segunda-feira, setembro 11, 2017

Ironias de um 11 de setembro


Quando se fala de 11 de setembro, são quase sempre os ataques islamistas nos Estados Unidos, em 2001, que vêm de imediato à memória das pessoas. Mas convém nunca esquecer que, anos antes, em 1973, no Chile, nessa mesma data, um golpe de Estado militar, curiosamente feito com a cumplicidade e impulso dos americanos, levou a um número de mortos similar, instituindo um regime sinistro que torturaria e perseguiria dezenas de milhares de cidadãos.

Um dia, em Brasília, o nosso adido de Defesa, Duarte Torrão, organizou na embaixada uma cerimónia comemorativa do dia das Forças Armadas portuguesa. Ao ser apresentado ao seus colegas, notei que o Adido de Defesa chileno se chamava Prats.

Carlos Prats era o nome de um general democrata chileno, que havia antecedido Pinochet como chefe das Forças Armadas e que fora assassinado, com a mulher, em Buenos Aires, em 1974, com uma bomba colocada no seu carro pela DISA, a polícia política do mesmo Pinochet. Curiosamente, havia sido Prats quem havia recomendado o "apolítico" Pinochet, que era seu amigo, a Salvador Allende, para o substituir.

Ao tempo dessa cerimónia em Brasília, o Chile vivia já em plena normalidade democrática. Perguntei a Duarte Torrão se o colega era, por acaso, familiar de Prats. "É filho, mas não me parece ter herdado muito do pai", disse-me, cripticamente, o nosso adido de defesa. A certo passo da função, aproximei-me do militar chileno, creio que coronel, e, sem revelar que sabia da sua ascendência, coloquei-lhe a questão: "É familiar do general Prats?". Confirmou-me que sim. Retorqui que tinha tido uma grande admiração pelo pai dele, o qual, tal como o seu antecessor, o general Schneider, haviam sido assassinados pela extrema-direita. 

Notei que o coronel Prats agradeceu sem um especial entusiasmo e, quando lhe perguntei em que ano tinha entrado para a Academia Militar chilena, para tentar perceber como fora a sua carreira durante o tempo de Pinochet, "saiu de fininho" da conversa. "Eu bem lhe tinha dito!", disse-me, depois, Duarte Torrão. "Este Prats pouco tem a ver com o pai". Fiquei mesmo a pensar quanto teria a ver, afinal, com o regime que lhe matara os progenitores.

Lembrei-me agora desta história, neste 11 de setembro, Há 44 anos, dia por dia, chovia em Santiago.

10 comentários:

Anónimo disse...

"O algodão não engana", entre 11 de 2001, o 11 de 73 siempre !

Anónimo disse...

E, já que não se pode lembrar de tudo (e o esquecimento também é seletivo), neste momento mesmo, Barcelona está a rebentar de gente celebrando o dia nacional da Catalunha e reclamando o seu direito à autodeterminação.

Um pormenorzinho, claro...

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Embaixador: Muito o honra de ter pensado no sacrifício de Salvador Allende.

Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la abuela que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la Patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios de clases para defender también las ventajas de una sociedad capitalista de unos pocos.
Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente; en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo lo oleoductos y los gaseoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder. Estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano, tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.

Anónimo disse...

O Freitas faz anos? É que este artigo é uma autêntica prenda!

Anónimo disse...

Conhecem algum ditador comuna que tenha aceitado sair pacificamente do poder após perder umas eleições democráticas realizadas ainda durante a sua ditadura?

Anónimo disse...

11 de setembro de 2017 às 20:34, Não se sabe, não é» O "ditador" comuna Allende não perdeu eleições, mas foi acabado pacificamente, assim como os "ditadores" comunas de Espanha em 1939. Isto de vezes em que os "ditadores" comunas foram eleitos. Não foram sol que durasse.

Anónimo disse...

12 de setembro de 2017 às 04:46, você é um disparatado. O Allende não era um ditador, os espanhóis que refere, também não. Não sabe o que é um ditador? Por exemplo, os canalhas da RDA, os canalhas chineses, os canalhas vietnamitas, os canalhas soviéticos. (e por aí fora). Esses, fizeram eleições e, perdendo-as, sairam?

Anónimo disse...

“Quando eu nasci todas as frases para salvar o mundo já estavam escritas. Agora só falta salvá-lo.”

Almada Negreiros

"Continue", está quase...........


Joaquim de Freitas disse...

Sabemos bem que os canalhas fascistas sabem retirar todos os benefícios da democracia, là onde ela existe, que os protege, e à sombra da qual organizam invariavelmente os seus golpes assassinos.
E ousam apresentar-se depois como defensores da democracia e da liberdade.

Como se ninguém conhecesse o passado doloroso, não só do Chile, mas da Argentina, do Brasil, do Guatemala, do Honduras, do Salvador e tantos outros durante os anos negros.

Mas então, quem são realmente estes campeões da democracia, que querem defender a liberdade contra a ditadura? Enfileirando atrás dos EUA de Trump que glorifica a supremacia da raça branca e evocou abertamente uma operação militar contra a Venezuela.

Mas porque é que não se interessam ao caos do vizinho México, e aos seus 16 000 assassinatos, dos quais 36 jornalistas desde o princípio do ano, seja 76 por dia.

E ao da Colômbia, mais de 12 000 mortos!

O anónimo das 20:34 carece de cultura não só politica mas de historia “tout court”.

Allende ousou ganhar as eleições contra Alessandri, o candidato das grandes famílias proprietárias, “compradoras” (importadoras), capazes de bloquear a economia do país (como algures hoje no mesmo continente).

Teve a audácia de lançar um grande programa de nacionalização dos recursos minerais do país, a coragem de bloquear os preços e aumentar os salários para ajudar os trabalhadores chilenos a viver decentemente, a ideia louca de começar uma reforma agrária em detrimento dos grandes latifundiários e de aumentar os impostos dos mais ricos, enfim de procurar uma via chilena para o socialismo.

Inaceitável para a burguesia.e sobretudo para os Americanos, que, tendo justo recebido um lição do Povo Vietnamita, temiam mais que outra coisa a queda de mais um “dominó comunista” desta vez às suas portas.

Mas o Império quer formatar o mundo à sua maneira. E assassinaram Allende e a democracia.

Anónimo disse...

12 de setembro de 2017 às 20:04 é um pobre tolo.

Não percebeu que o que aconteceu aos eleitos socialistas Allende e republicanos espanhóis diz mais acerca da direita e da sua aceitação dos resultados eleitorais do que a falta de eleições nalguns lados diz acerca da Esquerda.

Maduro e a democracia

Ver aqui .