domingo, junho 26, 2016

Futebóis


Costumo ser muito racional a ver futebol. Sou incapaz de gritar "penalti!", a favor da minha equipa quando isso não aconteceu, digo alto quando um jogador "dos meus" está em posição de "fora-de-jogo" ou merece um cartão. Já passei por momentos menos cómodos em estádios de futebol, por virtude dessa minha atitude. Julgo que esse vício "de justiça" advém de um curso de arbitragem que frequentei na Associação de Futebol de Vila Real, em meados dos anos 60 do século passado.

Este meu rigor de leitura das regras do jogo soma-se a uma sempre franca análise do modo como as partidas decorrem. Não tenho o menor problema em reconhecer que a minha equipa merecia ser derrotada e, sem o mínimo rebuço, sou capaz de reconhecer quando a vitória do adversário é justa. Quem me conhece sabe que sempre fui assim. E vou continuar a ser, claro.

Mas se esta minha frieza, na "análise concreta de uma situação concreta" (onde será que li isto?), é uma evidência, a verdade também é que, com frequência, dou por mim a subscrever uma frase que ouvi um dia ao Dr. Adriano Afonso, juiz de Direito, um histórico dirigente lampiónico, que disse uma coisa mais ou menos assim: "não me importo que a minha equipa ganhe, num golo marcado com a mão, em fora de jogo e já depois do tempo regulamentar".

Foi isso que me aconteceu ontem.

Portugal teve uma prestação medíocre (é a minha opinião, cada um tem direito a ter a sua). A Croácia, em "jogo jogado", merecia a vitória e o nosso golo foi marcado, claramente, "contra a corrente do jogo". Esta é a verdade, pelo menos para mim, que acho esta nossa seleção muito fraca, "descosida", com um meio-campo atarantado e, com frequência, à beira do desastre, quando os adversários se aproximam da nossa área. Não há patriotismo que me faça dizer aquilo que não vejo.

Mas, ontem, como sempre que vejo futebol com emoção, reencontrei-me com o Dr. Adriano Afonso no desejo veemente de que pudéssemos marcar um golo que nos garantisse a sorte que tanta vez não temos tido. Não lhes digo, por impublicáveis, algumas "instruções" e epítetos nada simpáticos com que, ao longo daqueles mais de 120 minutos, mimosiei os nossos jogadores. Mas, no final daquela partida que me angustiou, o meu contentamento ultrapassou, como é óbvio, qualquer juízo de justiça.

Esta é a diferença entre o mundo das emoções e o mundo da racionalidade. Quem vive eternamente no primeiro torna-se um ser mais digno de piedade do que de respeito. Quem se obstina no segundo é um ET desumanizado e fora do sentimento da tribo, que dá graça à vida. No equilíbrio razoável entre os dois reside essa coisa rara que é o bom-senso.

12 comentários:

Take Direto disse...

Não foi um golo com a mão. A Croácia jogou melhor mas Portugal jogou muitas vezes melhores do q outros e perdeu. Portanto mesmo que a Croácia tenha jogado melhor Portugal foi um justo vencedor. Alias cinseguir vencer sem jogar bem é muito importante para acreditar q vem aí uma boa participação neste europeu

Anónimo disse...

Na minha opinião o que interessa é largar borda fora a "esganiçada" que já bota palavra como PM.

Costa que se cuide.

Anónimo disse...

Depois da sua última (que desse por isso) incursão no campeonato a colar-se ao discurso inaciano acerca da arbitragem, permita que lhe leve os primeiros parágrafos à conta de um curioso exercício de ironia.

Quanto aquilo que ontem viu, chama-se jogar à italiana. Prefiro um épico de um Portugal-Holanda 2006, mas o aguentar coeso, sólido e disciplinado também encanta.

Anónimo disse...

De futebol pouco entendo. Apenas vejo os jogos com a nossa seleção. Mas há uma coisa que tenho aprendido: Para vencer não basta jogar melhor do que o adversário, é preciso ter sorte! E ontem tivemos sorte...Outras vezes, tem sido o contrário, jogámos bem mas a sorte não nos acompanhou. Também devemos falar daquele penalty que o arbitro espanhol "não viu"...

Dor em Baixa disse...

O meio-campo não esteve atarantado, pelo contrário foi o 1.º jogo em que tivemos meio-campo. E foi esse facto que impediu os excelentes croatas dessa zona do terreno de produzir o seu magnífico futebol e de criar oportunidades de golo. 0X0, portanto. O resto foi a sorte do jogo: a Croácia atirou ao poste, Portugal respondeu com uma correria e um toque de classe de Nani de que resultou a bola entrar na baliza.

Unknown disse...

