quinta-feira, maio 11, 2017

Fátima

Como ateu, tenho a minha opinião formada, desde há muito e em definitivo, sobre Fátima - a qual creio ser fácil de presumir. Essa leitura (certa ou errada) tem a montante um esforço de racionalidade, que é natural em quem não foi "tocado pela fé". Não me recordo de alguma vez ter discutido o tema de Fátima com crentes, porque sempre entendi que me situava num plano diverso, e irreconciliável, no tocante à interpretação do fenómeno. Mas que fique claro: respeito sinceramente quem acredita no "milagre" de Fátima, como matéria de fé.

Serve isto para dizer que, sendo embora "de outra freguesia", acho de uma grande insensatez o debate, envolvendo figuras da igreja, sobre se o que se passou há um século, em Fátima, foi uma "visão" ou uma "aparição". São reflexões sobre os factos que, em alguns casos, relevam da procura de uma certa racionalidade. Ora Fátima ou é uma matéria estrita de fé ou não é - e aqui tudo muda de figura. Posso estar enganado, mas ao enveredar por estas "technicalities", a igreja católica abre um caminho fácil à contestação de Fátima. Se segue por esta via, com facilidade podem ser trazidos à colação textos de Tomás da Fonseca, de Mário de Oliveira e até de Fina da Armada, entre muitos outros. É isso que querem? Eu aconselharia a que, quem acredita, continuasse no registo cândido da Virgem que apareceu aos pastorinhos sobre uma azinheira. E ponto.

17 comentários:

Anónimo disse...

Bem, convém olhar para o modo como as referidas hierarquias se comportam:

No blogue Esquerda Republicana demonstram como o bispo Marto pediu a tolerância de ponto, no dia 12 de Abril, tal como as muito católicas Renascença e Agência Ecclesia noticiaram, para, há dois dias, tentar virar o bico ao prego, dizendo que não pediu nada.

Ao bispo Marto, pelo caminho, devem ter-lhe surgido os santos parentes, que a falha de memória não se deverá, concerteza, a falta de honestidade intelectual do eminente eclesiástico. E a vidência, todos sabemos, suspende a natureza e os factos.

E isto, muito embora, muitos dos que lá estiveram, junto à azinheira, não tenham visto nada, o que se comprovará pela imprensa da época? Veja-se apenas o relato de um vermelho e incréu antigo eurodeputado cujo avôr passou pelo sítio das aparições a 13 de Outubro: http://www.dn.pt/sociedade/interior/o-meu-pai-assistiu-ao-13-de-outubro-mas-nao-viu-nada-7207126.html


Além de suspender a natureza, outra coisa que a vidência tem é a progressiva apropriação de mensagens fundamentalistas e de combate como bem tem lembrado Carlos Esperança da Associação Ateísta Portuguesa. Quando topou que a coisa lhe dava jeito, a Igreja tratou de lhe reconverter a mensagem conforme foi dando jeito: Primeiro serviu para o combate da República, depois serviu para combater o comunismo, depois para deitar abaixo o ateísmo. Coisa de união e consenso nunca foi a vidência da Cova da Iria.

Falta-lhe em cristianismo e em espiritual o que lhe sobra em temporal. É de César, mas mostra-se como sendo de Deus.

Anónimo disse...

Fátima parece ser um fenómeno social internacional de uma grande amplitude.

É um destino de peregrinação de fé, já não só português mas internacional. Vejam-se as peregrinações estrangeiras ao longo do ano.
Se nestes cem anos, os republicanos portugueses escreveram cobras e largatos sobre a questão de Fátima como uma das faces do "ópio" do povinho básico e ignorante português....nem acho mal que a igreja hoje esclareça aquele fenómeno, pois de um fenómeno social religioso estamos a falar.

O que os republicanos gostariam era que nada fosse transcrito nos media sobre a existência de Fátima mas isso foi em outros tempos, outras vontades e outras conjunturas.

Anónimo disse...

É pouco esclarecedor ler textos escritos por ateus sobre Fátima.
Pode ser um exercicio especulativo mas quanto à fé ou à racionalidade.... enfim tudo é relativo.
A racionalidade serve a uns. A fé serve a outros. Contanto que os que teem fé não sejam enviados para a Sibéria, enquanto os outros ficarão a governar-se..... tudo bem.

Anónimo disse...

O crente em Fátima receia ser enviada para a Sibéria por acreditar, mas não se compadece dos republicanos, comunistas e ateus enviados para o inferno por duvidarem.

Já há muito se pôs na devida perspectiva a criação de Santiago (apóstolo) de Compostela pelos ideólogos da "Reconquista".

