segunda-feira, abril 07, 2014

A vida e a curva

Ontem, na festa de aniversário de um amigo - um tempo de reencontro e também de poesia - alguém lembrou este belo poema de Alberto Caeiro. Já o não ouvia há uns bons anos, mas fez-me muito bem recordá-lo.

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

14 comentários:

Anónimo disse...

alberto caeiro!

Francisco Seixas da Costa disse...

Claro que sim, Anónimo das 00.46. A confusão veio do facto de terem sido lidos na ocasião poemas de Álvaro de Campos. Obrigado pela retificação

Isabel Seixas disse...

Oh, nem parece do Alberto Caeiro,
a vida é curva...

E assim como assim
quem vive no presente

com quem está presente e

de corpo presente...

Que pasmaceira!
Além de que todo o poema me parece uma rendição, daquelas de "também não havia outra alternativa"...

Pese embora tudo isso fez-me lembrar a história de um senhor que mandava sair a esposa do carro em todas as curvas para ver se vinha algum carro e fazer a curva em segurança...

Anónimo disse...

Cara Isabel Seixas
Tenho um recado da sua amiga, a velha senhora, para si:

mas é caeiro chapado
nem uma vírgula o desmente:
viver o momento dado
gozar a vida presente

(isabelinha saudades
ando sozinha e ausente
triste de tantas maldades
que a nossa ausência consente)

opjj disse...

Com a permissão de V.Exª, Direi a Isabel Seixas.
Eu peço muitas vezes à minha espôsa para sair do carro e olhar em espaços apertados, assim preservo o que é meu e dos outros.
Moral da história, num Verão passado,um bem conhecido Advogado e sua espôsa vinham da sua aldeia com a carrinha cheia.Ao longe vi que tentava estacionar e ia batendo na frente do meu carro. Aproximei-me a 1ª coisa que me disse, é que não foi ele que me amachucou levemente a frente. Por fim, acedeu, fui ao escritório dele e pagou-me o arranjo.
Não teria sido melhor a espôsa ter saído do carro e dar uma olhadela?
Cumprimentos

opjj disse...

Poema muito acertivo e actualíssimo.
Cumps.

Anónimo disse...

A olhar para o umbigo podemos ter um acidente

patricio branco disse...

uma metáfora clara da vida, o incognito do que está para diante, melhor cuidarmos do presente que estar desde já a preocuparmo nos com o que virá, etc
um magnifico poema, na verdade simples mas tambem complexo e cheio de mensagens.
gostei de ler

Anónimo disse...

"Poema" ouvido por aí....

"as finanças do PS têm um buraco de 3,6 milhões de euros.

Aqueles notáveis todos mais o BE certamente que se vão solidarizar e assumir a mutualização dos orçamentos do PS. E certamente que o líder do PS vai mandar o Galamba aos bancos dizer que quer reestruturar.
Depois dessa experiência histórica podem fundamentadamente propor o mesmo ao país."

Alexandre

Isabel Seixas disse...

Pois cara velha amiga,
Caeiro que só é presente,
talvez sem tempo nos diga,
Dessa sua visão que sente
e neste instante se lhe turva,
é muito simples, diz-nos sem pensar,
ficará sempre para cá da curva
quem manda este governo Pastar...

Anónimo disse...

Da velha senhora, perplexa, para a sua amiga Isabel:

desculpe, querida,
mas não a entendo!
virá da bebida,
que eu cá estou bebendo,
a dificuldade?
com toda a amizade

Isabel Seixas disse...




Sr. Embaixador se me permite

Cara velha amiga

Depois de evocado Caeiro,
Caeiro é intemporal,
diz-nos pra viver o presente,
de forma simples, visão sensorial diz sem pensar, como sente,

que hoje a visão fica turva,
por este governo olhar
guardador de rebanhos, pra cá da curva,
manda este governo ir pastar...

Retribuo o cumprimento de amizade plagiando a sensibilidade linda da
Mônica,
Com carinho Isabel



X
"Olá, guardador de rebanhos,
Ai à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?

Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois,
E a ti o que te diz?

Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.

Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."

O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro

Santiago Macias disse...

Um belíssimo poema, de facto.

Também já o usei, no meu blogue. E foi com ele que encerrei a minha intervenção na tomada de posse como Presidente da Câmara de Moura, em outubro passado.

Anónimo disse...

Uma poesia deleitante e cheia de não significado, significa tudo o que está para além da curva da estrada.


Leonardo dos Santos

Notícias da aldeia

Nas aldeias, os cartazes das festas de verão, em honra do santo padroeiro, costumam apodrecer de velhos, chegando até à primavera. O país pa...