-se como indiscutível líder da "liga dos últimos". Com cinco bravas Câmaras cinco, recolhe as canas do incêndio no PSD e ganha a noite, formalmente compungido com o desaire do parceiro. Não dá para abrir uma garrafa de "Ruinart", mas dá para beber um espartano "Magos", brindando aos 500% de crescimento! Os centristas passam assim por entre as pingas do dilúvio que se abateu sobre a maioria, mas talvez a irritação desta obrigue a publicar, de uma vez por todas, o famigerado "guião da reforma do Estado" e o saldo efetivo do batimento de pé à Europa nas últimas semanas. A montanha parirá um Caldas?

6. Uma "ultima corrida em Salvaterra" terá sido lidada pelo Bloco, dela saindo aos ombros de si próprio, como é próprio da modéstia política caseira, que vive das derrotas dos outros, não podendo apresentar vitórias próprias. O esquerdismo pós-modernaço e pós-Frágil terá chegado ao fim? Não acredito, mas a sedução bloquista está a esvair-se rapidamente, com o PCP a rir-se a bom rir. Daqui para diante, como é que vai ser? A esquerda da esquerda bloqueada? Não faço ideia, confesso. Mas, francamente, tenho a sensação de que será só uma curiosidade estatística.

7. No meio de tudo isto, como terá sido o domingo da "troika", fechada pela morrinha no seu hotel, entre o "zapping" e os amendoins do mini-bar? Deve estar intrigada ao saber que já houve um Rio no Porto que ninguém atravessou e que agora nasce outro em Braga. Pedirá às suas secretas para descodificar a salgalhada de apoios que colocou Moreira no alto dos Aliados. Cuidará em saber quem é esse tal de Isaltino que não aparece mas afinal está bem presente. Ouvirá sereias a vender-lhe a troca de Costa pelo Seguro e opostos oráculos a defender o senhor do Rato contra o edil mais popular no país. Procurará com lupa as foices e os martelos escondidos no logo inocente da CDU. Sorrirá a bom sorrir quando lhe derem os números daquilo que é a força política por detrás do seu interlocutor nas conversas do "pacote" de avaliações que lhes alimenta as ajudas de custo. E, quem, na "troika" souber um pouco de bola, terá concluído que o Porto ganhou com um penálti falso, no dia de um seu aniversário que também o é. Mas isso nem a "troika" sabe.

8. Mudou alguma coisa no dia de ontem? Mudou. Mas vai demorar algum tempo até que saibamos exatamente o quê e para quê. Resta-me a dúvida no saber se teremos esse tempo.

Vila Real

Nasci em Vila Real. Em 1996, na qualidade de independente, aceitei o convite para chefiar a lista do Partido Socialista à Assembleia Municipal de Vila Real. Fui então derrotado por Passos Coelho. Não, não era esse! Era o pai, que titulava a lista social-democrata, uma pessoa muito estimável por quem mantenho um grande respeito.

Essa não foi a primeira vez que me interessei pela política local. Em 1969, no tempo em que andava na universidade, colaborei com gosto na Comissão Democrática Eleitoral (CDE) de Vila Real que, contra ventos e marés, sob a orientação dessa grande figura da democracia que se chamou Otílio de Figueiredo, levou a cabo uma difícil aventura cívica de combate à ditadura, que guardo nas minhas melhores memórias. (Ainda ontem encontrei o meu velho amigo António Leite, que me apalavrou para a primeira reunião clandestina, na sala onde a sua avó Dona Dirceia dava explicações, cuja chave surrupiou para o efeito).

Desde a instauração da democracia, e passadas as "comissões administrativas", o PPD (e depois o PSD) dominou sempre o município vilarealense, primeiro com Armando Moreira, mais recentemente com Manuel Martins. O PSD perdeu ontem essa liderança, com erros partidários locais a serem potenciados por uma das mais profundas derrotas autárquicas da sua história, à escala nacional.

