quarta-feira, janeiro 08, 2014

O flagrante


Os protagonistas são de língua espanhola. A historieta é muito antiga e é um clássico das atribulações afetivas da vida diplomática. Foi-me recordada ontem, durante um almoço com colegas.

Numa determinada capital, o embaixador mantinha uma relação sentimental com a mulher de um jovem colaborador. Um dia, por um desencontro de agendas, o diplomata entra na sua residência e encontra o chefe em "vias de facto" com a sua esposa.

Ao embaixador, assumindo a fragilidade em que a situação o colocava, preparado, quem sabe?, para um ajuste de contas, só lhe ocorre dizer:

- Estou à sua disposição!

O jovem diplomata, com um sentido de avaliação da conjuntura e uma capacidade de reação que prenunciava já uma bela carreira, ter-lhe-á respondido:

- Quero um novo posto, com promoção.

16 comentários:

Isabel Seixas disse...

o pragmatismo pode ser um atributo ou um requisito fundamental em qualquer profissão e quando espontâneo tem o seu encanto...

Um marido com fair play...
Pessoas que não são invejosas...

Agora mesmo mesmo irritante é o papel secundário para que é remetida a senhora do ponto de vista de decisão autónoma, liberdade individual para selecionar a ocupação do seu tempo além de alguma falta de respeito do marido em em irromper assim a invadir o espaço imaginário de intimismo e em não pedir desculpa por alterar a agenda sem aviso prévio. Coitada da senhora no mínimo frustrante... Bem tinha a consolação da provável promoção do marido...

Saliente-se também a disponibilidade do Embaixador de principio ao fim, não deixa de ser louvável.

De qualquer forma, um post, prá época, bem bem
à frente...

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor Embaixador,

Esta história é uma delícia! No entanto, a questão pode ser vista de muitas formas. Afinal de contas, se nas embaixadas há um encarregado de negócios em caso de ausência do chefe de missão, porque não haver um encarregado matrimonial quando um dos cônjuges está fora?

Com os melhores cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

Defreitas disse...

Il faut mettre ses principes dans les grandes choses, aux petites la miséricorde suffit.
Camus (Albert)

margarida disse...

LOL!
... obrigada... :)

patricio branco disse...

ele há males que vêm por bem...

opjj disse...

Caríssimo, há gente que tem jeito para inventar estórias e outros que têm jeito para as acreditar. Uma boa risada em comunhão de mesa, não fará mal ao mundo.
Cumprimentos

opjj disse...

Acrescento; outros têm jeito para o humor negro-decrépito.Vejamos, anteontem passei pela TVI24 e não é que Manuel Serrão um culto e bem nutrido comentador! Dizia ele ao Dr.Barroso e Dr.Seara, "O Porto tem de ganhar e no final presta 1 minuto de homenagem a Eusébio". Que eu saiba os silêncios fazem-se antes das partidas.Espanta-me os outros comentadores ficarem atávidos perante tamanha defecação.
Ele há cada cromo convencido!
Cumprimentos

Anónimo disse...

"(...) há gente que tem jeito para inventar HISTÓRIAS e OUTRA que TEM jeito para NELAS acreditar (...)"

opjj disse...

Dr. Seixas da Costa, peço a sua condescendência para este meu retratar neste seu cantinho.
E pensar eu que não sabia distinguir História de Estória e de As por Nelas.
Isto dos subentendidos tem que se lhe diga no português.
Aceito o recado, afinal não sei assim tanto!
Cumprimentos

Anónimo disse...

""As quedas de algumas mulheres justificam-nas alguns maridos."

Camilo Castelo Branco



Alexandre

Anónimo disse...

É o que se chama: "juntar o útil ao agradável". Quanto aos dizeres do embaixador: "estou à sua disposição": é realmente diplomática...Não há nada como uma boa negociação!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro/a opjj: detesto a corruptela "estória", uma invenção lançada há umas quatro décadas por um grupo de literatos que se julgam imaginativos. Por este blogue só a verá nos comentários, que são à vontade do freguês. Mas eu não dou lições de nada. Apenas digo o que penso e julgo saber.

Anónimo disse...

Sagaz e diplomático. Porém, não invalida ter sido corno, se assim o posso dizer. Não é mal que mate. Há coisas piores.

Anónimo disse...

Dando-lhe toda a razão no comentário quanto ao uso despropositado da palavra estória substituindo história, permita-me, Senhor Embaixador, que lembre que aquela palavra nasceu em 1019 por iniciativa do académico brasileiro João Ribeiro com o único propósito de a aplicar às narrativas populares do rico folclore brasileiro, talvez até porque os seus autores, quando as passassem a escrito, não soubessem escrever a palavra história. Até aí tudo bem. O mal foi depois "esses literatos que se julgam imaginativos" tomarem aquele neologismo para lhe darem um uso completamente diferente, completamente equivalente a história. Modernices...

patricio branco disse...

primeiras estorias é o titulo dum livro de contos de joão guimarães rosa

Anónimo disse...

Em épicos decassílabos, a 'velha senhora' quis participar no momentoso debate sobre estória/história, mas disse-me que, para compensar o desconchavo das suas rimalhices, dedicava poesia a sério, do Carlos Drummond de Andrade, ao Autor e aos comentadores do blogue:

detesto - escreve - a corruptela "estória"!
por mim, confesso que ela me embaraça
ao vê-la escrita, a descarada, em glória,
nuns documentos velhos c'mó caraças:
no século treze, 'estoriadores' de história
'estória' grafam, com imensa graça!
joão ribeiro não a fez nascer,
ressucitou-a pró fazer sofrer!


1. Estória de João-Joana

[…]
Se os manos levaram susto,
até eu, que apenas conto.
E o povo todo, assuntando
a estória ponto por ponto,
ficou em breve inteirado
do que aí vai sem desconto.

Nem menino nem menina
era João quando nasceu.
A mãe, sem saber ao certo,
o nome de João lhe deu,
dizendo: Vai vestir calça
e não saia que nem eu.
[…]

2. Cantiguinha

era um brinquedo maria
era uma estória maria
era uma nuvem maria
era uma graça maria
era um bocado maria
era um mar de
amor maria
era uma vez era um dia
maria.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...