Mas custa à perspectiva crente explicar aos ateus e aos outros a constante readaptação da mensagem fatímida aos sucessivos inimigos encontrados pela hierarquia da igreja. Do nada durante trinta anos, transformado depois em mensagens secretas, sucessivamente reveladas. Com o mais curioso dos dados. A Virgem, na versão posta a correr, conseguiu falar do comunismo antes da revolução soviética acontecer. Nada que esteja fora do alcance do divino, mas muito estranha terá sido tal conversa ao ouvidos das raparigas, já que Francisco só via.

Anónimo disse...


Inteiramente de acordo com o texto do blog. Não me parece sensato, que na véspera do centenário de Fátima, representantes da Igreja Católica venham tecer considerações sobre "aparições e visões". Então dêem também tempo de antena à Fina d'Armada e ao Padre Mário que é para a confusão ficar definitivamente instalada. Completa falta de bom senso!

Anónimo disse...

Existem ateus só para serem bem vistos pelo pavoneamento que exibem junto dos seus pares.

Ser-se bem nascido dentro da hierarquia republicana do saudoso Afonso Costa ou menos ter alguém ligado à "famiglia", dá sempre um bom tom social de defensor do povo.

As famiglias, hoje, têm como ontem o mesmo objectivo: OS mais "espertos" enganar os incautos.

Portugalredecouvertes disse...


Penso que é um bom texto Sr. Embaixador
em todo o mundo se constroem os maiores templos religiosos e se visitam os que foram construídos no passado
Penso que temos sorte de ter um importante centro de peregrinação mariana !
cumprimentos

Isabel Seixas disse...

Bem, para mim este fenómeno confesso, é confrangedor por todos os motivos e em todas as dimensões...
1º Pelo desespero que lhe ,está na origem, refiro-me à raiz do medo nas crianças, até perante tempestades, tormentas,trovões, ou sarroncos, que, claro alucinam, ai não...Embora eu acharia bem mais lógico que antevissem um nosso senhor com 3 capuzes com carapuço,e 3 sombreiros e levasse os garotos para casa e os aconchegasse podendo até ser que
2º Pela acreditação pelos adultos, mais ninguém teve essa sorte, quantos tem juízo e não viste nada, levei por descrédito em justificações bem mais verosímeis, que eu arranjava como justificação quando andava à chuva..., a meu ver claro.
3ºPelo perpetuar e pelo aumento da intensidade em épocas de insatisfação...
4º Por todos os custos...

Anónimo disse...

@Anónimo das 18.13

Mas quem não crê não teme o inferno e os castigos por não crer. Ou acredita. Já não percebo patavina.
No entanto em algum país pode haver quem vá parar em vida à Sibéria por ideais religiosos. Ou isso também já acabou.

José Lopes disse...


Para o Anónimo das 18,30h: a referência "à conversão da Rússia, que continua a espalhar os pecados no mundo", ou coisa assim, foi feita pela Lúcia já em Espanha, e reportando-se a uma "aparição" que ali teve, já nos anos 30. Nas "aparições" de 1917 não há qualquer referência à Rússia.
É claro que poderia, e deveria, também ter alertado para os perigos do fascismo e nazismo...

Anónimo disse...

@ Isabel Seixas
Desculpe-me mas não percebi nada do seu comentário. Ou serei eu incapaz de conseguir ler o código em que nos queria transnitir.

Anónimo disse...

A questão é muito simples: aquilo é um embuste. A religião é um embuste.
Mas, se Fátima é um embuste, também o é Santiago de Compostela, e Lourdes e todos os outros sítios que faturam milhões à custa de peregrinos.

Lutar para desmascarar Fátima sem assegurar que as outras fraudes estrangeiras também o são, é um ato de imensa estupidez. É entregar o ouro ao bandido.

Num mundo ideal, Fátima seria gerida por ateus enriquecendo à custa da crendice (e estupidez) alheias.

Anónimo disse...

Caro Francisco, esta é matéria em que, tendo em vista o envolvimento de teólogos como Ratzinger me parece quand meme de lhes deixar a eles, que talvez não a vejam da perspectiva comercia de afectar ou não o cepticismo sobre Fátima. De qualquer modo, aparição ou visão, para eles é uma "experiência religiosa" e a Igreja parece ter isso como suficiente para justificar o culto de Fátima.
Fernando Neves

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, acho que não entendeu. Vou-lhe dar um exemplo: ainda alguém defende na Igreja que a Biblia deve ser lida literalmente, isto é, que Deus fez o mundo em sete dias e que Eva nasceu de uma costela de Adão? Não. Porquê? Porque já cada vez menos católicos (quanto mais os outros) engolem essa. A Coisa tem de levar um véu de simbolismo. Foi assim e não foi assim, etc. É uma questão de sobrevivência, de adaptação, se é que me faço entender.

