terça-feira, novembro 17, 2015

Ataques em França (7)


Declaração telefónica ao "Jornal de Negócios"
"A França está em guerra" é uma expressão forte de François Hollande que abre caminho a mudanças mais centradas no plano interno do que externo, até porque a França sempre foi um país muito preocupado e cuidadoso – muito mais do que os Estados Unidos – sobre o cumprimento dos compromissos de natureza multilateral. É uma expressão que ajudará a justificar uma acção mais musculada no plano interno perante um inimigo que, sendo externo, mora também no próprio país. Entre os cinco milhões de muçulmanos que o país acolhe há claramente pessoas que não têm a menor lealdade à França.

Mas mesmo no plano internacional não há muito mais que a França possa fazer: pôr tropas num terreno que é um lamaçal? O que pode é denunciar quem for culpado e complacente, por exemplo, com que financia o "Estado islâmico" e exigir uma denúncia mais firme dos muçulmanos moderados contra esta agenda medieval.

No plano internacional, temos de saber qual é o inimigo principal e o secundário, e nessa hierarquia de prioridades é evidente que o "Estado islâmico" é o alvo a abater. Estar com preciosismos nesta matéria é politicamente irresponsável. É preciso fazer uma "aliança com o diabo": com Bashar, com o Irão e com a Rússia, se necessário.

Outra questão: a liberdade de circulação no espaço Schengen poderá ser condicionada e o próprio Tratado pode ter de ser ajustado, mas temos de defender tanto quanto possível este espaço.

Não sou defensor de que a Europa deva necessariamente abrir as portas a todos os que a procuram – refugiados económicos e humanitários incluídos – mas não posso deixar de lamentar que os atentados de Paris estejam a ser usados por alguns europeus para promover uma comparação miserável entre refugiados e terroristas. Quem nos procura são as vítimas do terrorismo, não quem o canaliza. Daí que a minha primeira preocupação seja relativamente ao destino dos refugiados que já se encontram em território europeu e que nem são muitos tendo em consideração que somos 500 milhões. No horizonte mais longo, é preciso pedir mais responsabilidades aos países árabes, à Arábia Saudita, ao Qatar, etc.

7 comentários:

Majo disse...

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Tempos turbulentos
- a Europa de crise em crise...
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Joaquim de Freitas disse...

Tem razão , Senhor Embaixador, quando escreve sobre a situação dos verdadeiros refugiados que já se encontram na Europa, que os 500 milhões que somos deveria poder integrar. Mas estes serão vistos agora com outros olhos pela maioria dos Europeus. A barbaria, o horror e o medo que viveram na Síria, foram sentidos pelos parisienses no 13 de Novembro. Curiosamente, foi exactamente o que disse, com outras palavras o presidente sírio após o atentado : " Paris teve o que nós, os Sírios, vivemos desde há cinco anos".

Tenho receio que este drama seja explorado rapidamente pela política , em detrimento dos refugiados presentes e futuros. A bela união "política" explodiu e a agenda não tardou a pôr-se em dia, mesmo antes do discurso do Presidente Hollande, em Versalhes. A direita laxista que reduziu perigosamente os meios da polícia a partir de 2007, passou vergonhosamente ao ataque ontem, exigindo agora medidas de segurança drásticas , medidas que o governo já tinha começado a implementar e vai agora trazer para o nível de 2007, quando Sarkozy chegou ao poder!

Como muito bem frisou, o aspecto internacional é importante: o financiamento de Daesh , que lhe permitiu de florir impunemente no monte de estrume amontoado na Síria pela NATO e as potências influentes, vem de origens diversas, todas conhecidas, permitiu a esta "organização" de se desenvolver a uma velocidade extraordinária e dotar-se de meios financeiros, logísticos e militares enormes, que muitos países invejariam, o que lhe permitiu de ocupar rapidamente territórios importantes, de os administrar, de cobrar impostos, explorar poços de petróleo, comercializá-lo no mercado, e ao mesmo tempo de recrutar "soldados" mesmo nos países europeus.

Sem dúvida nenhuma que Daesh beneficia de apoios muito importantes, e, o que é talvez mais terrificante, que este bando de assassinos responde aos projectos de certos verdadeiros Estados, estes, que têm necessidade de Daesh para atingir certos objectivos que lhes são próprios.

Não posso deixar de notar que os únicos Estados LAICOS da região - Iraque, Líbia e Síria - com regimes ditatoriais, certo, mas organizados e florescentes, ricos em petróleo, foram varridos por guerras "importadas", e que os beneficiários desta "operação" são os aliados da NATO e o seu comandante em chefe mundial, os EUA.