Fui dirigeeet desportivo e a frase "sou incapaz de defender uma coisa que não seja verdade mesmo contra a minha equipa" era o prato forte dos exaltados que só não juravam pela alma da mãe, porque ela ainda não tinha morrido, em disputas em que todos nós, os outros, tinhamos visto o filme ao contrário.
Já perdi há muito a ideia de que sou um rapaz "diferente"(no intimo para melhor)

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo "sur le fond et la forme".
Taticamente, F.Santos respondeu bem. Viram por ai o Modric ?...
Cordialemente
C.Falcao

Erk disse...

Agora, é empatar com os polacos.

arber disse...

Sobre o facto de certas pessoas poderem ver um jogo diferente do mesmo visto por outras, é curioso verificar que embora o golo marcado tenha tido na sua génese o génio de Cristiano Ronaldo, nenhuma TV, nos telejornais de hoje, refere esse facto.
Mas é em certos pequenos pormenores que se pode ver como alguns "jornalistas" falseiam a verdade, como aconteceu hoje no noticiário da TVI.
Pois relatou uma voz feminina que, logo depois daquela jogada perigosa dos croatas com a bola no poste do Rui Patrício, "... o Renato agarrou a bola e...", etc.
Ainda esta tarde analisei essa jogada com a meu filho e, apesar de inúmeras repetições, também ele continuou a insistir que sim, foi o Renato, e não viu nada de especial de C.Ronaldo, salvo ... ter falhado o remate!
Pois o que eu vi foi o C.Ronaldo em tarefa defensiva colaborar no desarme de um adversário e de imediato meter a bola à frente do Renato, e acompanhar a jogada deslocando-se rapidamente ao longo do corredor direito de modo a ficar na posição que lhe permitiu o remate que veio a terminar no golo do Quaresma.
Mas enfim, a cada um a sua verdade sobre o jogo e esse lance em particular.

Anónimo disse...

A verdade é que o Modric não fez nada que se visse pois o Adrien secou-o muito bem. O André Gomes não está lá a fazer nada... Quando o Renato e o Quaresma entram a equipa transfigura-se. Para a Polónia eu punha os dois a titulares de início. A verdade é que não ganhámos nenhum jogo dos 4 disputados durante os 90 minutos...Para uma equipa com ambições é poucochinho...Ponham os olhos na Bélgica 4 secos á Hungria primeira do grupo...A jogar assim não vamos lá porque nos penaltis já sabemos que perdemos...Se até o Ronaldo os falha...

A Nossa Travessa disse...

Chicamigo

Eu nem vi o jogo dominado pelo nervoso miudinho. Fiquei agarrado ao computas e só quando a Raquel gritou gooolooo! dei um pulo (que se lixasse o enfarto possível) e ainda consegui ver o cigano Quaresma a dar ao povo aquilo de que ele gosta! como dizia o Jorge Perestrelo meu amigo de longa data (desde Angola) e que vim a encontrar na TSF. O homem do 'Ripa na Rapaqueca' para mim o melhor locutor desportivo em Portugal e infelizmente já falecido em 2005...

Mandei o imparcial (coisa que habitualmente tento ser) às urtigas e vi todas as repetições da cabeçada. É claro que a Croácia jogou mais do que a nossa equipa. Mas a falta de sorte que acompanhava quebrou.se; foi mesmo a sorte... grande, El Gordo como dícen nuestros hermanos.

Contra Polónia podemos ficar a zero-zero e depois no prolongamento vem a arma secreta e toma lá. Embora seja leão gostei muito do Renato (e gosto) O eng. Santos fez entrar - e muito bem - o José fonte e o Adrien que secou o Modric. E o Cedric também foi um gigante. Mas quem me encheu as medidas foi o Pepe!!!!

Força selecção!!!!!!!!!!

Abç do Leãozão

Francisco Tavares disse...

Sempre fui um adepto do futebol, mas desde pequeno que me impressionaram sempre aqueles que "perdem" o juízo (e não são poucos) quando vêem um jogo de futebol (as eternas discussões sobre off-sides, penaltis, etc.). Em miúdo ficava verdadeiramente abismado ao observar as tristes figuras que faziam bastantes adultos. Assim, ainda que sendo mais apreciador do que especialista, não tenho qq dificuldade em reconhecer quando a "minha" equipa perde justificadamente, ou porque jogou pior, ou porque n teve unhas para a superioridade do adversário. Mas quanto ao jogo com a Croácia, discordo totalmente da análise do caro Embaixador. E certamente vimos o mesmo jogo! Portugal esteve melhor que em qualquer dos jogos anteriores. A entrada do Cedric e do Adrien, bem como do Fonte, fez muito bem à equipa. Os jogadores nunca perderam a cabeça, foram muitíssimo rigorosos e quase sempre concentrados. Houve momentos, que não foram assim tão poucos, em que a Croácia não sabia o que fazer. Reconheço que foi muito à "italiana", mas, por isso mesmo, foi bem merecido e golo ....e bem gostoso...à moda das grandes equipas, as que acreditam até ao final e estão atentas às oportunidades.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...