O PS, que nunca conquistara a Câmara, apesar de vários combates corajosos no passado, conseguiu-o agora pela mão de Rui Santos, um candidato jovem que tem uma excelente oportunidade para titular um novo tempo para a cidade. Não será uma tarefa fácil, num concelho complexo, desigual e sem uma estratégia de desenvolvimento regional minimamente consensualizada. Por muitas razões, mas essencialmente para bem de Vila Real, só lhe posso desejar que venha a ter o maior sucesso.

Em tempo: à hora que este post é publicado, ainda há dezenas de autarquias por apurar. Não seria possível fazer melhor? 

domingo, setembro 29, 2013

Por um voto

"Por um voto se ganha, por um voto se perde", costuma dizer-se na vida democrática. Às vezes, é assim mesmo.

O meu pai costumava lembrar que, numas das primeiras eleições autárquicas, lá por Vila Real, a minha mãe, por uma qualquer razão momentânea, decidira não ir votar, não obstante ambos terem uma declarada preferência por um candidato à presidência da Junta de Freguesia da sua residência. Esse candidato perdeu... por um voto!

Vote!

Em tempo: o PS ganhou por um voto em Mogadouro! Eu não dizia?!

Com o devido respeito

O senhor presidente da República considera - e muito bem! - que a legislação que enquadra o modelo de cobertura mediática das eleições autárquicas está desadequado da realidade e deve ser revisto. Com o devido respeito, e como se diz na minha terra, "até aí chegou o Neves!". Já toda a gente tinha constatado isso e é com imensa pena que vejo o chefe de Estado português a proferir, na solenidade da noite que antecede o ato eleitoral, uma banalidade que as últimas semanas transformaram numa verdade de La Palice.

Se o senhor presidente, que tem um batalhão de conselheiros a assessorá-lo para as suas tomadas públicas de posição, e que está no cargo há bem mais de seis anos, tivesse, a tempo e horas, dito aos partidos o que ontem disse, talvez as eleições autárquicas que hoje se disputam tivessem decorrido num melhor ambiente de informação democrática. Do mesmo modo que, também há muito tempo, com a sua autoridade institucional, poderia ter espoletado uma clarificação da lei dos mandatos, que acabou por transformar estas eleições num triste espetáculo de ambiguidade e cobardia legislativa.

Só podemos esperar que o senhor Presidente da República, na comunicação que fará ao país na véspera das próximas eleições legislativas, não venha a surgir nos écrans televisivos a lamentar, dessa vez, que os partidos políticos não tenham entretanto empreendido uma revisão da lei eleitoral para a Assembleia da República, encurtando os ridículos longos prazos, a montante e a juzante do ato eleitoral, que, pelo menos de quatro em quatro anos, contribuem para atrasar a normalidade da vida política, económica e social do país. Nessa que irá ser a sua derradeira intervenção num contexto similar, seria desejável que o chefe do Estado pudesse colocar a crédito de uma sua atempada intervenção a fixação de um quadro legislativo com calendários mais céleres e menos burocráticos.

sábado, setembro 28, 2013

Vitórias

Hoje, dia "de reflexão", não se deve falar de eleições na comunicação social. Nem nas redes sociais, presumo que blogues incluídos, segundo a Comissão Nacional de Eleições. Um país que acreditasse na maturidade dos seus eleitores já teria posto termo a esta ridícula política de "faz-de-conta".

Não é apenas pela permanência no tempo desta iníqua disposição que se constata que a inteligência dos portugueses é tida em limitada consideração pelos partidos políticos, que teimam em manter na lei esta absurda limitação. Na noite de domingo, teremos uma outra prova disso: com a maior "lata", e fazendo dos eleitores parvos, todos os partidos cantarão vitória.

