terça-feira, novembro 25, 2014

O Tribunal


Eu era miúdo, mas lembro-me como se fosse hoje. Todas as manhãs, numa camioneta de caixa aberta com longos bancos, chegavam os operários que tinham a seu cargo as obras do novo Tribunal de Vila Real. À época, era uma forma vulgar de transporte de trabalhadores. Porém, havia algo de diferente: quatro homens fardados ocupavam os cantos da caixa da viatura. Os operários eram os presos da cadeia da cidade.

A direção desses presos, a organização e planificação do seu trabalho, passou por alguns meses a ser assegurada por um homem que também estava naquela prisão, acusado, creio, que de uma qualquer fraude. A sua preparação académica dava-lhe um estatuto diferente, pelo que me recordo que se movimentava na obra com muito maior à vontade que os restantes presos. Era uma pessoa de Viana do Castelo, que aí tinha sido antigo colega de escola primária do meu pai. Durante os meses em que permaneceu em Vila Real, o meu pai fez questão de o visitar, com alguma regularidade. Ouvi-o então dizer: "Antes de tudo é um amigo, para além dos erros que possa ter cometido na vida". Neste dia em que, se fosse vivo, o meu pai completaria 104 anos, recordei-me desta sua lição.

12 comentários:

Anónimo disse...

Mesmo que os erros tenham prejudicado gravemente o país ao qual se declara amor e fidelidade?

Anónimo disse...

Quando era criança o meu pai trabalhava num tribunal.
No piso inferir do edifício do tribunal funcionava a cadeira, na qual os condenados cumpriam as suas penas.
Foram muitas as manhãs e tardes em que, com conhecimento do meu pai, convivi com os presos, no pátio da prisão, dentro de muros.
Teriam feito as sua tropelias, cometido os seus crimes, mas eram acima de tudo seres humanos iguais a todos os outros. Eram as mesmas pessoas com quem convivera antes da prisão e com quem voltei a conviver depois.
Nada daquilo que os levou à prisão alterou aos meus olhos a sua condição humana. Ou a amizade que por eles sentia.

David Caldeira

Anónimo disse...

Caro Embaixador,

Recuso-me a aceitar uma democracia em que um homem nao eleito, como e o caso do superhomem e asseptico, rigoroso e anatingivel juiz Carlos Alexandre pode dispor da vida de uma pessoa sem ter que dar explicacoes publicas da fundamentacao da sua decisao. Por mim e pelos meus filhos.

Gostaria de dizer que sou implacavel com a repulsa que, qualquer tipo de criminalidade, me provoca, mas gostaria que o meu Pais fosse um Estado de Direito, e que os Juizes, respeitassem o Povo, que e em nome do qual exercem o seu oficio.

Jose Freire

Azinheira disse...

Já somos dois a acreditar no princípio inabalável da amizade. E há muitos mais e mais relevantes do que eu, claro. No caso, não tendo sido amiga, estou ainda assim do mesmo lado e torço para que o escrutínio seja irrepreensível, mesmo que possa vir a revelar que muitas vezes nos enganamos redondamente sobre as pessoas. Porque é nestas alturas que fazemos falta.

Anónimo disse...

Amizade acima de tudo.

Eu não posso ser preso ou internado num hospital.

Já viram o que seria as minhas muitas amigas e namoradas encontrarem-s em tais circuntâncias?

Brinquemos um pouco.

Da Silva.

Anónimo disse...

Eu pensaria dessa forma, se a pessoa em questão não tivesse (supostamente)prejudicado o país e por conseguinte todos os contribuintes. Que neste momento estão a pagar com muito sacrificio.

VW

Anónimo disse...

Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital. Assim se dizia na minha aldeia.

Anónimo disse...

Estou de acordo que a amizade se pode sobrepôr a tudo. Mas isto não me impediria de manifestar o meu repúdio por eventuais crimes que amigos meus pudessem cometer e continuar com a minha amizade se ela fosse mais forte do que tudo.
Todavia, conhecendo minimamente a condição humana, estou seguro que se o José Sócrates for condenado, a grande maioria dos seus seus amigos não hesitará em afastar-se sem complexos.
José Barros

Cinderela disse...

Desculparão, mas não entendo porque relativamente a esta questão do engenheiro Sócrates, se coloca o foco na amizade. A amizade é do foro pessoal de cada um, cada um tem as amizades que tem, elas não têm que ser públicas ou publicadas, normalmente são privadas e justificam atitudes que relevam de afectos e intimidades cultivadas ao longo do tempo. Quando muito, alguns aspectos da análise desta questão poderiam ser centrados no respeito que os eleitores e os contribuintes deste País, deveriam ou não sentir por alguém que desempenhou a função de primeiro ministro eleito democraticamente. Mas porquê o foco na amizade? Seria suposto o País ser amigo do engenheiro Sócrates e, por isso, fechasse os olhos às suas "diabruras", chamemos-lhe assim? Ou, de outro modo, teria sido o engenheiro Sócrates, quando do exercício das suas funções, amigo do País? Então? Deve-se esperar e exigir justiça e total observação das regras jurídicas, direitos humanos, etc, tanto quanto em relação a outros suspeitos que têm vindo a ser mediatizados pelas televisões e jornais e que, por pertencerem a outras alianças, a outras famílias ou tribos, puderam, à partida, ser sujeitos a total desmoralização sem direito a qualquer tipo de preocupações humanitárias, ou compaixão. Isto diz muito sobre verdade e hipocrisia dos nossos comentadores e iluminados profissionais. E é preocupante.

JFM disse...

Mouche

Isabel Seixas disse...

Sem dúvida uma grande lição.
E um grande Pai , claro.

Anónimo disse...

Erros?
Errar é beber uns copos, e só porque a polícia o mandou parar con 2.45 de álcool, vai preso.
Errar é distrair-se a conduzir e numa passadeira atropela e mata um transeunte
Errar é clcular mal um muro que cai para cima do quintal do vizinho e lhe destroi o Maseratti.
Tudo isso é grave, mas são erros.
Mas a ser verdade, e só nesse caso, um primeiro-ministro abotoar-se, ROUBAR o que nos sacou, cirurgicamente camuflar e ocultar os esquemas pensados e repensados para continuar a exibir arrogância e, coitadinho, ingenuidade, isso é errar?
Tão compreensivos são os amigos que o JS tem...
Ou como diz o povo, diz-me os amigos que tens, dir-te-ei quem és...

A.R.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...