sexta-feira, julho 03, 2015

A Grécia e a irracionalidade


O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schultz, uma figura altamente estimável, por quem tenho elevado apreço pessoal e que, por mais de uma vez, deu mostras de ser um bom amigo de Portugal, também se deixou contaminar pela irracionalidade. Schulz propôs que fosse criado um governo "tecnocrático" em Atenas, o que, em especial nesta delicada conjuntura, é uma inaceitável ingerência nos assuntos internos do país, vindo de uma das mais altas figuras da constelação eurocrática de poderes. A resposta que mereceria dos gregos devia ser um forte "mind your business!".

Mas a irracionalidade não fica só por este lado. Percebo que a defesa do "não" seja assumida como um gesto com uma forte justificação emocional, como denúncia indignada de um modelo de austeridade que, de facto, também não funcionou por ali, deslegitimando assim a aceitação de um novo pacote de sofrimento nacional imposto pelos credores. Mas, para além disso, o "sim" também me não parece ser solução para nada, dado que vai criar um imenso impasse político, com obrigatoriedade de novas eleições e um período de grande indecisão quanto ao futuro. Mas, voltando ao "não", devo dizer que ainda não encontrei alguém que me explicasse (para além do "porque sim!") a racionalidade da ideia de que, com ele no bolso, o governo grego chegará a Bruxelas e conseguirá, de imediato, melhores condições para negociar do que as que teve até agora. Tudo isto me parece muito "wishful thinking", mas admito que possa ser eu quem está a ver mal as coisas. Resta-me a vantagem de não ser grego e, por isso, não ter de optar.

8 comentários:

Unknown disse...

O facto de C Lagarde ter uma saída nunca/rara vista em diplomacia de que eram preciso adultos na sala; o ministro alemão diz repetidamente isso e agora o amigo socialista diz semelhante nunca fez os sabedores dos meandros da politica a sério,por em causa a competência do governo grego!! Será que há uma lógica que me escapa?

Anónimo disse...

Por estas e por outras é que Seixas da Costa ainda nos deve a explicação de onde estava o caminho alternativo proposto à Grécia pelos seus amiguinhos do tempo do croquete.

E já agora, revolucionário que foi, onde é que as suaves propostas do Syriza se dintanciam do keynesianismo mais tíbio para entrar no radicalismo.

Anónimo disse...

"Por estas e por outras é que Seixas da Costa ainda nos deve a explicação de onde estava o caminho alternativo"


oh chefe pa, eu posso nem sempre estar de acordo com o doutor aqui da loja, "c'est pas grave"


tens é que me explicar quem é o "nos" que aparece na fraseta aqui acima, por que como diz o ditado " galinha que quer resposta sai do galinheiro"


toma cumprimentos ai para os teus


Zé Povinho

Anónimo disse...

Um texto do género "Isto é tudo uma grande confusão" ou "quem é que entende esta gente". Ou, na nossa nobre tradição "Ele há questões terríveis...", como diria um certo personagem do Eça :). Enfim... não seria melhor, digo eu, discutir os méritos ou desméritos de uma e outra posição? Eu acho que os gregos têm razão ao recusar as medidas impostas pela "troika". O senhor embaixador já leu o último relatório do FMI sobre a insustentabilidade da divida grega?

Anónimo disse...

És tu, Zé Povinho, que me vens pedir que especifique o pronominal? É preciso lata para arrogando-se de tal majestático vir contestar os pronomes que outros usam.

Clarifico, devagarinho, que nem todo o povo usa o bestunto. O pedido a Seixas da Costa é para que explique aos leitores do blogue, que serão muitos e plurais onde está o dito radicalismo grego e onde está a terceira via negocial aberta por Schultz ou pelo ministro holandês com cabelo à Rui Santos da bola.

Freitas do Amaral e Pacheco Pereira, dois radicais esquerdistas e estúpidos como eu, também parecem não ter percebido.

Anónimo disse...

Hoje, sábado, transcritas palavras de Jacques Delors sobre o assunto, caso ainda não tenha visto.
Nas tvs portuguesas não sabem provavelmente quem é e preferem convidar dezenas de comentadores, cheios de certezas..

Anónimo disse...

Há mais racionalidade no "não" (e não tenho nada a ver com a Marisa Matias) do que no "sim" e muito mais do que no "nim".
O sim é a humilhação irracional financeira e o nim é a irracional indecisão (muito portuguesa). O não tem a racionalidade de ressaltar que o objetivo é a economia e as finanças são o instrumento. O risco dos negócios com os bancos nunca está do lado dos bancos. São as "PPPs" mais antigas!

patricio branco disse...

lamentável comentário, em tudo isto haverá algum desses srs que tenha expressões de simpatia e compreensão pelos gregos, mesmo que isso não leve a nada, uma palavrinha de simpatia apenas

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