domingo, fevereiro 09, 2014

"Libé"

A crise da imprensa escrita acontece um pouco por toda a parte. Todos os dias lemos notícias de jornais a fechar, com os novos projetos a passarem, em prioridade, pelos meios informáticos. Não há muito que se possa fazer: subsiste aquilo que vende e os jornais vendem pouco. As pessoas leem-nos cada vez menos e, em muitos casos, uma descrecente apetência por um jornalismo mais cuidado e sofisticado está a fazer emergir, em muita imprensa, uma escrita "simplificada", a gerar uma espécie de "fast food" jornalístico. Os tablóides já tinham prenunciado o estilo, mas havia a esperança que uma "aldeia gaulesa" de qualidade pudesse sobreviver. Essa esperança, contudo, embora exista, é cada vez menor.

Faço parte de uma geração que nasceu com o "Libération" como uma referência de independência, com um estilo algo arrogante e afirmativo, uma sedutora abertura ao novo, uma qualidade inventiva de escrita e de temas, um jornal que havia conseguido adaptar-se aos tempos, embora com ruturas que não foram fáceis. Por lá passaram alguns bons nomes inconformistas e a qualidade do produto gráfico, bem como a genialidade de alguns títulos, compensava alguma fraqueza na construção geral do jornal. Ao tempo que passei por Paris, o "Libé" fez-me sempre falta (mas eu não sou um bom exemplo: a mim faz-me falta toda a impeensa...)

Leio que o "Libération" voltou agora agora a entrar em crise (e elas já foram muitas, na história do jornal, desde os tempos de Sarte aos de July, passando pelo modelo menos personalizado que vigorava nos últimos anos). Desta vez, o conflito parece mais sério do que nunca e a oposição entre os trabalhadores do jornal e os acionistas não parece conciliável. Terei bastante pena se o "Libé" desaparecer, mas o mundo não perdoa e as nostalgias ainda não têm cotação no mercado.

6 comentários:

Defreitas disse...

Oui, "Libé" , mais uma crise. Já viu tantas. Com o "Monde Diplomatique" faz parte da minha imprensa preferida em França. " Peuple, prends la parole' et garde la" , a famosa divisa dum jornal da esquerda, que evoluiu com o tempo, desde a sua fundação por maoistas da extrema esquerda.
Ofereceu sempre os títulos mais fortes de toda a imprensa. Quem não se recorda da primeira página com a foto de Le Pen, atravessada por um grande "NON" . Eu guardei-o. Creio que vai servir de novo.
"Libé" vive em paralelo com a esquerda, que procura o seu caminho também.

patricio branco disse...

o diario popular, o lisboa, a republica desapareceram antes da imprensa digital e muitos jornais estão nas duas formas, papel e internet.
deve haver menos leitores, a qualidade desceu muito, mesmo dos consagrados time, guardian e monde ou corriere dellla sera (onde escrevia moravia aos domingos, na 2a pg), el pais.
gosto de jornais, dos ler, mas deixei dos comprar, e não é por ter noticias online.
penso que é a qualidade dos conteudos, mais baixa, um jornal lê se em poucos minutos e fica uma sensação de vazio, pobreza, vale a pena comprar?
um jornal tem de estar integrado num grupo económico que tem ooutros jornais, tem televisões e radios, e outros negócios, talvez assim se aguente, desde que o grupo no seu conjunto apresente lucros, se há ou não pressões sobre os jornalista, onde está o mundo ideal?

Anónimo disse...

Um único que é rentável e lido, comprado, é o Correio da Manha, tal e qual, Correio da Manha.

Porque será? terá muito músculo? ou conta aldrabices? ou vende trapos?

Se calhar sorteia carros de topo gama, será, que será, será?

Zé Pirolito

Defreitas disse...

Ao Senhor Patrício Branco:

"deve haver menos leitores, a "qualidade desceu muito," mesmo dos consagrados time, guardian e monde ou corriere dellla sera " Como tem razão, Senhor Patrício Branco. A desinformação reina!

Recentemente, uma sondagem no RU perguntava quantos Iraquianos foram mortos vítimas da invasão do Iraque em 2003. Respostas chocantes. Uma maioria declarou "menos de 10 000 pessoas" , quando se sabe que foram à volta de 1 000 000 de homens, mulheres e crianças , vítimas do braseiro , obra do governo americano e do seu aliado britânico. O equivalente do genocídio no Ruanda! E a carnificina continua. Que pena que Snowden não tivesse aparecido nessa época: Talvez um milhão de Iraquianos ainda estivessem em vida.

Isto demonstra como fomos enganados pelos media, preocupados de preservar a versão oficial e não de dizer a verdade.
Chama-se a "normalização do impensável" !

Há dois tipos de vítimas no mundo da informação: as vítimas "dignas de interesse" e as "vítimas indignas".
As "vítimas dignas" são as que sofrem nas mãos dos nossos inimigos: os Assad, Kadhafi, Saddam Hussein, e que beneficiam automaticamente das "intervenções humanitárias".

As "vítimas indignas" são aquelas que se atravessam no caminho da nossa força punitiva e de todos "os bons ditadores" à nossa ordem. Saddam era um "bom ditador", no início, mas descarrilou depois e foi relegado à categoria "mau ditador". Pagou a nota!

Suharto, na Indonésia era "um bom ditador, antes de assassinar um milhão de comunistas e ter eliminado um terço dos nossos antigos compatriotas de Timor Leste. Foi mesmo acolhido pela Rainha do RU. Como Pinochet , pela Maggie Thatcher! "

Na Arábia Saudita decapitam-se os homens e lapidam-se as mulheres. A maioria dos terroristas do 11/09 vinham deste pais. Os nababos feudais recebem todos os dias a visita dos grandes deste mundo! Sao nossos preciosos aliados. E bons ditadores. Vendemos-lhes todas as armas que querem! Entretanto, Cameron foi fazer negócios à África do Sul do Apartheid, enquanto Mandela padecia na prisão! Que importa: Uma lagrimazita quando este faleceu perdoou tudo!

Os jornais morrem. E portanto vivemos numa era da informação, acarinhando o nosso smartfone como um rosário, cabeça baixada, verificando, controlando, twitando..E apesar de tudo, somos tão enganados!

Cockburn tinha razão: " Não creiam em nada enquanto não for oficialmente negado" !

Anónimo disse...

Existe ainda na esquerda, uma nostalgia pelos "good old days" que se traduzem pala visualização "destorcida" da realidade construída a partir dos "mitos" da Revolução Francesa.

Os americanos foram os únicos, na altura, a conseguir absorver e transpor para seu governo o ideal democrático, depois dos (quase) sempre eternos ingleses.

Esse tipo de visualização foi reforçada em Portugal, pelo autoritarismo e paternalismo da IIª República na sequência das ditaduras jacobinas e anti-cristãs da Iº República.

No pós-25 de Abril, Portugal foi forçado a seguir a esquerda, o bem, e a repelir a direita, o mal.

Para a maioria do povo que foi enganado com promessas de fartura sem trabalhar, o acordar vai ser doloroso, para todos os actuais "papagaios", passados e futuros (estão mortinhos para aparecer...) sejam eles das esquerdas comunistas, hetero-socialistas, caviares e respectvas direitas, ambas séc XX !

Alexandre



Catarina disse...

as nostalgias ainda não têm cotação no mercado.
que maravilha

Obrigado, António

O dia em que é anunciado um novo governo é a data certa para dizer, alto e bom som, que entendo ter sido um privilégio ter como primeiro-min...