quarta-feira, novembro 12, 2014

Perder a mão

Terá o PS  "perdido a mão", como se diz dos tenistas ou dos cirurgiões? Terá o afastamento do poder, por alguns anos, conduzido os socialistas a revelar uma incapacidade para aguentarem mediaticamente os ataques políticos, oferecendo o terreno da ofensiva ao adversário? 

Ao olhar-se o espetáculo montado pela maioria contra a taxa turística anunciada por António Costa, na sua qualidade de presidente da municipalidade de Lisboa, fica-se com a sensação de que o PS ficou meio aturdido face a uma reação que era mais do que esperada. Alguns recuos registados revelam mesmo algum amadorismo na preparação da medida. Ou será que não era expectável que a questão dos cidadãos nacionais, dos voos internos e a questão das ilhas surgisse? E porque não se anteviu a necessidade do acordo da ANA ou do porto de Lisboa? Porque se não explicou isso tudo, em detalhe, desde o início? Será que, depois da premonitória e histriónica "performance" de Pires de Lima, não se estava à espera que a decisão da Câmara lisboeta provocasse uma atitude como a que veio a ter lugar?

O que é irónico é que se tenha permitido que um governo que, ao longo do seu mandato, foi o autor de um dos maiores aumentos de impostos sobre os cidadãos portugueses de que há memória na nossa História recente, tivesse podido, sem uma gargalhada geral, vir a terreiro "indignar-se" sobre uma taxa minúscula, imposta a estrangeiros, que reverte diretamente para o fomento do setor turístico. Como se uma taxa aeroportuária de um euro e, depois de 2016, outra de dois euros por dormida, pudesse vir a afetar a competitividade turística de Lisboa e do país. Há muitos anos que, por esse mundo fora, se pagam taxas idênticas (muitas vezes, bem mais elevadas) e não consta que isso afete, ainda que marginalmente, os fluxos turísticos para essas cidades e regiões.

O governo e a maioria foram bastante hábeis nesta operação de ataque ao PS enquanto entidade de poder local, ao mesmo tempo que procuraram fragilizar a figura de António Costa, neste tempo que antecede a sua consagração como novo líder dos socialistas. E, surpreendentemente, conseguiram-no. O PS tem, rapidamente, que "recuperar" a mão, se não quiser vir a ter outras surpresas. Espero que tenha aprendido com esta lição.

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro Embaixador.
É minha humilde sugestão que não perca o "norte" no cultivo de uma cultura de imparcialidade aplicada aos seus posts que motivam a deliciosa leitura de muitos, que mesmo não partilhando das sua orientação política, agradecem o seu empenho neste espaço.
Apesar da manifesta incompetência da equipa que acompanha o Dr. António Costa, o facto é que a solução para os desequilíbrios orçamentais são sempre encontradas no lado da receita. Pelo que a alternância democrática, embora sempre desejada, não é porventura suficiente para resolver os problemas do País.
Como se tem vindo a ver, a justificação de que, o mundo muda, o País muda, a conjuntura internacional muda, não tem servido para que os agentes políticos e a forma de fazer política também mudem.
Continuamos infelizmente a constatar que olhamos apenas para dentro dos partidos e não, como deveria ser, para dentro do País. E este seu post não fugiu à regra.
Tenho como certo que todos temos dias menos felizes. Espero que possamos continuar a contar consigo num posicionamento equidistante e imparcial, com que nos foi habituando, focado no País e não nas agendas mediáticas de quem não merece atenção.
Cumprimentos de um anónimo interessado.

Joaquim de Freitas disse...

Quando os socialistas governam, têm sempre um olho no retrovisor , porque sabem que a direita os perseguem. A direita sempre teve o complexo de superioridade sobre a esquerda, na gestão da economia. Porque a direita sempre disse que a sua função não é social mas económica, ao serviço daqueles que têm o poder económico. Criar empregos não é a mesma coisa que criar valor financeiro. Os dividendos são o guia da direita. Por isso os impostos e taxas são combatidos, porque reduzem os dividendos.

A esquerda quer satisfazer os dois : os que possuem tudo e os que não têm nada. Missão impossível nos tempos que passam, porque à sofreguidão dos ricos , que querem sempre mais, a república social só pode opor o valor da moral cristã. Mesmo o papa Francisco experimenta algo, mas sem resultado.

A direita não tem tais escrúpulos. Porque sabem bem que evitar a mundialização da desigualdade passa hoje, mais que nunca , por uma mundialização da redistribuição. A direita utilizará todas as armas , mesmo a violência, para a evitar .

A dialéctica do imperativo da competitividade do ocidente para resistir à concorrência asiática faz parte destas armas. E quando os socialistas , em vez de a combater, utilizam o mesmo discurso nunca serão tão convincentes como a direita. Já o escrevi aqui várias vezes : não se pode ser revolucionário e combatente social, e pactuar com o diabo...social liberal.

Lamas disse...

Leio sempre atentamente os comentários aos muito interessantes artigos do senhor embaixador. Este não foge à regra, bem como os comentários. Só faço uma pergunta. Quando se fala no PS, no PSD e no CDS, faz algum sentido falar em esquerda e direita?

Joaquim de Freitas disse...

