quarta-feira, maio 10, 2017

O laço

Com a morte de Baptista-Bastos, o facho do porte do "papillon" passa, entre nós, a ser mais reduzido.

Na primeira linha, estarão João Carlos Espada, Nicolau Santos, Rui Vieira Nery, Francisco George e Miguel Esteves Cardoso (pelo menos, no passado), atendendo a que o professor Fernando Pádua tem sido pouco visto.

No Ministério dos Negócios Estrangeiros, o "papillon" tem uma certa tradição. Usava-o, em permanência, o desaparecido embaixador Humberto Morgado, figura referencial que, por muitos anos, foi diretor-geral da Administração. O ar algo aristocrático de Morgado escondia a sua sabida ligação, durante a ditadura, ao "Socorro Vermelho", uma estrutura dependente do PCP, em especial dedicada a apoiar as famílias dos presos políticos.

Mas Morgado deixou os seus seguidores. João de Vallera, hoje o "Mr. Brexit" das Necessidades, depois de ter deixado a chefia da embaixada em Londres, usa o laço intermitentemente (ontem, num almoço comigo, tinha-o trocado por uma bela gravata). Já o meu sucessor em Paris, José Filipe Moraes Cabral, não dispensa nunca o adereço, que funciona já como a sua "imagem de marca". Resta-me a dúvida sobre outro colega que, no passado, era regular portador de vistosos "papillons": Paulo Tiago Jerónimo da Silva. Já o não vejo há muito, pelo que não sei se ainda segue esse hábito. Ah! E o Luís Barreiros, outro embaixador, também é useiro e vezeiro no laço.

O laço, sejamos claros, nunca ameaçou a preponderância esmagadora da gravata. Porquê? Talvez porque muito o veem como um adereço "light", menos formal, um tanto excêntrico. Nunca esquecerei que o antigo ministro dos Negócios Estrangeiro da Áustria, Wolfgang Schussel, a partir do dia em que passou a ser primeiro-ministro do seu país, largou o laço e engravatou-se para sempre. Sinal de mudança de estatuto? A gravata consagrou o "upgrading".

A verdade é que, no meu caso, sempre que "me deu na veneta" de usar laço, foi em ocasiões bastante "soltas", pouco formais, ciente de que quem me conhece notaria e estranharia a mudança de registo "pescoçal". Daí a minha admiração sincera por quem usa o "papillon" em todas as ocasiões.

7 comentários:

Anónimo disse...

A França pátria da Elegância? Seja, mas não me lembro ver ninguém de laço.

Anónimo disse...

O nosso colega, o afável embaixador Luís Barreiros, também o usa. É mais um. Mas, como refere, estão ou na disponiblidade (no activo), ou quase a ir para lá. A ser assim, um dia destes, já ninguém o usará. É pena. Ou estarei enganado?

Isabel Seixas disse...

Sempre achei que os cavalheiros podem ser umas boas prendas, o laço nalguns é mesmo uma mera redundância...
Vale o que vale mas gosto mais de gravata, o laço faz-me sempre lembrar os petizes nos casamentos de calçãozinho e o lacinho a rematar...

Anónimo disse...

"O laço" ,(um deles...), que nos aperta:

"Toda a dívida pública de médio e longo prazo contraída junto de bancos e fundos de investimento que o actual governo do PS tem de pagar até final da legislatura foi herdada do executivo, também PS, liderado por José Sócrates, que esteve no poder entre início de 2005 e 2011.

As responsabilidades são significativas e ascendem actualmente a 23,5 mil milhões de euros (em OT ou Obrigações do Tesouro), que terão de ser reembolsados até meados de 2019, indica a agência que gera a dívida pública (IGCP), tutelada pelo Ministério das Finanças, de Mário Centeno. https://www.dinheirovivo.pt/ "

patricio branco disse...

experimentei mas não me vi bem, não há como uma bela gravata com um bom nó, com ruga no vertice

Anónimo disse...

Nó de gravata deve ser sempre sem ruga no vértice. É um modernismo de "Tio", que começou aqui há uma ou duas décadas. O verdadeiro nó de gravta é sem ruga (no vértice). Ponto. Lamento, mas é. É um pouccocomo palermce d se usar a camisa aberta em dois botões, ou por fora das calças. São modernismos de "Tios" benzocas.

Anónimo disse...

O laço não é, necessariamente, menos formal. Lembremo-nos do laço da casaca, do "smoking" ou, até, do fraque (excluindo o "plastron" que não é propriamente um laço). Quanto ao vinco, há uma infinidade de nós que os ingleses, mestres na indumentária formal masculina, adoptaram ("four in hand", "half Windsor", "full Windsor", etc.) e que preconizam o vinco já no século XIX. Tudo isto aprendi com meu Pai, que hoje teria 123 anos!

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