O CDS e o Bloco de Esquerda acenarão com os seus microscópicos números, comparando-os com o "benchmark" temporal que lhes der mais jeito. Confessar a sua insignificância autárquica é que nunca! O PSD, que já pôs em campo a sua máquina de comentadores com vista a almofadar o que vai ser a "vitoriosa" abada que vai levar, recorrerá ao estafado truque de afirmar que os resultados, afinal, não foram tão maus como as previsões apontavam, que as coligações não autorizam leituras "precipitadas" da expressão partidária à escala nacional e que, no fundo, "eleições locais são locais", magnificando um ou outro êxito pontual menos aguardado. Internamente incomodado com o facto da sua natural vitória ficar bem longe da expressão de "landslide" que o profundo mal-estar do país deveria justificar em seu favor, o PS cavalgará as mais estrondosas derrotas do PSD e fará a sua festa, esquecendo Évora, Braga e Matosinhos, e contando votos, mandatos, grandes cidades ou câmaras, como melhor convier ao discurso do seu êxito anunciado. O PCP, através do heterónimo grupinho que renasce nos tempos eleitorais, proclamará a "grande derrota" que a política da "troika" sofreu, dando relevo "ao forte voto de confiança que o nosso povo uma vez mais concedeu aos candidatos da CDU". E, não desiludindo expetativas, conclamará as massas para a exigência de eleições legislativas antecipadas.

Os portugueses, esses, irão deitar-se amanhã com uma sensação de "déjà-vu".

quinta-feira, setembro 26, 2013

Zelig

Seria importante para a imagem internacional de Portugal que Woody Allen fizesse um filme em que Lisboa fosse o cenário de fundo? Claro que sim.

Se Allen "agarrasse" bem a capital portuguesa, numa trama inteligente e sem clichés, fugindo ao modelo, a meu ver demasiado simplista, que usou para Paris e Roma, ficaria orgulhoso em poder contar com a capital portuguesa no seio daquela que (já) foi uma das filmografias mais geniais da minha geração.

Mas suspeito não é isso que se pretende. O que por aí se anseia é o afadistar da película, é a reiteração do óbvio - um diálogo romântico no alto do parque Eduardo VII com o Tejo a diluir a outra banda, a Baixa ensolada do miradouro do castelo, o elétrico a chiar na já estafada esquina de Alfama, o bilhar do Pavilhão Chinês, a bica na mesa de Pessoa no Martinho da Arcada ou com o Pessoa da Brasileira, um "tête-à-tête" num dos poisos do Avillez ou com um prego no prato e um fino na Trindade, um "contre-plongée" no elevador da Bica ou cenas de rua no Bairro Alto grafittado, o olhar nostálgico do jardim de S. Pedro de Alcântara ou da saramáguica Casa dos Bicos. Duvido que tenham coragem para incluir o "suspense" de uma viagem mistério com um taxista do aeroporto ou a emoção da carteira fanada no 28, agora que o Intendente passou de moda.

Claro que isso traria a Lisboa gente, euros, dólares e balzaquianas, que passariam os dias a fazer "takes" caseiros, a imitar a película no seu iPhone, a comer os pastéis de Belém do Álvaro, a inundar os Jerónimos de "uáus!" e o terraço das Portas do Sol de turistas. Seria o "Allgarve" de Manuel Pinho em versão alfacinha, desta vez a cheirar a sardinhas no verão e a castanhas no inverno.

Era bom para o turismo? Era capaz de ser. Mas, desculpem lá, tudo isso soa-me demasiado, no pior, a um "remake" do SNI e Moreira Baptista, e, no melhor, a Verde Gaio e António Ferro. Deixemos o Woody Allen em paz, nas boas recordações que nos fixou! Não alimentemos esta espécie de Zelig urbanos que agora lhe enchem os bolsos.

Bom, a menos que ele traga para a fita a Scarlett Johansson! Uma cena com ela no Procópio far-me-ia rever tudo quanto atrás escrevi, devo confessar...

Timor e o fim da descolonização

Há dias, numa conversa durante uma cerimónia na visita a Portugal do presidente timorense, Taur Matan Ruak, lembrei-me de uma história passada em Nova Iorque, ao tempo em que por lá passei como representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas.