Depois de ter inscrito o meu comentário acima, li o comentário do anónimo das 12:15 que se dirige directamente ao Senhor Embaixador , para lhe dizer, entre outros, " que a alternância democrática, embora sempre desejada, não é porventura suficiente para resolver os problemas do País ".

Confesso que estou ainda sem compreender o que significa esta frase. Seria que o comentador pretende que a alternância democrática, raiz e base da democracia, deveria ser lançada às ortigas e se deveria instaurar, em seu lugar, a ditadura, única capaz de resolver os problemas que se "vêm dentro do pais?".

Por outro lado, se o "facto é que a solução para os desequilíbrios orçamentais são sempre encontradas no lado da receita" , como escreve o mesmo comentador, pena é que todos aqueles que utilizam a fraude para fugir aos impostos e taxas, que tanta falta fazem ao equilíbrio orçamental, sejam precisamente aqueles que pretendem governar em nome da gestão sã da economia , e que são ao mesmo tempo, incoerentemente, aqueles que mais praticaram a arte exímia de retirar do bolso dos Portugueses o último euro que lá restava, através dos impostos e taxas, da redução das pensões e reformas, e da política social de miséria na redução ou no não reembolso dos medicamentos.

Anónimo disse...

Os socialista não governam, "esgotam" o povo em nome Do "social".

Sejam da dita esquerda ou da dita direita.

Os comentários neste blog são do melhor humorismo que se faz actualmente.

Anónimo disse...

Esclarecimentos ao comentador Joaquim de Freitas de um anónimo interessado.
Creio ter sido mal compreendido. Não confundamos alternância democrática com democracia.
O que temos que ter, em minha opinião, são compromissos alargados sobre vários assuntos estratégicos para o País com horizonte de pelo menos 10 anos. Prazo que vai muito além dos ciclos eleitorais.
Assuntos estratégicos para o País, como a Educação, Justiça, Defesa, Saúde, etc., que independentemente do governo, devem ter bases de funcionamento e procedimento que não podem mudar a cada 4 anos.
É preciso pensar o País e não a duração da legislatura.
Acho que passamos muito tempo a discutir assuntos menores, excepcionais para vender jornais e audiências em televisão, mas redutores para olhar mais além.
Olhar e analisar problemas de várias perspectivas vale a pena. Sempre foi bom sair da caixa e ver do lado de fora. E é esse estilo que me atrai nos Posts do Sr. Embaixador. Essa capacidade que poucos têm e todos deveríamos tentar aprender um pouco.
Um abraço de um anónimo interessado.

patricio branco disse...

outros autarcas deviam seguir antonio costa criando a mesma taxa, seria uym apoio e uma receita util

Joaquim de Freitas disse...

Muito obrigado ao anónimo interessado, pela reacção ao meu comentário.

Todos os governos prefeririam mandatos longos para assentar as suas políticas e preservar os altos interesses particulares dos eleitos.
O problema põe-se quando as politicas postas em prática não correspondem às promessas dos candidatos. E nesse caso, 10 anos é muito longo... Dois mandatos de 4 ou 5 anos permite "rectificar" a trajectória. Se esta corresponde aos programas e aos desejos dos eleitores, estes podem confirmar no fim de cada mandato curto.

Se me permite, o que causa problema , é o facto que , para voltar ao poder, aqueles que o perderam vão explorar as falhas dos que governam, mesmo se for necessário modificar o que foi feito ou está programado, qualquer que seja o seu valor real. E as falhas nos tempos que correm são mais que prováveis, sobretudo quando um pais perdeu a sua soberania e deve obedecer ao estrangeiro.

Quantas leis são ameaçadas de desaparecerem logo após a vitoria! Conheço algumas, em França, que já estão na lista, só porque são de esquerda! Outras, que mesmo sendo vilipendiadas todos os dias pela oposição de hoje, esta não ousará tocar-lhes porque são demasiado emblemáticas : as 35 horas de trabalho, a lei sobre o aborto, o casamento homossexual , entre outras.

Mais que um desacordo ideológico com a reforma social ou a neo-liberalização dos países ( desmantelamento do direito do trabalho, dos serviços públicos, trabalho precário, etc.,), é a finalidade de restabelecer o equilíbrio orçamental à custa da degradação constante das condições de vida que obriga à confrontação entre as duas visões da sociedade.

Os assuntos estratégicos para o País, como a Educação, Justiça, Defesa, Saúde, de que fala, não têm o mesmo valor nas duas visões de sociedade que se afrontam, isto é, os que manipulam as leis e os que padecem da não aplicação das mesmas leis.

Quando escreve: " Olhar e analisar problemas de várias perspectivas vale a pena. Sempre foi bom sair da caixa e ver do lado de fora.", não creio que na sociedade actual, todos estejam dispostos a olhar do lado de fora.

A misantropia , o individualismo, encontraram uma falha ideológica tão excepcional, que elas ai se precipitaram para apodrecer o nosso elo social.

O individualismo , é o facto de passar por cima dum SDF em frente da nossa porta, e de considerar esse pobre como único responsável da sua situação.


No fundo tem razão: Não é de uma alternância que se precisa, mas duma alternativa.

Retribuindo o abraço,

Joaquim de Freitas

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