domingo, maio 29, 2016

Histórias


Estou a meio de um " calhamaço" de capa dura, com quase 600 páginas, escrito por Maria de Fátima Bonifácio sobre António Barreto, um misto de conversa e leitura do pensamento do sociólogo.

Sinto pena pelo facto de uma historiadora de valia como é aquela autora, que nos deixou retratos muito interessantes sobre o século XIX, se deixe cair num discurso ideologicamente enviezado, numa espécie de ajuste de contas com quem não pensa como ela, denegrindo tudo quanto possa relacionar-se com a esquerda, caricaturando ideias, amesquinhando uns e promovendo outros. Até um elogio ao "Observador" se permitiu no livro...

Maria de Fátima Bonifácio é apenas um triste exemplo, entre outros, de uma deriva da nossa historiografia contemporânea, raptada nos dias de hoje por agendas ideológicas muito marcadas - não apenas à direita mas igualmente à esquerda, que fique claro!

Posso estar equivocado, mas creio que é o facto dos historiadores andarem por aí afadigados a comentar o presente que lhes retira muita da distância crítica necessária para uma abordagem científica e equilibrada do passado, em especial do mais recente. 

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

O próprio António Barreto é um misto de cientista e político.
Não são somente os historiadores. São também os sociólogos, os economistas... Todos eles deixam de se dedicar à sua ciência para passarem a dedicar-se à política.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Já há muito que Maria de Fátima Bonifácio caiu nesse "discurso ideologicamente enviezado". Não admira o elogio que faz ao "Observador" onde ela é frequentemente convidada a dar a sua opinião. A sua última coluna de opinião foi em 14/4/16 e tem esta saborosa pérola: "Votei em Passos Coelho porque o achava talhado para padrinho de um casamento a meu ver feliz e necessário. Espero que ele não se reinvente. À sua volta, quase só vejo anões".

Mais não vale a pena dizer.

Anónimo disse...

Conversa de sportinguista. Jesus insulta. Mas a culpa é de Vitória, quando lhe responde e nem sequer na mesma moeda.

Armando Pinto disse...

Eu estranho muito que uma pessoa tão atenta, tão bem informada, ainda não tenha dado pelos dislates da D Bonifácio.Apenas a muita estima evita uma enorme desilusão.

Reaça disse...

António Barreto é um transmontano muito respeitável.
E não é feio nem desdentado, mas pelos vistos parece muito medonho porque diz as verdades desagradáveis.

Jaime Santos disse...

'Quem controla o presente, controla o passado, e quem controla o passado controla o futuro' dizia Orwell. Não creio que seja possível uma leitura objetiva da História, até porque os factos carecem de seleção e de interpretação. Assim sendo, não é de admirar que as diferentes correntes políticas procurem fazer a sua (re)leitura da História, porque é aí também que se trava o combate ideológico. A Direita Portuguesa, que ganhou o combate na frente económica, começou a fazer nos últimos anos aquilo que a Esquerda faz há muito. Assim, não admira que a Doutora Bonifácio venha agora falar do 'Fardo do Homem Branco' e sei lá do que mais. Trata-se de reabilitar a herança colonial, presumivelmente para reeditar o colonialismo, presumivelmente sob a forma de mandatos 'humanitários', como aconteceu no Iraque...

António Pedro Pereira disse...

Caro Senhor Embaixador:
As diatribes intelectuais da Senhora M. F. Bonifácio são um bom indicador de um estado da política que se instalou entre nós e ao qual eu chamo PREC da Direita-Extrema.
Depois de termos tido o PREC da Esquerda-Extrema, do qual ainda estamos a pagar pesadas facturas, temos o da Direita-Extrema, cujas facturas já estão a cair na contabilidade e continuarão.
A questão dos Contratos de Associação redundantes é um bom exemplo das facturas de que falo.
Depois do esforço em termos criado uma rede de escolas públicas que, neste momento, cobre 97% do país, passando do 6.º ano de escolaridade obrigatória nos anos 80 para o 12.º de hoje, houve a engenhosa invenção de criar e operacionalizar um instrumento de garantir rendas perpectuas pagas pelo Estado (pasme-se, por parte dos defensores do mercado completamente livre: os neoliberais) inactivando a referida rede que cobre 97% das nossas necessidades.
E qual foi o engenho?
À semelhança do fermento que invade toda a farinha do pão, a partir de um fermento de 3% de necessidades não cobertas pelo Estado, e dadas as dificuldades financeiras para completar a cobertura universal do território (ou a redundância em fazê-lo, admito), procura-se perverter a totalidade da escola pública, não cuidando de saber o que fazer a esses recursos que tanto custaram a implantar e que pela primeira vez chegaram a praticamente todo o território.
Bastou contratar um especialista instantâneo em Educação, de seu nome Nuno Crato, um verdadeiro padeiro dos milagres da massa, para que a coisa ganhasse velocidade acelerada.
Quanto ao balanço do Deve e Haver entre umas e outras facturas dos dois PREC, não consigo fazer a comparação.
Não aprendemos nada com a nossa própria história.
E nós que, apesar de termos ainda tanta coisa a melhorar no funcionamento e eficácia da escola pública, até temos vindo paulatinamente a subir nos resultados do único teste fiável e internacional: o PISA (que avalia quase 50 países da OCDE).
E a partir de 2012 já conseguimos ficar à frente da Suécia nos 3 itens medidos (Língua; Matemática; Ciência), Suécia que foi um país pioneiro na erradicação do analfabetismo nos finais do século XIX.
Suécia que, a partir dos anos de 1990, começou a aplicar a receita que esta Direita-Extrema nos que enfiar pelas goelas abaixo: o cheque-ensino, na modalidade de free schools.
Não aprendemos nada com a história dos outros.

Maduro e a democracia

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