Um dia (creio que) de maio 2002, um colaborador perguntou-me se estava interessado em ir "à última reunião em que o 'Comité dos 24' iria abordar a questão de Timor". Como a minha agenda era então um "inferno", lembro-me de ter hesitado por um instante. Mas a atenção prioritária que sempre dávamos a Timor-Leste fez-me logo dizer que sim. Porém, só um pouco depois tive a consciência do que essa reunião na realidade significaria.

O "Comité dos 24" (até 1962 conhecido por "comité dos 17", em função do número dos países que o compunham) é uma fórmula redutora para um nome bem mais longo: "Comité especial encarregado de examinar a situação relativa à aplicação da Declaração sobre a concessão da independência aos países e povos coloniais". É também chamado "Comité especial para a Descolonização". O Comité foi criado em 1961, após a aprovação da referida Declaração pela Assembleia geral da ONU, em 1960.

Ainda em 1962, Portugal foi convidado a estar presente numa reunião do "Comité dos 17". (Recordo que, em fevereiro e março de 1961 tiveram lugar graves incidentes em Angola e que Goa caiu em mãos indianas em dezembro desse mesmo ano). Considerando que, na perspetiva do governo de Lisboa, não havia, sob a sua tutela, colónias ou territórios passíveis de se enquadrarem nos objetivos do Comité, o governo português veio a recusar-se, a partir de então e até 1974, a colaborar com aquela estrutura, que se iria transformar num dos mais ativos instrumentos internacionais de denúncia do colonialismo português. Com a aceitação da autodeterminação e independência das suas colónias, a partir da Revolução de 25 de abril, tudo mudou. E, desde 1975, apenas o caso de Timor-Leste, dentre os antigos territórios coloniais portugueses, permaneceu como um processo em aberto nessa instância, neste caso sob a denúncia da ocupação indonésia.

Por essa altura de 2002, aproximava-se a independência de Timor-Leste, que iria ter lugar no dia 20 de maio. A reunião do Comité para a qual eu era convocado era a última na qual uma questão relativa à história colonial portuguesa era evocada. Já não me recordo do que disse na sessão, o que deve constar da respetiva ata oficial e do relato desta que terei feito para o MNE. Mas lembro-me bem de que, nesse momento, tive a consciência de que a presença de Portugal naquele ato culminava, de certa maneira, um tempo histórico.

Com a independência de Timor-Leste, no dia 20 de maio de 2002, fechar-se-ia um ciclo de uma aventura imperial iniciada em 22 de agosto de 1415, com o assalto militar português à fortaleza mourisca de Ceuta. Na reunião do "Comité dos 24", em que eu participei em nome de Portugal, escassos dias antes daquela independência, encerrava-se formalmente último capítulo do longo processo que conduziu ao fim do tratamento internacional da questão colonial portuguesa, iniciado meio século antes.

quarta-feira, setembro 25, 2013

Memória

O comentário que o cavalheiro inglês fez para a sua mulher, ontem, numa loja do aeroporto de Málaga, fez-me sorrir: "este cheiro lembra-me qualquer coisa!" O curioso é que eu estava a pensar precisamente o mesmo, embora, no meu caso, não tivesse a menor dúvida: era o da uma loja, em Greenwich Village, no fundo da 7a avenida, em Nova Iorque, em dezembro de 1972. Era um odor perfumado, com algo de oriental, que ia bem com algum ambiente da época. Não faço ideia do que é, mas tenho a certeza absoluta de me não enganar.

Uma vez, trocando impressões com António Pinto da França, um grande amigo que há pouco se foi, dei-me conta de que comungávamos o facto de mantermos uma memória olfativa muito aguda, ligada a certos momentos da vida que tinham ficado registados para sempre. E comentámos o facto de conhecermos outras pessoas com idêntica experiência.

Sucede-me de vez em quando, embora de forma não muito frequente: entro num local, tenho uma certa perceção olfativa e, às vezes, quase sem esforço de memória, regresso por um instante a um certo local e a um tempo, sempre longínquo, onde essa perceção já se produziu. O curioso é que isso não corresponde, necessariamente, a ocasiões ou locais marcantes do passado, mas a tempos banais. Ou, então, a minha memória não os considera tão banais como isso.