Anónimo disse...

Anónimo de 11 de maio de 2017 às 22:50,

A crença dos ateus no Inferno é irrelevante. Relevante para um crente é que enviar alguém para o inferno seja enviar alguém para algo pior do que um campo de concentração eterno, pouco lhes interessará que os ateus não acreditem na coisa. Não subsiste na mensagem de Fátima qualquer contemplação para esses, qualquer réstea de caridade.

O que Fátima foi sucessivamente fazendo foi retirar a possibilidade aos crentes de serem republicanos e comunistas, pois se o fossem iriam parar ao Inferno, retirar condições de constituição de uma caridade alternativa, de um outro amor. Os vendilhões dos arredores da Cova da Iria não lhes ocorre criticar. E para ajudar à festa até montaram um ajoelhódromo de castigo e punição, símbolo de um Deus menor, um Deus de trocas.

Por algum motivo não se encontra um elogio aberto ao Papa Francisco na hierarquia da igreja portuguesa. Nos últimos anos está absolutamente entregue a um coro de bispos bispos na linha de Clemente de Lisboa, que depois dos tempos de acatamento e mudez laranjo-azul se tem comportado como proprietário de uma rede de colégios.

José Lopes,

Lúcia foi, pois, tendo visões não proféticas, mas de adequação ao que havia em redor. Mas não é isso que tem impedido o publicado em vários jornais e em sucessivos artigos de opinião de vincar a mensagem anti-comunista de Fátima, lembrando a coincidência de "aparições" (Maio) e revolução soviética (Outubro)serem do ano de 2017.

E se foi na década de 1930 que Lúcia viu a conversão da Rússia, foi, de facto, na mesma altura em que o fascismo subia em todo o lado, do cabo da Roca ao Danúbio. Não é de todo estranho que no Portugal de Cerejeira e Salazar, Fátima e Lúcia se preocupassem antes com os Vermelhos. Afinal, Lopes Ribeiro assinaria em 1937 a sua revolução de Maio, onde mostrava a ascensão/conversão de um comunista desde os escuros tugúrios conspirativos aos altos da razão do Estado Novo.

Isabel Seixas disse...

Sr. Embaixador se me permite responder ao anónimo de dia 11 às 23:01

Desde logo agradeço a atenção, tem toda a razão. Todos estes fenómenos à luz da Enfermagem são necessidades extremas de cuidados, e de ajuda, são um grito de socorro num universo de solidão e pobreza de recursos. Neste contexto imagino três crianças atemorizadas pelo ralhar de Deus o trovão a chuva e ou a tempestade a assumirem uma culpabilidade compatível com os pré conceitos que lhes infligiram, provavelmente já culpados por não terem nascido abençoados pelo berço de ouro, a evocar algo que lhes atenuasse a dor infinita e asfixiante do medo claro , viram as três o ideal incontestavel a Mãe linda, complacente, com uma compreensão incondicional, e o resto a história tem-nos contado as histórias de Fátima...

O medo e a sua escalada para o pânico leva-nos a falsas perceções, perceções essas, em conformidade com a fase de desenvolvimento e maturação no ciclo vital, em que a idade o contexto socioeconómico e cultural são determinantes na tradução e codificação linguística que usamos para comunicar ao outro o que vimos.Por que é para mim confrangedor?Por tudo.

Pelas pessoas que não aguentam uma dor por envelhecimento normal e pelo uso, de uma articulação ou por fatores de vulnerabilidade incontornaveis, mas que se automutilam a seguir com uma ida de joelhos à volta de uma qualquer capela e geram lesões para as quais as chagas serão o amortecedor de outras que não conseguiram tratar...

Olhe enfim... Por tristeza e sem ironia a impotência sempre me fascinou pela capacidade que tem de abater e o abatimento é o auge da tortura do ter de desistir. Contrariar a eminência de morte acreditando na fé das cunhas a um Deus que tudo pode ou pedindo à mãe Dele que interceda?... parece-me justo?, Legitimo? Em desespero de causa?!!!Também não sei...



Não sei se o esclareci face à minha perceção,e ao comentário que fiz...

obrigada
Espero que seja dos agraciados pelos deuses com a Tolerância.
Isabel seixas

Joaquim de Freitas disse...

Que pena foi que não tivesse havido um aviso de Genocídio iminente, género SHOA, ou duma tormenta género nazismo que provocou 60 milhões de mortos. Foi pena, foi.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...