terça-feira, novembro 12, 2013

Há mar e mar...

Em 2006, no Brasil, decidi criar um blogue da embaixada, que eu próprio redigi durante mais de dois anos. Como lema desse blogue, escolhi uma frase de Vergílio Ferreira que sempre me impressionou, pelo seu simbolismo: "Da minha língua vê-se o mar".

Há dias, numa entrevista na televisão (ontem reproduzida parcialmente num jornal), repeti essa frase, ou melhor, disse-a erradamente. "Do meu país vê-se o mar". Fiquei furioso comigo mesmo. Deve ser da idade...

* uma leitora recorda-me ainda o erro vulgar de escrever "Virgílio" em lugar de "Vergílio". Coisa que o escritor não permitiria.

8 comentários:

patricio branco disse...

na verdade gosto mais da frase errada que da citação correcta, o realismo por vezes é mais eficaz que o simbolismo, pese a ser eventualmente menos literário.
sim do nosso país vê se o mar...

margarida disse...

A sensibilidade é intemporal, apenas requer um conjunto especial de condições.
Não se censure por manter a impetuosidade da emoção - esse é um valor precioso de quem viveu uma vida como a sua.
E não é verdadeira a afirmação que fez? Vê-se o mar, sim senhor!
O ipsis verbis pode ser tão maçador...

Anónimo disse...

Senhor Embaixador
A sua recordação da belíssima frase de Vergílio Ferreira fez-me lembrar o poema "Portugal", de Miguel Torga de que muito gosto:

Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
As linhas que no mapa da memória
A mestra palmatória
Desenhou.
Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.

Por coincidência, hoje mesmo, numa releitura de Torga, deparei-me com este texto escrito em Vila Real em 30 de Setembro de 1978:
No fim do jantar, com a imaginação exaltada, queriam a independência de Trás-os-Montes.
- Temos tudo - afirmavam. Falta-nos apenas o arroz e o bacalhau.
Retorqui-lhes, então:
- E também o Mosteiro de Alcobaça, e as Capelas Imperfeitas, e os Jerónimos, e a Torre de Belém e o Convento de Tomar, e o Castelo de Guimarães, e o de Almourol, e o de Silves, e o Templo de Diana, e os Lusíadas... Reparem: na pequena corda que vai daqui a Sanfins, nasceram Diogo Cão, o Morgado de Mateus, Frei Manuel do Cenáculo, Miguel Contreiras, Fernão de Magalhães, Manuel da Nóbrega... E nenhum deles se sente confinado a esta realidade corográfica, fora da história de Portugal... Todos necessitam horizontes mais largos, onde a heroicidade, a cultura, a caridade, o génio e a fé tivessem cenários condignos. Ninguém pode ser autónomo da própria identidade. Uma pátria é um contexto de afinidades.

Não duvido de que o Senhor Embaixador esteja em total acordo com o seu conterrâneo, lato sensu, Miguel Torga.

Mário Quartin Graça

Defreitas disse...

Como o comentador Patrício Branco, gosto mais da frase errada ! Da língua vê-se mais longe! Vê-se a Velha Goa e Macau e Timor ! Penso naquele velhinho indiano que se abeirou de mim, na primeira vez que entrei na catedral da Velha Goa onda repousa São Francisco Xavier e me perguntou ? Fala Português ? Porque ele falava-o ! Quinhentos anos depois que o mar ali tivesse levado Vasco da Gama.

Defreitas disse...

Contrariamente a Patrício Branco, gosto mais da frase correcta ! Da língua vê-se mais longe! Vê-se a Velha Goa e Macau e Timor ! Penso naquele velhinho indiano que se abeirou de mim, na primeira vez que entrei na catedral da Velha Goa onda repousa São Francisco Xavier e me perguntou ? Fala Português ? Porque ele falava-o ! Quinhentos anos depois que o mar ali tivesse levado Vasco da Gama.

Defreitas disse...

Senhor Embaixador: Espero que é este ultimo comentário que será publicado. Contrariamente a Patrício Branco etc .... Peço desculpa do meu erro.

disse...

Senhor Embaixador,
É tão bom aprender consigo. Obrigado.
José Santos

Anónimo disse...

Quem sou eu para discordar do meu fabuloso conterrâneo Miguel Torga. Ouso no entanto fazer um reparo ao seu texto apresentado no comentário.
Por vezes (muitas porventura) a exaltação não tem que ser tomada “à letra”. A irritação dos Trasmontanos proclamando pela independência de Trás-os-Montes é, tão só, o resultado das políticas de ostracismo e a total falta de aplicação do princípio de subsidiariedade dos governantes “desta nesga nesga de terra debruada de mar”. Admito que o seu espirito puríssimo não acolha estas indagações…

Andam para aí a discutir onde deve ser localizada a sede da “Missão do Douro”: se no Porto ou no Vale do Douro (Ribadouro para os que ficavam admirados de só comermos pão escuro).

Por acaso, numa “Missão para a Foz”, seria pensável problematizar a localização da estrutura burocrática, na Régua ou no Porto? Querem melhor exemplo?

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