Se existisse um plano que visasse a inviabilizar estes três Estados , ricos em petróleo, "balcanizando-os" à outrance, e permitindo de proteger ao mesmo tempo outro Estado aliado incondicional na região, não se teria agido de outra maneira.

Resta a saber se no longo prazo será sustentável.

Unknown disse...

Excelente texto, claro, sucinto e que toca os pontos essenciais, que me levantam inquietações:

Os assassinos eram europeus que mataram outros Europeus, isto pode tornar-se uma guerra civil caso a “solução à Húngara”, de isolamento e discriminação de minorias, prevaleça nos restantes Governos;

Os refugiados não se confundem com os terroristas de Paris, estes nasceram cá, já cá estavam e mataram compatriotas;

As mesquitas, na sua esmagadora maioria, não são dominadas por radicais, encerrem-se as outras;

A conduta marcial dos jihadistas é orientada pelo número de vítimas, desarmadas, que conseguem abater antes de se fazerem explodir, o que exclui a possibilidade de aplicação de convenções humanitárias, por ambas as partes, o que é assustador;

Em solo Europeu a religião muçulmana deve separar-se de qualquer forma de administração civil/comunitária e a mulher muçulmana deve emancipar-se, se necessário pela força da lei;

À medida que a vigilância policial apertar na Europa Central, os terroristas vão tender a avançar para Ocidente e Sul, será uma questão de tempo até Portugal sofrer um atentado e as vítimas tanto serão cristãs, como ateus, como muçulmanos, judeus… não importa a religião ou credo. É uma luta de todos.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Finalmente muitas vozes começam a exigir aos muçulmanos moderados uma demarcação clara, firme e empenhada - inexistente até agora - do terrorismo islâmico. Esta denúncia poderia ser, se ganhasse expressão e corpo, uma das chaves neste combate. Mas, sinceramente, não acredito que ela emirja.

Acredito mais que sem "pôr tropas no lamaçal" dificilmente o mundo se verá livre desta barbárie. O problema maior é que a Europa, ou melhor, a opinião pública europeia, mais exactamente ainda, a opinião publicada europeia está contaminada por um romântico (mas militante) pacifismo e por relativismo cultural que nos tolhe.

São poucos, uma minoria, acho eu, os europeus que confundem os refugiados e a sua desgraça com terroristas. Parece-me escusado bater-se nesta tecla. O que preocupa a grande maioria dos europeus, onde serenamente me incluo, são duas coisas: uma, é que o EI aproveite a onda de refugiados (que temos a obrigação moral de acolher) para fazer entrar mais uns tantos jihadistas. Outra, é que daqui há alguns anos outros tantos filhos destes refugiados, e nessa altura já cidadãos europeus com todos os inerentes direitos, pelos motivos sobejamente conhecidos, quase uma lenga-lenga, (exclusão social, pobreza - a vida é difícil para todos - falta de integração), se tornem igualmente em novos jihadistas. É isto que efectivamente preocupa a maioria dos europeus. E a preocupação maior das nossas autoridades deve ser a de acautelar e minorar a todo transe estes dois perigos.

aamgvieira disse...

"Mas por que os cerca de quatro milhões de sírios expulsos do país pela guerra não buscam asilo nos países ricos do Golfo Pérsico, relativamente próximos e com a mesma religião dominante e língua?

Segundo a Amnistia Internacional, 95% dos refugiados sírios estão em apenas cinco países: Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. A Turquia, com 1,6 milhão de refugiados sírios, e o Líbano, com 1,1 milhão, são os principais destinos.

O número de refugiados sírios abrigados pela Turquia é 10 vezes maior que o número de pedidos de asilo recebidos por todos os 28 países da União Europeia nos últimos três anos."

Sabe a resposta..ou também é ingénuo?

Fátima Diogo disse...

Acho esta expressão " estamos em guerra" vazia e pomposa, muito ao estilo francês : já foi pomposamente anunciada quando do atentado ao Charlie - e rapidamente esquecida e sem efeitos práticos, como se viu agora, infelizmente. E como o embaixador reconhece, estando uma parte do exército inimigo no interior de França e da UE, constituído por franceses e outros jovens europeus, Hollande quererá dizer que " estão em guerra civil"? De resto, fico sentada àespera de ver essa aliança com a Rússia na guerra ao Estado Islâmico e a denúncia da Arábia Saudita como grande financiador destes terroristas - desconfio que é mais certo o mar dar batatas, como dizia a minha avó tavirense...

António Azevedo disse...

Pois, mas é só quando nos pousa um mosquito nos testículos que damos conta que a violência não é a forma de resolver problemas.
antonio pa

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