terça-feira, novembro 19, 2013

UNESCO

Há cerca de um ano, tomei a decisão de propor a candidatura de Portugal ao Comité do Património Mundial da UNESCO. O nosso país havia saído de um período de grande atividade no âmbito daquela que é uma das mais prestigiadas instâncias da organização: o Fado havia sido consagrado "património mundial", fôramos capazes de convencer o comité da compatibilidade da barragem na foz do rio Tua com o estatuto do Alto Douro Vinhateiro e Elvas e as suas fortalezas obtiveram então esse mesmo estatuto.

A minha proposta foi vista com simpatia por alguns setores em Lisboa. Porém, compreensivelmente, o MNE tinha de a articular com outras prioridades da nossa política externa. A decisão foi-se protelando e eu fui insistindo. Mantive-me um "chato", até ao momento em que consegui "luz verde" das Necessidades. Considerava que, por forma a poder "compensar" a erradíssima decisão política de deixar de ter um embaixador exclusivamente dedicado à UNESCO (eu fora o "herdeiro" dessa decisão, passando a acumular com a embaixada bilateral em França), tínhamos de "dar um salto em frente" e afirmarmo-nos num comité respeitado e influente, um grupo de 21 países por onde passam algumas das mais importantes decisões da organização.

Era este um "presente envenenado" para o meu sucessor, o embaixador Moraes Cabral, tanto mais que eu iria sair de Paris em fevereiro de 2013? Não o entendi assim, interpretei isso como um desafio à altura da excecional competência daquele meu colega, da capacidade de quem foi capaz de levar-nos ao Conselho de Segurança da ONU e, depois, conduzir com brilhantismo dois anos de prestigiante presença naquela instância. Sem uma lógica de continuidade, de alguma ambição realista dos interesses do país, a imagem externa de Portugal esvai-se. Embora com uma estrutura reduzida ao mínimo (por opção política), Portugal dispunha ainda, na UNESCO, de um diplomata muito qualificado, Pedro Sousa e Abreu, além da experiente técnica Teresa Salado. Neste entretanto, essa nossa excelente "massa crítica" conseguiu colocar a Universidade de Coimbra na lista do "património mundial". A ação de Portugal neste âmbito era reconhecida e, além disso, a UNESCO estava ciente da qualidade dos nossos especialistas na área do património, com os quais poderia passar a contar de forma mais ativa.

Portugal foi hoje eleito para o Comité do Património Mundial. É uma bela vitória que a política externa portuguesa fica a dever à sua diplomacia.

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns a todos os que contribuíram para esta tão significativa vitória diplomática!
Como português e como ex-vice-presidente da Comissão Nacional da UNESCO (a última pessoa a exercer este cargo, extinto em 2003), fico imensamente feliz com esta notícia.
Mário Quartin Graça

Helena Oneto disse...

Subscrevo: Parabéns, a si, Senhor Embaixador e a todos os que contribuíram para esta tão significativa vitória diplomática!

Anónimo disse...

Parabéns a todas as pessoas mencionadas neste post. Conheço-as muito bem. Merecem os maiores aplausos até porque trabalham - ou trabalharam - em condições muito difíceis na nossa delegação junto da UNESCO. JPGarcia

Anónimo disse...

Gostaria de acrescentar um comentário ao meu comentário anterior.
Penso que deveríamos ver esta distinção sob três aspectos:
1º -um prémio ao nosso empenho e à nossa capacidade negocial para atingir este objectivo;
2º - o reconhecimento da nossa capacidade para desempenhar cabalmente a missão que nos foi confiada;
3º - um estímulo e uma responsabilidade acrescida do Estado, dos municípios e de todas as entidades encarregadas de zelar pelos bens portugueses classificados pela UNESCO no sentido de uma melhor preservação desses bens e de um melhor cumprimento das obrigações decorrentes do seu estatuto como Património Mundial da Humanidade. E nesse aspecto há que reconhecer que nem sempre, em alguns casos,
temos tido um comportamento exemplar.
Mário Quartin Graça

patricio branco disse...

tira se dum lado e põe se no outro, mas será que assim é melhor? o que se passa é que a cultura nada vale para a governação actual, nem para as imediatamente anteriores...
o que não quer dizer que não seja bom ou util pertencer aos 21 e ter trabalhado para isso, ao menos isso...

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