Algumas vezes me tenho encontrado com o cheiro típico da cera das escadas do Clube de Vila Real, nos anos 60. Há tempos, numa esquina não sei bem onde, surgiu-me o odor que emanava de uma mercearia da rua Alexandre Braga, no Porto, um misto de café e especiarias, no meu tempo de universidade. Lembro-me bem do aroma, acolhedor, da copa da cozinha das minhas tias, nas Pedras Salgadas, com um fundo inconfundível de marmelada. E, há uns meses, ao entrar num escritório, dei "de narinas" com o cheiro que emanava das madeiras da nova Biblioteca Nacional de Lisboa, no início dos anos 70. Guardo quase uma vintena, bem identificada e razoavelmente datada, desses locais e dessas impressões olfativas. 

Este verão, em Viana do Castelo, decidi "ir à procura" do cheiro eterno do corredor que levava ao sótão (à "torre") da casa da minha avó. Pedi para visitar a casa, hoje uma bela escola de música. Sem grande surpresa, do cheiro dessa casa antiga, onde já não ia há quatro décadas, "nem o cheiro". Perguntei então se podia ir à cave, à "loja", como lhe chamávamos. E lá estava ele, entre arquivos, um outro confortante odor, feito de humidade, poeira e memória. Pronto, tinha ganho o meu dia!

Ficarei grato a quem me possa indicar um livro sobre cheiros e memórias. Havendo coisas escritas sobre tudo, estou certo que existirá algo sobre isso.

terça-feira, setembro 24, 2013

Juventude e cidadania

É interessante perceber que existe hoje uma verdadeira globalização das preocupações dos jovens, independentemente das respetivas origens. Isso esta bem evidente na "universidade para a juventude e o desenvolvimento" que o Centro Norte-Sul está a realizar em Mollina, em Espanha. 

Desde há 14 anos que o Centro toma a iniciativa, com vários parceiros institucionais, de organizar, durante uma semana, um evento em que envolve centenas de participantes, na maioria entre os 20 e 30 anos, oriundos de estruturas de juventude de uma multiplicidade de países, reunidos em torno de uma temática cívica. O objetivo é preparar quadros que levam para as organizações onde operam modelos de abordagem de questões ligadas às grandes temáticas internacionais de natureza cívica. Este ano, o tema da "cidadania democrática" foi escolhido como motivo central.

Com uma equipa de formadores bastante testada, procura-se confrontar experiências, dificuldades e modelos de exercício da cidadania, nos vários contextos nacionais e regionais. Contamos com jovens de dezenas de países, que vao da Bielorrúsia às Honduras, da Somália a Cabo Verde, do Quénia ao Egipo, do Canadá à Tailândia e por aí adiante, passando naturalmente pela maioria dos Estados europeus. A diversidade dos contextos nacionais e culturais de origem não impede um aprofundamento sobre questoes cuja universalidade cria um laço que permite a troca de perceções, sempre num quadro de respeito pelo outro e pelas respetivas convicções.

Como diretor executivo do Centro - que não é uma organização portuguesa mas europeia, dependente do Conselho da Europa - coube-me estar presente na abertura da "universidade" e assistir aos primeiros dias dos seus trabalhos. Devo confessar que foi uma experiência única poder testemunhar um conjunto muito rigoroso de atividades, desenvolvidas num ambiente em que a informalidade não afeta. E entendi melhor o conceito africano do "mais velho"...

segunda-feira, setembro 23, 2013

António Ramos Rosa (1924-2013)

Morreu hoje António Ramos Rosa, um dos maiores poetas portugueses contemporâneos..

Apetece-me deixar aqui o link para o seu clássico "Poema de um funcionário cansado".

Só para lembrar

Porque estas coisas têm de ser ditas, irritem quem irritarem, quero destacar a serenidade construtiva demonstrada por Pedro Nuno Santos e pe...